quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

O casal alquímico

Na alquimia, a doutrina do amor desempenha um papel essencial. Sendo em extremo perigoso o caminho da ascese solitária, o alquimista praticará mais freqüentemente esse caminho a dois, como o casal alquímico, no sentido humano o termo. A história de Nicolas Flamel e de Dame Pernelle, sua esposa, ilustra perfeitamente bem esta prática concreta do casamento alquímico; está no mesmo plano da união de Jacques Coeur, outro célebre adepto dos fins da Idade Média, com sua esposa ternamente amada. A menos que queira seguir o caminho da ascese solitária (como foi o caso dos monges alquimistas), o alquimista deverá ter, portanto, uma companheira de caminhada, a qual será uma criatura que lhe será predestinada por Deus (além de ela ter recebido antes uma iniciação especial).

Não devemos deixar de estabelecer a diferença existente entre o caso muito freqüente em que a companheira do alquimista se limita a compreendê-lo e a ajudá-lo em seus trabalhos (ainda que neste casal reine a discórdia, ou um dos dois se comporte como um tirano que quer impor ao outro os seus interesses e paixões que não são as suas) e, por outro lado, o caso, infinitamente raro em que o adepto e seu par formem um casal alquímico predestinado, onde se encontram as duas metades do ser único (o andrógino primordial, dividido por ocasião da queda original que provocou o aparecimento da matéria grosseira que elas formavam.

Nesse nível da formação de um casal perfeito, o que reuniu duas criaturas magicamente predestinadas uma a outra desde toda a eternidade, descobriríamos o completo analogismo da alquimia ocidental com relação à via oriental tântrica chamada de 'esquerda', a que comporta a realização efetiva de um casal mágico.


Raras, muito raras mesmo - infelizmente - são as criaturas, homens ou mulheres, capazes de encontrar assim o verdadeiro duplo mágico, sua perfeita complementaridade, pouco numerosos mesmo são aqueles que, na falta da verdadeira metade (no sentido absoluto do termo) poderão, quando muito, unir-se a um ser magicamente apto e formado para completá-lo. Mas essa tão grande raridade de êxito a dois implicaria, acaso, uma impossibilidade natural?

Precisemos - pois é necessário - que o fato de um casal conseguir realizar a união mágica predestinada operará, simultaneamente, em cada um dos amantes predestinados o bom êxito das núpcias interiores entre as duas polaridades cósmicas que existem em cada homem e em cada mulher: Assim se cria o Egregoro tântrico heptagonal, do qual decorrem a realização interior, a harmonização perfeita e a Unidade total com as sete forças que animam a Felicidade universal'.

Felizmente, acontece que duas criaturas predestinadas podem encontrar-se, mesmo depois de sua primeira juventude, e comumente em condições que parecem bem mais paradoxais, mas que eles precisarão agarrar.


Extraído do livro: 'A Tradição alquímica'

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