quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Breve história da alquimia

BREVE HISTÓRIA DA ALQUIMIA

Há quase 2000 anos, um grupo de pessoas chamadas “alquimistas” arriscaram suas vidas tentando fabricar ouro. Porém, até os dias de hoje não se sabe se o que eles buscavam era realmente ouro ou se tudo era apenas um pretexto para ocultar sua busca por algo maior. Mistérios abundam acerca da obscura história da alquimia. Apresentamos a seguir uma breve síntese dessa história.

Desde o início da humanidade, o trabalho com os metais só foi possível graças ao domínio do fogo. No Egito e na China, a metalurgia era associada a uma arte espiritual. As etapas para a fabricação de utensílios e ferramentas com metais estavam relacionadas a práticas ligadas ao sacerdócio. Assim nasceu a alquimia, uma atividade deliberadamente concebida para não ser compreendida pelo povo. Considerava-se então que só os escolhidos por Deus, os realmente puros e os capazes de decifrar seu simbolismo, podiam deter este conhecimento.

A partir do século III estes princípios começaram a ser divulgados entre grupos cristãos, em Alexandria e Bizâncio, e principalmente entre os muçulmanos. Surgiu nesta época o conceito da “pedra filosofal”, um enigma com o qual se acreditava ser possível transformar mercúrio ou chumbo em ouro. Os alquimistas trabalhavam para encontrar a pedra filosofal com base em manuscritos antigos e fórmulas secretas místicas que eram em parte metalurgia, em parte mitologia. Porém, interpretar estes manuscritos não parecia fácil. Os livros que tratavam deste assunto escondiam os segredos da transformação dos metais em meio a metáforas indecifráveis e misteriosas imagens que até hoje são consideradas bizarras, grotescas ou mesmo eróticas.

Alquimia na Europa

Foi só a partir do século X que a alquimia conseguiu chegar à Europa ocidental cristã, por meio dos muçulmanos, seguindo o caminho anteriormente trilhado pela filosofia clássica helênica. A partir dali, a alquimia passaria a fazer parte dos mais importantes aspectos da cultura medieval européia. Porém, em 1317, a prática foi proibida pelo Papa João XXII, sob a acusação de bruxaria. Assim sendo, se entravam no laboratório do alquimista e cheiravam a enxofre, não havia dúvida de que “o demônio estava presente”. Por esta razão, muitos alquimistas foram mortos na fogueira. Ainda que fosse arriscado, muitos deles continuaram com seus experimentos alquímicos em segredo, manipulando principalmente mercúrio e enxofre, substâncias usadas também para a fabricação de detonadores e pólvora. Se os alquimistas vertessem estas substâncias no momento errado, podiam voar pelos ares o forno, o alquimista e o laboratório inteiro – o que acontecia frequentemente naquela época.

No início do século XVI, a era do Renascimento colocava fim ao antigo mundo medieval dominado pela igreja. Iniciava-se então uma era dourada para a alquimia, que saía à luz. Era pensamento freqüente desta época que todos os nobres da Europa deveriam ter um alquimista em suas cortes. Pelo atrativo de viver às custas dos nobres, a alquimia virou a profissão mais popular e também a fraude mais habitual daquela época. Na maioria dos casos, os falsos alquimistas eram enforcados por charlatanismo. No entanto, há registros de transformações reais, provavelmente porque foram desenvolvidas muitas ligas maleáveis de aparência dourada e que não se corroíam, e que por isso teriam passado por ouro.

Um alquimista notável deste período foi Paracelso, que se fez famoso e respeitado por manipular quimicamente metais que usava para tratar doenças que os métodos tradicionais não tinham conseguido remediar, e que eram atribuídas a castigos divinos ou superstições. Outro personagem famoso até os dias de hoje por suas três leis da mecânica clássica, Sir Isaac Newton também era secretamente apaixonado pela alquimia. Este interesse lhe trouxe problemas de saúde quando, aos 51 anos de idade, foi atestado que sofria de delírios paranóicos pela constante exposição ao mercúrio – motivo pelo qual teve de abandonar suas práticas alquímicas. Após sua recuperação, já nos últimos anos de vida, confessou que sentia saudade da alquimia e que, se fosse mais jovem, a praticaria novamente. Mas os tempos estavam mudando: na Europa do final do século XVIII os cientistas respeitados já não acreditavam mais nesta prática.

Uma nova abordagem

Depois de séculos fascinando os principais cérebros de Europa, a alquimia perdeu-se no tempo, e já parecia se encaminhar para a sucata da história. No entanto, no início do século XX surgiu novamente o interesse pela antiga arte, porém de uma forma inusitada. Um dos estudiosos mais notáveis de Europa, o psicólogo sueco Carl Gustav Jung, antigo discípulo de Sigmund Freud, declarou que seus pacientes viam imagens misteriosas em seus sonhos. Aquelas imagens não tinham nenhuma relação com a vida pessoal dos pacientes, mas sim com símbolos medievais alquímicos. Jung estava convencido de que as imagens eram mensagens de cura física provenientes do inconsciente do ser humano. Jung dedicou sua vida a desenvolver sua nova interpretação da alquimia como uma escola secreta de psicoterapia sagrada. Acredita-se que seus discípulos continuem este trabalho até hoje.

Assim, em pleno século XXI e por mais paradoxal que pareça, uma grande variedade de linhas influenciadas pela alquimia continuam surgindo. Dentre estas linhas se destacam as que utilizam os princípios da alquimia para fins medicinais, empregando metais, cristais, óleos, essências, ervas e florais. Já outras trabalham com o lado mais terapêutico, embasadas na correspondência entre os princípios alquímicos e a psique humana. Existem também artistas que encontram nas lendas e gravuras alquímicas sua fonte de inspiração para a criação de obras literárias, músicas, pinturas e, atualmente, filmes, desenhos animados e mesmo jogos de videogame.

A busca do alquimista sempre foi a busca do ser humano por sua própria pedra filosofal interior – ou seja, aquilo que o aproxima mais da perfeição, por meio da sabedoria, da compaixão e da liberdade. É por isso que, por mais que o tempo passe, a alquimia sempre voltará de diferentes formas para fazer lembrar ao ser humano sua conexão com algo maior do que sua existência material.

 O Piroalquimista, 2009

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