sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

O carro triunfal do antimônio

Basílio Valentin


Prefácio do Autor

Eu, irmão Basile Valentim, monge professo da Ordem de São Bento, te proponho desde o princípio, amigo leitor, a leitura de uma breve advertência concernente ao que deve conhecer previamente o alquimista que busque com escrúpulos a verdadeira Arte. Assim, o alquimista que se pretenda a possuir de maneira muito segura esta Arte Hermética considere isto com muita profundidade e uma mui alta inteligência. Com efeito, se o que vou expor-te for menosprezado, obraria muito certamente em vão, porque estas coisas devem ser observadas como segue:

Antes de entrar com maior aprofundamento na matéria contida neste livro, achei necessário advertir ao leitor dos pontos principais que um verdadeiro alquimista temente a Deus deve observar exatamente e sobre os quais deve estabelecer o fundamento de sua Arte, a fim de que o edifício não se agite pela fúria das tempestades. Porque eu disse que sou monge, tenho isso por altamente necessário, e por outro lado isso continuará sendo sem dúvida, por longo tempo, muito necessário, a fim de que quando eu ou tu, seja Heinz ou Sunz, Hansel ou Hans, sejamos suprimidos da vista dos homens, deixemos uma memória honorável em honra a Deus, para que Sua Majestade Divina seja louvada e que por um treinamento adequado nos preparemos para a viagem. Porém, o estado de minha ordem requer um espírito de todo diferente de outras personalidades seculares.

Nesta consideração tenho encontrado cinco coisas principais que todos os verdadeiros filósofos e amantes das ciências devem observar:

A primeira é a invocação da assistência divina.

A segunda é a contemplação da essência das coisas.

A terceira é a verdadeira e sincera preparação da essência.

A quarta é o método de servir-se dela.

A quinta é a utilidade que provém dela.

É preciso que um verdadeiro químico e verdadeiro alquimista considere estes cinco pontos e os conheça perfeitamente. Porque sem eles não pode ser perfeito e não pode adquirir a glória de um verdadeiro alquimista.

Discutamos em particular estas coisas para produzir uma obra em geral perfeita e útil a todos.

PRIMEIRO PONTO, CONCERNENTE À INVOCAÇÃO DO SANTO NOME DE DEUS.

A invocação de Deus se deve fazer por meio de uma devoção celestial, com um coração puro, sem falsidade, sem orgulho nem hipocrisia, muito menos outros vícios tais como a soberba, a arrogância, as maneiras mundanas, o luxo, a vaidade, a opressão do próximo e outras tiranias e abusos deste gênero.

Todos estes vícios devem ser extirpados do coração e purificados, a fim de que se queira chegar ao trono da Graça para a saúde do corpo, depois de Ter separado cada grão bom do joio, seja disposto um templo sagrado e decorado o melhor possível. Porque vos digo em verdade que Deus não se deixa enganar pelos pseudo-sábios e pseudo-eruditos deste século, e sim quer ser invocado e reconhecido como o criador de todas as coisas do mundo por um reconhecimento e uma obediência recíprocas. O que é justo e razoável, porque o homem não tem mais que o que há querido dar-lhe por sua bondade infinita. Tem-lhe dado o corpo, a vida, o espírito para operar neste mundo, e a alma mui nobre. E para a conservação disto nos tem dado por sua graça o verdadeiro e eterno Verbo Divino, para alimento da alma espiritual e para sua felicidade eterna. Tem disposto para o mantimento do corpo tudo o que é necessário, o alimento, a bebida, os vestidos, os sapatos, todas as coisas que se pedem com sinceridade, humildade e desde o mais profundo de si mesmo, o ancião Pai que criou o céu e a terra, e todas as coisas visíveis e invisíveis, o firmamento, os elementos, os planetas, e todas as demais criaturas. Porque estou seguro que nenhum homem ímpio e malvado poderá obter a verdadeira ciência da medicina e muito menos gostará do Pão Celestial, verdade imutável e doce da eternidade.

É por isso que, seguindo a minha doutrina, é preciso primeiramente que todos teus desejos e tuas esperanças estejam fundadas na vontade do Criador, que peças sua benção eterna, a fim de que reconheças o temor por Deus e que por sua assistência possa chegar enfim à sabedoria que deseja, porque o temor a Deus é o começo da sabedoria.

Os que têm intenção e o desejo de obter esta graça que é a maior e a mais bela do mundo, conhecer todos os bens das criaturas que a bondade divina tem dado para a utilidade do homem, e as virtudes admiráveis que residem nas pedras, raízes, sementes, bestas, minerais, metais e outros semelhantes, é preciso que expulse de seu espírito todos os pensamentos mundanos, suporte pacientemente todas as adversidades aguardando com esperança em Deus, orando com humildade, que lhe outorguem o fim de seus desejos, o que o fará infalivelmente e do qual nenhum homem pode duvidar ou desesperar. Porque é o Deus de Israel, que livrou seu povo das mãos do faraó, que resolve tudo o que se consulta com retidão e boa
intenção. De maneira que a ciência não se pode estabelecer de outro modo que pela invocação e a
assistência divinas, o que não se deve fazer com má intenção ou coração enganoso, senão o mesmo que
fez o bom capitão de Cafarnaum, com esperança firme e uma fé constante. E isto deve ser feito por amor
cristão. O mesmo do Samaritano que encontrou o ferido sobre o caminho de Jericó e verteu azeite e vinho
sobre suas feridas e pediu-lhe que cuidasse do mesmo. E quando se invoca a ajuda divina, é preciso ter o
desejo da caridade cristã de comunicar depois a seu próximo o que se espera obter por suas preces. E por
este meio terás tudo o que desejares e o fim seguro de tuas esperanças, tanto em saúde como em
riquezas.

SEGUNDO PONTO, CONCERNENTE À CONTEMPLAÇÃO DAS COISAS

Depois da invocação a Deus, segue-se a contemplação de todas as coisas. Quer dizer que é preciso
considerar desde o começo todas as circunstancias de cada coisa em particular no que concerne a sua
matéria e forma, e principalmente conhecer suas operações e virtudes, como tais faculdades são
comunicadas, como os astros cooperam, como os elementos concorrem e como são formados e
engendrados de seus três princípios, inclusive como todas as coisas corporais podem se resolver em sua
primeira matéria ou sua primeira essência, assim como se tem dito em diversos lugares de meus escritos, a
fim de que da última matéria se possa fazer a primeira e semelhantemente da primeira fazer a última.

Eis aí o que é preciso considerar depois da invocação de Deus, sendo esta consideração espiritual e
celestial, (também como a primeira). Porque a contemplação da condição das coisas penetra o
pensamento espiritual do homem no mais profundo das essências. E todos os pensamentos são efeitos de
especulações, dos quais há duas classes: uma é das coisas possíveis e outra de coisas impossíveis. A de
coisas impossíveis produz pensamentos inúteis e superficiais que não podem produzir nada real pela
natureza e nos quais não se pode recolher nenhuma forma de essência, como quando se deseja penetrar
na eternidade do Senhor, o qual não somente é impossível aos homens, senão que também é uma vaidade
e um pecado contra o Espírito Santo querer alcançar a divindade incomensurável, infinita e eterna, e querer
examinar os mistérios incompreensíveis de seus desejos.

A outra contemplação das coisas consiste nas possibilidades destas. A teoria não é outra coisa que a
contemplação de todas as coisas visíveis e palpáveis e que têm uma essência formal e temporal, que se
pode aperfeiçoar ou resolver tudo o que cada corpo pode conter em si ou produzir de útil, o que contém de
bom ou de mal, veneno ou medicina, e como separar o que é bom do inútil e contrário à saúde do homem.
Como é preciso fazer na anatomia de todas as coisas; como é preciso dividir, romper, e retificar antes, afim
de que possam separar como é necessário as impurezas do que é puro e nato.

E tal separação se pode fazer por vários tipos de manipulações, com numerosas vias e meios; umas são
comuns à prática, outras desconhecidas e não vulgares, como quando calcina, sublima, reverbera, circula,
putrefaz, digere, destila, faz a coobação e fixa. As quais operações se fazem uma depois das outras, por
graus na prática e se aprendem trabalhando, e por meio das quais se pode conhecer o que é fixo e o que
não é, o que fica branco, negro, vermelho, azul ou verde, e assim o resto em todas as operações onde os
artistas trabalham bem (segundo a natureza) e com boa consideração. Porque as operações onde os
mestres trabalham assim só podem ser boas porque a opção pode repousar sobre um mau fundamento e
faltar no caso onde não alcance a Via, porém a natureza não se equivoca jamais quando é conduzida
corretamente por aquele que opera nela. É por isso que se tem falado em governar a natureza naseparação de
suas partes ou resolução das coisas, o qual é o ponto principal. É por isto que o segundo
fundamento da filosofia consiste na consideração das coisas singulares e das essências, e se chama a
consideração da natureza. Porque está escrito: “Busca primeiramente o reino de Deus e sua justiça” , etc.,
pela invocação do nome divino, e o resto será dado por acréscimo, quer dizer, os bens temporais
desejados pelo homem e o que é necessário à subsistência e à conservação da saúde.

TERCEIRO PONTO, CONCERNENTE A VERDADEIRA E SINCERA PREPARAÇÃO DAS COISAS.

Depois de haver entendido bem, considerado todas as coisas em particular e penetrado as circunstancias
relacionadas, o que não é nada mais que a teoria, segue o verdadeiro método de prepará-las, o qual se
pratica por operação manual, a fim de que se operem efeitos reais, úteis e eficazes. E por tais operações
adquirirás a ciência, os verdadeiros fundamentos e os meios dos verdadeiros medicamentos.

As operações manuais se fazem por uma prática contínua. E a ciência se adquire e tem sua glória pela
experiência, com tal distinção que uma se conhece antes da outra por certa faculdade, e a anatomia das
coisas é o verdadeiro juiz destas duas. As operações manuais dão a conhecer como todas as coisas
escondidas se podem fazer manifestas e notórias. A ciência nos dá a prática e os verdadeiros fundamentos
para prevenir bem o praticante, e não é outra coisa que a confirmação das operações manuais, quando
têm procedido bem e descoberto os segredos da natureza que estavam antes escondidos. Pois, assim
como no que concerne às coisas espirituais da alma se deve preparar o caminho que leva ao senhor, do
mesmo modo para estas coisas é preciso que um rumo seja previamente preparado e aberto, a fim de que
o bom caminho seja alcançado e tomado para a saúde temporal, sem vagar nem dar rodeios e de uma
maneira aproveitável. Tal é a preparação.
QUARTO PONTO, CONCERNENTE AO MÉTODO DE SERVIR-SE DOS BONS MEDICAMENTOS.

Havendo-se feito a preparação das coisas pela separação do bom e do mau por resolução, é preciso
observar o método de servir-se. Primeiramente, é preciso ter em consideração a medida e o peso das
doses, notar e observar suas operações, ver se são demasiado fortes ou débeis, se são proveitosas ou
trazem prejuízo. O que um médico deve saber antes de receitá-las, se não quer abrir novos cemitérios,
perder sua alma e sua reputação.

QUINTO E ÚLTIMO PONTO, CONCERNENTE A UTILIDADE DOS BONS MEDICAMENTOS.

Depois que os medicamentos tenham feito sua operação e sejam levados aos membros do corpo para
combater a enfermidade e proporcionar os efeitos destinados, é necessário finalmente observar a utilidade
e o prejuízo que tal operação haverá produzido. Porque se podem fazer medicamentos que operem mais
para o mal que para o bem, e em tal caso não são medicamentos e sim venenos.

É por causa deles que é preciso marcar bem o último ponto, e colocar por escrito tudo o que se examine no
tocante à utilidade e aos danos que os medicamentos fazem aos enfermos, a fim de que em casos
semelhantes estes possam ser evitados. Ademais, para o uso e utilidade, é preciso notar se o mal está
aberto ou possui somente uma sede interna não aberta. Com efeito, os males externos diferem dosinternos,
e seus remédios são diferentes. É por isso que convém buscar se os males possam ser cuidados
por remédios puramente externos ou se devem ser expulsos do interior. Porque se os males existem no
centro do corpo é preciso receitar medicamentos tais que possam penetrar até o centro da enfermidade,
dissipar as causas mórbidas e restaurar em seguida a saúde.

Nota-se que todas as enfermidades externas que têm sua origem no interior e que se detêm em algumaspartes
não se devem curar somente por medicamentos externos, ou de outro modo a morte é segura. É o
mesmo que se alguém quisesse expulsar até seu centro as flores de uma planta que estão impelidas ao
exterior: não somente nenhum fruto sairia da flor, senão que o suco, havendo sido rechaçado contra a
natureza, indo para o centro de onde havia saído, extraindo sua nutrição da terra, não seria de nenhuma
utilidade para a planta, a causa desta violenta expulsão. Além disso, a planta se sufocaria porque a
umidade proveniente do alimento terrestre não poderia escapar-lhe.

É por isso que é preciso diferenciar úlceras e tumores antigos procedentes de alguma indisposição interna.
Porque as feridas externas se podem curar por medicamentos tópicos e exteriores, porém as úlceras têm a
necessidade de medicamentos internos para atingir a origem de tais enfermidades. Não há habilidade
alguma em curar uma ferida recente feita por uma causa externa. Porque um simples camponês a pode
medicar com um pedaço de toucinho. O artifício consiste em impedir os sintomas que podem chegar a
escoar a origem dos que procedem de algumas partes internas feridas.

Prestais atenção todos vós, médicos e doutores que exerceis a medicina sobre a terra. Mestres em uma e
outra medicina, quero dizer a externa e a interna, reflitais sobre vosso título honorífico e em vossa
consciência, examinais se o tende de Deus ou se não é somente de pura forma e usurpado por ambição.
Porque há uma tão grande diferença entre a medicina interna e a externa, tal como vos foi indicado, como
há entre o céu e a terra. Se tendes vosso título de Deus, então o eterno vos prestará assistência, bendirão
felicidade, saúde, prosperidade e opulência. Porém se é recebido e concedido sem Deus e somente com
vistas a saciar um excesso de orgulho, então caireis de vossa grandeza e preparareis vós mesmos o fogo
eterno e indizível do inferno.

O senhor Cristo nosso Salvador, disse a seus queridos discípulos: “Vós me chamais de Senhor e Mestre, e
fazeis bem”. Assim, qualquer um que queira levar legitimamente seu título honorífico deve refletir a fim de
trabalhar bem, quer dizer, de não abusar de seu título e de não superestimá-lo nem se jactar de mais
coisas do que as que tenha aprendido. O que quer ter a reputação de professor ou mestre em uma ou em
outra medicina deve estar versado em uma e outra, a do interior e a do exterior, a fim de que saiba a
disposição interna dos corpos, graças à anatomia, e dali extirpe a enfermidade de não importa que membro
e possa saber indicar a razão, a causa e a maneira com que se deve afrontar o mal, e exteriormente que
possa combater os males abertos e as feridas.

Deus meu! De onde se reconheceria este título e de onde seria um mestre em uma e outra medicina se
fosse feito passar por um sério exame a maioria dos que o levam. Longo tempo antes de mim e nos
tempos antigos, os médicos cuidavam com suas mãos das enfermidades, particularmente as externas,
posto que este ofício médico o exige. Porém, em nosso século, alugam criados e domésticos que exercem
a cirurgia!

E assim esta arte mui nobre se tornou um trabalho vil, que não podem apenas ter vergonha de a cumprir
aqueles que não sabem ler e escrever. Eles mesmos, os mesmos que são incapazes de fazer sair um asno
de um campo lavrado, são agora mestres em medicina externa e os doutores médicos seus discípulos, e
eles podem exercer com mais consciência esta arte, para dizer livremente a verdade, que tu médico
cirurgião, ignorante, que te glorificas de teus títulos adquiridos por pura ambição.

Que raio de doutor és? Que raio de médico? Não te irrites pelos meus discursos e pela minha opinião
porque estás forçado a reconheceres tua ignorância se te interrogo cuidadosamente a respeito de feridas
infligidas por cortes e picadas; pois existem tantos julgamentos sobre essas coisas em teu cérebro como na
cabeça de uma galinha pintada para as criancinhas sobre um abecedário. Vos aconselho pois, a todos,
eruditos, sejais pobres ou ricos, a considerar em primeiro lugar, em virtude da ciência e da consciência que
são exigidas dos doutores e dos mestres, a verdadeira doutrina que consiste na preparação das coisas, e
depois o método de se servir delas. Então podereis exigir com direito um título honorífico adequado,
levareis com confiança e eficácia socorro aos homens, e rendereis graça ao vosso Criador com um coração
puro.

Em função do que dissemos, cada um deve examinar e ver se pode legitimamente usar seu título. Porque o
que deseja reivindicar um título deve compreendê-lo completamente e justificar a sua posse. Não basta de
fato, dizer ao vulgo: “Há aqui uma merda mui hedionda” - sem querer judiar dos ouvidos ilustres e ignorar a
causa da sua hediondez, já que um homem pode ter comido manjares de odor e sabor muito suaves e
expulsar um excremento fétido ao extremo. O que convém é saber o porquê um manjar de doce fragrância
se transformou em uma coisa monstruosa, cuja causa é a putrefação natural. E, inversamente, ocorre o
mesmo no que concerne aos aromas. Não se deve considerar simplesmente o odor; o verdadeiro filósofo
precisa ir mais além.

Agora bem seja dito, para engajar discursos de nossa convenção, é preciso remarcar que o odor dos
corpos deve ser observado cuidadosamente pelos que são verdadeiros filósofos. Os quais devem buscar
se tal cheiro é bom ou ruim, de onde provém, em que consiste sua virtude, e como se pode extrair sua
utilidade para a saúde humana. Porque ocorre que um excremento, que tem um odor extremamente
desagradável, fertiliza e alimenta a terra, de maneira tal que produz frutos cheios de perfume. Descrever
todas as causas em particular, tais como a alteração, a corrupção e as admiráveis gerações da natureza
implicaria escrever vários volumes. Mas a causa principal das transmutações e mudanças de uma forma
em outra é esta, a digestão da putrefação, na qual o fogo e o ar produzem uma maturidade natural das
coisas, a fim de que da água e da terra haja uma mudança. Pode-se separar um bálsamo de doce
fragrância do esterco e reciprocamente de um bálsamo perfumado produzir uma matéria hedionda. Podes
dizer com razão que trago à tona comparações grosseiras: é verdade, o reconheço. Mas os que buscam as
causas das coisas não devem ceder às formalidades, posto que devemos aprender a transformar as coisas
vis em coisas preciosas, conhecer como se pode degenerar um bom medicamento em veneno e alterar um
veneno para torná-lo um útil medicamento. De uma coisa doce e agradável produzir uma amarga e
corrosiva, e das corrosivas fazer coisas boas e úteis.

Santa inspiração e oração do autor ao senhor nosso Deus:

Ó meu Deus! A Natureza deixa sempre aberto o gabinete de seus segredos para cada um, embora tenha
dado uma vida tão breve aos homens que estes não podem chegar a descobrir totalmente teus mistérios
naturais.

Fazes bem em ocultar os mistérios maiores, a fim de que cada um se contente em admirá-los e possa dar-
te a glória que mereces como Criador de todas as coisas. Que eu possa sempre, eternamente em meu
coração, admirar-te em tuas obras; que possa, além da saúde e do alimento corporal que me deste, obter
a saúde da alma em tua celeste morada, da qual não tenho dúvida alguma, posto que na Árvore da
Cruzderramaste o verdadeiro bálsamo e o enxofre da alma, por mim, pobre pecador, e por todos os demais. É o
enxofre admirável, verdadeiro medicamento para almas pecadores e penitentes, que as cura da morte
eterna e que dá a felicidade aos seus eleitos, assim como a condenação a Satã e seus seguidores.

Cuido espiritualmente de meus irmãos por meio das minhas orações e corporalmente por remédios
ordinários. É por isso que espero que eles também velem espiritualmente por mim, a fim de que habitemos
todos juntos e pela eternidade a morada de Deus Todo Poderoso.

Análise das grandes virtudes do Antimônio.

Vamos agora ao nosso Antimônio.

E antes é preciso saber que todas as coisas do mundo contêm nelas mesmas espíritos ativos e vivificantes
que habitam nos corpos, os quais se alimentam destes, se nutrem, se mantém; os próprios elementos não
estão sem espíritos. Esta morada é preciso buscá-la em todos os corpos, seja boa ou má. Os homens e
todos os animais têm neles um espírito ativo e vivificante, o qual estando separado de seus corpos não
deixa mais que um cadáver. Todas as plantas contêm nelas um espírito da saúde humana, de outro modo
não poderia alguém se servir delas na medicina; os metais, semelhantemente, e todos os minerais,
mantêm com eles um espírito imperceptível no qual residem principalmente todas suas faculdades e
virtudes, no que podem servir à vida do homem. Porque tudo o que está despojado destes espíritos não é
mais do que um corpo morto e não pode produzir nenhuma ação ou operação vivificante.

É por isso que é preciso concluir que há no antimônio um espírito que reina. O qual deve executar todas as
operações e virtudes que vemos sair de tal corpo mineral, o que se faz no entanto invisivelmente; as
magnetitas também têm uma virtude oculta de atrair para si o ferro, que conserva totalmente em seus
espíritos, dos quais trataremos no meu tratado sobre os ímãs.
Os espíritos dos corpos são de diversas classes. Porque há os que são visíveis aos sentidos externos, que
têm alguma inteligência e um raciocínio espiritual. Os quais, no entanto, se tornam imperceptíveis quando
querem e despojam-se de seus corpos; tais são os espíritos dos elementos e os que habitam perto deles,
como os espíritos que parecem chispas no ar e possuem diversos tipos de formas. Há outros que são os
espíritos do ar, que permanecem sempre nele. Pelo mesmo motivo há espíritos na água, que se chamam
aquáticos. Enfim há os da terra que se mostram em lugares rochosos, ao redor das minas e nas
montanhas. Todos estes possuem entendimento, artes particulares e sabem alterar suas formas. Eu os
deixaria tais como são até o dia do juízo universal, no qual deverão receber sua sentença como nós as
nossas. Deixo esse segredo à inescrutável e divina sabedoria do Todo Poderoso.

Os outros espíritos, que não falam e não podem aparecer em formas visíveis ou perceptíveis, são os que
habitam nos corpos dos homens, dos animais, das plantas e de todos os seres inanimados, assim como os
minerais, que não deixam de ter uma virtude ativa e uma natureza vivificante, que se manifesta pelas
operações que exercem, e que se evidencia quando são separados de seus corpos por meio da Arte.

Semelhantemente, o espírito ativo do antimônio manifesta suas admiráveis virtudes e as comunica aos
homens quando anteriormente, para ser mais penetrante, este tenha sido extraído de seu corpo como de
uma prisão e lhe tenha sido dada a liberdade de exercer suas forças com maior amplitude; para isso é
muito útil a disposição do mestre e da natureza. Porque é preciso que Vulcano e o químico se acomodem
juntos.
O fogo separa os espíritos e o mestre forma a matéria. Um ferreiro não se serve mais que do fogo e de
uma só matéria, que é o ferro, do qual forma diversos instrumentos, de maneira que uma só matéria
prepara diversas formas para diferentes usos. Do mesmo modo, se podem formar do antimônio várias
coisas úteis. O Artista é o ferreiro que forma (a matéria); Vulcano fornece a chave; a operação e utilidade
provêem a preparação e a experiência.

Santa exclamação do autor sobre a loucura e cegueira dos seres humanos:

Oh, meu Deus! Por que o mundo está tão perdido que não tem nem vista, nem orelhas, nem espírito? Por
que não se faz diferença entre os enganadores e charlatães e a verdadeira ciência que se conhece para o
uso dos medicamentos? Se há tão pouco juízo não deveria abandonar o jarro que está continuamente
derramando para beber as águas vivas da saúde no verdadeiro manancial da vida?

Quero que todo o mundo saiba que desmascararei vários supostos mestres, ignorantes, e que, ao
contrário, muitos pobres aprendizes que são rechaçados e menosprezados se tornarão sábios pelos efeitos
das minhas experiências, e inclusive grandes médicos. Porque, seguindo meus ensinamentos, obterão
tudo o que desejam e terão uma lembrança perpétua da minha memória quando eu já tenha ido. Após o
meu falecimento, estou certo que os verdadeiros seguidores da minha doutrina não esquecerão meus
preceitos. Porque conquistarão o império da verdade, que é o fundamento das minhas observações, e que
será sempre triunfante contra todos os embustes e permanecerá sempre vitorioso.

Ademais, o leitor deve ser advertido de que há varias classes de antimônio. Porque um é belo, puro e tem
uma propriedade do ouro, pois contém em si muito mercúrio. O outro contém muito enxofre e não se
aproxima tanto da natureza do oro como o primeiro, que possui vários pequenos raios brancos e
resplandecentes. É por isso que o primeiro é melhor que o outro para o uso na medicina química, do
mesmo modo que a carne de peixe é pior para o corpo humano do que a de a dos animais terrestres,
embora sejam todos animais. Assim a mesma diferença se encontra de um antimônio ao outro.

Além disso se deverá advertir que há varias pessoas que escrevem sobre as faculdades do antimônio.
Porém a maioria destas não entende as razões de suas virtudes e não aprenderam nem encontraram
jamais nada efetivo; portanto não escrevem mais do que teorias e opiniões e pela glória que buscam
escrevendo. E não é preciso se surpreender se não se obtêm os efeitos desejados. Porque para falar
efetivamente do antimônio é necessário fazer várias observações de suas virtudes, levando a cabo um
grande trabalho em sua preparação, e ter encontrado o verdadeiro espírito no qual reside sua virtude, a fim
que se resulte em documentos verdadeiros e ter e uma ciência infalível para conhecer o que é bom ou
ruim, o que é veneno ou medicinal. Não é necessário mais que saber fazer um bom exame do antimônio
para penetrar em sua essência e encontrar por experiência como é preciso separar dele sua malignidade
(arsênico), da qual se queixam tantas pessoas, e torná-lo um medicamento benigno sem contra-indicações.

Muitos anatomistas realizaram buscas aqui e acolá e afligiram, torturaram ou crucificaram o antimônio até
um grau que ultrapassa tudo o que se possa humanamente dizer e imaginar. Porém encontraram eproduziram,
de fato, poucas coisas úteis, pois estão desviados do verdadeiro fim. É por isso que não
puderam alcançar esse branco ao qual queriam chegar, porque a linha de tiro fora encoberta de seus olhos
por uma cor negra, de maneira tal que não puderam observá-lo, nem reconhecê-lo, nem tomá-lo em
consideração.

O antimônio pode com razão ser comparado a um círculo que não tem fim, de igual maneira que o mercúrioé
qualificado. É de todas as cores do mundo, e quando mais se buscam suas virtudes, mais se podem
apreciar, supondo que proceda como é necessário. Enfim, um homem não pode conhecer todas as suas
propriedades benéficas devido à sua vida por demais curta.

É verdade que é um veneno, e inclusive um veneno de último grau. No entanto, pode-se dizer também que
é o remédio dos remédios e o primeiro tesouro da vida, aplicado exteriormente e tomando interiormente. O
que não podem ver os que estão cegos pela ignorância...Esse defeito lhes deveria ser perdoado se fosse o
único; contudo o pior é que não querem ver nem aprender nada neste caso nem em outros semelhantes.

O antimônio tem em sai as quatro extremidades e qualidades com suas propriedades. É frio e úmido,
quente e seco. Regula-se de acordo com as quatro estações do ano. É volátil e fixo. O que é volátil é
venenoso e o que é fixo está livre de todo veneno. É por isso que vários escrevem diversas ficções a
respeito do antimônio quando falam de suas faculdades malignas. Porque não entendem sobre o que
escrevem. É verdade que é um mineral admirável, muito difícil de conhecer bem, pode-se considerá-lo
inclusive um dos sete milagres do mundo, tanto que até o presente não se encontrou ninguém, nem de
meu tempo, que tenha podido conhecer inteiramente seu poder, sus virtudes e sus operações, e que tenha
penetrado totalmente em sua essência até o ponto de encontrar alguma novidade. No caso de que se
encontre tal pessoa, mereceria ser levado sobre um carro triunfal, como antigamente se tinha o costume de
fazer entrar na cidade de Roma os grandes heróis que haviam obtido alguma grande vitória sobre os
inimigos. Porém não creio que se encontrem nunca muitos obreiros dispostos em fazer tal carro do triunfo
com esse motivo.

É preciso reconhecer que além da saúde se pode encontrar mais riqueza no antimônio do que eu e vós
imaginamos. Porque embora eu tenha visto, aprendido e experimentado mais as virtudes do antimônio do
que vós e vossos semelhantes que crêem saber muito, considero-me sempre um aprendiz na busca de
suas propriedades.

Portanto não invejo a fortuna dos que buscam os segredos da Natureza, e que têm encontrado e
descoberto neste mineral segredos admiráveis. Porque a Bondade divina dá suas graças particulares a
quem as merece. No entanto, como o mundo está cheio de ingratidão e não reconhece os benefícios do
seu Criador ocorre com freqüência que Sua justiça venda os olhos da maioria, a fim de que não possa
conhecer as propriedades e os segredos da sua natureza que se encontram em suas formas metálicas.

Todos os homens não fazem mais que desejar riquezas, e cada um diz: “Eu queria me tornar rico e
opulento, como dizem os epicureus; supondo que possa adquirir bens materiais, encontrarei em
abundância os espirituais”. O mundo inteiro se parece hoje a esse rei Midas, que segundo a fantasia dos
poetas não desejava outra coisa que converter em ouro tudo o que tocava. É por isso que a maior parte
estuda como encontrar os meios para enriquecer pelo antimônio. Porém, como se esqueceram do Criador
em seus comentários, omitem as ações de graças que devem previamente ser rendidas e descuidam a
caridade devida a seu próximo, tocam a boca de um cavalo do qual ignoram a idade e a força, parecendo-
se aos que estavam presentes durantes as dodas de Canaã na Galiléia, quando nosso divino Salvador
mudou a água em vinho. No caso o Cristo não quis alardear a sua onipotência nem que o admirassem. É
por isso que afirmo que cabe a todos buscar os Mistérios postos pelo Criador em sua criação. Porque
embora não se possa imaginar que alguém alcance o conhecimento perfeito assim como os milagres do
Salvador, não está proibido buscá-lo, pois é preciso que se aprenda tudo isso com trabalho e dedicação
assíduas, com o fim de não ter que se queixar por sofrer uma enfermidade ou perda de suas riquezas e da
saúde, mas que se possa sempre dar graças e regozijar-se.

É por isso que qualquer um que queira se tornar um verdadeiro especialista no antimônio deve em primeiro
lugar observar a decomposição ou a abertura dos corpos, a fim de alcançá-lo pela via adequada, em seu
lugar e sem erro. Em segundo lugar, deve observar o regime do fogo, a fim de que não aumente ou
diminua em demasia, que não se gele ou seja demasiado ardente, porque no fogo consiste o ponto
principal, a fim de que os espíritos sejam expulsos, desunidos ou deixados livres para operar, e que essa
virtude ativa não arda nem pereça. Em terceiro lugar, deve fazer uso de uma certa medida, como disse
mais acima, a propósito das cinco coisas fundamentais necessárias aos químicos, que repito como
parábola.

Na divisão do antimônio em suas partes consiste o ponto principal. E para se servir dele é preciso preparar

o fogo fazendo como o açougueiro que, tendo matado um boi, o divide em suas partes e distribuiu ao
público para cozinhá-las se as quer comer. Porque não se pode extrair a utilidade que se deseja se não a
faz cozer por meio suas partes, e nisso consiste o ponto principal. E para servir-se dele é preciso preparálo
pelo fogo que retira a crueza. Caso se comam cruas as partes, não há dúvida que nos servirão mais de
veneno que de alimento, em tanto que o calor natural do estômago humano é fraco demais para digerir a
crueza de um corpo. O mesmo ocorre com o antimônio, o qual, tendo um corpo muito duro e cheio de
veneno, não pode ser digerido pelo nosso calor se antes não é devidamente preparado, e como veneno
logo conduz os homens à morte.
É por isso que antes de tudo é preciso separar o veneno do antimônio e proceder de tal maneira que nunca
possa voltar à sua propriedade maléfica, o mesmo que o vinho, uma vez mudado em vinagre por meio da
putrefação, não pode jamais produzir o espírito do vinho, se não que persistirá como vinagre. E, ao
contrário, caso se destile o espírito do vinho e se trabalhe a aquosidade (ou a fleuma), não se converterá
jamais em vinagre, mesmo que se passem cem anos. A transformação de vinho em vinagre é uma
transmutação admirável, posto que se converte em outra essência que não era antes. Quando se destila o
vinho, o espírito sai primeiro, porém quando se destila o vinagre a sua fleuma sobe primeiro e seu espírito
por último. É por esse motivo que o espírito do vinho torna os corpos fluidos e voláteis, tal como ele mesmo
o é; enquanto que o espírito do vinagre coagula e torna sólidos todos os medicamentos, a fim de que
possam extirpar as enfermidades de natureza coagulada. O que é preciso remarcar tanto mais
cuidadosamente por que tudo isso nos esclarecerá muito na preparação do antimônio, que contêm também
seu vinagre, do qual se podem extrair os malefícios e torná-lo um medicamento tão benigno e tão
admiráveis que não tem nenhum veneno, aliás bem longe disso, porque caça e dissipa o expulso dos
corpos toda classe de venenos.
A verdadeira preparação do antimônio se faz por meio da alquimia, a qual divide suas partes e o reduz aos
seus princípios, calcinando-o, reverberando-o e sublimando-o; fazendo um extrato de sua essência e
extraindo dele um mercúrio vivo. O qual se deve precipitar depois em uma poeira fixa. Se pode também por
meio da Arte preparar dele um azeite que tenha a virtude de dissipar essas novas enfermidades
desconhecidas que os soldados franceses nos trouxeram. Esse azeite se faz utilizando o antimônio, e por
outras preparações que a arte espargírica e a alquimia nos ensinam.

Por exemplo, quando um cervejeiro quer fazer a cerveja com cevada ou algum tipo de trigo, é preciso que
passe por todos os graus de preparações antes de extrair a virtude do trigo e apropriá-la em bebida.
Primeiramente, é preciso colocar a cevada na água para fazê-la abrandar, assim como observei
cuidadosamente, quando adolescente, na Bélgica e na Inglaterra, e esse não é mais que um processo de
putrefação. Depois, esta é extraída da água, deixada gotejar e posta em uma pilha até que se aqueça e
comece a germinar por meio do calor; aí ocorre uma digestão. Em seguida, estende-se a pilha de cevada,
trigo ou outro, se deixa secar ao ar ou ao fogo, e eis a reverberação ou coagulação. Similarmente, se faz
moer o trigo que está bem seco, o que não é outra coisa que a calcinação. De maneira tal que o cervejeiro
faz passar por todos esses graus de preparação a matéria da qual queira extrair a essência para preparar a
cerveja, e ferve tudo junto com a água; e isso se pode chamar, a grosso modo, de destilação. O lúpulo que
se adicione à cocção é o sal vegetal e um preservativo para conservar a bebida por um longo tempo e
impedir a putrefação. Os espanhóis e italianos não sabem fazer cerveja, da mesma maneira que na Alta
Alemanha, minha pátria, são poucos que conhecem este ofício.

Depois que a cerveja está feita, deixar-se-á que ela espume e se assente, e se faz pela clarificação uma
nova separação das coisas puras e impuras, o que se faz pelo movimento natural dos espíritos agitados
que separam a borra do corpo e jogam fora a espuma ou a levedura, antes do qual a cerveja não é boa
para beber e os homens não podem aproveitá-la porque os espíritos estão mesclados com a borra, o que
impede sua operação.

O mesmo se observa no vinho, o qual, enquanto está turvo e não clarificado, não cumpre os efeitos
relacionados à sua natureza. Nem o vinho nem a cerveja antes de sua clarificação dão um espírito
destilado perfeito. Ademais de todas estas preparações, pode-se fazer uma nova separação por uma
sublimação vegetal, ou seja, separando os espíritos do vinho e da cerveja, e por destilação produzir uma
nova bebida como a água da vida, assim como se pode extrair também das borras restantes dos dois.
Separam-se os espíritos organizadores de seus corpos por meio do fogo, e os espíritos deixam a morada
que tinham em seus corpos ainda vivos, mas que depois de tal separação tornam-se corpos mortos e sem
alma. A exaltação dos espíritos se faz por retificação da água da vida, a qual se destila até que seja pura,
sem nenhuma fleuma nem aquosidade, da qual uma gota tem mais força e mais atividade que vinte das
que não estão retificadas, porque esta penetra antes e opera mais prontamente.

Vejas pois que se queres aprender alguma coisa em meus escritos e obter as riquezas e os verdadeiros
medicamentos do antimônio, e neste caso trata de observar bem o meu pensamento mencionado, porque
não há nem uma letra neste exemplo que seja supérflua e que não tenha algum significado particular para
a tua instrução. Encontrarás várias palavras reiteradas que parecerão repetições supérfluas, mas das quais
é preciso observar e aprender. Porque nelas está escondido o principal fundamento da Arte. E ninguém
deve se cansar de refletir várias vezes sobre todo o livro. Porque ainda que pagasses por cada palavra um
escudo de oro, não igualarias o seu valor. Verás que meus exemplos, embora grosseiros, contêm grandes
mistérios. Não quero no entanto exaltar eu mesmo meus escritos, porque na execução dos efeitos estes
demonstrarão por si sós seus méritos e seu valor.

Mostrei-vos exemplos de por que as virtudes do antimônio e suas forças estão escondidas; é preciso
buscá-las no mais profundo da sua essência, o que não se compreenderá facilmente no início. É
necessário introduzir-se em tal conhecimento pelas coisas mais notórias e conhecidas, a fim de que sendo
compreendidos todos os princípios se possa chegar ao fim desejado.

O antimônio é o mesmo que um pássaro que voa no ar, o qual pela ajuda dos ventos vai para onde quer. O
operador ou artista se pode comparar ao vento, com a função de conduzir o antimônio. Pode torná-lo
vermelho, amarelo, branco, negro e como queira, segundo a disposição que seu fogo lhe dê. Porque o
antimônio contém todas as cores, como o mercúrio. Coisa da qual não se deve assombrar porque a
Natureza tem recursos admiráveis, que não podemos apreender na totalidade nem hoje nem depois.

Quando um iletrado toma um livro, não sabe o que esse escrito pode conter em si ignora o significado dos
signos como uma vaca olha para uma porta nova. Agora bem, quando esse ignorante recebe de outro sua
inteligência e uso, não toma isso por ciência, mas é algo que é para ele comum e fácil, do qual conhece
bem o uso. Porém pode compreender verdadeiramente até o ponto que não restará nada secreto ou
obscuro neste livro, quando o mesmo tenha dominado sua leitura e compreensão.
O antimônio é um livro no qual os que não sabem ler são advertidos de que, se desejam aprender e
conhecer seus mistérios e suas utilidades, começarão comigo a conhecer as letras e os primeiros
elementos, a fim de que possam ler eles mesmos e passar de uma classe a outra. No que a experiência
nos servirá de reitor para julgar o exame, e dar os prêmios que terá merecido cada um segundo seu
aprendizado.

Não pode passar em silêncio aos que gritam diariamente: "Crucifige! Crucifige!" contra todos os que
receitam venenos aos enfermos, que preparam venenos, e que mostram como se servir deles na Medicina,
e por meio dos quais acreditam que tantas pessoas morrem, como pelo mercúrio, pelo arsênico e pelo
antimônio. Todos os que dão tais gritos e fazem tanto ruído não são ordinariamente mais que ignorantes
que se dizem médicos, e que não sabem eles mesmos o que é venenoso, o que é venenoso ou medicinal;
e é isso que os incita a declamar contra os que são sus mestres e que não sabem reconhecer como tais.

Contudo tenho melhor razão para gritar eu mesmo contra os que verdadeiramente receitam os venenos
antes de tê-los preparado, em tanto que eles não têm seu espírito. Porque se o mercúrio, o arsênico, o
antimônio e outros semelhantes permanecem em sua substância tais como são sem estarem bem
preparados, são realmente venenos. Porém quando são preparados metodicamente, toda sua virulência é
apagada e dissipada, e são convertidos em medicamentos saudáveis, os quais resistem contra todos os
outros venenos e os expulsam quando se encontram engendrados em nossos corpos. Porque um veneno
bem preparado, de maneira que não retenha nenhuma qualidade ruim, resiste e extirpa outro veneno
quando o encontra. E se não o expulsa tem ao menos a virtude de fazê-lo perder suas qualidades
prejudiciais e torná-lo conforme sua natureza, pese a que ambos foram venenos antes.

Quero crer que o que acabo de dizer suscitará grandes disputas entre os doutores, os quais examinarão se
a verdade das coisas é possível ou não. E seus julgamentos serão muito diferentes. Uns serão da opinião
de que isso é tudo impossível, que não se pode despojar inteiramente um veneno de todas as suas
qualidade, o que não me assombrará em nada, já que esta ciência lhes é desconhecida e que não entra de
maneira nenhuma em seu pensamento a possibilidade de aprender tal mistério. Porém haverá sem dúvida
alguns que reconhecerão a possibilidade, por meio da Arte, de mudar uma coisa ruim em uma benéfica, e
defenderão a minha opinião.

Não reconheceis, senhores médicos, que sois desta opinião que as enfermidades e causas mórbidas de
nossos corpos, que são todas venenos, podem mudar para um bom estado, e tornar-se próprias da saúde?
Por que então não quereis confessar que as propriedades malignas que certos medicamentos contém
podem ser separadas de sua bondade e que depois tais medicamentos sejam úteis e necessários à saúde
do homem?

Porém em tanto que a experiência e a ciência da operação ainda é desconhecida para vários, a maioria
não deixará de gritar: “é veneno, é veneno!”, como os judeus: "Crucifige! Crucifige!" contra nosso Senhor e
Redentor Jesus Cristo, rechaçando-o e considerando-o como o maior, o pior e o mais maldito veneno de
todos os homens, visto que era o mais nobre, o mais rico e o mais precioso medicamento de nossas almas
para libertá-las do pecado, da morte, do Demônio e do inferno. O qual não queriam reconhecer nem
aprovar os doutores e os fariseus, embora fosse verdadeiro e continuará confirmado por toda a eternidade;
e inclusive vós, senhores, grandes doutores e famosos personagens que persuadem a imperadores, reis,
príncipes e outros potentados de que é preciso guardar-se bem de se servir de tais medicamentos, a causa
de que são nocivos e venenosos, devereis perdoar-me se ouso dizer-vos ou escrever quão ridícula me
parece vossa opinião. Porém não falo disso, em tanto que não saiam jamais dos princípios que
aprenderam uma vez e que não querem fazer outras observações que as que já viram. É assim que não
deveriam pedir as dos outros. Porque ainda se tenha dado tal veneno, que vocês chamam extremo, a
alguém me bastaria dar com a ajuda de Deus um contraveneno preparado em público, que lhe salvaria a
vida expulsaria no ato todo o veneno pelo qual deveria morrer precocemente.

E ainda que os doutores não possam nem queiram compreender essa verdade e a creiam impossível não
importa, sei que os meio de me defender e de mostrar as provas quando se queira, tornando-as fatos
diante das pessoas. E se me fosse preciso entrar em disputas com tais doutores, que não sabem fazer eles
mesmos tais preparações, tanto que as encomendam de outros, estou certo de que na verdadeira escola
obteria um posto por em cima deles e estariam obrigados, em sua desonra, a se colocarem abaixo. Porque
não conhecem os medicamentos, nem o que receitam aos seus doentes, e inclusive desconhecem as
cores e se são brancos, negros, vermelhos, amarelos, cinzas ou azuis, se são quentes ou frios, úmidos ou
secos. Lêem somente, e tendo isso não desejam saber mais.

Oh, meu Deus! Que consciência tem esses senhores? Como tratam seus doentes? Não encontrarão no dia
do Juízo a Justiça, se não há nenhuma no presente para eles? Não pedem mais que o dinheiro, mas se
pensam nos deveres que são exigidos, empregariam noite e dia para descobrir os segredos da natureza.
Porém os trabalhos lhes parecem difíceis e penosos; não se inquietam por eles, contentando-se com
superficialidades; acreditam fazer grandes curas enganando com grandes discursos e deixando a cura à
parte. O carvão é por demais raro, é por isso que o usam muito pouco, agradando-lhes mais empregar o
dinheiro que seria necessário empregar para encontrar as maravilhas da natureza com coisas supérfluas. É

o bastante o que gastam com os alambiques que encontram nas casas de boticários, onde eles vão
algumas vezes para receber receitas, mas o som dos morteiros que faz em pedaços a garrafa pode lançar
ao vento todas essas receitas...

Ó Deus clementíssimo! Muda os tempos, ponha fim à soberba, opõe-te as árvores para que não cresçam
até os céus, aos gigantes, a fim que não amontoem montanhas sobre montanhas! Dê algum fim a esta vã
glória e presta sua assistência aos que têm confiança no senhor, a fim que possam ultrapassar os que os
perseguem e os odeiam.

Quero incitar a todos os companheiros que tenho neste mosteiro a rezar a Deus dia e noite para que lhes
possa esclarecer o entendimento de todos esses perseguidores, levá-los a conhecer sua onipotência em
suas criaturas, e iluminá-los, de maneira que comecem a buscar pela anatomia das coisas e as virtudes
escondidas em sua profundidade.

Espero também que sua misericórdia, que criou todas as coisas visíveis e invisíveis, concederá as nossas
preces, e se não em meu tempo ou no de meus irmãos, será depois de nossa morte. Quem sabe então se
realizará uma penitência à qual Deus cederá sua graça, para que as nuvens espessas e sombrias sejam
retiradas dos olhos de todos, que cada um volte a encontrar a vista e por uma verdadeira iluminação
recobre o verdadeiro groschen (moeda alemã de 10 centavos). Que Deus o faça! Assim seja.

Fim do prefácio do autor

CAPITULO I

Tratado do Antimônio

Para começar o tratado do antimônio pela etimologia de seu nome, é preciso saber que os árabes o
chamam Asinat. Os Caldeus o têm chamado Sibium. Os Latinos Antimonium. Os Alemães Spiessglass, em
razão de que tal matéria é fluida, e se faz dela um vidro que retém todas as cores que se possa formar.

É por ele que se há de extrair a conseqüência de que, pela mesma razão que os árabes, caldeus e latinos,
nossos primeiros pais, e outros povos hão dado um nome particular ao antimônio, não o têm feito sem
razão, nem sem haver respeitado a coisa e observado suas faculdades.

Porém não há de duvidar que devido às diferenças naturais não se hão destruído ou suprimido as
escrituras que davam fé de suas virtudes, para enterrá-las. Porque seus inimigos hão podido mui
facilmente corromper as impressões e os livros que as declaram, e tanto que o diabo pode fazer muitas
coisas com a permissão de Deus, a causa de nossos pecados e de nossa ignorância, porque Satã, que é
inimigo jurado do gênero humano, fez até o presente todo o possível e empenhou todas as suas astúcias a
fim de que a verdadeira medicina fosse suprimida e sepultada, e para tratar de acabar com a Glória de
Deus que é o autor de todos os bens, e que os homens não possam render-lhe graças, assim como para
privar a natureza humana de tal assistência.

Em tanto que a disputa dos homens sobre as coisas é inútil porque não contribui nem diminui nada de sua
essência, não direi nada sobre os diferentes nomes do antimônio. A glória que se pode adquirir de tudo o
que fazemos consiste unicamente na verdadeira preparação dos medicamentos e no reconhecimento da
bondade divina que lhes há infundido as virtudes que encontramos por nossos trabalhos. É por ele que é
apropriado começar a demonstrar a preparação do antimônio e a descrever suas faculdades, a fim de quese
dêem graças Àquele que as tem disposto.

Porém como vos hei confessado antes que o antimônio era um veneno, antes de dar-vos a conhecer suas
virtudes, vou mostrar-vos por um exemplo que um veneno atrai a si outro veneno, e o expulsa de nosso
corpo antes que todos os demais antídotos ou contravenenos. Isto ocorre por causa da simpatia e da
semelhança das naturezas. Porque é preciso que saiba que a verdadeira licórnia expulsa toda classe de
venenos e não só pode suportar. Eis aqui uma prova: tomeis uma aranha viva, fazeis um círculo em volta
dela com a licórnia; vereis que não sairá do círculo que haveis demarcado, já que evita o que resiste e é
contrário a sua natureza. Porém põe qualquer outra coisa ao redor dela que coincida com a sua natureza
venenosa: não terá antipatia em passar por cima.

Nota ademais que se puseres uma moeda de prata que seja oca (como a que há na Alemanha), com a
marca de uma flor de lis, a flutuar sobre a água como se fosse um pequeno barco, e aproximar a esta
última um pouco de licórnia, sem que se toquem, verás que a licórnia, por sua virtude espiritual, fará
retroceder a moeda de prata, da mesma forma de um pato que quer evitar o golpe de um caçador. E, ao
contrário, se achares um pequeno pedaço de pão duro e bom, sem nenhuma mescla, em um vaso cheio de
água até a borda e colocares a verdadeira na água, porém sem que se toquem, verás que a licórnia atrairá
pouco a pouco a migalha de pão para si. De maneira que é uma maravilha ver a simpatia de duas coisas
naturais, como uma atrai a que a simboliza e expulsa e repele de si o que lhe é contrário.

Do qual os médicos podem extrair uma justa conseqüência: que os venenos atraem para eles o que lhes é
de natureza semelhante, e o que não é veneno atrai semelhantemente para si o que está e associado a
ele. É assim que se podem combater os venenos de duas maneiras: primeiramente, por seus contrários
que lhes resistem e lhes combatem, assim como se acaba de dizer da licórnia. Em segundo lugar se lhes
pode expulsar de nossos corpos por seus semelhantes, em razão que um veneno atrai outro para si, como

o ímã atrai o ferro. É preciso que tal antídoto deva combater o veneno, que seja o próprio veneno, sendo
assim precedentemente preparado de maneira que sua malignidade se converta em medicina ou em
antídoto, e seja também suficiente para expulsar ao outro veneno em razão do qual se dispõe deste.
De forma parecida, o sabão atrai para si e limpa as impurezas e a graxa dos trapos e da roupa porque o
sabão não foi antes mais que uma graxa. Porque se faz do talco azeite de oliva e outras coisas parecidas.
E a causa disto é que se hão preparado as matérias gordurosas do sabão pela separação e se somou sal
ao fazê-lo, que é a principal causa de sua virtude abstersiva. Tem nele o poder de atrair para si e de purgar
a si mesmo as imundícies untuosas das roupas. Por que pois se nega que os venenos possam perder e
abandonar sua malignidade por uma preparação conveniente e produzir um antídoto que tenha a faculdade
de atrair os outros venenos, expulsá-os de nossos corpos e restabelecer a saúde primeva?

Porém a fim de que os possa demonstrar as propriedades desconhecidas da natureza e fazê-os conhecer
as matérias boas e más, venenosas e outras, propor-lhes-ei alguns exemplos pelos quais a verdade se
manifesta, assim como a falsidade dos grandes e relevantes médicos, e também sua negligencia, se verá
claramente manifesta.

Toma um ovo gelado que tenha ficado exposto a um grande frio e ponha-o em água extremamente fria por
algum tempo e verá que a gelatina ou o gelo que estava antes dentro do ovo será atraído para fora por
meio da água fria e toda a substância interior do ovo voltará ao seu primeiro estado como se nunca
houvesse estado gelado.

Da mesma forma, se alguém tem alguma parte de seu corpo gelado ou congelado, que se tome água o
mais fria que possa encontrar, como a da neve fundida, e que se aplique sem perda de tempo sobre a
parte afetada: uma frescura atrairá a outra e a parte afetada permanecerá em seu estado primitivo de
saúde.

E, ao contrário, se alguém tem muito calor ou inflamação em alguma parte de seu corpo, que aplique sobre

o mal uma matéria quente, como o espírito de vinho retificado, o melhor que se possa encontrar, quer dizer,
que seja quase todo fogo, ou da quintessência do enxofre, e mui seguramente verá que um ardor atrai para
si o outro em razão da semelhança de sua natureza, e não sentirá somente o alívio refrescante da parte,
senão a inteira restauração da saúde.
Para maior confirmação desta verdade toma ovos de rã, que aparecem no mês de março, e faça-os secar
ao sol sobre uma prancha e depois pulveriza-os e ponha-os na forma de pó sobre a ferida de alguém que
foi mordido por uma víbora ou serpente, e verá que este pó tirará o veneno da mordedura, de maneira que
depois disso se possa curar facilmente com os medicamentos ordinários, os quais de outro modo não
serviriam para nada. A mesma virtude desse pó se pode utilizar pondo-lhe sobre um pano branco que
umedecerás várias vezes, e que secarás depois com os ovos de rã. O pano deve ser cortado em pequenos
pedaços para aplicá-os sobre a mordedura.

Semelhantemente toma um sapo vivo, coloca-o amarrado por uma das patas de trás ao sol para fazê-lo
secar como é preciso, ponha-o depois em um pote bem coberto e reduza-o a cinzas pelo fogo e depois a
um pó muito fino. Sirva-se deste pó para as feridas venenosas e os asseguro que atrairá o veneno.
E porquê? É que por meio da calcinação do sapo sua virtude medicinal de atrair o veneno se torna mais
rápida e mais ativa, e própria a executar suas forças para atrair para si seu semelhante.

Se alguém for infectado pela peste que tome exemplo das coisas venenosas a respeito das quais acabo de
falar e que as observe para a moléstia. Porque encontrará que tudo o que vos digo neste escrito é
verdadeiro, porque podereis servir-vos das coisas venenosas aqui ditas em tempos de peste para os que
estão infectados, suposto somente que se some o astro do sol e o espírito de mercúrio. Porque o espírito
de mercúrio atrai para si seus semelhantes, tendo a faculdade atrativa de todas as enfermidades
venenosas.

Do mesmo modo que o - astrum solis -do qual do mesmo modo que pela virtude do sol celeste vivificante
tudo é engendrado - in genere universali - ultrapassa a todos os demais em faculdade, creio também que o
maior de todos os remédios consiste no sol, quero dizer, em sua natureza e em seus espíritos que são o
astro do sol terrestre, dos quais espíritos de todos os minerais e metais no começo de sua geração hão
retirado seus princípios. Falaremos de tudo isto mais amplamente quando vos revelar como age o astro do
sol sobre a vossa consciência (porque é o segredo dos segredos).

Verdadeiramente o antimônio nesses casos sucedidos tem a mesma virtude que o ouro. É preciso entender
corporalmente, porque não posso afirmar que seja semelhante ao astrum solis, embora em diversas coisas
o antimônio tenha muito mais virtudes que ele. Porém não se pode dizer que o que pode o astrum solis, o
antimônio possa também. Não falo do astro de mercúrio. Pode-se em efeito ser desenvolvido da mesma
matéria que eles, porém ele cede a prerrogativa ao astro sol de ser a causa de sua penetrabilidade.

Bem, agora para confirmar tudo o que temos dito, é preciso notar que Vulcano é o primeiro mestre e
principal agente de todas nossas operações e preparações. Portanto, tomas uma peça de aço ou de ferro
duro, e com um martelo o golpeies junto e verás que sairá fogo, o qual se acenderá pela força do
movimento e da colisão.

O enxofre e o fogo que estão escondidos nos corpos duros se mostram por meio da colisão e do ar, e se
mostram dispostos a arder. O sal permanece na cinza, e o mercúrio escapa ao mesmo tempo com o
enxofre ardente. O mesmo há de crer do antimônio quando é preparado, porque seu mercúrio se separa de
seu enxofre e de seu sal pelos meios que a natureza nos ensina.

Da mesma forma que o fogo que reside nas matérias duras não se mostra se não o excita, assim os
medicamentos têm suas virtudes escondidas, as quais não se conhecem antes que hajam separado as
coisas impuras e más das boas por meio do fogo. Explico assim sumariamente a natureza do antimônio,
posto que todas as coisas escondidas, em tanto que estão escondidas, são assuntos das artes. Sendo
revelado o arcano, a arte cessa e o trabalho começa, como o tenho ensinado em outra parte.

As abelhas nos dão fé desta verdade quando por sua indústria separam o doce mel das flores e das
plantas (que são às vezes venenosas e amargas), a qual serve para vários usos, tanto em medicina como
para a alimentação. Porém, do mel que é doce e agradável, se pode extrair o pior e mais corrosivo dos
venenos. O que ninguém crê senão os que o têm experimentado, e ninguém toma precaução senão os que
fazem uma atenta observação disto. Não há de menosprezar o mel nem afastá-lo como inútil por isso.
Porque embora a ignorância ou malícia dos que o preparam possam torná-lo um grande veneno, não deixa
de ter grandes virtudes e utilidades em medicina. O mel, pois se forma desta maneira: os excrementos e o
esterco dos animais servem para adubar a terra e dar-lhe umidade untuosa, da qual esta produz diversas
classes de flores, ervas e outras plantas. O que mostra claramente que se faz das plantas das quais as
abelhas extraem o suco ou a quintessência, a partir da qual se faz a alteração ou geração, que é o mel, do
qual se fazem vários medicamentos úteis e bebidas. Não obstante, disto se pode também preparar uma
essência tóxica extremamente perniciosa, que pode matar os homens e os animais.

É por isto que te rogo a refletir sobre estas verdades. E estejas seguro que se és amante da ciência, sejas
jovem, velho, doutor, ou ignorante, rico, pobre, artista, ou qualquer outra qualidade que podes ter, se
seguires meus preceitos e os movimentos da natureza te esclarecerei da verdade e te ensinarei como é
preciso separar as coisas boas das más, e as preciosas das inúteis.

Quanto ao antimônio, se pode preparar com ele um medicamento no qual está excluído todo veneno e de
todo perigo. Porque sua malignidade se converte e se transforma em bondade por meio da arte, que o
torna capaz de remediar toda classe de enfermidades, penetrar e digerir, achar e expulsar todas as causas
mórbidas como um fogo que tudo consome.

Sabe que é por isso que há de preparar o antimônio e transformá-lo em pedra, da qual é por sua faculdade
parecida ao fogo. É por ele que esta quintessência de antimônio é chamada em todos meus escritos lapis
ignis ou pedra de fogo. A qual, fazendo-se por coagulação e sendo preparada como direi no final deste
tratado, tem a virtude de consumir todos os maus humores do corpo, purgar o sangue até o último grau de
pureza, e faz tudo o que o ouro potável faz. É pois por ele que os que não sabem nada e não tem nenhum
conhecimento, que ignoram todas as experiências e não sabem de nenhum modo a preparação, e que
muito menos hão penetrado nas minas, lhes rogo não censurar seguindo a paixão de seus pensamentos,
senão antes aprender o verdadeiro método de preparar o antimônio, como é preciso separar o veneno e
produzir o medicamento mais nobre do mundo. Então poderá julgar livremente e da sua opinião de quanto
vale, e conhecerá a diferença de haverá entre o seu saber e o que tinha antes.

Ó Miseráveis sofistas mundanos que os fazeis engrossar com uma falsa sabedoria, apoiando-os sobre um
falso fundamento, voem nas nuvens com vãos pensamentos e ignorais o fim de vosso repouso! Digo-vos
que tereis que vos justificar diante do Filho de Deus no dia do juízo terrível, que esta já muito próximo.
Busca, estuda o que deseja utilizar, e assim sereis recompensados por seu trabalho. Confia o resto a Deus,
que vos enviará sua bênção e não vos privará se seu socorro. Indivíduos perigosos e arrogantes, bacantes
que tenham cuidado de não aprender nada e que temeis sujar as mãos com o carvão não julgueis, por
temor a que mais tarde apareça a ocasião de levar contra vós uma sentença que os filhos de seus filhos
possam escrever sobre um livro incorruptível.

Todos os médicos devem observar não fazer nada que repugne e seja contrário a natureza das coisas por
temor a perder toda a esperança de restabelecer a saúde. Quer dizer que não se sirvam de meios
repugnantes juntos para executar suas intenções. Como por exemplo, se verteis espírito de vinho em água
forte se fará um grande constrangimento, a causa de que os corpos não concordam juntos, porém se os
sabe unir juntos destilando-os de maneira filosófica encontrareis neles efeitos maravilhosos.
Semelhantemente, o azeite de tártaro ou seu licor não deve mesclar-se com vinagre que foi feito de vinho.
Porque se contrariam um ao outro e se agridem reciprocamente, como o fazem a água e o fogo, embora
sejam extraídos os dois do mesmo princípio, a saber do vinho.

É assim que na cura de nossas enfermidades é preciso considerar todas as circunstâncias do mal do
paciente, e perguntar-lhe tudo para examinar de sua parte, depois do qual é preciso apropriar-lhe os
remédios convenientes a seu mal, a fim de que a bondade de seus medicamentos não seja escandalizada
em lugar da glória que se merecem, e que não sejam censurados. Como por exemplo quando quereis
dissolver ferro em água fervente, se verter azeite de tártaro quando a água forte faz sua operação, não
somente vereis que vosso vazo se romperá, senão que tereis que guardá-os bem para não abrasá-os.
Porque a contrariedade destes dois licores acenderá um fogo, o mesmo que a pólvora no carvão, que
queimará tudo o que encontrar. O senhor Doutor, com sua grande perícia, não se salvaria de tal fogo,
porque ele não sabe nada de todos os segredos da natureza.

Homens miseráveis, doutores ignorantes médicos inexperientes, vocês que escrevem livros e receitas,
vocês boticários têm potes tão grossos como os que se utilizam nas cortes dos grandes senhores para
servir de alimento para uma centena de homens, vocês que estão cegos desde há muito tempo, permiti
que se limpe os olhos com colírio e bálsamo, a fim de que cessem seus deslumbramentos e que obtenham

o verdadeiro espelho da clara visão, e que Deus os acordem a fim de que reconheçam seu milagres e que
considerem suas obras. Sua caridade impulsiona suas raízes em vocês para que escrutem a verdadeira
medicina que o Príncipe celeste de todas as coisas há formado com sua mão todo poderosa, e por sua
sabedoria eterna, e a há dado para sua utilidade à mais nobre das criaturas, ao homem, como socorro na
extrema necessidade ou para sua saúde.

Ó miserável ! Ó podre e fétido saco de misérias! Serpente da terra vil criatura ! Porque olhar tão
intensamente a casca e descuidar da polpa ? Jamais dará graças a teu criador que te formou a sua
imagem, jamais lhe renderá graças por seus milagres ! Volta-te para ti mesmo, representa-te a ti mesmo e
a forma de tua efígie, a fim de que se dê conta de sua vergonha e de sua ingratidão, porque não buscas o
que Deus há escondido nos bens que há concebido e que tem estendido em suas criaturas.

Porém me calarei e deterei de deplorar esta miséria, esta cegueira e este erro por temor a que minhas
lágrimas que retenho com esforço estraguem meus escritos caindo sobre eles.

Sou um eclesiástico que forma parte de uma ordem na qual me submeterei totalmente de coração e de
palavra, pelo longo tempo que minha alma viva em meu miserável corpo, e não me permito escrever mais
que o que é compatível com minha ordem. De outra forma, elevaria a voz como trombeta. E se fosse juiz
secular marcaria uma audiência nas casas desses personagens orgulhosos que não somente não
conhecem a verdade, senão que, ignorantes, a perseguem, mentindo, caluniando, vituperando e oprimindo-
a com todas suas forças. Deus Todo Poderoso e Altíssimo, Senhor das multidões, que está sentado sobre
um trono sublime, governando o céu e a terra que criou, conservando as estrelas, dispondo os elementos e

o firmamento para que permaneçam em seu curso, faz que trema todo o universo e espantem os espíritos
infernais, olha o jugo deste mundo ingrato, ensina ao filhos dos homens a conhecer mais interiormente o
que Tu lhes propões mais exteriormente, a fim de que sejas glorificado em teu trono, verdadeiramente
reconhecido em teu poder e adorado em tua sabedoria infinita. Eu, em verdade, rendo graças a tua mui alta
majestade por teus milagres e benefícios imensos, pela saúde e as riquezas, porque não posso
testemunhar mais nada neste mundo temporal e corrupto.
Ó! Se eu não fosse religioso como sou, de coração e de boca, o que serei durante toda minha vida como fiz
voto disso, e me estivesse permitido dizer meus sentimentos e declamar contra os ignorantes e os
perseguidores da verdade, os poria muito abaixo. Porém meu estado me ensina que é preciso Ter
paciência. Por isso deixemos todos estes discursos aparte e comecemos a preparar nosso antimônio.

CAPITULO II

Da Descrição do Antimônio

A fim de escrevermos sobre o antimônio e estabeleçamos seu fundamento, no qual tem seu trono e seu
império e pelo qual é elevado à sua glória e à sua perfeição, é preciso antes de tudo demonstrar a origem
de sua raiz e de seus princípios, como opera e se forma nas entranhas da terra, a que disposição dos
astros se encontra submetido, e os elementos que o produzem.

Saiba pois, que o antimônio não é outra coisa que uma fumaça ou um vapor excitado pelos astros nas
entranhas da terra, e por meio dos elementos reduzido a uma coagulação formal. E as mesmas
constelações que produzem o mercúrio produzem também o antimônio, comunicam-lhe sua essência, suas
virtudes suas operações e suas qualidades do começo, e não há nenhuma outra diferença em seus
princípios de geração, senão que o antimônio é mais duro e está mais coagulado que o mercúrio em seu
começo. A razão desta coagulação maior do antimônio é que tem mais sal em seus três princípios
materiais, embora o sal seja a menor parte de seus três princípios. Porém, respectivamente, tem mais
mercúrio e é o que o coagula. Porque o sal endurece todas as coisas e as coagula, o qual falta ao mercúrio
que tem muito pouco dele.

É por isso que em razão de que o mercúrio contém em si um espírito quente e sulfuroso, que não aparece
sem trabalho, é sempre fluido e não pode coagular-se se não lhe somarem outros espíritos metálicos que
os mais próprios para este efeito se encontram na mãe de Saturno, e sem estes não se pode fixar. E não
pode ser de outro modo se o mercúrio não tem ele mesmo a pedra filosofal pela qual reduzir os seus três
princípios em uma proporção tão concordante que tenha depois um corpo fundível, sólido e que possa
resistir ao martelo e ao fogo como os outros metais. De outro modo, permanece sempre fluido (como é
naturalmente) até que lhe seja tirado este princípio.

É por ele que todos os animais, e vegetais são demasiados débeis para coagulá-lo e torná-lo fixo, como
certas pessoas estudam em vão, porque não são espécies metálicas. Porque o mercúrio é fogo por todas
as suas partes. É também por isso que resiste a todo fogo e não se deixa fixar por ele, ou se evapora, e
foge rapidamente pelos seus espíritos e se transforma em azeite incombustível, ou permanece de tal modo
coagulado depois de sua fixação que é impossível rompê-lo. Por demais, tudo o que se pode fazer com o
ouro se faz também com o mercúrio preparado como é preciso. Porque depois de sua verdadeira
coagulação, se parece inteiramente ao ouro, em razão de que tem os mesmos princípios originais que este.

Embora meu desejo não seja introduzir aqui uma discussão falando muito abundantemente do mercúrio,
senão simplesmente, claramente, descrever a partir de seu verdadeiro fundamento o princípio do
antimônio, o mercúrio pode ser útil para prosseguir o estudo do antimônio. O que tenho induzido por
parábola sobre o mercúrio não tem sido senão fruto para meditação seguindo um sinal para que o
antimônio seja compreendido mais corretamente já que tem uma origem mercurial.

É preciso pois, notar e observar bem que os minerais e os metais não são outra coisa que um vapor que é
extraído por algum astro predominante do elemento terra, como por uma destilação do mundo universal.
Qual influencia celeste opera até o centro da terra, por sua propriedade aérea e suas qualidades cálidas,
de maneira que tal constelação opera espiritualmente e de suas qualidades o vapor lhe eleva, o qual se
transforma em um licor do qual todos os minerais e metais tomam sua origem, e se formam um ou outro
segundo o predomínio dos três princípios (segundo tenha mais mercúrio, enxofre e sal), ou menos de um
ou de outro, ou que se encontrem por igual, de maneira que alguns metais são fluidos e outros fixos. Os
fixos são comumente o ouro, a prata o cobre, o ferro, o estanho, e o chumbo. Além destes metais se
formam também dos mesmos três princípios, segundo a proporção desigual de sua mescla, outros minerais
como vitríolo, o antimônio, a marcassita, o âmbar e outros que não é necessário reproduzir aqui. Porém
como o ouro em seu astro no começo é infectado recebendo uma propensão para um enxofre e um
mercúrio mais duro e mais perfeito que todos os outros metais e minerais, sua virtude operativa é por
conseqüência mais estendida e mais poderosa em ato que os outros metais e minerais, e é por isto que no
astro do sol se encontra o que possui os outros astros, só que muito mais, por causa de sua maior
perfeição. Além disso creio que quando se haja reduzido este enxofre à sua perfeição por meio do fogo, se
encontrará em grande quantidade em todos os outros metais e minerais.

Há um mineral do qual tenho feito menção várias vezes, no qual o enxofre do sol se encontra tão perfeito e
tão poderoso, mais que no próprio ouro. Encontrei também duas classes de metais que contém a mesma
virtude sulfurosa do sol e dos quais não direi nada mais no presente.

O antimônio não é pois outra coisa que um mineral feito por um vapor elevado e transformado em licor.
Esta emanação espiritual dos astros é o verdadeiro astro do antimônio. E este licor atraído do elemento da
terra pelos astros celestes e sendo dissecado por uma forma e essência palpável, da qual nasce
formalmente o antimônio, em cuja forma o enxofre predomina, depois o mercúrio e a menor parte dos três
princípios é o sal, do qual no entanto há tanto quanto o necessário para dar-lhe uma forma sólida. As
qualidades primeiras e elementares do antimônio são secas e quentes e não participam da frescura e da
umidade senão em um grau muito baixo, o mesmo que o mercúrio, o azougue comum, e o ouro corporal
têm mais calor que frescura.

E isto é suficiente sobre a matéria e os três princípios do antimônio, assim como o modo em que pelo ar se
formam no elemento da terra. No entanto, importa pouco a muitos saber de todos estes meus discursos
precedentes e não se preocupam de em que centro se encontra o astro do antimônio, ou de que princípios
está formado, e que se deseja unicamente saber sua utilidade, seu uso e sua preparação, a fim de poder
vê-lo perfeito e ver suas faculdades, das quais se tem escrito tanto até o presente, que não há rico ou
pobre, nem doutor ou ignorante, que não tenha falado dele e que não espere com grande desejo uma
última descrição, vou acabar todos este preâmbulos e os instruirei simples e fielmente com toda a doutrinadeste,
tanto como meus trabalhos e minhas observações me permitem. É certo que tenho empenhado nisto
muito tempo e trabalho, e se não obstante não hei conhecido todas suas virtudes, é porque em sua
preparação depois de uma maravilha sobrevém outra: cores virtude e operações infinitas, uma depois da
outra, de maneira que não se encontra jamais seu final.

Assim o Antimônio é um veneno, não benigno, senão particular e violentamente mortífero para os homense os animais.
É por isso que a maioria dos médicos e a plebe ignoram a verdadeira medicina, não tendo
nenhum conhecimento que hajam refletido do antimônio, visto que o rechaçam como um veneno e que os
grandes médicos o proíbem como perigoso, e que os professores repetem até ficarem roucos aos
estudantes das universidades. Guardem-se, guardem-se do antimônio, é puro veneno. Comovidos por
estas opiniões, os cidadãos dos pequenos povos proíbem o uso do antimônio. Porque a maioria dos
homens está tão transtornada por estes clamores que até minha época ninguém havia querido ouvir ao
antimônio ou dar confiança aos inumeráveis e inefáveis remédios que encerra. Em verdade, em verdade
vos digo, meus escritos são verdadeiros. Porém os asseguro em verdade, tão verdade como Deus é o
criador do céu e da terra e de todas as criaturas, que não há mais soberano nem mais precioso remédio
sobre o céu que o antimônio.

Por isto, meu querido discípulo e vós amigo leitor, compreende bem meus discursos e observa as
experiências que tenho feito com o antimônio. Porque minha teoria procede dos fundamentos da natureza
e minha prática da experiência, a qual pode demonstrar aos incrédulos as maravilhas e utilidade que tenho
produzido com ele.

E se alguns desses doutores, desses mestres, desses bacharéis, desses médicos com o boné roxo, me diz
que não há de usá-lo em razão de que é incerto mesmo preparado como é preciso, lhes pergunto por que
se servem tão facilmente e livremente da triaca na composição da qual, além de outros venenos, entra a
serpente chamada thyrus, que é um veneno extremo. Não devo dizer pela mesma razão: Guarde-se bem
de usá-la, há veneno na triaca? Me responderam que estes venenos são preparados como é preciso e
servem de contraveneno. Igualmente responderia também que o antimônio não se deveria usar mas que
depois de sua verdadeira preparação, a qual se tira todo seu veneno. O futuro discípulo do antimônio,
havendo dito suas orações antes de tudo, freqüentará a escola de Vulcano que é o mestre e doutor de
todos os segredos de que se riem os médicos e sábios, quando não hão aprendido do fogo nenhum
arcano, em razão de sua perícia, e que impedem por sua inércia, sua manifestação. E estes louco podem
clamar que se podem fazer bem certos remédios sem Vulcano.

Preocupo-me muito pouco de tudo o que possam dizer, e embora sejam perseguidores do antimônio não
saberiam mostrar-me nem melhor remédio nem tão bom quanto ao que se faz com o antimônio. Porque se
de ciência certa que com o antimônio se fazem remédios tão bons como com o ouro e o mercúrio (exceto o
astro do sol) e que se prepara com este ouro potável para curar a lepra e o espírito de mercúrio, que é o
soberano remédio das novas enfermidades desconhecidas, como o mal venéreo e a sífilis, e outros
medicamentos salutares. Porém, estes cientistas não o podem saber nem observar. O ignorante não pode
julgar, o mesmo que um burrico que ignora a música não pode ensinar ao pastor como fabricar uma flauta.
É por isto que aquele que queira fazer um julgamento correto deve antes conhecer sobre o que deverá
pronunciar-se e saber, através dos livros e da experiência, o que é verdadeiro e o que é falso, a fim de ter
um julgamento objetivo.

Porém, antes que o os faça sábios e os ensine a preparação do antimônio, posto que é tão venenoso,
alguém poderia perguntar-me como pode acontecer que os minerais sejam venenosos, qual é a essência
do veneno, de que pode proceder tal malignidade e também como se pode separar de uma matéria
metálica para fazer com ela bons remédios que sejam úteis e sem perigo. Ao que responderei
sucintamente, que é preciso considerar de duas maneiras a essência dos venenos, a saber: natural e
sobrenatural.

A primeira razão, é que o Senhor que governa todos os céus, os astros e a terra, há criado venenos entre
suas criaturas e principalmente nos minerais, para fazer parecer a ordem, as maravilhas, a onipotência e a
bondade de sua majestade, propondo-nos diante dos olhos tais coisas para fazer-nos conhecer o bem e o
mal, havendo-nos dado também o julgamento e a razão para compreender o livre arbítrio de seguir o bem e

o mal se quisermos. Da mesma maneira se teria em meio ao paraíso a árvore de nossos primeiros pais,
cujo uso conduzia ao bem e o abuso ao mal, posto que por causa dele, o mandato de Deus foi violado e a
morte foi introduzida no mundo. A outra causa é que, para se conhecendo o bem e o mal, se fuja do mal e
se dirija somente para o bem. Porque Deus não quer que os homens sumam com a morte e pereçam
totalmente, senão que se afastando do mal avancem para melhores coisas e evitem perder sua alma.
Assim nos expôs o bem e o mal através de semelhanças que se encontram de novo tanto no preceito de
seu verbo como na obra de sua criação, a fim de que escolhamos o que é útil à nossa saúde e o que é
nocivo evitemos.
Em segundo lugar, os venenos se desenvolvem nas entranhas da terra ou em outros lugares por certas
constelações, quando se fazem operações contrárias e malignas dos planetas e estrelas, pelas quais os
elementos são infectados e podem produzir no pequeno mundo disposições contagiosas e outras
enfermidades malignas, o mesmo se deve entender dos cometas.

Em terceiro lugar, os venenos se formam pela conjunção de duas coisas contrárias, como quando se está
em possuído por cólera ou tristeza, ou estando quente de algum modo se bebe frio: pela antipatia destas
duas qualidades se faz um veneno em nossos corpos que nos conduz a morte.

Finalmente se alguém está ferido mortalmente por qualquer arma que seja, tal arma é o veneno com
respeito a nós porque ataca contra nossa vida, tal arma será o antídoto contrário se nos servirmos para
defendermos quando somos atacados.

Conhece-se toda classe de venenos pelo instinto da natureza. Porque tudo o que é contrário a algo e o
repugna é veneno. Como quando certas pessoas têm horror a certos lugares que não podem suportar.
Porque então tais lugares são seu veneno, porque são contrários à sua natureza, e ao contrário não são
nocivos para quem gosta deles.

Todos os venenos se desenvolvem principalmente na terra como uma essência mercurial (falo dos
venenos dos minerais), no qual não é perfeito e bem digerido em sua forma, que é contrária e repugnante à
natureza, em tanto que esta essência mercurial não alcançou sua perfeição e cocção inteira, penetra em
todo o corpo e não pode ser digerido por nosso calor natural. O mesmo que se comermos trigo cru e verde
sem nenhuma preparação nosso estômago teria trabalho para digeri-lo e todo o corpo se debilitaria, em
tanto que nosso calor natural é demasiado débil para lhe reduzir a uma cocção tal como é requerido.
Porém o trigo que é reduzido ao amadurecimento pelo calor do grande mundo deve ter além uma cocção e
perfeição maior pelo fogo do pequeno mundo, a fim de que o homem possa digeri-lo mais facilmente. O
que há de entender também do antimônio. Pois por não ser todavia fixo e perfeito quando o tira da mina, é
demasiado potente e demasiado cru para nosso estômago. O que é universalmente verdadeiro de todo
medicamento laxativo, seja mineral, animal ou vegetal, os quais são todos venenos por causa de sua
natureza e da matéria volátil e mercurial que contém e predomina também neles. Os espíritos voláteis são
a causa destes medicamentos purgativos expulsarem para fora todo o que encontrem. Não quero com isto
dizer que todos os medicamentos purguem da mesma forma, ou que se apliquem todos diretamente a
extrair os humores que são as causas mortíferas. Pois há uma grande diferença entre eles. Os que caçam
e atraem as raízes das enfermidades devem ser fixos. Porque os que são fixados pelo artifício o são de
natureza e buscam também em nossos corpos as enfermidades fixas e as extirpam inteiramente, algo que
não podem executar os remédios laxativos que não são fixados, os quais se podem comparar a uma
torrente rápida que arrasta pela violência somente o que encontra pelos lugares por onde passa. Porém, os
medicamentos fixos não purgam por evacuações, senão somente impelindo para fora através do suor, que
arrastam não somente as enfermidades com eles, mas a semente e a raiz, o que não fazem outros
medicamentos crus e que não são fixados, os quais deixam a semente e a raiz, não levando mais que a
superfície e não tocando jamais no centro.

É por isso que se deve saber que o veneno do antimônio se deve separar inteiramente antes de que possa
ser usado em medicina com boa consciência. E é preciso observar a separação do bom e do mal, do fixo
com o que não o é, do veneno e do medicamento. O que não se pode fazer-se mas que por meio do fogo,
que dizer, pela preparação de Vulcano que é o professor e reitor de todas as operações. Porque o que o
fogo do grande mundo há deixado sem aperfeiçoar ou sem digerir nas coisas, deve ser acabado por meio
de Vulcano do pequeno mundo, que deixa tudo em sua última perfeição. E não há de assombrar-se se o
fogo tem esta força de separar as coisas impuras das puras, o que é saudável do veneno e o remédio do
que é nocivo. Porque a experiência diária nos dá fé disso pela diversidade de cores e outras qualidades
que induz sucessivamente nos corpos que passam por ele. Porque a separação e o fogo, produzindo a
fixação, arrebatam o veneno e produzem em seu lugar um remédio saudável.

O fogo separa o veneno do remédio, o bem do mal, do qual nenhum médico nem ousa testemunhar, a
menos que tenha contraído alguma estreita familiaridade com Vulcano, e obtido o banho infernal da
amizade, no qual a esposa é purgada de toda a imundície, a fim de que possa dormir com seus esposo no
leito conjugal legítimo.

Oh, sutiliza mundana! Tu que menosprezas ou compreendes meus escritos, se soubesses o que te posso
ensinar, o que chamo fixo e volátil, no que implica o significado da separação do puro e do impuro,
esquecerias as coisas inúteis e abandonarias as nuvens onde te encontras, e me seguirias.

“Em mim”, diz o antimônio, "se encontram um mercúrio, um enxofre e um sal que são os medicamentos
supremos para a saúde dos homens. Meu mercúrio representa minha regulagem, o enxofre a vermelhidão,
e meu sal mora na terra negra que deixo.” E quando se sabe separar bem essas três coisas uma da outra,
uni-las juntas segundo as regras da arte, se pode fazer uma fixação sem veneno, pode alguém se
vangloriar com honra de ter encontrado a pedra de fogo que se faz do antimônio para a saúde dos homens.
Porque se podem encontrar nele todas as cores o mundo, o branco, o negro, o verde, o azul-escuro, a cor
das cinzas, o amarelo, e inumeráveis outros que podem ser conhecidos de diversas maneiras e
empregados em diversos usos, cada um estando letigitimamente disposto em seu estado adequado e em
sua ordem prescrita.

È por que vou dar-te diversas preparações destes medicamentos; a maneira de eliminar o veneno, de
torná-los fixos e de separá-los como é preciso.

O leitor saberá antes que as virtudes do antimônio se podem comparar às de uma pedra preciosa em
particular, assim como há certos metais que se identificam mais como uma pedra do que com outra; no
entanto, o antimônio contém em si universalmente as diferentes virtudes de todas as pedrarias. O que se
mostra bastante claramente pelas cores que contém e que troca por meio do fogo. Sua vermelhidão é
comparável ao rubi, sua cor azul à safira, seu verde às esmeraldas, o amarelo aos jacintos.

A coloração negra do antimônio é própria de Saturno, o vermelho ao ferro, o amarelo ao ouro, o verde a
Vênus, o azul à prata, o branco a Mercúrio, e outras cores mescladas a Júpiter.

E do mesmo modo que encontramos todas as cores das pedrarias e dos metais no antimônio, há nele
também todas as virtudes medicinais, as quais estão em tão grande número que é impossível para o
homem podê-las conhecer por meio de seus trabalhos.
Às vezes o antimônio se resolve por destilação em um licor acre, como o vinagre. Outras vezes se reduz a
uma matéria vermelha e transparentes, doce e agradável como o mel e o açucar. Também outras vezes
adquire uma amargura intensa ou se reduz a uma matéria tão acre e picante como o azeite de sal, de
maneira tal que troca suas qualidades e virtudes segundo os preparos que lhe são dados. Em
determinadas ocasiões torna-se uma montanha olímpica por meio da sublimação, o mesmo que uma águia
voadora, vermelha, amarela ou branca. Sendo destilado por descensum, dá também cores diferentes, o
mesmo que pela reverberação, a qual se reduz em um metal semelhante ao chumbo. Faz-se também dele
vidros transparentes, vermelhos, amarelos, brancos, negros e de outras cores, dos quais não sempre é
adequado servir-se em medicina sem ter passado por algum exame anterior.

Se dissolve também em azeites estranhos e admiráveis, dos quais uns se fazem sem adição, quer dizer,
sem mescla com nenhum ingrediente. Outros se fazem com adição de alguns materiais. E nos servimos
dele interiormente para as enfermidades internas, ou bem exteriormente para feridas, úlceras e outras
doenças externas.

Fazem-se também com ele estratos admiráveis, os quais são tão diferentes em suas cores que se o
oráculo de Apolo ainda existisse, como no tempo dos pagãos, tomaria para si o trabalho de divulgá-los
como é preciso.

Preparam-se com ele também um mercúrio muito vivo, e um enxofre ardente, do qual se pode servir para
fazer pólvora de canhão. E, finalmente, extrai-se dele um sal muito natural e outras coisas.

É por isso que é tempo de mostrar-te sua preparação: como é preciso extrair sua essência, seu magistério,
seu arcano, seu elixir, suas tinturas. Que observarás quando for exposta a preparação da pedra de fogo,
ademais de outros segredos particulares, dos quais o vulgo ignora praticamente tudo, enquanto que
egípcios, árabes e caldeus que morreram há muito tempo sepultaram com eles os segredos da Natureza
que se podem ser empregados pela verdadeira medicina sem nenhum perigo e grande utilidade.

Observes pois diligentemente todas as preparações uma após a outra, tal como proporei, porque não há
nenhuma que não seja de grande utilidade. Pois os medicamentos fixos e preparados do antimônio
expulsam as enfermidades do corpo. Porém os que não são fixos, como o antimônio cru, sem ser
preparado, abre e pura somente a primeira região do corpo, como o estômago e os intestinos, e deixam o
fundamento da doença intacto e não o extraem.

Vou agora abordar as diversas maneiras de preparar o antimônio e todas as chaves de sua preparação,
que se faz somente por meio fogo, após a invocação da assistência divina. Faz-se de várias maneiras,
segundo a ordem do fogo e a diversidade das operações, das quais todas suas virtudes e forças dependem
também.

O antimônio tem uma coloração mista de vermelho, negro e branco, e sua primeira preparação é a
calcinação e a redução a cinzas, que se faz como verás no capítulo seguinte.

CAPÍTULO III

Sobre a calcinação do Antimônio e sua redução a um vidro puro e claro

Toma o melhor antimônio da Hungria, ou outro que possa encontrar, e moa-o sobre uma prancha de
mármore o mais sutilmente que seja possível.

Ponha-o assim pulverizado em um vaso de terra que seja comprido, ligeiro e quase plano (de maneira que
este pó de antimônio fique disperso e espaçado, não em montes), redondo ou quadrado. Este prato ou
vaso, que não deve ter as bordas com mais que dois dedos de altura, será posto em um forno calcinatório
baixo, o qual deverá dar início ao processo com um fogo moderado de carvão. E ao ver que o antimônio
começa a soltar fumaça, remova-o sem parar com algum instrumento de ferro, o que será preciso continuar
até que não solte mais fumaça ou vapor. Quando perceber que calcinando-o assim se amassa e se apega
como a neve e como uma bola, tire-o do fogo e deixa-o esfriar, moa-o de novo sutilmente e volte a colocálo
sobre o fogo, remova e calcina-o como antes, e continue assim calcinando e removendo até que não
solte fumaça e não se apague mais e permaneça em sua cor alva como cinza branca. E então a calcinação
está acabada.

Coloque-o em seguida em um vaso de terra parecido ao que têm os ourives para fundir o ouro e a prata,
ponha-o em um forno de vento ou em outro forno próximo do soprador; e forneça-lhe tal ardor soprando
para que o antimônio se funda e seja tão fluido como água pura e líquida.

E quando queira saber ou provar se o vidro de antimônio adquiriu sua verdadeira consistência e sua cor
transparente, ponha dentro do seu crisol de terra uma vara de ferro larga e fria, e o vidro de antimônio
aderirá ao extremo. Solte-o com um martelo, e se aparecer belo e transparente, e claro à luz, o vidro será
perfeito, o que peço que observem bem os jovens discípulos e estudantes da arte espargírica (porque não
escrevo isto para os que já são versados na prática), que devem saber que não há nada mais fácil de
preparar que o vidro de antimônio, e que todo vidro que se prepare de outros metais e minerais deve ter
também sua cor clara e transparente se alguém planeja se servir dele em medicina, e caso se queira
também que tenha as faculdades que são requeridas e necessárias, o que se opera inteiramente por por
Vulcano e pellas propriedades que lhe são naturais.

Quando o antimônio for assim reduzido a uma consistência de vidro, toma um prato de cobre ou de latão;
fá-lo primeiramente aquecer sobre o fogo, de outro modo se quebraria, e verta nele seu antimônio fundido
dentro desse prato pouco a pouco, o mais gradativamente possível, e verá que se reduzirá a um vidro
amarelo, transparente, claro e puro.

Este é o método mais seguro para preparar o vidro de antimônio, puro e sem mescla com outros
ingredientes. E este vidro tem mais virtudes do que qualquer outro.

Chamo-o vidro puro de antimônio porque se faz também adicionando bórax e outras coisas, porém não é
igual a este. Caso, no entanto, queira fazê-lo com a adição de outros elementos, proceda na forma
prescrita no capítulo seguinte.

CAPÍTULO IV

Sobre a preparação do vidro vermelho de Antimônio

Tome uma parte de bom antimônio de Hungria e duas partes de bórax de Veneza, moa-os juntos e ponha-
os em um vaso a fundir sobre o fogo até que tudo esteja fundido e seja fluido como a água. Depois os verta
em um prato ou escudela de cobre aquecida como dissemos anteriormente.

Por esta preparação terá um vidro de antimônio vermelho e transparente, claro e brilhante como um rubi,
supondo que tenha procedido como é necessário. Se pode fazer um estrato desta cor vermelha de vidro e
preparar com ele um medicamento muito útil e virtuoso por meio da calcinação que se faz a ritmo lento.

Semelhantemente, se pode preparar o vidro branco e transparente de antimônio, tal como mostrarei mais
extensamente no capítulo seguinte.

CAPÍTULO V

Sobre a preparação do vidro branco de Antimônio

Tome uma parte de antimônio pulverizado sutilmente e 1uatro partes de bórax de Veneza, e moa-os juntos.
Estando bem mesclados e incorporados coloque-os em um crisol de terra, e funda tudo como foi dito. No
início, serão um pouco amarelentos, mas depois que tenham estado por um longo tempo sobre o fogo, a
cor amarela se dissipará e se tornará branca e clara. E essa matéria produzirá um vidro da mesma
qualidade. A prova se faz com uma varinha de ferro, como já dissemos.

Há ainda várias maneiras de preparar o vidro de antimônio, porém me contento em passar as que tenho
experimentado eu mesmo e que considerei boas para a saúde dos homens, afora que já declarei que as
principais cores do antimônio são o amarelo, o vermelho e o branco. Porque a cor negro que antimônio tem
antes de sua preparação é dissipado e evaporado pela fumaça que se eleva na sua calcinação. E é nesta
cor negra que consiste a malícia da substância deste material e do qual ele fica despojado pela calcinação,
não inteiramente porém, porque o vidro de antimônio ainda contém muito veneno.

Contudo, declaramos que como ainda é preciso separar este veneno do vidro, o puro do impuro, e que se
faça uma nova separação entre o remédio e o que é nocivo, a fim de não se dê motivo aos murmuradores
para se queixarem e que meus êxitos sejam exaltados imortalizados até o fim do mundo (tal como sem
dúvida acontecerá) e que meus discípulos me recordem com agrado quando vejam e toquem meus
escritos que lhes esclareceram a verdade, e deixando a doutrina de um testamento digno de méritos.

A separação pois do enxofre do antimônio, ou melhor de seu vidro, e o estrato da tintura fora de seu sal,
faz-se tal como se mostra no capítulo seguinte.

CAPÍTULO VI

Sobre a separação do enxofre do vidro de Antimônio e a extração de sua tintura

Tome tanto vidro de antimônio claro e puro de acordo com o que achar ser suficiente, feito como lhe
ensinei, sem nenhuma adição de outros ingredientes; pulveriza-o o mais sutilmente que puder a fim de que
seja quase impalpável, como a farinha. Ponha-o em seguida em um caso de cristal que tenha o fundo ou a
base plana e forte. Verta em cima vinagre destilado, bem retificado e o mais forte que seja possível. Pinha

o vaso sobre um calor moderado ou bem no sol durante o verão, mexendo-o todos os dias duas vezes por
dia afim de que tudo se mescle, e deixa-o digerir sobre tal calor moderado até que o vinagre tenha
assumido uma coloração bem amarela quase se aproximando da vermelhidão, como o ouro fundido. Feito
isso, verta por inclinação o vinagre em outro vaso e volte a colocar sobre a matéria novo vinagre destilado,
que você fará digerir como da primeira vez e com o qual obterá também extrato, o qual será unido ao
primeiro.

Volte a colocar este vinagre destilado, o que irá reiterar até que o último vinagre que for colocado sobre a
matéria não atraia mais nenhuma tintura. Então tome todo o vinagre, filtre-o bem, ponha-o em uma
cucurbita de vidro e destila tudo em banho-maria até no reste nada no fundo senão uma poeira seca de cor
entre o vermelho e o amarelo.

Verta várias vezes água de chuva destilada sobre esse pó vermelho e amarelo, pondo todas as vezes uma
nova, depois de destilada.

Por isso eliminarás toda a acritude de teu vidro de antimônio e restará no fundo desta destilação um pó
doce e agradável. Moas em seguida este povo gradativamente sobre alguma pedra dura, ou em uma
argamassa de cristal, observando que a pedra e a argamassa devem estar um pouco quentes antes que
possas utilizá-los. E assim a tintura do antimônio será extraída, bela, muito vermelha e separada das borras
que ficam no fundo da vasilha. É extrato doce e agradável, e um medicamento tão precioso que não se
pode estimar o que vale até que o se tenha visto pela própria experiência.

As borras que ficaram no fundo retiveram o veneno. E estrato contém somente a virtude medicinal, que se
pode tomar pela boca, e pode ser aplicada exteriormente tanto para os homens como para os animais.
Porque esse extrato, dado num peso de três ou quatro grãos, cura a lepra e a sífilis, e cura-as
completamente. Cura a melancolia e resiste a todo veneno. E os que são asmáticos e sujeitos ao
reumatismo curar-se-ão enfim por meio deste remédio, que faz outras maravilhas mais, desde que se saiba
servir dele adequadamente.

Para extrair o enxofre do vidro de antimônio ou fazer com ele o licor de enxofre, toma este pó amarelo
precedente, que permanece no fundo, antes que tenhas vertido o espírito do vinagre. Reduza-o em pó fino
sobre o mármore aquecido, tomes ovos cozidos duros, os quais partirás pela metade, e enchas esta
cavidade com o pó amarelo extraído do vidro de antimônio; coloques teus ovos assim recheados de pó em
um lugar fresco ou úmido, e verás que este pó se dissolverá num licor amarelo, que cura toda classe de
feridas recentes.

Se alguém se serve dele desde o princípio, tocando ligeiramente o interior da ferida com uma pluma
empapada neste licor, e colocando em cima um emplasto narcótico, toda a infecção se afastará. As feridas
serão curadas, sem nenhum tumor ou inflamação, sejam feitas por incisão, punção ou contusão. O que é
digno de admiração e mostra quando é preciso agradecer à Bondade divina por ter nos fornecido tal
medicamento.

Semelhantemente, podes servir-te deste bálsamo de antimônio nas úlceras arraigadas, malignas e
corrosivas. Porque verás que realizará maravilhas, resolverá inchaços, assim como as úlceras que causam
formigações, suposto que se aplique este bálsamo exteriormente e que se tome também interiormente,
ingerindo-o, depois de que esteja coagulado como é preciso.

Eu me acostumei a derreter o vidro de antimônio e transformá-lo em azeite por dois diferentes maneiras e
métodos, dos quais o primeiro é a destilação em alambique, tal como será exposto no capítulo seguinte.

CAPÍTULO VII

Sobre a maneira de fazer o azeite de antimônio

Tomes um vidro de antimônio feito sem adições na quantidade que desejarem, que o pulverizes sutilmente,
extraia a tintura com vinagre destilado, depois de que tenhas retirado o vinagre e adocicado sua residência,
que é o extrato da tintura, com bom espírito de vinho, e que o tenha extraído pela segunda vez, cerrando-o
bem em um pelicano e deixando-o circular durante um mês (quer dizer, esta última extração pelo espírito
do vinho), depois de que destilarás sem nenhuma adição.

E por esta única destilação terás um medicamento doce, agradável e admirável na forma de um belo azeite
claro e vermelho, com o qual se prepara a pedra de fogo. Este azeite é a verdadeira e melhor
qüintessência do antimônio que se possa ser, tal como já declarei em meu tratado precedente, onde fiz
menção de que existiam quatro classes de preparações ou instrumentos para preparar tal quintessência, e
que a quinta preparação pertencia a Vulcano. Ou seja, é preciso se servir de diversas preparações que a
quintessência do antimônio seja perfeita, e que a quinta é a utilidade e a disposição da obra no corpo
humano, sua operação.

O primeiro trabalho ou preparação é a calcinação do antimônio e sua fusão em vidro.

O segundo é a digestão pela qual se faz o extrato.

O terceiro é a coagulação.

O quarto é a destilação em azeite, pela qual se faz somente a separação do mais sutil do mais grosseiros;
depois de cuja separação segue a fixação e enfim a coagulação; a qual, finalmente, reduz esta matéria em
uma pedra transparente que é toda fogo, que se deve fermentar para realizar suas operações somente nos
metais, devido a sua faculdade de penetração exagerada.

Contudo não tão poderosa como a Pedra Filosofal, em tanto que não é universal, mas somente particular
em tintura, do qual falaremos mais amplamente ao final do tratado, no qual exporei sobre a pedra de fogo.

Este azeite pois, ou quintessência, assim preparado, executado tudo o que é necessário que um médico
faça e saiba e o que é expediente em suas curas. Sua dose é de oito grãos, antes de sua coagulação,
tomados em vinho puro.

Faz reverdecer e torna jovens aos homens e os deixa livres de todas as doenças, tornando-os vigorosos,
como se tivessem nascido novamente. E tudo o que cresce em nossos corpos como cabelos, unhas e
outros acessórios é trocado totalmente por meio deste soberano remédio, de maneira que se torna jovem
despojando-se de tudo o que é velho, como a fênix (se é que tal pássaro existe, porque falo por similitude)
vira-se imortal pelo fogo.

Este remédio não poderia ser consumido pelo fogo mais do que as plumas da salamandra desconhecida.
Esta quintessência consome todos os acidentes do corpo humano como um fogo, à qual é comparável.
Cura tudo o que existe de impuro nos corpos e finalmente faz os mesmos efeitos que o ouro potável, a
exceção do astro do sol que precede e que é de uma excelência sobre todos os demais medicamentos do
mundo quando está bem preparado e reduzido a uma fixação perfeita. Por que o astro do sol e o de
Mercúrio saíram os dois do mesmo sangue de sua mãe e do mesmo manancial vivificante da saúde
humana.

Não se deve temer que esta extração de antimônio feita por vinagre destilado e em seguida exaltada ao
último grau de pureza e de sutileza com o espírito do vinho e pro meio de Vulcano, deva purgar demasiado
violentamente por evacuações ou vômitos. Porque não purga de modo algum, senão que somente expulsa
as causas mórbidas pelo suor, pela urina ou pelo cuspe, e restaura maravilhosamente as forças perdidas
pela violência das enfermidades.

Para purgar simplesmente com vidro de antimônio, pulverizam-se sutilmente seis grãos mais ou menos,
segundo a disposição dos corpos. São colocados em infusão em um pouco de vinho branco durante a
noite, o qual se decanta docemente pela manhã. Sendo tomado pela boca purga bastante violentamente
por baixo e às vezes provoca vômitos, o que ocorre em razão da qualidade mercurial que ainda reside
neste mesmo vidro de antimônio, como os bons médicos podem julgar por eles mesmos quando receitam o
vidro de antimônio tal como é requerido.

Não posso, impedido pela brevidade da vida, buscar tudo. Agora bem se tu o fazes depois de mim, serás
elogiado e elogiar-te-ei em meus escritos, e no sepulcro que me será destinado, por ter encontrado graças
à tua empresa muitas coisas, se bem que tua cara me seja desconhecida e que tenha tido poucas
discussões contigo ou que sequer tenhas nascido ainda.

A outra maneira de preparar o azeite de antimônio se faz por adição de outros ingredientes, e se pode
empregar com grande utilidade em várias doenças, como vou demonstrar no capítulo seguinte.

CAPÍTULO VIII

Outra maneira de fazer o azeite de Antimônio

Pulveriza-se o mais sutilmente que seja possível o vidro de antimônio, depois do qual se verte em cima um
suco de uvas verdes. Este vidro assim pulverizado se põe com o suco em um matraz, e deve-se deixá-lo
em digestão durante alguns dias. E se desseca a continuação este produto passado pela digestão. Quando
estiver seco, pulveriza-se o antimônio com duas vezes seu peso de açucar clarificado. Estes, sendo
mesclados, devem ficar umedecidos como vinagre destilado. Depois disso, destila, em nome de Deus, este
vinagre assim infundido com açucar e o antimônio, dando ao fim um último grau de calor, e extraias um
azeite vermelho que clarificarás com espírito de vinho. Sua dose é sumamente pequena, porém
grandemente útil.

Adiciona-se a este azeite um pouco de espírito de sal. Os quais, sendo vertidos sobre a cal sutil do ouro
preparada antes com usa água apropriada (como ensinei em meus outros escritos) e destilados juntos pelo
recipiente, extraem toda a tintura do ouro, deixando seu corpo no fundo. Feita essa fermentação, não
haveria papel suficiente para descrever todos os mistérios que dela resultam e que ultrapassam o
conhecimento humano.

Rogo pois somente aos médicos que considerem meus desígnios e que se sirvam de minhas preparações,
porque encontrarão todos os dias mais e maiores utilidades e facilidades em seus medicamentos como
nenhum outro jamais lhes tenha mostrado anteriormente.

Quanto tenhas preparado o antimônio ao ponto máximo de perfeição e experimentado-o em ação, poderás
então glorificares a ti mesmo de saber preparar seu magistério, que não é uma coisa vulgar e comum para
todos os mestres.

Este magistério, sendo mesclado com a dissolução ou tintura de coral e abreviado com algumas águas
confortáveis e cordiais, produz efeitos maravilhosos nas doenças disentéricas e impede todas as
enfermidades que provém de um sangue impuro, e finalmente torna o homem diligente em todas as suas
empresas.

Por todos esses benefícios damos humildemente graça ao Criador e Conservador de todas as coisas, que
benignamente nos mostra remédios para curar as doenças de nosso corpo e de nossa alma, e que nos
dará consolo em assistência em todas as nossas necessidades.

Falarei no próximo capítulo de uma maneira de realizar o arcano do antimônio.

CAPÍTULO IX

Sobre a maneira de fazer o arcano do antimônio.

Toma partes iguales de antimônio e sal harmônico sutilmente moídas, e destila tudo pela retorta. Adoce em
seguida o que ficou embaixo, colocando ali água de chuva destilada e quente. Sendo retirada essa água,
pela destilação ou de outro modo, e com ela toda a acrimônia do sal harmônico, te restará ao fundo um
vidro de antimônio parecido com pequenas plumas brancas e brilhantes, que dessecarás docemente a um
calor brando. Ponha-as na seqüência em um vaso circulatório coberto. Verta em cima espírito branco de
vitríolo retificado.

Circula estes dois materiais até que estejam bem unidos, depois do que destile a ambos. Sobre a matéria
restante no fundo, verta espírito de vinho e circula como antes. E assim a separação estará feita e algumas
borras restarão no fundo do vaso; entrementes o arcano do antimônio permanece unido com o espírito do
vinho e o vitríolo. E caso retifiques uma vez mais este arcano, uma só gota com água de rosas operará, ao
ser bebida, um efeito mais poderoso que um caldeirão de ervas, excitando o apetite, tornando o estômago
bom e eficiente, curando a melancolia, engendrando sangue limpo e auxiliando na digestão. Trata-se de
um ótimo remédio para deter paixões estéricas e cólicas. Por fim, este arcano é tão bom que não se pode
pagar com dinheiro. Após o arcano do antimônio segue seu elixir, que prepararás da maneira que irei
prescrever no capítulo seguinte, seguindo-o ponto por ponto.

CAPÍTULO X

Sobre como fazer o Elixir do Antimônio

Toma em nome de Deus, de uma boa mina de antimônio, duas partes reduzidas em pó impalpável,
sublima-as com uma parte de sal harmônico, ponha em seguida em uma retorta tudo que tenha sido
sublimado e destila três vezes separando as borras em cada destilação. Separa depois disso o sal
harmônico edulcorando-o e reverbera a matéria de antimônio a fogo brando, sem que se atice muito. E isso
até se torne como uma terra de cinabre.

Coloque vinagre forte de vinho para extrair a vermelhidão, depois do que separa este vinagre por banhomaria,
de tal maneira que a matéria permaneça como pós. Retira depois a tintura pelo espírito do vinho, a
fim de que as borras sejam separadas, e terás uma extração clara e pura. Feito isso, ponha esse espírito
de vinho carregado da tintura em uma cucúrbita com um pouco de tintura de coral e de quintessência de
ruibarbo, e usa três ou quatro gotas por dose.

Virtudes do elixir de antimônio e suas admiráveis propriedades

Deixa o ventre livre e purga-o sem inconveniências. Porque se operaste bem torna o sangue mais fluido e é
um remédio próprio para os que desejam ter seu ventre livre.

Quiçá se encontrará algum médico que se surpreenda de que esta medicina deixe o ventre livre, pois o
antimônio é violento e o ruibarbo que se adiciona também é purgativo.

Porém que não se assombre e saiba que esta virtude violenta de purgar é mortificada de tal maneira por
esta preparação que não tem nenhuma força para agitar e expulsar, se não que tão pronto se tenha
somado algum purgativo simples, este mesmo faz seu efeito segundo a força da natureza, abrindo e
purgando. Mas se o antimônio que foi bem preparado não tem ação sobre o estômago para expulsar as
impurezas por meio da medicina purgativa à qual se encontra unido, adquire uma virtude mis extensa para
poder sem impedimento operar de qualquer outra maneira e buscar por assim dizer a forma de executar
mais perfeitamente o que está destinado a fazer para o que foi preparado. Deve-se dar crédito ao que digo,
posto que na me obriga a escrever contra a verdade.

Este elixir preparado dessa maneira penetra no corpo e purga-o da mesma maneira que o antimônio
penetra no oro e separa todas suas impurezas. Si quisesse enumerar suas forças e virtudes, seria-me
preciso obter do Senhor a força das orações, que prolongará meus dias, a fim de que pudesse contar com
louvores as coisas maravilhosas que contém e, depois de tê-las buscado com toda a exatidão possível,
comunicá-las aos demais com toda a verdade, com o intento de que todos cheios de admiração rendam
comigo publicamente graças ao Criador por ter nos dado uma essência tão perfeita.

Entretanto para cumprir o que propus e para minha própria satisfação, descrevo aqui as virtudes do
antimônio, quer dizer, o que pude descobrir pelas minhas experiências. Porque silencio ante o que ignoro,
não estando a jactar-me do que não sei e não sendo permitido dar meu juízo sobre coisas que não
conheço por direta experiência; deixo isso para os que virão depois de mim, que por seus estudos e seus
trabalhados realizarão novas descobertas. É impossível chegar a um conhecimento tão extenso de todas
as virtudes do antimônio; pois, como disse anteriormente, a vida é por demais curta, e porque todos os dias
se descobre alguma coisa nova.

Que os homens saibam que o antimônio não somente purifica, limpa e separa do outro todos os materiais
que lhe são estranhos e todos os demais metais, mas que também realiza, por força e virtude inatas, o
mesmo efeito nos homens e nos animais. O que vou exemplificar com uma experiência grosseira:

Caso um lavrador tem animais para engordar, durante dois ou três dias, uma dose razoável de antimônio
cru na comida, como por exemplo a um porco semi-crescido; por esse meio o purificará, o qual não
somente lhe dará um grande apetite, o que fará com que em pouco tempo engorde. E se este animal tem
alguma indisposição, seja no fígado ou em outra parte, curar-se-á, assim como todos os outros males, por
meio deste medicamento.

Este é um exemplo muito grosseiro para citá-lo diante de gente de classe, porém o descrevo a fim de
qualquer um, por simples que seja e por mais distante que tenha o espírito das sutilezas da filosofia, veja
mais claramente os efeitos da realidade da minha doutrina, e que creia que as coisas mais relevantes de
meus escritos sejam de fato aplicáveis.

Contudo, existe uma grande diferença entre a natureza humana e a dos animais. É preciso pois não inferir
por isso que se tenha que dar antimônio cru aos homens. Pois os animais podem suportar e digerir melhor
os produtos crus do que os homens, nos quais o calor natural é muito mais delicado.

É por isso que os que desejam se servir do antimônio por utilidade devem primeiramente ser
experimentados e versados em sua preparação, e além disso conhecer bem a compleição dos homens, se
são jovens ou velhos, fortes ou débeis, a fim de que não causem mais danos do que bens; já falei a
respeito das doses necessárias, no qual consiste o ponto principal.

Mas para evitar as prolixidades e os longos discursos que seria preciso empregar para descrever todas as
circunstâncias deste tratado, deixemos os exemplos à parte e prossigamos com a preparação de nosso
antimônio e declaremos como é preciso fixá-lo.

Sobre isso a natureza do vinho nos esclarecerá, porque quando se tenha separado o espírito do vinho pela
destilação, é certo que tal espírito aquece interiormente o corpo dos homens que o bebem, e ao contrário,
caso se aplique exteriormente nas partes inflamadas, refresca, extraindo para si todo o calor.
Semelhantemente, quando se faz vinagre forte, este refresca interior e exteriormente, não obstante os dois
sejam extraídos dos mesmos princípios, a saber do vinho.

A razão disso é que o vinagre não se faz somente por digestão, a qual reduz o vinho a uma putrefação,
com uma fixação vegetal. Assim como, ao contrário, as outras preparações do espírito do vinho se fazem
pela separação na destilação, ou melhor, por uma sublimação vegetal, pela qual o espírito do vinho se
torna fluido, assim a preparação do antimônio assemelha-se àquela. Pois, seguindo uma ou outra, exerce
suas faculdades diferentemente. A fixação do antimônio se faz como será dito no capítulo seguinte.

CAPÍTULO XI

A respeito da fixação do Antimônio

Toma tanto antimônio quanto pareça adequado e pulveriza-o sutilmente. Coloca-o em um matraz. Verta por
cima água forte, de maneira que o ultrapasse em dois dedos. Coloque o matraz em infusão sobre um fogo
moderado para fazer a extração pelo tempo de dez dias, e que o matraz esteja bem fechado. Depois
desses dez dias, decanta ou verta docemente por inclinação esse extrato de água forte e filtra-o para
separar todas as impurezas, borras e imundícies.

Feito isso, ponha teu extrato em um vaso e destila esta água forte sobre as cinzas ou sobre um fogo de
areia, até que não reste nada no fundo além de um pó amarelo e seco, sobre o qual verterás águas
destiladas de chuva. Volta a colocar de novo nosso vaso sobre um calor moderado para realizar uma nova
extração, que ao fim será bela e vermelha como um rubi.

Será preciso filtrar esta extração como antes e destilá-la em banho-maria; encontrarás no fundo do vaso
um pó vermelhiço sobre o qual verterás vinagre destilado que seja feito de vinho, que por meio de um calor
moderado tomará com o tempo a cor deste pó e tornar-se-á vermelho, não deixando nada mais que borras
brancas.

Destila este vinagre vermelho separado das borras, e encontrarás no fundo do vaso novamente um pó
vermelho; o qual terá que reverberar aberto durante três dias sem intromissão sobre o fogo. E ao fim
destes três dias terás que extrair a tintura do pó reverberado, com o espírito do vinho, que separarás da
borra. Feito isso, destila este espírito por banho-maria, e encontras um pó vermelho fino, do qual se pode
tomar meia grama por vez. Três vezes ao ia, pela manhã, ao meio-dia dia e pela noite, o que é digno de
admiração. E ainda que tomasse com mais freqüência não prejudicaria nada. Este pó possui a virtude de
dissipar o sangue coagulada do corpo; abre os abscesso interiores sem nenhum perigo, curando-os
perfeitamente.

É um senhor remédio para a sífilis, que expulsa do corpo radicalmente; faz com que os cabelos voltem a
crescer e purifica o corpo.

Agora como falei o bastante deste pó fixo e da extração do antimônio suficientemente, falarei de suas
flores, que se podem preparar de muitas maneiras.

A maioria dos médicos de hoje não sabem o que dizer ou como julgar essas coisas, em tanto que não
aprenderam essa nobre ciência. Porém o menor número está composto de jovens apóstolos e discípulos
da verdadeira ciência a espargiria, e estes considerarão melhor meus escritos. Pelos demais, assim vos
falo queridos discípulos e apóstolos, se quereis seguir-me tomeis em primeiro lugar vossas cruzes sobre
vossas costas e sejais pacientes, aprendendo a suportar como eu fiz a todas as perseguições, trabalheis
seriamente, orais continuamente à Bondade divina, sejais pacientes em vossos serviços, e o Todo
Poderoso não vos abandonará e vos outorgará, tal como fez comigo em sua infinita clemência, que
agradeço a todos os instantes.

Vamos falar no próximo capítulo sobre as flores do antimônio, sobre suas extrações e virtudes.

CAPÍTULO XII

Sobre a destilação das flores do antimônio

As flores de antimônio se fazem de várias maneiras, tal como parece a todos os que têm conhecimento da
Arte da espargiria. Alguns as preparam mesclando com sal harmônico, e separando depois o sal, e
importam-se com esta preparação, que produz flores sumamente brancas.

Outras têm instrumentos feitos expressamente para a preparação destas flores de antimônio, que possuem
grandes orelhas de vento, a fim de que o antimônio tenha ar para subir ao alto. Outros sublimam o
antimônio que, gozando mais livremente do ar, facilita o processo. Outros realizam uma sublimação a fogo
forte, servindo-se de três capitéis, e extraem conjuntamente as flores brancas, amarelas e roxas.

Porém para empregar dignamente estas flores na medicina, tenho o costume de me servir das vermelhas
colocando-lhes colcotar vitriólico, e sublimando-as três vezes, porque assim a essência do vitríolo sobe
com as flores e torna-se mais forte

Feito isso, extraio as flores com o espírito do vinho, separo as borras restantes e destilo o espírito do vinho
em banho-maria até que o pó fique seco ao fundo. E estas são as flores assim preparadas que dou a meus
irmãos, e aos doentes que recorrem a mim, e aos que consolo. Estas flores purgam mui docemente e sem
excessos, e eliminam febres de terceiro e quarto graus e muitas outras enfermidades.

Resolvi pois, com a ajude de Deus e da santíssima virgem Maria, fazer um testamento memorável e deixar
um catálogo de todas as curas que realizei, a fim de render graças a Deus publicamente, e que a
posteridade conheça minha benevolência e os milagres que deus encerrou no seio da natureza.

Que o leitor saiba que, no tocante a esta sublimação è as flores do antimônio, que são da mesma condição
que a água que cai de uma alta montanha. E que pode pois julgar assim a diferença das águas, em que
algumas voltam a brotar no cume das mais elevadas montanhas, e se as montanhas estivessem ainda
mais elevadas a água subiria até seu próprio cume, tal como fazem realmente as fontes que brotam das
mais altas montanhas.

Outros estão escondidas nas entranhas da terra e não se podem encontrar senão escavando antes. E,
quanto a essa diferença, digo que a matriz da água terrestre é mais poderosa em alguns lugares do que
em outros; porque todos os elementos têm sua mãe particular apta para engendrar mais fácil ou
dificilmente em função de uma influência estelar, a partir da qual os elementos são engendrados e de
donde tomam seu nascimento. Se pois esta matriz es forte na terra, lança sua semente por uma forte
expulsão, inclusive até o topo dos Alpes, ou o alto da torre de Babilônia. Escutando meus discursos, os
menos prudentes me acusarão de demência ou clamarão que estou ébrio de vinho doce, como os
apóstolos da Judéia na festa de Pentecostes.

A razão da nossa sublimação é a mesma que a das águas, das quais umas, encontradas nos cumes das
montanhas, são mais frias e saudáveis que as águas dos prados e poços. Do mesmo modo também, se
pela violência do fogo a matéria dos sábios é elevada à sua montanha, a terra permanece no fundo, do
qual se extrai um sal próprio para seu uso; e pela sublimação se realiza a separação do bom e do ruim, do
puro e do impuro, entre o sutil e o espesso, para distinguir entre o veneno e o remédio.

Nós, miseráveis pecadores, mortais tendo merecido o fim de nossos dias devido aos nossos pecados,
permanecemos juntos nesta massa terrestre onde somos conservados pelo sal até que apodreçamos e
que, por fim, sendo ressuscitados, pelo calor do fogo celeste, sejamos clarificados e elevados por tal
sublimação e exaltação na qual, sendo despojados das borras e impurezas, possamos ser filhos de Deus,
como é devido à misericórdia do Senhor que nos pretende acordar.

Creio que ninguém me repreenderá pelo exemplo ou comparação, que aleguei desta sublimação terrestre.
Não o fiz sem causa, sabendo por meu gênio particular o que é branco e o que é negro, quando o céu está
sereno ou quando se encontra carregado de nuvens. Passarei à preparação do antimônio.

Que meus discípulos desejosos deste Arte saibam e observem por doutrina filosófica que as extrações do
antimônio, e de todas as outras coisas, são muito diferentes nas operações que é preciso fazer com ele.

Essa diferença não consiste na matéria nem se conhece com a matéria de onde é extraída, senão que
depende e está ligada à preparação e à adição por meio da qual a experiência nos dá de fé de que todas
as virtudes são extraídas.

Declaro e confirmo isto por este exemplo, sendo certo que o que é extraído do nosso antimônio e das
demais coisas pelo espírito do vinho necessita uma preparação! Bem outra preparação!

Que o que se extraia com vinagre destilado fortemente, e cuja principal causa te disse anteriormente, já
que as extrações antimoniais que se fazem com o espírito do vinho excitam e soltam o ventre muito mais
que as que se fazem com vinagre que, em lugar de soltar, aperta e retém de uma maneira singular e por
um meio todo particular,porque o antimônio de volátil se torna fixo. Há que se considerar atentamente este
segredo, que poucos tomam que seriamente, porque estes mistérios estão ocultos e são muito profundos,
e sas coisas que os sofistas da Escola ignoraram seguramente e não possuem nenhum conhecimento a
respeito delas.

A extração feita com o vinagre comprime, e a que está feita com espírito do vinho purga. A qual é muito
notável.

CAPÍTULO XIII

Sobre as extrações antimoniais

A extração antimonial se faz duplamente pelo vinagre e pelo espírito do vinho. O vinagre constipa, e o
espírito do vinho excita e solta por evacuações e pela urina, como já disse, especialmente em minhas doze
chaves.

Esta experiência causa uma profunda meditação e dá a essência da verdadeira filosofia. E é uma
maravilha ver que o que foi extraído do antimônio pelo espírito do vinho retenha uma virtude purgativa.

E o vidro de antimônio extraído pelo vinagre faz o contrário e, se depois de tê-lo preparado se extraia
novamente com o espírito do vinho, sua natureza e propriedade venenosa é quitada inteiramente, não
permanecendo nenhum vestígio dela, não impelindo mais que a evacuação. Pode fazer efeito pelo suor e
por muitos outros meios, como que cuspindo ou vomitando.

Ademais, purifica o sangue, cura os asmáticos e muitas outras doenças, acalma a tosse de qualquer
gênero que seja. E, por fim, é um divino remédio que se faz com vinagre comum e não destilado.

CAPÍTULO XIV

Sobre a extração antimonial para a lepra

Faz-se outra extração de antimônio pulverizado, sobre o qual ponha vinagre destilado. Porém é necessário
um antimônio não comum, mas de mina. Tapa em seguida o matraz e coloque-o ao sol; com o tempo teu
vinagre destilado se enrubescera como o sangue.

Separa esta extração e filtra-a. Ponha-a sobre a areia em um alambique; e destilando verás aparecer cores
maravilhosas. O azeite se torna muito rubro e deixa no fundo do vaso muitas borras.

Este azeite é empregado em muitas doenças com eficiências. Sua glória e virtuosidade se manifestam
especialmente na cura da lepra. Consome e disseca os males venéreos e realiza outros milagres, supondo
que o médico conheça seu uso verdadeira, que observe a uma devida preparação e que consulte a
experiência e não a esqueça jamais.

CAPÍTULO XV

Sobre a maneira de preparar o fígado de antimônio

Toma tártaro vermelho e antimônio mineral, partes iguais. Moa-as e depois de tê-las mesclado bem juntas,
ponha-as em um pote sobre um fogo até que o tártaro seja queimado, o que se deve fazer em um forno de
vento.

Antes de moer este material queimado, joga sobre ele água de chuva fervente e junte-o. E assim se faz o
fígado, porque assim é como o têm chamado nossos predecessores. Sendo pois dissecado e bem
pulverizado este fígado, ponha tudo em uma cucúrbita com o espírito do vinho, depois filtra este espírito do
vinho com papel gris e destila-o por banho-maria, até que não reste mais que a terra dividida. Esta extração
pode ser usada, mas com moderação e muita discrição.

Existe um milagre a ser observado e que é muito peculiar: que o espírito do vinho, uma vez separado, não
pode se reunir com essa extração vermelha, mas obtém-se algo como o azeite sobre a água. E se este
espírito do vinho é empregado uma vez mais se faz outra extração, que, sendo vertida sobre a primeira,
não se mescla com ela de modo algum, o que é maravilhoso. Mas quem poderia contar os grandes
milagres de Deus os dons que deixou às suas criaturas?

Anteriormente fiz menção à extração com o vinagre e o espírito do vinho. Se desta extração se separa o
vinagre por banho-maria e se transmuta o pó restante em azeite amarelo em um lugar úmido, este licor
realiza maravilhas indescritíveis nas feridas recentes e arraigadas e impede todos os sintomas.

Outra extração feita pelo espírito do vinho deste mesmo pó é um grandíssimo remédio para as
enfermidades internas. Propus detalhadamente em meus escritos precedentes outra preparação
antimonial, porque sei da utilidade e dos socorros que são potenciais nela. É por isso que as repetições
não desagradarão meus discípulos. Poque não escrevo nada sem razão, e meus discursos são breves mas
contém entrementes um grande circuito, inúteis aos bebês e às crianças, mas muito úteis para os
seguidores da Arte.

CAPÍTULO XVI

Outra extração antimonial por água corrosiva

Toma vitríolo e sal comum em partes iguais. Moa e mescla estas duas coisas, e destila delas a água. Ao
aumentar o fogo extrairás um licor semelhante à manteiga fundida, ou ao azeite, que guardarás para servir-
te dele em seu tempo devido.

Pulveriza a cabeça morta e dissolva-a no recipiente de água que deverá recolher pouco a pouco, e filtra-a
por papel de estraza.

Toma depois antimônio de Hungria sutilmente moído e ponha-o em um vaso de cristal com o fundo plano.
Verta em cima a água e ponha tudo sobre um calor lento, até que se torne de cor violeta, como uma
ametista. Então aumenta o fogo e terás uma cor de safira muito brilhante, e desta cor sairá um pó muito
branco, e caso vertas água comum sobre ele, sucederá a mesma coisa. Esta extração de vitríolo cru pura
por cima e por baixo. E a solução da cabeça morta transmuta lâminas finas de marte em Vênus. A
experiência é testemunha disso.

Escuta agora pois leitor, e esteja atento. Ponha este azeite na água acima referida, e este no açafrão de
Marte feito com enxofre. Depois reverbera bem até a vermelhidão perfeita, e ponha a digerir para extrair
assim a tintura de Marte, vermelha como o sangue.

Toma depois uma parte desta extração rubra de antimônio feita com o sal de pedra queimada e com o
espírito do vinho preparado; de um mercúrio extraído pouco a pouco por um tubo, jogue uma parte
calmamente; da cal do oro dissolvida na água corrosiva, uma porção razoável. Mescla tudo isso e vertendo
troque de um vaso ao outro para purgar. E depois destila sobre as cinzas a fogo moderado e, ainda que
não passe a amálgama, permanecerá no fundo uma solução fixa e vermelha, muito eficiente contra as
úlceras. O caput mortuum restante, dissolvido na umidade, produz um licor tão acre que nenhuma água
forte pode se comparar em corrosão.

CAPÍTULO XVII

Sobre a maneira de fazer um antimônio diaforético

Faz-se também uma preparação de antimônio que o reduz em um pó branco (diaforético), tal como se
segue.

Toma partes iguais de antimônio de Hungria e salitre por três dias purificado. Moa e mescla-os e queima o
composto ao fogo de circulação em um pote novo no qual colocarás a matéria pouco a pouco, e cozinha
tudo. Feito isso, reduza a matéria toda a pó e verta a água fervendo em cima. Remova tudo bem, e depois
de que o material tenha repousado, evacua esta primeira água e coloca outra, o que prosseguirás até que
tenhas retirado todo o salitre. Disseca esta mesma matéria e reduza-a a pós, mescla-a novamente com
tanto salitre como da primeira vez e retira todas estas operações até três vezes.

Depois disso, dissecada a última água, ponha-a em forma de pó em um vaso de cristal com um fundo
plano e bem fechado, uma vez posto o espírito do vinho necessário. Circula tudo durante um mês inteiro.
Retira logo este primeiro espírito do vinho e voltarás a pôr outro novo que farás arder sobre o material.

Tendo feito isso, terá que manter ao fogo durante um dia inteiro o pó proveniente dessa operação em um
crisol que manterás sempre vermelho.

Este pó, sendo dissolvido em um lugar úmido sobre uma prancha de mármore ou cristal, forma um licor
que, submetido ao calor, volta a ser pó. Um pó que realiza coisas magníficas, que não poderiam ser cridas
se a experiência não as demonstrasse manifestamente.

Sua ação é lenta, porém com paciência mostra suas forças, porque o que tenha problemas internos será
curado se toma todos os dias esse pó, cinco ou seis vezes ao dia, quinze grãos cada vez no espírito do
vinho o em vinho puro; e pouco a pouco, vomitando o sangue recobrará a saúde.

O que esteja afligido por um mal venéreo o pode usar e será curado radicalmente. Este pó traz novos
cabelos, purifica o sangue e realiza muitos outros bens que passaremos sob silêncio, porque não posso
expor sempre todas as coisas tão bem que todo mundo se torne médico por meus escritos sem nenhum
outro trabalho, senão que cada porte, como é muito justo, sua parte de esforço; e que não se imagine que
um criado de granja possa ter pão de trigo de uma brancura imaculada sem ter jamais golpeado o grão.

Pelos discursos filosóficos descobres e aprendes a teoria, porém o trabalho prático, unido aos conselhos
adequados, é indispensável. É por isso que é necessário ser claro em obras ou trabalhos parecidos.

CAPÍTULO XVIII

Sobre a maneira de fazer o Bálsamo de Régulo de Antimônio

Do régulo de antimônio se prepara um bálsamo útil contra as enfermidades e do qual o mercúrio do
antimônio pode ser revivificado.

Toma partes iguais de antimônio de Hungria e de tártaro, com a metade de uma parte de nitro. Tendo-os
moído e mesclado corretamente, funda-os em um crisol ao forno de vento e, uma vez resfriados, separa o
régulo de sua característica terrestre e purifica-o ainda três ou quatro vezes com tártaro e nitro. E assim se
torna claro como a prata que sofreu o exame e ultrapassa a crueza do chumbo.

Moa o régulo, ponha-o em um vaso de vidro.

E verta em cima azeite de gim ou espírito de trementina, do qual deriva o primeiro e que é tão claro quanto
a água. Tapa bem o vaso e faz circular todo o composto em banho-maria. O azeite ou espírito enrubescerá
primeiro. Verta e retifica com o espírito do vinho. Este bálsamo tem as mesmas virtudes que o bálsamo de
enxofre, como direi em meu Tratado do Enxofre, por que a preparação de um o do outro é quase
semelhante. Três gostas deste bálsamo tomadas em vinho quente três vezes em uma semana curará os
asmáticos, os tísicos, e os que tiverem tosse arraigada ou problemas na pleura ou nos pulmões.

Se fazem também muitos azeites do antimônio. Alguns o fazem simplesmente, outros por adição, e todos
têm diversas virtudes segundo a diversidade de sua preparação.

Contarei uma parábola: muitos animais, como os vermes, serpentes e outras várias espécies, encontram-
se seja nas águas, como os peixes, seja nos ares como os pássaros, seja no fogo como a salamandra;
muitos animais maravilhosos se encontram também em regiões de climas quentes, os quais mantém sua
vida pelo calor e, sendo transportados a outros lugares, não podem viver de modo nenhum. É assim que o
antimônio, sendo preparado com uma mescla aquosa, tem outros efeitos que quando está mesclado e
preparado com uma adição ígnea. E ainda que sua preparação se faça pelo fogo, sem o qual sua virtude
não pode se manifestar nem ser descoberta, é preciso no entanto considerar que uma adição terrestre
produz efeitos diferente de uma adição aquosa. Se o antimônio permanece só ao fogo, eleva-se no ar em
forma de espírito. Em uma palavra, da diversidade de suas preparações procede a diversidade de suas
virtudes.

CAPÍTULO XIX

Sobre a preparação do azeite ou enxofre de Antimônio

O primeiro azeite ou enxofre do antimônio se prepara tal como segue, sem nenhuma adição.

Toma antimônio de Hungria cru. Moa-o e coloque-o em uma cucúrbita de terra. Verta adentro o verdadeiro
vinagre dos filósofos com seu sal. Mexa bem e ponha teu composto em banho-maria durante quarenta dias
seguidos.

Verás que o corpo do antimônio se abrirá e tornará o licor negro como uma tinta, o que é sinal de uma
operação perfeita. Ponha isto em um alambique e destila em fogo baixo para extrair o vinagre. E
encontrarás ao fundo uma espécie de pasta é que é preciso lavar e edulcorar com água de chuva
destilada.

Disseca-a e ponha-a em um recipiente circulatório de gargalo longo, como se três esferas estivessem
juntas. Deixa-o em um calor conveniente pelo espaço de dois meses com o espírito do vinho bem retificado
três dedos sobre o material, e que teu vaso fique bem fechado.

O espírito do vinho tornar-se-á vermelho e transparente como um rubi. Vaza-o então e separa pelo filtro
este espírito da terra negra que encontrarás no fundo, o qual é completamente inútil. Destila em seguida
este espírito do vinho em um alambique de vidro bem lacrado, sobre a areia. E a tintura do antimônio sairá
com o espírito do vinho, que levará consigo os elementos que estão no extrato, separando-os. E verás no
alambique uma cor tão bela quanto a do outro mais fino.

Ao final da destilação, não haverá se não algumas poucas borras. Esta cor dourada se perderá no vidro.
Circula esta destilação por dez dias. O azeite do antimônio feito pelo espírito do vinho se tornará grave e
pesado, descenderá ao fundo, e o espírito do vinho retornará à sua primeira pureza, sobre o azeite que é
preciso separar.

Este azeite é muito doce e sem nenhuma corrosão, e chamo-o enxofre dos enxofres dos antimônio, o
bálsamo da vida, que, com a bênção e a ajuda de Deus, serviu-me muito quando tinha a morte sobre os
lábios tal como meus irmãos podem testemunhar.

Este azeite renova o homem, e purifica o sangue quando está mesclado com a tintura de coral. Combate a
lepra assim com a sarna, que provém de impurezas do sangue. Combate a melancolia, corrobora o
coração e os membros quando está mesclado principalmente com pérolas preparadas. É um remédio
soberano para a lipotimia, porque estando mesclado com azeite de canela em pesos iguais, seis gostas
postas sobre a língua curam todos os males das narinas, artérias e hérnias.

Porém, meu Deus, por que falo? Por que escrevo? Creio que não serei entendido senão por um pequeno
número de pessoas, graças ao testamento que lego aos meus discípulos. No entanto, este pequeno grupo
tendo experimentado e reconhecido os milagres da natureza, refletindo de maneira profunda, me
expressará sua gratidão e me renderá honras sobre a tumba onde apodrecerei, eu, que por uma graça
divina liberei a virtude única de uma criatura de sua profunda prisão e desvelei sua preparação.

CAPÍTULO XX

Outra preparação do Azeite ou Enxofre do Antimônio

Assim como o verdadeiro sal deste precioso metal, eis aqui outra maneira de preparar o azeite ou enxofre
de antimônio e de fazê-lo passar sem adição pelo alambique.

Faz-se um régulo com tártaro e nitro, como já disse anteriormente. Reduza-o a pó e ponha-o em seguida
em um vaso de cristal redondo, sobre um fogo lento para que sublime, como efetivamente o fará, porém
observarás separar e farás recair todos os dias com uma pluma do alto do vaso. Te será preciso manter o
fogo e reiterar este procedimento até que não se sublime mais nada da matéria, senão que o régulo fique
no fundo do vaso, precipitado e fixo.

Moa o régulo sobre o mármore, onde o deixarás em um lugar puro e fresco durante meio ano, porque saiba
que esta extração ocorre a longo prazo. O pó se tornará azeite vermelho. E como não há nada senão o
verdadeiro sal do antimônio que se dissolva, as borras permanecerão naturalmente separadas.

Filtra em seguida o licor dissolvido e destila a fleuma até que a matéria fique espessa. Será necessária na
seqüência expor esta matéria em um lugar frio, e ela se congelará em cristais de cor mesclada de branco e
vermelho. E caso se purifique uma vez mais, tornar-se-ão todos brancos.

Este é o verdadeiro sal do antimônio que fiz dissecar com freqüência. Mescla depois disso uma parte desse
sal com três partes de cristal de Veneza, e destila tudo a fogo forte. Sairá em primeiro lugar um espírito
branco, depois um vermelho, que no entanto se resolverá em brancura.

Retifica este espírito a um calor branco e terás outra azeite de antimônio, inferior ao primeiro. Pois é mais
um espírito que um azeita, porque o sal o espiritualiza.

Este azeite tem muitos méritos e virtudes na cura de febres, desfaz pedras e cálculos na bexiga, excita a
urina, purifica e lava as velhas úlceras, pura o sangue como o sal do outro, e poderia ser empregado em
mais outras enfermidades, porém é mais imperfeito que o azeite de antimônio porque este enxofre foi
conduzido até a última pureza.

CAPÍTULO XXI

Sobre a revivificação do mercúrio de Antimônio

Tendo pois descrito o enxofre do antimônio, falarei agora da preparação de seu mercúrio e seu uso na
medicina.

Toma pois de régulo de antimônio oito partes, sal de urina humana clarificada e sublimada, de sal
armoníaco, e de sal tártaro, uma parte de cada uma. Mescla todos estes sais e verta em cima vinagre forte
em um vaso que fecharás sabiamente. Digira estes sais em banho contínuo durante um mês inteiro, e
depois destila o vinagre ao fogo de cinzas, até que os sais fiquem secos. Mescla com três partes de tártaro
de Veneza e extraia, a forte destilação, um espírito maravilhoso que verterás sobre teu régulo pulverizado,
que deixarás apodrecer durante dois meses inteiros. Depois disso, extraia o vinagre por destilação e sobre

o que restar ao fundo mescla o quádruplo de limaduras de aço, e destila a fogo forte; os espíritos do sal
levarão com eles o mercúrio como fumaça. Porém, no lugar de um recipiente ordinário é preciso ter um
grosso matraz de cristal cheio de água a fim de que os espíritos dos sais se mesclem com a água e que o
mercúrio vivo e fluído vá ao fundo do vaso. Porque é assim que o artista pode extrair o mercúrio vivo do
antimônio, que já foi tão buscado por muitos.
Falarei agora de seu uso na medicina. Verta este mercúrio por uma camurça sobre quatro partes de azeite
vermelho de vitríolo bem retificado. Extraia o azeite e seu espírito deverá permanecer com o mercúrio.

Aumenta o fogo e sublimará. Volta a jogar esta sublimação sobre a terra que restar ao fundo. Volte a pôr
outro azeite, e reitera a destilação e sublimação como antes, até três vezes. E, pela a quarta vez, jogue a
sublimação sobre sua própria terra. Moa em seguida tudo junto e será branco e transparente como um
cristal. Ponha isto em um vaso circulatório, com azeite de vitríolo em igual quantidade e o triplo de espírito
do vinho. Circula até a separação. Este azeite de mercúrio se comportará como o azeite de oliva,
sobrenadando. Separa-o e coloque-o em um vaso circulatório de cristal, e adicione muito vinagre destilado.
Porque assim o azeite, no espaço de vinte dias aproximadamente, recobra seu peso e vai para o fundo. E
se tivesse ficado alguma coisa venenosa, permanecerá no vinagre, que será nebuloso e de enegrecido. Se
vê evidentemente que é um milagre da natureza que este azeite que sobrenada no início no final fique no
fundo.

Porém é preciso notar que o azeite de vitríolo é muito pesado. E é por isso que levava no princípio o
mercúrio sobre ele, porque era mais ligeiro e não ainda puro, mas quando sua leve impureza foi recolhida
pelo vinagre, então este azeite retoma seu peso e vai para o fundo.

Eis aqui pois o azeite extraído do mercúrio de antimônio, a quarta coluna de todos os remédios, que não
suporta a lepra, cura a apoplexia, fortifica o cérebro, excita os espíritos vitais do cérebro. E se alguém se
serve todos os dias deste azeite, faz cair as unhas e cabelos e os rejuvenesce. Purga o sangue e expulsa
todos os males. O mal venéreo no é mais do que um jogo para este remédio que o extirpa radicalmente em
pouco tempo. É limitante louvar este remédio apenas com palavras; não há pluma que traduza seus
benefícios.

Miseráveis criaturas! Vermes! Porque tardeis em oferecer o sacrifício eucarístico ao vosso criador, pelos
remédios que vos deu? E vós, mofadores e doutores, professores de uma e de outra medicina, venhais a
mim, ainda que não seja mais que um religioso, não deixarei de manifestar-vos o que não vistes jamais
com vossos olhos. E se alguém por casualidade encontrar preparações melhores, que as faça conhecer a
mim e me outorgue a graça de comunicá-las, porque não desejo outra coisa que não aprender e não tenho
vergonha de perguntar o que não sei e buscar com cuidado as luzes que ainda não tive. É impossível a um
homem penetrar em todos os mistérios da natureza e conhecê-los a fundo, devido à brevidade da vida.

Porém que qualquer um que não compreenda meus escritos por falta de experiência, que não blasfeme
disso. E não murmureis, vos rogo, com discursos fora de propósito quando vereis que me servo de vários
termos que jamais ouvistes.

Porque minha maneira de falar é diferente daquela que se servem meus adversários, que por sua cegueira
e desconcerto manifestos se unem a uma árvore selvagem de selva, menosprezando o natural e o familiar.
E é por isso que não colhem mais que um fruto selvagem e de uma natureza estranha. Homens ignorantes
e desgraçados, não julgueis e não peçais o que não conheceis, e que nem o estudo nem o pensamento
jamais descobriram.

Alguns camponeses e rústicos dizem que os peixes morrem de frio quando morrem na água, mas isso é
extremamente improvável; qualquer um que fale dessa maneira não o faz mais do que por ignorância e
imprudência. Porque se durante o inverno, quando a superfície das águas está gelada, o gelo se rompe, os
peixes jamais morrerão, por mais frio que faça. Porém se o gelo que têm as águas embaixo não é
quebrado e dura tempo demais, os peixes morrer, mas não devido ao frio, e sim porque são privados do ar,
que não pode penetrar no gelo, sendo certo que um animal não pode viver sem ar, o que é a única razão
pela qual os peixes podem morrer sufocados debaixo do gelo.

Dei este exemplo a fim de te fazer entender que o antimônio goza do ar, e que é necessário que um bom
fazedor de metais faz buracos nas montanhas. E se queres conhecer pois a diversidade de seu uso, é
preciso que o prepares pelo ar, a água e o fogo, por temor que sua fecundidade seja sufocada na terra, e a
fim de que a multiplicidade de suas operações e preparações seja conhecida e manifestada aos médicos,
pela cura do mal para o qual buscam um remédio antimonial. Pobres homens de pouco conhecimento, que
não ousam sondar a natureza do antimônio e a menosprezam! Onde esta a retórica e a eloqüência desses
indivíduos para que se defendam, posto que não conhecem nem negro nem branco, nem outras cores nas
preparações do antimônio, e suas virtudes lhes são desconhecidas?
É mais seguro que deixeis meus escritos sob silencio, não os divulgueis, porque semelhantes a um fogo
impetuosos avivado pelo vento, esta gente teme que seu barquinho cheio de ruínas seja submergido pelas
ondas e pela tempestade.

A fim de que evites este perigo, implora com tuas orações pela ajuda de teu Mestre, que dorme com seus
apóstolos, porém fá-lo com um coração sincero e puro. Assim serás salvo e verás o mal e os ventos se
tornarem favoráveis, e conduzirás todas as coisas para o fim desejado.

Deus meu! Se fosse possível que o pensamento e a intenção do homem não tivessem outro fim que o de
adquirir a Arte por seu estudo e trabalho para ver seus êxitos certos e tal com deseja, sem dúvida a
Fortuna e as musas lhe seriam favoráveis, e um discípulo desta natureza encontraria em sua oratória e em
seu laboratório sua prosperidade e sua saúde tão bem que perceberia o fundamento seguro, fecundo e
imaculado, e a pedra angular fechada sobre as qual poderia assentar sua consciência. E assim rechaçará o
cacarejo vão dos que não examinam os enfermos, será excluído da escola e, calando-se ante o charlatão,
eliminará seus vícios e assegurará e provará publicamente que não se pode queimar tão facilmente a
cidadela de pedra e sua torre ou mesmo a cabana de restos, ou ainda o velho ninho de madeira de uma
cegonha, dissecado depois de longos anos de sol.

Meus queridos discípulos, estejam atentos com todos os ouvidos do espírito à minha advertência, busquem
cuidadosamente o centro que raramente ou jamais aparece com uma cara exterior; busquem também sua
virtude com uma cuidadosa atenção, como o caçador a sua presa. Prestem atenção aos vestígios que
serão impressos sobre a neve, a fim de discernir as pegadas de uns e dos outros, para não tomar um cervo
por um gamo. Porque é fácil se equivocar entre os vestígios de uma raposa e o de uma lebre se não
conhecem em detalhes cada animal.

Atirem pois vossas redes convenientemente, e serão favoráveis para capturar peixes; e se vossas redes
estarão bem tendidas, o pássaro será colhido com prazer e grande proveito.

A fim pois de que dê a todos a última advertência, tu, querido caçador, exponha corretamente ao vento tuas
redes e as plumas turbulentas cederão, e tu, barqueiro, peço que estejas particularmente atento, pois
deves saber que durante a noite e o dia navegas em pleno mar e estás em perigo de ser pego pelas
tempestades e destruído; e se tens cuidado não serás frustrado em tua esperança, tomarás sempre
alguma coisa ao fim, e teu navio vencerá as regiões distantes com segurança, e chegarás com proveito e
felicidade.

Contudo, por que perco tempo desta maneira em falar e fazer comparações à maneira dos sofistas
charlatões, já que se pode considerar que em meus escritos há poucas letras supérfluas e que forma
eliminadas todas as que não continham uma chispa de utilidade? Ademais, estas contêm em sua uma
doutrina e um ensinamento tão certos que o trabalha de escrever é para mim uma recreação e um prazer.

Não tenho mais que um passo para retroceder, como o gladiador, que é o de fazer um laboratório e uma
escola para declarar e manifestar a preparação do antimônio, a fim de provar que é um remédio muito útil
para curar as enfermidades externas. Direi qual é meu procedimento.

Meus queridos discípulos, amantes da Arte, que desejais conhecer a ciência e os segredos da natureza e
sondar os mais profundos mistérios, se quereis distinguir o dia da noite e a luz das trevas, escutai o que
segue.

CAPÍTULO XXII

O Bálsamo de antimônio

Toma uma parte de antimônio de Hungria, meia parte de sal comum, seis partes da terra da qual se servem
os oleiros, que não tenha sido cozida. Moa e mescla tudo junto e destila a fogo forte. Verás sair
continuamente um azeite vermelho que é preciso desfleumar, a fim de fique no fundo um pó vermelho e
seco que é preciso moer sobre o mármore e deixar dissolver.

Sairá dele um bálsamo vermelho, melhor que todos os outros bálsamos vulnerários, que é muito útil para
solucionar as feridas arraigadas que os médicos vulgares não poderiam curar com seus emplastos,
ungüentos e azeites, que não são mais que remédios suspeitos e perigosos. Este azeite ou (este) bálsamo
foi considerado preciso para as úlceras antigas e poucos remédios o ultrapassam ou a ele se igualam, se
não é o azeite de antimônio que se faz com mercúrio sublimado. Porque é muito melhor para os cânceres,
noli me tangere, gangrenas, fístulas e úlceras. A experiência me levou a conhecer maravilhas incríveis das
quais pretendo silenciar para não parecer que vivo de honra e glória, pois o que obtenho o faço sempre
graças à ajuda de Deus e da santíssima Virgem Maria.

CAPÍTULO XXIII

O Azeite de Antimônio com o Mercúrio Sublimado

Há outra preparação do antimônio que se faz da seguinte maneira.

Toma mercúrio vulgar sem brilho e muito puramente sublimado, e antimônio a partes iguais. Moa-os e
mescle-os. Destila em seguida por um matraz que retenha os espíritos. Repita a destilação do material por
três vezes. Retifica logo teu azeite com espírito do vinho, e estará preparado e muito vermelho, sendo
inicialmente branco. Coagula como o gelo ou a manteiga fundida.

Este azeite opera tão grandes maravilhas na natureza que mal se poderia acreditar no que pode fazer.
Porém sua virtude, sua faculdade e suas operações aparecem sempre quando transmuta o mau em bom.

CAPÍTULO XXIV

O Azeite para as úlceras

Há mais outro azeite, extremamente útil para feridas externas.

Toma antimônio e enxofre, de cada um uma parte; de sal armoníaco e de sal de urina clarificada, de cada
uma a metade de uma parte; de cal viva duas partes. Pulveriza e mescla tudo junto e depois destila. Caso
se sublime alguma coisa, retira-a, volte a moer com a cabeça morta e torne a verter o azeite destilado
sobre a matéria moída. Destila como antes. Repete três vezes esta mesma operação e o azeite estará
acabado.

Este azeite cura todas as úlceras obstinadas e é muito forte e penetrante. Um dos fundamentos para uma
cura segura, como também o azeite do vitríolo.

CAPÍTULO XXV

Sobre outro bálsamo vulnerário

Prepara-se também um bálsamo vulnerário de várias coisas. Toma quatro onças de enxofre, faça-as fundir
a fogo lento, depois ponha cuidadosamente meia libra de mercúrio, removendo sempre com um cuidado,
com uma estaca, até que todo esteja bem incorporado e se endureça.

Depois disso, moa esse material e mescla-o com quatro onças de antimônio, quatro onças de arsênico
vermelha e dois onças de crocus martis, com oito onças de ladrilho moído. Sublima tudo isso em um vaso
de vidro segundo a arte, e terás rubis orientais tão velos e tão coloridos quanto os verdadeiros, que são no
entanto voláteis, não tendo nada de fixos.

Estes rubis, separados cuidadosamente do cinabre, sublimando, é preciso moê-los e fazer deles um extrato
com vinagre destilado, que é preciso depois disso extrair muito lentamente pelo banho. E o pó restante no
fundo se deve moer muito sutilmente. Seguidamente se extrai dele a tintura em outro vaso pelo de espírito
do vinho e se separam dela as borras restantes.

Deixa circular esta extração ao banho durante um mês em um vaso bem fechado. Destila como fizeste com

o vinagre, e o pó no fundo do vaso se dissolverá em poucos dias em um livro belo e claro, muito eficiente
contra úlceras e feridas caso sejam tratadas com uma pluma empapada deste licor e se ponha por cima um
comum emplasto vulnerário.
Este licor nunca abandona ninguém, mesmo nos casos de feridas que são incuráveis para a medicina
vulgar. Porém não compreendo aí essas soluções de continuidade que dependem de algumas causas
externas. Porque para curá-las é preciso usar remédios internos que dissequem e arranquem os sintomas
e centro do mal, ainda que haja poucos mestres hoje no mundo que se interessem pelo que escrevo agora.

Se os homens considerassem a miserável condição da vida, sua caída pelo pecado original, do qual
seguem todas as calamidades e inclusive várias grandes doenças que nos atormentam, empregariam o
tempo mais utilmente que agora, e buscariam todos os meios para aliviar a saúde alterada de seu próximo
com sentimentos de caridade cristã, tal como Deus ordenou, para cumprir seu dever. Porém como muitos
perdem seu tempo em coisas inúteis e consideram o trabalho como algo chato e enjoado, permanecem em
seus antigos erros e deixam apodrecer as carnes e o corpo de um doente sem tocá-lo, temendo que as
mãos se deteriorem.

Que miseráveis somos! Não temos nada próprio neste mundo do qual possamos nos vangloriar. Não
somos senão passageiros baixo a direção de Deus, que nos quer unicamente para que nos sirvamos e
desfrutemos das coisas que ele nos dá, porém ele não nos fez proprietários destas nem Dele.

È por isso que deveríamos pois nos governarmos bem espiritualmente e corporalmente, como fazem os
fiéis (inquilinos) na vida civil para com os proprietários das casas que ocupam, a fim de que Deus, o pai
celestial e nosso bom pai de família, vindo para retirar os bem nos outorgou, nossos pecados e nossas
ingratidão não o obriguem a nos trancar nesta prisão onde não mais do que ranger de dentes e um
arrependimento eterno. Porque se o homem considerasse isso, não teria jamais o pensamento de pecar, e
cumpriria exatamente seu dever e se tornaria útil ao seu próximo. Porém, a dizer a verdade, isso ocorre
muito raramente ou quase nunca, e todo o esforço humano não é outro que a adquirir bens e dinheiro a
torto e a direito. Os grandes e os poderosos não têm nenhum cuidado com seus deveres, o vulgo se une a
eles e cobre suas violências com o nome de equidade, a fim de desfrutar com maior segurança de
aquisições sujas.

Cuida-te, que te advirto de que tantos bens mal-adquiridos, desonestamente, não servem mais que
espinhos no coração, ou como cordas prontas para estrangulá-los. Apesar que nesta terra todas estas
advertências são vãs e menosprezadas. Porque tendo empreendido e feito em outra época uma difícil
peregrinação a Santiago de Compostela, e tendo retornado ao meu convento, acreditava que muitas
pessoas se regozijariam comigo e renderiam graças a Deus pelas santas relíquias que tinha trazido comigo
para o bem de nosso convento e dos pobres. Mas poucos se manifestaram e poucos se consideraram em
dívida com Deus por tal bem, e vários, ao contrário, não fizeram mais que zombar e até aumentaram
depois de um tempo a estupidez de suas brincadeiras, seus menosprezos e suas blasfêmias. Porém o
justo Juiz saberá castigá-los no dia do Juízo. Abandono este assunto para retornar ao antimônio, do qual
se prepara outro remédio, de outro tipo, para febres e para a peste.

CAPÍTULO XXVI

Outra preparação do azeite de antimônio sem adições

Contra a peste e todos os tipos de febres.

Toma antimônio em fino pó. Destila-o pela abertura unida a um recipiente de cristal. Repete três ou quatro
vezes, e se fará por fim um pó vermelho que terás que extrair com vinagre destilado. Depois do que
circularás esta extração em banho-maria durante dez dias; então destilarás o vinagre, aumentando o fogo
até o máximo com um certo cuidado, para que o que resta ao fundo se transforme e passe em forma de
azeite. O qual é preciso deixar circular em um pelicano até que toda a fleuma se separe dele por destilação
e o azeite seja recolhido em um novo recipiente; este azeite cura febres, dando quatro grãos ao doente
com água de cardencha vendita; faz suar e é muito bom em tempos de peste.

A mesma dose de quatro grãos colocada no espírito do vinho ou em vinagre destilado, segundo tenha a
peste começado por calor ou por frio, rechaça-a e cura-a poderosamente. Este é o que três de meus
irmãos provaram bem, porque sendo atacados pela peste e vendo-se moribundos e privados de toda
esperança de cura e salvação, foram livrados da morte por este último segredo. Depois do que estimaram
meu remédio mais do que antes; e por suas orações e trabalho manual, depois de ter terminado o culto, me
ajudavam todos os dias com tanto cuidado e assiduidade que por fim adquiriram comigo muita experiência.

O que foi causa de que em um só ano, tanto por seus engenhos quanto pelo de outros de meus irmãos,
descobrimos mais segredos e mistérios da natureza, o que não tínhamos podido fazer antes. É por isso
que estando reduzido à extrema velhice, dei-lhes graça como o faço ainda de todo coração, pelo tanto que
me ajudaram, assim como vários outros bons cristãos; porém como ainda estou vivo, rogo a Deus para que
os recompense.

O arquiteto celestial oferece sem dúvida alguma a meus irmãos que estão nos Céus uma recompensa
suficiente para que se alegrem deste salário celeste, em vez do que lhes fora dado nesta vida que não lhes
pode ser pago por homens ignorantes e ingratos.

CAPÍTULO XXVII

Sobre a preparação de outro azeite para os pulmões

Faz-se outro azeite de antimônio com adição que é muito útil.

Toma pois antimônio, enxofre e nitro em partes iguais.

Fecha-os juntos, como se faz ordinariamente. Porém terás mais azeite caso os sorva do alambique com
um recipiente. Este azeite será semelhante em ao do enxofre comum, mas é muito mais forte devido à sua
adição, e opera mais poderosamente que o azeite do enxofre comum que se faz para as feridas. Este
azeite é dado interiormente aos que têm problemas nos pulmões, em quantidade de três gotas no espírito
do vinho. E por fora para as feridas e úlceras fétidas e hediondas, nas quais se aplica sobre um emplasto.
Observarás que é um remédio muito útil e excelente para todos os males.

CAPÍTULO XXVIII

Outro excelente azeite para Gangrenas e Úlceras.

Prepara-se outro azeite de antimônio para curar as gangrenas e as úlceras da seguinte maneira.

Toma uma libra de antimônio, meia libra de sal comum e cinco libras de terra de oleiro não cozida. Moa e
mescla tudo e destila; sairá um espírito amarelo. Quanto todos os espíritos tenham saído, ponha o material
em outro vaso de terra, extraia a fleuma e restará um pó que dissolverás, um bálsamo líquido muito útil
contra cânceres, gangrenas e enfermidades rasteiras; e eficiente para resolver problemas de rosto dos
homens e de peitos nas mulheres. Escreveria muito mais coisas sobre este bálsamo se não temesse as
ignorantes e néscias proposições dos sofistas, que não deixariam de dizer que escrevo estas coisas pela
minha fantasia que digo sobre isso muito mais do que o que realmente encontrei.

CAPÍTULO XXIX

Outro azeite para os pulmões e males do estômago

Faz-se outro azeite da maneira que segue:

Toma quatro partes de antimônio e uma parte de sal armoníaco, moa e mescla tudo. Depois disso, sublima
esta matéria a fogo lento e verás que o sal armoníaco elevará consigo o enxofre sanguíneo do antimônio.
Moa de novo o material restante adicionando, para cada libra, cinco onças de antimônio cru e algumas
onças de um novo sal armoníaco. Sublima como antes. Este sublimado se derrete mais facilmente na cova.
Terás um enxofre combustível como o que se vende. Extraia deste enxofre o vinagre destilado que
separarás por banho-maria. Extraia a tintura e por um sutil artifício, joga o pó em um recipiente, e se o
estudioso da Arte segue bem o caminho, encontrará um azeite doce, excelente, e sem perigos nem
corrosões, que combate todos os tipos de dores nas costas. E se os asmáticos tomam dele de manhã e à
tarde dois grãos no espírito do vinho, remedia todas as enfermidades do peito e expulsa todas as
impurezas; me serviu muito mais do que eu pensava.

Tendo pois descrito todas as virtudes do antimônio preparação citada acima, acredito que seja inútil repetilas,
com receio de me tornar chato, insosso e tedioso e provocar alguma suspeito no espírito dos
estudiosos. O licor deste enxofre de antimônio é muito útil contra os males externos. Elimina qualquer coisa
que aflija a pele, inclusive manchas nas mãos. Quem o esfregar da maneira correta terá a sarna curada e
também os desagradáveis efeitos das picadas de inseto e outros tipos de erupções cutâneas.

CAPÍTULO XXX

Outra preparação do Enxofre do Antimônio em Azeite

Prepara-se em mais uma maneira o enxofre do antimônio, tal como verás.

Toma duas libras de antimônio, moa-as e faça-as ferver durante duas horas e um pouco mais em uma
cândida forte feita de cinzas de urtigas. E depois da extração, bem-filtrada, resultar clara, verta em cima
vinagre; cairá no fundo do vaso um pó vermelho. O qual dissecarás calmamente, eliminando toda a fleuma.
Depois do que extrairás a tintura com vinagre destilado, como foi dito precedentemente na preparação do
outro enxofre. Reduza-a em azeite por destilação. Este azeite não é inútil, só é inferior ao primeiro porque a
sublimação que se faz pelo sal armoníaco derrete o enxofre com mais facilidade e dá mais força à tintura.

CAPÍTULO XXXI

Observações particulares e necessárias

Sobre as diferentes preparações do antimônio, é preciso remarcar que há três coisas necessárias no
tocante às diferentes preparações do antimônio na Arte espargírica

Em primeiro lugar, a preparação do vinagre da mina de antimônio.

Em segundo lugar, a estrela do régulo não deve passar desapercebida.

Em terceiro lugar, é preciso por fim dizer algo a respeito do chumbo dos filósofos, do qual muitas pessoas
já imaginaram grandes coisas e acreditaram que dele se poderia fazer o verdadeiro mercúrio dos filósofos.
Porém se enganar, porque isso é impossível, e Deus não deu lhe deu tanto assim para que nele se possa
encontrar o verdadeiro mercúrio dos filósofos. Este mercúrio, o primeiro ser ou a primeira água dos metais,
da qual se faz a grande Pedra dos antigos filósofos, encontra-se em outro mineral, no qual a operação por
razão metálica é mais ampla do que no antimônio, cujo chumbo não tem mais que uma ou outra utilidade.
Que isso baste a respeito.

Observa bem que o antimônio é a coluna universal da medicina, tanto interna como externa, para toda
classe de enfermidades, caso obviamente seja preparado da maneira correta.

Depois dessa advertência não faltará nada ao Artista mais que aprender a discernir as naturezas minerais
e metálicas, e sobretudo observar exatamente a preparação e o uso do antimônio. Porque sendo isso
conhecido, seu julgamento será verdadeiro e eqüitativo.

Levarei pois minha promessa a cabo ensinando aos olhos de meus discípulos a última e verdadeira
separação do bom e do mau para a preparação do vinagre filosófico, que toma seu início do antimônio.

CAPÍTULO XXXII

A preparação do Vinagre Filosófico
Toma a fonte da qual se funde e se separa o antimônio. Moa-a sutilmente e, depois de tê-la colocado em
um matraz de colo longo, verta sobre ela água de chuva destilada até a metade do vaso, que deixarás bem
fechado. Depois disso, coloca teu vaso em um banho de putrefação, in ventre aequino, até que comece a
ferver e a espuma suba; esta é preciso eliminar. Este sinal indicará que o corpo do antimônio está aberto.
Então ponha esta matéria em uma cucúrbita bem fechada. Extraia dela a água, que julgarás um pouco
ácida, e nesse estado aumenta o fogo e algo se sublimará.

Mescla este sublimado com as borras restantes e empapa com a mesma água que destilaste, e redestila
da mesa maneira que antes. Repetirás esta mesma operação tantas vezes que teu vinagre adquirirá uma
força notável. Porem quanto ao sublimado, diminua-o a cada destilação. Ato seguido verta este vinagre
destilado sobre um novo antimônio mineral bem moído, em um pelicano, que bóie três dedos acima. Deixe
digerir sob uma calor brando durante doze dias, até que o vinagre se torne mais acre e vermelho.

Depois disso, separa teu vinagre vertendo-o docemente por inclinação e de maneira tal que poderás ter o
licor claro sem nenhum resto de borras, e destila-o em banho-maria sem adição. O vinagre subirá e a
vermelhidão permanecerá no fundo, a qual, sendo extraído pelo espírito do vinho, formará um ótimo
remédio. Retifica mais uma vez este vinagre em banho-maria a fim de separá-lo da fleuma, e dissolva uma
onça de seu próprio sal em quatro onças deste vinagre, depois do que destilarás fortemente pelas cinzas, e
este vinagre ficará mais forte.

Este vinagre refresca maravilhosamente e sobrepassa a força do vinagre vulgar. Acalma as gangrenas
provocadas pelas queimaduras da pólvora e qualquer acidente externo, caso seja mesclado com a alma de
Saturno em forma de ungüento e aplicado na cataplasma. Mesclado e queimado com nitro fixado pelo
enxofre, elimina a inflamação na garganta e extingue o calor.

Em tempo de peste, é preciso tomar uma colherada. Pode-se aplicar também exteriormente sobre um
bulbo pestilento, produzindo uma cataplasma com a terceira parte de água destilada de esperma queimado
de rãs; atrai o veneno e refresca.

CAPÍTULO XXXIII

O Régulo Marcial Estrelado

Observação

O régulo marcial estrelado é muito estimado, e conduz a inúmeros triunfos, sendo que vários encontraram

o que mais buscavam através dele; porém, os desejos de outros foram por água abaixo.
Vários acreditaram que esta estrela era a matéria da verdadeira Pedra dos filósofos, crendo que era
necessário que fosse assim porque a Natureza formara essa estrela de bom grado. Quanto a mim, nego
essa declaração e afirmo que essas pessoas, que se desviaram do caminho régio, tomam um caminho
para ir a lugar desabitados, onde não há mais que aves de rapinas, que lá fazem seus ninhos. E não se
deve atribuir a esta estrela que seja a preciosa Pedra, embora contenha uma propriedade muito alta de
cura, tal como vou explicar a seguir.

Maneira de fazer o régulo estrelado

Toma duas partes de antimônio de Hungria, uma parte de aço em limaduras e quatro partes de tártaro cru.
Fundindo-os, a seguir jogue-os em um crisol. Depois que o material esfriar, prepara-se o régulo das borras.

Moa em seguida este régulo com o triplo de tártaro cru. Caso se proceda corretamente, o que é o principal,
obtém-se uma estrela branca esplêndida como a pura prata, tão bem repartida como se um pintor tivesse
tomando o trabalho de pintar seus raios. E este régulo estrelado se reduz em azeite tal como segue.

Redução do régulo estrelado em azeite

Este, sendo sublimado com sal armoníaco, torna-se vermelho; porque a tintura de Marte sobe, se sublima e
se dissolve na cavidade que é muito útil para as feridas.

E este régulo ou estrela é frequentemente unido pelo fogo à serpente pétrea, de maneira que, sendo todo
consumido (seu enxofre espiritual e invisível) seja absolutamente fundido a esta serpente; o Artista tem
depois disso uma matéria ígnea e fervente, que esconde vários segredos. E este mesmo material se
dissolve também em azeite, que é preciso destilar e retificar até que seja puro e claro.

Seu uso no corpo deve ser feito com prudência e precaução, como com duas onças de vinho ou alguma
água, que seja destilada, própria para o mal. É preciso tomá-la somente duas vezes por semana, três gotas
de cada vez. Que o médico observe bem a causa da enfermidade, a fim de utilize estes remédios com
sabedoria e segurança.

Este azeite contém uma grande acrimônia, na qual estão escondidos muitos segredos que não devem ser
revelados ao vulgo, a fim de que alguma coisa particular seja preservada para os filósofos que
continuamente empregam seus trabalhões e seu sor com estas buscas; e que os queiram seguir minhas
instruções não se arrependam de buscar com assiduidade e afinco, porque por meio de minhas palavras
poderão encontrar o que eu não descobri mais que por trabalho obstinado e que antes pedi a Deus com
todo o coração.

Passei desde o começo muitos preceitos para alcançar o fim desejado, e posto que muitos morrem sem ter
podido alcançar nem o começo nem o fim de seu magistérios, quis por esta razão deixar um livro de
princípios, a de que meus discípulos que ignoram a primeira experiência possam por este meio chegar
cedo ao objetivo ansiado, e que tendo chegado rendam milhares de milhares de graças a Deus.

Soberano remédio contra a pedra e o cálculo, este azeite é admirável na dissolução dos cristais que foram
antes calcinados durante três dias; extrai deles o sal; depois do que torna-se um remédio tão poderoso que
desfaz e rompe pedras e cálculos na bexiga, e além disso realiza várias outras coisas admiráveis.

CAPÍTULO XXXIX

O chumbo dos Filósofos

Quando ao chumbo dos filósofos, aquele que busca os mistérios da Natureza deve saber que o antimônio é
aliado e parente muito próximo do chumbo vulgar, assim como as árvores que preparam e deixam muitas
gomas e resinas, o que é parte de seu enxofre. Porque ocorre o mesmo com o chumbo do antimônio.

Há outras árvores que sendo demasiado abundantes em mercúrio não produzem nada além de flores e
plantas estranhas e de natureza bastante diferente da sua, tal como se vê na macieira, que produz
monstros e bastardos, ou monstros de seus sexos. Do mesmo modo a terra têm semelhantes abortos que
lança e separa quando trabalha em aperfeiçoar os metais. E embora o antimônio esteja tão estreitamente
ligado a Saturno, é jogado e separado pelo excesso de enxofre nele, de maneira que seu corpo viscoso em
seu nascimento o impediu de alcançar a perfeição de um corpo fundível e o forçou a ficar entre os minerais,
porque o excesso de enxofre quente ultrapassou em muito seu mercúrio, que, por falta de frio, não pôde se
coagular em um corpo fundível e maleável. Quanto ao resto, digo que o chumbo do antimônio não é outra
coisa que seu regula que não é tampouco fundível nem extensível.

E quanto vários acreditaram erradamente, como já demonstrei, que o régulo estando unido ao aço pela
fusão, quando se faz deles a estrela, se podia fazer a Pedra Filosofal, ensinei em seguida que remédios se
podem preparar com ele. Por isso não falarei mais sobre ele.

Reconhece-se que este régulo é um chumbo, porque o vidro de antimônio, sendo mesclado com o sal de
Saturno e bem cimentado em um crisol devidamente lacrado, mantido ao fogo durante três horas em um
forno de vento e em seguida fundido, é maleável e mais pesado que antes, porque adquiriu seu aumento
de peso e maleabilidade do sal que lhe foi adicionado. Assim sendo, permanece como um corpo compacto
e poderoso. É por isso que digo que não há grande diferença entre a estrela firmada e o chumbo de
antimônio, ainda que muitas pessoas os encarem como coisas diferentes. Porque uma e outra coisa são
feitas a partir do régulo e podem ser preparadas, como disse, para fornecer os mesmos remédios.

Acabarei por aqui, e depois do compendio seguinte exporei a pedra de fogo da qual falei anteriormente.

Rogo a Deus que abra o coração e os ouvidos do que me escutam, a fim de que, tendo conhecido os
milagres da Natureza, louvem Sua onipotência e auxiliem seu próximo com estes dons recebidos.

CAPÍTULO XXXV

Resumo e suplemento do autor

Cabe observar por fim que o antimônio tem outros usos além dos que aparenta: mesclando-o com outros
metais sob certas constelações e conjunções dos planetas se fazem selos de virtudes admiráveis. E pela
mescla também de outras coisas se fazem espelhos de várias caras e propriedades. Fazem-se também
sinos e estátuas. Porém como isso não interessa ao artista da medicina, minha vocação e profissão,
cumpro meu dever e deixo o resto para que outros Artistas o abordem.

Por como me recebeu a terra em um princípio /

Só posso ter origem no céu /

Também me ajudou fielmente /

Ou que eu tivesse sido parido /

Jasão foi duplamente escolhido /

Ou calor do sol me deu força /

Sem tal iluminação não teria chegado a suar sangue /

Toma a Plutão por companheiro /

Calgactor o deixou tranqüilo no banho /

Vulcano prova sua honra impecável /

Matusalém fica a ti agradecido por completo.

CAPÍTULO XXXVI

Onde se trata em especial do Carro Triunfal do Antimônio e da composição e preparação da Pedra de Fogo
que se faz com e através dele.

Como um dia estava desligado dos pensamentos supérfluos do mundo, depois de ter feito ardentes
orações a Deus, resolvi meditar sobre os meios espirituais para chegar ao conhecimento dos segredos da
natureza. Concluí por mim mesmo que deveria me fazer asas para subir até as mais altas esferas dos
astros, a fim de que, tendo chegado, pudesse outro Ícaro ou Dédalo, segundo o testemunho dos poetas,
considerar tudo o que se fazia lá encima.

Contudo, por descuido e imprudência, estando por demais próximo al sol, este queimou minhas asas ao
mesmo tempo caí em um mar muito profundo. Recorri em seguida a Deus e o invoquei em minha
necessidade. Enviou-me em seguida um socorro desde o alto, que me livrou da morte e do perigo em meio
ao qual me encontrava.

Porque um anjo veio em meu socorro, e fez parar as águas; e, tendo-as parado, descobri em um profundo
abismo uma montanha muito alta sobre a qual subi para examinar se era possível, como dizem os filhos
dos homens, que as coisas superiores possuem comunicação e correspondência com as inferiores, e se os
astros receberam do Criador a força de produzir na terra qualquer coisa a eles semelhante.

Tendo examinado tudo isso, reconheci que o que nossos antigos doutores e preceptores deixaram por
escrito a seus amados discípulos da verdade era irrepreensivelmente correto. É por isso que de todo
coração rendo graças a Deus, que é o autor de todas as maravilhas do céu e da terra.

Digo em poucas palavras que todas as coisas são engendradas nas montanhas tomam sua origem dos
astros por uma névoa aquosa ou uma fumaça úmida, uma espécie de vapor, que, tendo sido por um longo
tempo nutrido pelos astros e recolhido pelos elementos, é por fim reduzido a uma forma palpável, de onde
descobrimos que este vapor é dissecado, a fim que a aquosidade perda seu domínio e que o fogo domine
depois da água, para benefício do ar, porque o fogo se forma da água, e do fogo e do ar resulta a terra, e
estas coisas se encontram unidas em tudo que toma corpo no mundo antes de sua resolução. A água é a
primeira matéria de todos os corpos; a qual, tendo sido dissecada pelo ar e pelo fogo, foi convertida em
terra.

Havendo então proposto que do antimônio se pode preparar uma pedra de fogo, e tendo dito que esta
pedra cura não somente os homens, mas também os metais, de algumas disfunções particulares, é justo
advertir-te antes que é esta pedra de fogo, que é seu mineral, que esta se pode fazer sem uma matéria de
pedra ou se esta da última diferença, gênero e uso das pedras.

Rogo ao Espírito Santo que me assista em meu discurso, a fim de não fale mais do que me está permitido,
pelo qual espero uma eterna absolvição do Grande Confessor que se encontra sentado por toda a
eternidade no trono de Sua misericórdia. Ou dará testemunho de tudo nesta última parada e julgará a todos
os homens sem que podem proferir nenhum protesto ou apelação.

Aprenda, antes de tudo, que a verdadeira tintura do antimônio, que é o remédio dos homens e dos metais,
não se faz de antimônio comum cru e fundido tal como as drogarias e boticários o vendem. É preciso tê-lo
tal como sai de sua mina. É preciso primeiramente fazer seu vidro; porém é necessário saber como se faz
esta extração, porque é toda a Arte e o Artifício. E ao que a encontre não lhe faltarão nem riqueza nem
saúde. Saiba ademais, amigo leitor, que a tintura do antimônio, fixa e sólida, o como eu a chamo, a pedra
de fogo, é certa essência, pura, penetrante, espiritual ígnea, reduzida a um material coagulado, comparável
à salamandra que não pode ser consumida pelo fogo.

A tintura desta pedra de fogo não é universal como a dos filósofos, que se prepara da essência do sol.
Porque a Natureza não lhe deu tantas virtudes para este efeito. Senão no tange somente certas funções e
dádivas particulares, a saber: o estanho, o chumbo e a lua, em sol. Não falo do ferro e do cobre, se não se
pode extrair deles a pedra de antimônio por separação, e que uma parte desta não poderia transmutar mais
de cinco partes, devido a que permanece fixa no antimônio mesmo, em todas as suas provas; sendo que
está verdadeira e muito antiga Pedra dos filósofos pode produzir efeitos infinitos. Semelhantemente, em
seu aumento e multiplicação, a pedra de fogo não se pode exaltar mais; no entanto o ouro é por si só puro
e fixo.

O mineral da pedra de fogo, ou sua tintura, é o mineral da estibina, como já disse, de onde se extrai. Direi
em outra parte, logo, como se faz, suas virtudes e operações.

Em quanto al resto, o leitor saberá ainda observar que se encontram pedras de diferentes espécies, cada
qual com uma propriedade particular. Porque chamo pedras a todos os pós fixos e com propriedades
farmacêuticas e de tintura. Porém existem sempre aqueles que tingem e curam mais eficazmente ou em
mais alto grau que outro.

A Pedra dos filósofos tem o primeiro lugar entre todas. Em segundo lugar vem a tintura do sol e da lua ao
vermelho e ao branco. Depois disso, a tintura do vitríolo e de Vênus, e a de Marte, cada uma das quais
contém também em si a do sol, supondo que seja conduzida antes uma fixação perseverante. Depois, as
tinturas de Júpiter e de Saturno, que servem para coagular o mercúrio. E por fim a tintura do próprio
Mercúrio.

Eis aqui pois a diferença entre os diversos tipos de pedras e tinturas. São no entanto todos engendrados de
uma mesma mãe, uma mesma semente e de uma mesma origem, de onde também foi produzia a
verdadeira obra universal, fora da qual não se pode jamais encontrar outra tintura metálica; digo o mesmo
de todas as cosas que se possam citar.

As outras pedras, quaisquer que sejam, tanto as nobres quanto as vis, não me interessam. Não pretendo
sequer falar ou escrever sobre elas, porque não têm outras virtudes mais que para a medicina. Não farei
mais menção das pedras animais ou vegetais, pois servem unicamente para a preparação de
medicamentos, e não poderiam realizar nenhuma obra metálica; inclusive não produzindo de si a menor
qualidade. Ademais, a virtude e o poder destas pedras, tanto minerais e vegetais como animais,
encontram-se acumulados na Pedra dos filósofos.

Os sais de todas estas coisas não têm nenhuma virtude de tingir, senão que somente as chaves que
servem para a preparação das pedras, não podendo por outra parte nada por elas mesmas; não
correspondendo e estando isso reservado mais que aos sais dos metais, que não devem ser omitidos nem
rechaçados no que concerne às tinturas. Porque na fixação não poderíamos passar por eles porque neles
se encontra o tesouro de onde toda fixação e permanência toma sua origem e seu verdadeiro e único
fundamento.

Se alguém perguntar se tal pedra se pode fazer sem matéria, digo que não. Porque todas as coisas têm
necessariamente sua matéria, os animais uma, os vegetais outra, e os minerais a sua. Observar no entanto
que nenhum corpo pode ser útil à confecção de nenhuma pedra sem fermentação (da qual falarei ao final
desta obra), ainda que no início alguém se sirva de uma forma corporal e de um ser corporal visível e
palpável. Contudo, deste corpo formal se deve extrair uma essência celeste espiritual e uma visão espiritual
-não posso chamá-la de outro modo-, que foi infundida primeiramente nesse corpo pelos astros e depois foi
aperfeiçoada e cozida pelos elementos. Essa essência espiritual deve ser de novo pelo fogo do
microcosmos, diária e palpavelmente transformada em matéria fixa, constante e incombustível.

Minhas palavras não são imaginárias. Falo em um campo livre e se não dissesse a verdade minha mão
não colheria a pluma.

Todas as tinturas dos metais devem ser preparadas desta maneira a fim de que amem singularmente aos
metais e que desejem unicamente se unirem e se juntarem a eles, aperfeiçoá-los, como dois amantes que
não podem reter o ardor que possuem de se unirem e satisfazerem seus desejos. Quando estão em
repouso, e por vontade de Deus, são multiplicados.

O homem está sujeito a estranhas enfermidades que não se podem remediar ou fornecer socorro mais do
que por antídotos, a fim de que recobre sua saúde primeira. Porém o amor ultrapassa ao resto das
doenças. Porque não se pode socorrê-lo mais do por um amor recíproco. E como os desejos de um e outro
sexo são mútuos, apagam-se somente pela satisfação do cumprimento do desejo e união dos pares.

Vários podem dar fiel testemunho do poder do amor, que não ataca somente os jovens, mas também
pessoas de idade avançada, que costumam estar bem ardentes debaixo das cinzas da velhice; sendo este
ardor, no último período da idade, mais febre que delírio de amor.

Muitas outras doenças naturais imitam a compleição dos homens, e seguem as diferentes constituições,
das quais nascem as enfermidades. Porém o amor ataca indiferentemente uns e outros; ricos ou pobres,
jovens ou velhos, zomba dos obstáculos que tentem deter seu avanço.

Em outras enfermidades, a dor não ocupa mais que certos membros e deixa outros em repouso. Porém o
amor envolve todo o corpo, o espírito, a substância, a forma, a matéria, sem excetuar nada. Porque o
coração se preenche de um forte ardor que comunica a todas as artérias e dispersa por todas as veias; e,
por assim dizer, o amor, impulsionando suas raízes, toma posse da razão, dos sentidos, do pensamento e
envolve o espírito do homem, de tal modo que esquece, descuida e menospreza tudo: desdenha a Deus e
de Deus a palavra, as promessas, a cólera, as ameaças, o castigo.

Falo do amor extremo, condenável. E nada pode despojar o homem de tal amor: esquece de seu cargo, de
sua condição, de sua vocação, trata com desprezo os postos de guarda, menospreza as exortações de seu
próximo e de seus amigos, cega-se até que veja sua própria morte, e recusa-se a escutar aqueles que o
aconselham fielmente. O amor tira o sono e corta o apetite de muitas pessoas, torna desatento o obreiro e

o artista que chegam a ser seus seguidores. Muitos caem por amor em uma tristeza melancólica, sobretudo
se o desejado não é preenchido: consome-se com as velas. Alguns ademais perdem sua vida e sua alma,
como o mostram múltiplos exemplos. Porém o homem não tem cuidado com nada, menospreza os perigos
que correm na alma e no corpo, o que é horrível.
Poderia se dizer que é uma coisa indecente, para mim que sou eclesiástico, falar sobre esta paixão.
Entretanto, que ninguém se escandalize disso, porque posso assegurar que este ardor me abandonou; e
rogaria inclusive a Deus que me conserve inteiro a Igreja cristã, à qual estou dedicado por juramento.
Porém falo desta paixão por exemplo unicamente, para fazer ver que todas as tinturas devem ter amor
pelos metais, e que estando unidos por amizade podem alcançar uma perfeição mais elevada, penetrando
em seus corpos este amor.

Voltemos ao presente para a preparação desta pedra, reservando o uso para o final. E como é de uma
natureza ígnea e muito penetrante, é preciso fazê-la cozinhar e amadurecer ao fogo, como todas as coisas
do mundo, com diferenças segundo a diversidade de natureza e coisas; também os fogos são diversos.

O primeiro fogo é celeste, instituído por Deus, pelo qual a fé e a caridade são acendidas sobre os mistérios
da Santíssima Trindade e nosso misericordioso Redentor Jesus Cristo. Essa fé não nos enganará jamais e
não nos deixará na necessidade, senão que livrará nossas almas do último perigo.

O segundo fogo é o sol, o fogo elementar, produzido pelo Sol verdadeiro, pai da maturidade das coisas
sublunares e do macrocosmo.

O terceiro fogo é corporal, pelo todos os alimentos e remédios são preparados. Deste fogo os homens não
podem prescindir, tanto para a saúde como para os alimentos necessários para a vida.

O quarto fogo se encontra na Santa Escritura, que diz expressamente que Deus consumirá o mundo pelo
fogo antes do dia do Juízo. Para saber agora qual será este fogo, é preciso se referir ao Juízo do Altíssimo.

Faz-se ainda menção na palavra de Deus a respeito de um fogo eterno que deve ser empregado para o
suplicio dos condenados. O qual também, com a permissão de Deus, afligirá aos demônios, e do qual
espero que Deus nos preserve. É por ele advirto a todo o mundo fielmente que reze continuamente
segundo sua vocação durante toda a vida, e faça de maneira tal que Deus o retire e o libere do suplício
infinito.

Que todos saibam que nossa pedra de fogo deve ser cozida e amadurecida pelo fogo corporal do
microcosmo, como os outros remédios. Porque quando o fogo do macrocosmo cessa de operar, o fogo do
microcosmo começa a produzir uma nova geração. Que ninguém se assombre desta cocção. O trigo
candial chega à sua maturidade pelo fogo elementar do macrocosmo, e o fogo corporal do microcosmo
realiza outra cocção e amadurecimento, a fim de que o homem se possa servir dele para sua conservação.

O verdadeiro azeite do antimônio, do qual se parara a terra de fogo, tem uma propriedade muito doce.
Também é purgado e separado da terra. Caso seja exposto ao sol em um vaso que seja maciço, reflete
raios admiráveis, vermelhos como rubis, resplandecentes como o fogo, com várias cores maravilhosas, o
mesmo que espelhos talhados que, sendo expostos ao sol, representam várias imagens.

Escuta agora com atenção, querido discípulo amante da Arte, se deseja impulsionar tua experiência mais
adiante.

Primeira preparação da pedra de fogo.

Toma em nome de Deus uma parte de antimônio recém colhido da mina após a saída do Sol e outro tanto
de nitro bem purificado. Depois de tê-los moído e mesclado juntos, ponha-os sobre um fogo lento, que
acalentarás e ativarás com precaução, tal como a Arte o requer.

Porque é onde jaz o principal de toda obra. Terás então uma matéria tendendo para o castanho, da qual
terás de fazer o vidro, que pulverizarás como é preciso, e do qual extrairás depois uma tintura muito
vermelha com um forte vinagre destilado feito do próprio mineral do antimônio. Extraia este vinagre por
banho-maria, e te restará ao fundo um pó que é preciso extrair novamente como espírito do vinho retificado
até a derradeira perfeição. As borras ficarão no fundo e obterás uma extração doce, muito vermelha e
muito sutil para a medicina. É o puro enxofre do antimônio separado muito puramente.

A duas libras desta extração adicione quatro onças de sal de antimônio como te ensinei anteriormente;
mescla-os bem e circunda-os em um vaso fechado por um mês inteiro, e se unirão. No caso de encontrar
borras, separa-as. Destila primeiramente o espírito do vinho pelo banho, aumenta em seguida o fogo e
sairá azeite muito doce, vermelho e claro, tendo muitas outras cores admiráveis. Retifica este azeite ao
banho, até que não reste no vaso mais que a quarta parte, e então é bom e está preparado.

Segunda preparação da pedra de fogo.

Toma depois o mercúrio vivo do antimônio, que já te ensinei a preparar, e verta sobre ele azeite vermelho
feito do vitríolo de Marte retificado até o último ponto. Destila sobre fogo de areia a fleuma do mercúrio e
terá um precipitado muito belo e muito útil para as doenças crônicas e feridas e úlceras abertas. Porque
disseca os humores acidentais, dos quais as enfermidades tomam seu nascimento, quer dizer, as
enfermidades marciais para as quais é muito útil o espírito de azeite de vitríolo que permanece com o
mercúrio, unindo-se e juntando-se intimamente a ele.

Terceira e última preparação da pedra de fogo

Toma partes iguais deste precipitado e do azeite de antimônio descrito acima e após tê-los mesclado
ponha-os todos juntos em um vaso de cristal bem fechado. Faça a digestão a calor lento e continua até que
este precipitado seja reduzido em azeite e coagulado: toda a fleuma será consumida pelo fogo e por fim
tudo se tornará como um pó fixo, vermelho, seco, fundível, que não fumega mais.

Meu querido discípulo, falarei agora como os filósofos que predizem o futuro: se levaste adiante o estudo
da filosofia até aqui, terminaste teu trabalho com o antimônio que te prescrevi. Tens um remédio para os
homens e os metais. É doce e agradável o uso, é penetrante, corrige e expulsa o mal, sem excitar o ventre.
Usado como é preciso te será de grande utilidade, tanto para a saúde como para o necessário durante a
vida. Porque te recompensará contra a miséria em todas as tuas necessidades, e nada te faltará neste
mundo. É por isso que deves a Deus um sacrifício de ação de graças.

Amado Senhor, falo agora com o espírito triste, como sendo eclesiástico. Porque não sei se fiz bem ou mal,
se é demais ou se é pouco. Submeto isto ao juízo de cada um. Se chegaste ao final, dai graças a Deus e a
mim que te ensinei. Se erras, não acuses mais que a ti mesmo, porque eu não serei a causa de tuas
falhas.

Falei o bastante, escrevi suficientemente. Mais ainda, não se pode ensinar nada tão claro, tão puro, a
menos que alguém queira deliberadamente correr rumo ao inferno, desvelando segredos proibidos pelo
Criador, e vendendo os frutos recolhidos da árvore que cresce no centro do paraíso.

Em quanto à saúde do homem, seu uso consiste em conhecer e considerar bem os temperamentos e as
compleições das pessoas. Cuida de não carregar demais a natureza, e também de não dar pouco demais
para descarregá-la, ainda que não seja nocivo o dar demasiado pouco. Porque ela ajuda sempre e resiste
ao veneno. Saiba pois que três ou quatro grãos, em casa dose tomada no espírito do vinho, são suficientes
para expulsar todas as doenças.

Esta pedra ou tintura penetra em todos os órgãos do corpo é melhor que todos os demais remédios. Cura
rapidamente os tísicos, as vertigens e todas as enfermidades do pulmão, as dificuldade de respirar, a
tosse, a lepra, a sífilis, a peste, a icterícia, a hidropisia, todas as febres e venenos; conforta o cérebro, a
cabeça e tudo o que lhe pertence, o estômago, o fígado, os rins, purifica o sangue vicioso, cura os tumores
malignos, assim como o cálculo e a pedra, que desfaz e rompe na bexiga; combate e excita a urina que
está retida, assim como a diarréia, reanima os espíritos vitais, cura o que estão infectados por
encantamentos e filtros. Move os mênstruos, parando também os que são demasiado abundantes; causa a
geração e faz boa semente em um e outro sexo.

Esta pedra de fogo limpa por dentro e por fora, cura a gangrena, as enfermidades corrosivas e as que
nascem de um sangue corrompida. Cura a sarna, as escrófulas; cura os cânceres, o noli me tangere. Em
uma palavra, esta pedra, como tintura particular, transmuta todos os metais em ouro muito puro ou melhor
que o das minas do Peru. É um remédio para todas as doenças às quais o homem pode estar sujeito;
verdade muito constante que a experiência te demonstrará, se és um médico verdadeiro e não fazes pouco
caso de Deus.

Não posso escrever mais sobre o antimônio. Cumpri minha tarefa, que outro realize a sua, a fim de que os
mistérios sejam desvelados antes do fim do mundo para a glória de Deus e saúde dos homens. Calarei e
entrarei em minha ordem monástica até que faça maiores progressos para desenvolver o que encontrei e
trabalhei já há um bom tempo sobre o vitríolo, o enxofre vulgar e o ímã, sobre seus princípios e virtudes. O
Príncipe do céu nos recordou da saúde eterna do corpo e da alma por meio de alegrias inefáveis de
encanto celeste.

Amén.

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