sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

As doze chaves da filosofia

Basílio Valentin


PREFÁCIO DE DOM BASÍLIO VALENTIN DA ORDEM BENEDITINA

Após ter suportado o temor próprio do homem, comecei a considerar, na
simplicidade da natureza, os infortúnios deste mundo e intimamente chorei as
faltas cometidas por nossos primeiros pais. Pois sobre a terra não se encontra
lugar para o arrependimento, os homens pioram e não se aplicam ativamente à
penitência à vista das penas que sofrerão, imperscrutavelmente eternas; por
isso apressei-me, tanto quanto pude, por livrar-me do mal, renunciar ao mundo
e dedicar-me a Deus como servidor.

Já fazia algum tempo que eu vivia em minha Ordem, onde fora
dispensado da obrigação do Ofício Divino que me era imposto; e, não
querendo dissipar em vão o espaço de liberdade que me restava nem que meu
pensamento se tornasse causa de novos pecados, decidi-me estudar a
natureza e, por sua anatomia, perscrutar os seus mistérios; isto é, pesquisar o
que há reconhecidamente de mais elevado entre as coisas da terra, depois
daquelas eternas. Assim que encontrei, em nosso mosteiro, numerosos livros
escritos muito tempo antes de mim pelos filósofos que seguiram a natureza a
fim de aprender essas coisas deles já conhecidas, embora isso me parecesse
difícil - pois no início tudo e penoso e no fim, mais fácil.

Para que também eu adquirisse esses segredos que outros anteriores a
mim já conheciam na sinceridade do meu coração orei a Deus, que mos
concedeu.

Em nosso mosteiro havia um irmão que era atormentado pela dor nefrítica
de um cálculo, de modo que sua doença obrigava-o a ficar freqüentemente
acamado. Consultara numerosos médicos e, sem receber assistência eficaz e
abandonado por todo socorro humano, oferecia sua vida a Deus.

Tomei então a resolução de efetuar a anatomia das ervas: distilei-as,
extraí-lhes o sal e a quintessência, mas não pude encontrar nenhuma que
livrasse esse irmão de seus males, embora realizasse muitas experiências,
pois as ervas não eram suficientemente ativas em sua concentração para que
pudessem curar tal doença. E assim, pelo espaço de seis anos, não encontrei
nenhum vegetal com o qual não tivesse feito experiências.

A partir desse momento, com o espírito mais vivo, concentrei meus
pensamentos, refletindo sobre esse objeto. Pus-me a aprender e também a
seguir esta ciência fundamental, que o Criador houvera escondido nos metais e
minas da terra; e quanto mais procurava, mais nela descobria. Com efeito, um
jorro de luz a cada dia seguiu-se a outro e Deus conferiu-me essa felicidade, a
fim de que eu chegasse ao conhecimento de múltiplas coisas e meus olhos
também as visse, as quais a natureza havia introduzido nos minerais e metais,
precisamente diversos, para que fosse difícil, aos ignorantes, captá-las.

Dentre todas essas coisas, tomei num mineral aquilo que é composto de
numerosas cores e que é de grande eficácia na arte. Por meio disto, retirei
uma essência espiritual que restabeleceu meu irmão doente em sua saúde
primitiva. E, bem mais, este espírito era forte a ponto de poder consolidar o
espírito de meu irmão, que rezou por mim, durante seu lazer de cada dia, até
sua morte. Por outro lado, sobreviveu longamente após sua cura. Suas
orações e as minhas também tiveram tanta força que o Criador esclareceu-me
e, igualmente por causa de minha aplicação, mostrou-me o que permanece
oculto aos prudentes, segundo a designação que lhe damos.

E assim, por este tratado, desejei indicar-te e abrir-te a Pedra dos
Antigos, que nos vem do céu, para a saúde e consolação dos homens, neste
vale de misérias, como o mais alto tesouro terrestre é concedido, e para mim
igualmente legítimo. Como assim o lês, escrevi para utilidade dos pósteros e
não para a minha. Após ter tomado conhecimento, através dos livros, de
numerosos varões mui experimentados, estabeleci meu ensinamento,
submisso à Filosofia, tão sóbrio de palavras quão abundante de sentido, de
maneira que possas atingir a Pedra sobre a qual se apóia a Verdade, com a
recompensa temporal e a promessa da eternidade. Assim seja.


A GRANDE PEDRA DOS ANTIGOS SÁBIOS DE DOM BASÍLIO VALENTIN,

DA ORDEM DE SÃO BENTO

Em meu prefácio, ó mui grande amigo apaixonado pela arte, dei-te a
esperança de ensinar-te, pelo estudo, e aos outros que ardem pelo mesmo
fogo as propriedades da natureza e, mais profundamente, aos pesquisadores,
as artes, a pedra angular e o rochedo, assim como foi-me outorgado do alto.
Indicar-te-ei de que nossos antigos Mestres confeccionaram sua Pedra que
receberam do Altíssimo, com o objetivo de utilizá-la para sua saúde e
comodidade nesta vida terrestre. Em conseqüência, para que eu satisfaça às
minhas promessas e não te desencaminhe demasiado em desvios por meio de
erros sofísticos, mas fundamentalmente, te descubra a fonte de todo bem, é
preciso que acolhas minhas palavras e bem as peses, se estás repleto do
desejo de conhecer as artes por este meio. Cônscio de que não posso ser d e
muita loquacidade, pois esta não é minha intenção, e de que, desta forma, bem
pouco pode ser apreendido, contento-me com as breves palavras que
encerram o fundamento do objeto.

Sabe então que poucas são as pessoas que atingem a posse desta
soberania, embora um grande número esteja ocupado na elaboração da nossa
Pedra. Em verdade, se o Criador quis prodigalizar a verdadeira ciência e seu
conhecimento não comum, o fez apenas a alguns que condenam o engano,
que tem carinho pela verdade e buscam-na, designados para a arte, com um
coração simples, e que, antes de tudo, sem hipocrisia, amam a Deus e, por
esta razão, a ele suplicam.

E por isso te digo: se verdadeiramente te esforças por fazer nossa grande
e antiga Pedra, atém-te a meu ensinamento e, acima de tudo, roga ao Criador
de toda criatura que te confira, para tanto, sua graça e sua benção. Se pecas,
confessa-te, pratica o bem e, nessa intenção, medita; não sejas demasiado
mau, porém virtuoso, a fim de que teu coração seja esclarecido no sentido de
tudo o que é bom. E recorda-te, quando fores elevado às honras, de vir em
auxílio aos pobres e indigentes, aliviá-los de suas misérias e reconfortá-los com
tua mão generosa, para que obtenhas uma benção maior do Senhor e adquiras
teu lugar no céu graças à confirmação de tua fé.

Não desdenhes nem desprezes, ó meu amigo, os livros verídicos
daqueles que obtiveram a Pedra antes de nós, pois, após a revelação de Deus,
é deles que a recebi. E que esta leitura seja renovada, diversa e mui
freqüentemente, para que o fundamento não desapareça e a verdade não seja
extinta como seria uma lâmpada.

Ademais, não te esqueças de teu mui consciencioso afã no sentido de
interrogar sempre os escritos dos autores, e não tenhas o espírito volúvel, mas
busca esta pedra determinada, pela qual todos os Sábios concordam
unanimemente. Pois o homem de pensamentos inconstantes freqüentemente
não anda pela via e precipita-se sozinho nos erros. As casas destinadas a
durar muito tempo não são construídas pelos homens de julgamento instável.

Assim como nossa antiga Pedra não nasce de coisas combustíveis e ela
própria, submetida a ensaios por toda espécie de fogo, é protegida,
conseqüentemente deixa de procurá-la nas coisas em que, pela natureza, não
é admissível que seja encontrada ou aí resida; mesmo que a julgássemos obra
vegetal, isto não pode ser, não obstante uma certa vegetação nela existir.

Pois, nota que, se isso ocorresse com nossa Pedra, como com qualquer
erva, ela seria facilmente queimada e assim nada restaria a não ser um certo
sal. E, se bem que os que me precederam tivessem escrito sobre diversas
pedras vegetais, saibas, contudo, meu amigo, que isso é fácil, embora para ti
seja de concepção difícil. Com efeito, nossa Pedra vegeta e cresce e por esta
razão a qualificaram de vegetal.

Além disso, saibas que os animais não produzem nenhum acréscimo de
sua espécie, a menos que seja feito por sua natureza semelhante. Por
conseguine, só tens a Obras se procuras ou logo tomas a verdadeira pedra e,
para confeccioná-la, somente sua própria semente, da qual originalmente foi
feita. Daí, percebe e compreende, meu amigo, que não deves escolher o reino
animal para a procura desta Obra. Como a carne e o sangue foram dados aos
seres animados pelo Criador que os formou, é assim que o animal foi feito.
Mas nossa Pedra, que me foi transmitida como herança pelos anciães, provém
e nasce de duas e de uma coisa, que guardam uma terceira escondida. Isto é
a mais pura verdade dita com toda lealdade. Pois o marido e a mulher são
tomados, pelos antigos, como um só corpo, não considerando-os pelo aspecto
e pelo exterior, mas encarando-os cheios de amor e penetrados pela graça
desde a origem, reconhecendo-os como um, no trabalho da natureza. Como
por seus dois espermas podem perpetuar-se e aumentar a espécie, assim o
esperma da matéria, do qual nossa Pedra é feita, pode ser estendido e
enriquecido.

É por isso que agora, se és um verdadeiro amante de nossa arte, darás
importância a este ensinamento e o examinarás com sabedoria e não farás
coro com os outros cegos sofistas; e assim não cairás na sepultura, preparada
pelo inimigo.

Por outro lado, para que saibas, meu amigo, donde provém essa
semente, procura em ti mesmo com que objetivo empreendes a elaboração de
nossa Pedra. Então descobrirás claramente que não é de outra coisa senão
duma certa raiz metálica, da qual o Criador determinou que os metais fossem
produzidos. Nota com isto se processa e se realiza.

No princípio, quando o espírito pairava sobre as águas e todas as coisas
estavam envoltas em trevas, então Deus, todo poderoso e eterno, cujo começo
não tem fim e a quem a sabedoria pertenceu desde toda a eternidade, em seus
imperscrutáveis desígnios do nada criou o céu e a terra e todas as coisas que
neles se estendem, visíveis e invisíveis, de qualquer maneira que sejam
denominadas. Com efeito, Deus fez todas as coisas do nada. Mas como
conseguiu esta criação preciosíssima? Sobre este ponto não filosofarei, pois a
respeito decidem os escritos sagrados e a fé.

Numa semelhante criação, o Criador, para toda e qualquer natureza, não
visava nem a destruição nem a diminuição; colocou aí uma semente particular,
a fim de que ela aumentasse e conservasse os homens, os seres animados, as
ervas e os metais. Por se contrário à ordem de Deus, não foi permitido ao
homem produzir uma nova semente segundo seu capricho, mas, pelo menos,
foram-lhe concedidas a sua propagação e crescimento. Em verdade, o Criador
quis reservar apenas para si a faculdade de criar a semente. Doutra forma,
seria possível ao homem agir como o Criador; o que não pode ser e
permanece reservado à Onipotência do Altíssimo.

Agora quero que saibas que esta semente é produzida dos metais da
seguinte maneira: a influencia celeste, por mando e ordem de Deus, desce do
alto e mistura-se com as propriedades dos astros. Quando, em seguida, esta
conjunção se realiza, então essas duas fazem nascer uma substância terrestre,
de certa forma terceira, a qual é o princípio de nossa semente, de sua primeira
origem pela qual ela possa indicar os ancestrais de sua geração. Destes três
nascem e aparecem os elementos, como a água, o ar e a terra, os quais,
depois, pelo fogo subterrâneo, se aprimoram até produzir algo perfeito. Eis a
razão por que Hermes e todos os anteriores a mim - porque, além do mais,
nada podemos encontrar no começo do magistério - designaram três princípios
primeiros; que foram descobertos como sendo: a alma do interior, o espírito
impalpável e a essência corporal visível.

Enquanto essas três substâncias coabitam - por sua união, pelo passar
do tempo e Vulcano - elas também progridem em substância palpável, como
seja em mercúrio, enxofre e sal, os quais são levados pela mistura a seu
endurecimento e coagulação, pelo trabalho constante da natureza e produzem
um corpo perfeito do qual a semente é escolhida e ordenada pelo Criador. A ti,
além do mais, que ousas procurar a fonte de nossa Obra e esperas obter o
preço da Cavalaria da arte num desejado combate, declaro-te, pelo eterno
Criador, que esta é a verdade de toda verdade: Que, se a alma, o espírito e a
forma metálica estão presentes, aí também devem se encontrar o mercúrio, o
enxofre e o sal metálicos, os quais, necessariamente, não podem fornecer
nada além de um só corpo perfeito.

Se, todavia, não queres compreender o que convém que entendas, não
serás designado pela Filosofia ou então Deus a distanciará de ti.

Digo-te, pois, brevemente, que não te deve ser possível chegar ao alvo
com proveito, na forma metálica, se não julgares, em um só e sem engano, os
três princípios mencionados. Agora então compreendes que os animais da
terra, assim como o homem, são compostos de carne e de sangue e que têm,
como ele, um espírito que vivifica e um sopro neles introduzidos, mas são
privados da alma racional, da qual o homem é provido acima de todos os seres
viventes. Assim, logo que as bestas brutas passam da vida à morte, nada se
exala delas, na esperança de que permaneçam na eternidade. Mas se o
homem, no momento da morte material, submete sua existência a seu Criador,
ele vive pela alma, que permanece, e com a qual ele será glorificado.
Retornando a seu corpo glorificado a alma ai habitará de modo que estejam
juntos reunidos e que tenham a força de mostrar sua celeste glorificação, o
corpo, a alma e o espírito que não poderão ser separados jamais, por toda a
eternidade.

Eis porque o homem, por sua lama racional, é encarado como uma
criatura fixa, embora morra, considerado exteriormente, visto que será vitorioso
na eternidade. Com efeito, a morte do homem é unicamente sua glorificação,
de tal maneira que, por certos graus ordenados por Deus para os culpados, ele
seja liberto do pecado e transportado a um lugar melhor, que não cabe às
bestas irracionais. Estas, por outra razão, não são consideradas criaturas
fixas. Seguramente, depois de sua morte, não poderão gozar da ressurreição,
por que lhes falta alma racional, pela qual o único e verdadeiro Mediador, Filho
de Deus, supliciado, derramou seu sangue.

Na verdade, o espírito pode permanecer num corpo e nem por isso seguilo,
devendo este corpo ser fixo, se bem que o corpo se compraza com o
espírito e o espírito não esteja de nenhum modo em luta com o corpo. De fato,
estão desprovidos um e outro desta alma forte, preciosíssima, nobre e fixa, que
coordena e reforça o corpo e o espírito, os mantém e defende naturalmente
diante de todos os perigos. Pois onde a alma não existe interiormente, aí
nenhuma esperança de redenção subsiste. É que a coisa sem alma é
imperfeita; e isso é um dos maiores segredos que convém que o sábio aplicado
à pesquisa da Obras saiba. E sobretudo minha consciência não tolerou aqui
silenciar, mas desejou descobri-lo àqueles que amam o fundamento de toda
sabedoria, Sê então diligentemente atento a meu tratado: os espíritos que se
escondem nos metais são diferentes, um mais volátil ou mais fixo que o outro,
assim como sua alma e seus corpos são desiguais. Qualquer que seja o metal
que contenha, reunidos, os três dons da fixidez, esse metal compartilha dessa
resistência, pela qual pode suportar o fogo e triunfar de todos os seus inimigos.
E isto é manifestado unicamente no sol. A lua possui em si um mercúrio fixo e
por sua razão, não se evola tão rápido no fogo como os outros metais
imperfeitos, mas suporta a prova e o demonstra mais claramente, por sua
vitória, quando o voracíssimo Saturno dela não consegue tirar nenhum
proveito.

Vênus, muito dada ao amor, está cheia e vestida de superabundante cor.
Todo seu corpo é quase pura tintura, que não parece diferente, quanto à cor,
daquela que está no mais opulento dos metais e que, por causa da riqueza
desta cor, se intensifica em vermelho. Mas por ser seu corpo leproso, esta
tintura não pode permanecer encerrada nesse corpo imperfeito e assim é
constrangida a perecer com ele. Com efeito, quando o corpo é aniquilidado
pela morte, a alma não pode permanecer e é obrigada a separar-se e volar,
porque sua morada foi destruída e consumida pelo fogo. Não pode ficar onde
não encontra lugar. Pelo contrário, ela habita voluntariamente e com
Constancia, num corpo fixo.

O sal fixo deu ao belicoso Marte um corpo sólido, rude e firme, pelo qual é
manifestada sua magnanimidade d'alma e nada, com esforço, pode ser levado
deste chefe guerreiro. Seu corpo, com efeito, é neste particular tão compacto
que dificilmente pode ser ferido. Mas se sua potente virtude é unida
espiritualmente, por mistura e concordância, com a fixidez da Lua e com a
beleza de Vênus, uma assaz doce Música pode mesmo ser destacada, pela
qual algumas claves sejam julgadas dignas da recompensa daquele que está
privado de pão e que, tendo subido ao degrau mais alto da escada, poderá
particularmente subsistir. Pois a qualidade fleugmática e a natureza úmida da
Lua devem ser dissecadas com o sangue ardente de Vênus e seu grande
negrume corrigido pelo sal de Marte.

Mas não é necessário procurar tua semente nos elementos. É que nosso
esperma não está assim tão distanciado, pois fica próximo ao lugar em que
nossa semente tem sua estada estável e sua habitação. Só chegarás a ela se
retificares o mercúrio, o enxofre e o sal (bem entendido: dos filósofos) e se de
sua alma, seu espírito e seu corpo fizeres uma certa conjunção inseparável, a
qual, em contrapartida, por toda a eternidade, não será rompida nem poderá
ser desligada. Agora é perfeitamente assegurado o elo de amor e também
preparada no alto a morada idônea da coroação.

E quero que saibas, também, que isso nada mais é do que a chave
líquida que deve ser comparada à propriedade celeste, e a água seca
adicionada à substancia terrestre, as quais são todas uma só coisa nascida e
originária de três, de duas e de uma. Se tens a força de aí chegar, és vitorioso
e tens o Magistério. Então une um ao outro, a noiva e o noivo, a fim de que se
nutram e cresçam de sua carne e de seu sangue e, por sua semente, se
propaguem ao infinito.

Mesmo que por afeição relevasse mais o Criador o proibiria. Por
conseqüência, não me convirá falar mais claramente, para que o dom do
Altíssimo não acarrete o abuso e também para que eu não me constitua em
casa de numerosos crimes que se cometeriam e, desta maneira não atraia
sobre mim a cólera divina e não seja lançado, como os outros, nas penas
eternas.

Mas, meu amigo, se isso não te é de compreensão suficientemente clara,
ensinar-te-ei minha prática, como consegui, com a ajuda de Deus, esta Pedra
dos Antigos. Que examines e considere com cuidado minhas Doze Chaves
pela leitura atenta, freqüente e repetida e procedas como te instruo e te ensino
de maneira figurada e fundamental.

Toma um fragmento de excelente e fino ouro e divide-o por aquele meio
que a natureza doou aos homens apaixonados pela arte, como o anatomista
recorta o cadáver humano e com isso estuda o interior do corpo, e faze com
que teu ouro retrograde ao que havia sido antes. Ai então encontrarás tua
semente, o começo, o meio e o fim; de onde nosso ouro e sua esposa foram
feitos, de um penetrante, sutil e puro espírito, de uma alma delicada, pura e
sem mácula bem como, de sal e bálsamo astrais, os quais, após sua união,
não passam de um licor mercurial.

Esta mesma água foi levada à academia de seu próprio Deus Mercúrio
que a examinou e, quando a reconheceu legítima e sem excessos, associou-se
à sua amizade e uniu-se a ela em matrimônio. E assim, da união de ambos foi
feito um óleo incombustível. Mercúrio tornou-se tão orgulhoso que a custo
reconhecia-se a si mesmo. Rejeitou suas asas aquilinas, devorou sua própria
cauda escorregadia de dragão e provocou Marte para o combate.

Marte reuniu então seus cavaleiros e deu ordens para que se
aprisionasse Mercúrio, a quem Vulcano fora designado como guardião, até que
fosse libertado pelo sexo feminino.

Tendo-se propagado tais fatos por toda parte pela voz do povo, os outros
planetas também se reuniram e, por sessão do conselho, discutiram que
atitude assumiriam mais tarde, a fim de se proceder sabiamente. Então
Saturno, o primeiro na ordem, com um discurso mais inflamado, começou a
falar da seguinte maneira:

Eu, Saturno, o mais alto dos planetas no firmamento, aqui declaro, diante
de vós todos, Senhores, que sou dentre vós o mais inútil e desprezível, de
corpo débil e corruptível, de cor negra, submetido aos ultrajes de numerosos
tormentos neste vale das misérias e, no entanto apreciador de todos vós. De
fato, não tenho morada permanente e comigo levo meu semelhante. A causa
de minha adversidade não deve ser atribuída a ninguém, senão ao inconstante
Mercúrio que, por sua indiferença e negligencia, me inflige este mal. Eis
porque a todos vós rogo vingar-vos dele por minha infelicidade e, como já está
aprisionado, matá-lo e retê-lo até a putrefação, e que nele não seja deixada
uma gota de sangue.

Logo que Saturno concluiu seu discurso, eis que se adianta o sombrio
Júpiter. Começa por uma flexão dos joelhos e, com uma singular reverência do
cetro e louvando o pedido de seu colega Saturno, acrescenta que todos os que
não auxiliarem no cumprimento dessas resoluções, serão perseguidos. E foi
assim que perorou o seu discurso.

Em seguida, adiantou-se com sua espada desembainhada,
admiravelmente diversificada de cores, assemelhando-se a um espelho
inflamado, brilhante de raios extraordinários dirigidos para todos os lados,
entregou a espada ao carcereiro Vulcano, a fim de que cumprisse essas coisas
ordenadas pelos Senhores e que, após ter morto Mercúrio, lhe consumisse os
ossos pelo fogo: no que Vulcano, como executor, mostrou-se dócil.

Enquanto o carrasco cumpria seu ofício, chegou uma mulher, bela e
resplendente de brancura, vestindo uma longa indumentária de cor prateada e
cravejada de numerosas pedras preciosas, a qual foi reconhecida como sendo
a Lua, esposa do Sol. Esta prosternou-se e rogou, pedindo com muitas
lágrimas e gemidos que o Sol fosse livrado da prisão em que houvera sido
lançado, com violência e perfídia, pelo artifício e poder de Mercúrio e onde, até
então, estivera retido por ordem dos outros planetas. Mas Vulcano recusou
absolutamente e, perseverando em seu ofício, procedeu com zelo à execução
da sentença lavrada, até que enfim a rainha Vênus chegou, numa veste
vermelha brilhante, brocada de verde, mui formosa de rosto, linguagem
desenvolta e agradável, porte extremamente grácil, carregando nas mãos as
mais olorosas flores que, pelo aspecto e admirável diversidade de cores,
reconfortavam e encantavam os olhos humanos, Apelou em língua caldaica
junto ao justiceiro Vulcano pela libertação e recordou-lhe o futuro resgate pelo
sexo feminino. Mas os ouvidos de Vulcano permaneceram fechados.

Enquanto ambos assim se entretinham, abriu-se o céu e surgiu um
potente animal, com numerosos milhares de filhotes, perseguindo e atingindo o
justiceiro. Abriu largamente sua goela e devorou a preciosíssima Vênus, sua
protetora, gritando, ao mesmo tempo, com voz penetrante: Nasci das mulheres,
que propagaram abundantemente meu sêmen, com que enriqueceram a terra.
Sua alma esteve unida à minha e eis porque me nutrirei e saciar-me-ei de seu
sangue. Assim que falou tudo isso com vigor, o animal dirigiu-se para certa
caverna e aferrelhou a porta atrás de si. Ora, todos os filhotes por ordem o
seguiram e tiveram excelente alimento que jamais haviam recebido. Beberam
excelente óleo incombustível; digeriram facilmente os alimentos e a bebida e
tornaram-se muito mais numerosos do que antes. E isto se produziu a´te que
os pequeninos tivessem preenchido todo o mundo.

Enquanto esses acontecimentos se desenrolavam, numerosos homens
deste país, sábios e experimentados na ciência por um longo estudo, se
reuniam e esforçavam-se por encontrar uma explicação para todos esses fatos
e todas essas palavras, para o que fizeram uso da maior compreensão e da
parte melhor de tudo. Mas nenhum deles conseguiu chegar a uma conclusão.
Efetivamente, não chegavam a um ponto de vista comum, até que foi visto
adiantar-se um homem de avançada idade, barba e cabelos brancos como a
neve, vestido de púrpura da cabeça aos pés. Levava sobre a cabeça uma
coroa, na qual brilhava um precisosissimo escarbúnculo. Pelo meio do corpo,
cingia-o um cordão. Caminhava com os pés descalços e exprimia-se por
singular espírito que nele se ocultava e sua linguagem penetrava o recôndito
de seu corpo, sendo sentido até pelo alento de seu coração. De elevada
estatura, exortava os povos reunidos a que guardassem silencio e o
escutassem atentamente. Estava ali enviado do alto para que lhes
franqueasse as sobreditas alegorias e as desvendasse por fala filosófica.

E como , no momento, todos se mantivessem quietos, começou desta
maneira:

Desperta, ó homem, e contempla a luz, que as trevas não te seduzam! Os
Deuses da fortuna e os Deuses superiores instruíram-me por intermédio de
profundo sono. Como é feliz o homem que reconhece os Deuses! Que
portentosas maravilhas operam! Feliz daquele cujos olhos estão abertos, de
modo que veja a luz que outrora estivera escondida!

Os Deuses deram duas estrelas ao homem para conduzi-lo para a grande
sabedoria; observa-as, ó homem! E segue com constância seu clarão, pois que
nelas está a sabedoria.

Fênix, pássaro do sul, arranca o coração do peito de um forte animal do
oriente.

Dá asas ao animal do oriente, como àquele do sul, para que se
assemelhem. Pois o animal do oriente deve ser despojado de sua pele de leão
e perder suas asas. Nesse momento entram juntos no grande mar agitado do
oceano e, de novo, saem com a beleza. Mergulha teus espíritos instáveis
numa profunda fonte, cuja água jamais falta, a fim de que se tornem
semelhantes à sua mãe, que se acha ali escondida e que de três veio ao
mundo.

A Hungria, primeiramente, engendou-me; o céu e os astros entretêm-me
e mesmo a terra me abriga. Se bem que esteja constrangido a morrer e ser
enterrado, todavia, Vulcano, em segundo lugar, faz-me nascer. Eis porque a
Hungria é minha pátria; e minha mãe encerra todo o mundo.

Como todos os presentes entendessem estas coisas, continuou:

Faze com o que está no alto esteja em baixo; o que é visível, invisível; o
palpável, impalpável, e novamente, faze com quedo que está em baixo seja
feito o que está no alto; do indivisível, o visível; do impalpável, o palpável.
Essa é toda a arte interiormente perfeita, sem falta nem omissão, na qual
habitam a morte e a vida, a destruição e a ressurreição. É uma esfera redonda
pela qual a Deusa da fortuna impele seu carro e dispensa aos homens de Deus

o dom da Sabedoria; por outro lado, por seu próprio nome, segundo a
concepção terrestre, ela é chamada todas as coisas em todas. Acima das
coisas eternas, este árbitro e juiz se mostra o mais elevado.
Quem quer que deseje saber o significa todas as coisas em todas, na
terra, que faça enormes asas, bem reforçadas, a fim de que se elevem
sozinhos e, voando pelo ar, se ergam à mais alta região do céu superior.
Queime então suas asas por um fogo muito vivo, a fim de que a terra
precipitada caia no mar vermelho e ai seja engolfada. E, pelo fogo e pelo ar,
disseque a água para que haja de novo terra. Então, digo-te, é que tens todas
as coisas em todas as coisas.

Se isso não puderes encontrar, investiga em ti mesmo e considera tudo
ao teu redor, tudo o que existe no mundo. Então encontrarás todas as coisas
em todas as coisas, o que é uma força atrativa de todas as forças metálicas e
minerais nascidas do sal e do enxofre e duas vezes engendradas do mercúrio.
Não me convirá, digo-te, expor desde já o que é tudo em tudo, visto que tudo
está compreendido em tudo.

A estas palavras, ainda ajuntou:Ó homens meus amigos, assim, pela
instrução de minha voz, tendes percebido a ciência, sobre como deveis
encontrar a grande Pedra dos antigos Filósofos, que cura os metais leprosos e
imperfeitos, fornece-lhes uma nova geração, conserva os homens na saúde e
condu-los a uma grande duração. Por sua celestial força e efeito, ela protegeu-
me até o presente, de modo que, cansado desta vida, por minha vontade,
desejo morrer.

Deus, por sua graça e sua ciência com as quais há muito me gratificou
com indulgência, deve ser louvado por todos os séculos. Amém.

E, incontinenti, desapareceu a seus olhos.

Terminado o discurso, um a um se retiraram, para os lugares de onde
vieram, refletindo e trabalhando dia e noite por esse intento, segundo o que a
bondade natural havia dado a cada um, etc.


Seguem-se agora as Doze Chaves de Dom Basílio Valentin da Ordem Beneditina

Com estas são abertas as Portas da Antiga Pedra de Nossos
predecessores e a Secretíssima Fonte de toda Saúde é Desvendada.

Explicação da Chave I

O Rei e a Rainha da Obra, isto é, o ouro ea prata filosóficos,
espagiricamente representados pelo lobo e o grosso florete de retorno sobre
a copela. Esta e o cadinho, no meio das chamas, indicam nitidamente a via
seca , na qual desempenha importante papel o fogo secreto. Este agente é
simbolizado pela dupla personalidade do velho barbudo que o ancinho
identifica com Saturno e a perna e madeira e com o cambaio Vulcano.


Chave I - Os dois agentes da primeira obra.

PRIMEIRA CHAVE

Sabe, meu amigo, que tudo o que é impuro e contaminado não convém à
nossa obra, para a qual, realmente, sua lepra não será de nenhuma valia; ora,

o bom é impelido pelo impuro.
Todas as mercadorias que se vendem, retiradas das minas, valem cada
uma o seu preço, mas, quando falsificadas, tornam-se impróprias. Estão
verdadeiramente alteradas sob um falso brilho, e não são mais, como antes,
convenientes àquela obra.

E como o médico, por meio de seus medicamentos, purga e limpa o
interior do corpo, donde expulsa as impurezas, assim os nossos corpos devem
ser lavados e purgados de toda sua impureza, a fim de que, em nossa geração,
a perfeição possa ser atingida. Nossos mestres buscam um corpo puro e sem
mancha que não seja alterado por nenhuma sujeira ou outra mistura: Com
efeito, a adição de coisas estranhas é a lepra de nossos metais.

Que o diadema do rei seja de ouro puro e que a casta noiva a ele se uma
em casamento.

Eis porque, se desejas trabalhar por nossos corpos, toma o Lobo cinzento
avidíssimo que, pelo exame de se nome, está sujeito ao belicoso Marte, mas,
por sua raça de nascença, é filho do velho Saturno que, nos vales e montanhas
do mundo, é presa da mais violenta fome. A esse mesmo Lobo, atira o corpo
do Rei, a fim de que aquele receba sua nutrição, e, quando tiver devorado o
Rei, faze um grande fogo, atirando nele o Lobo, para consumi-lo inteiramente;
e então o Rei será libertado. Quando isto tiver sido feito três vezes, o Leão terá
triunfado sobre o Lobo, e este nada mais encontrará para devorar naquele. E
assim nosso corpo está bom para o início de nossa Obra.

E saibas que esta via é a única direta e real para purga de nossos corpos.
Pois o Leão se purifica pelo sangue do Lobo e, da tintura desse sangue
contenta-se surpreendentemente a tintura do Leão, visto que os sangues dos
dois são mutuamente unidos por uma certa afinidade de parentesco.

Saciado o Leão, seu espírito se torna mais forte do que antes e seus
olhos, equivalentes ao sol, iluminam com grande fulgor, e sua natureza interior,
sobretudo, é mais forte e útil para tudo o que é pesquisado. E quando estiver
assim preparado, os filhos dos homens, atormentados pela epilepsia e pelas
outras mais graves afecções, render-lhe-ão graças. Os dez homens leprosos o
seguem, desejando beber-lhe o sangue e a alma, e todos os atingidos pela
doença são profundamente reconfortados em seu espírito.

Todo aquele que beber desta fonte de ouro sente a renovação de sua
natureza, a supressão do mal, o reconforto do sangue, o fortalecimento do
coração e a perfeita saúde de todas as partes compreendidas no corpo, seja
interior, seja exteriormente. Ela abre, em verdade, os nervos e os poros, a fim
de que a enfermidade possa ser expulsa e que a saúde, pacificamente, a
substitua.

Mas, meu amigo, prevê diligentemente, de forma que a fonte da vida seja
encontrada pura e clara. Nenhuma água estranha deve ser misturada à nossa
fonte, sem que se obtenha um aborto e que do salutar peixe nasça a serpente.
Igualmente, se por qualquer acidez intermediária que se houver adicionado,
nosso corpo, se tiver dissolvido, faze com que todo corrosivo seja removido.
Nenhuma acidez é útil para combater as doenças interiores, pois que penetra
com destruição violenta e assim engendra ainda mais doenças. Que nossa
fonte seja sem veneno, embora o veneno deva ser retirado pelo veneno.

Quando uma árvore dá frutos malsãos e desagradáveis, ela é separada
perto do tronco e sobre este tronco se enxerta outra espécie de fruto. Então o
enxerto une-se ao tronco, de modo que desta e da raiz, com seu novo ramo,
desenvolva-se uma boa árvore que, seguindo a vontade de seu enxertador,
dará frutos sãos e agradáveis.

O Rei percorre seis cidades no firmamento celeste e fixa sua moradia na
sétima, pois o palácio dos reis, nesse lugar, é ornado de um tapete de ouro.

Se agora compreendes o que digo, então abriste, com esta chave, a
primeira porta e franqueaste o obstáculo do ferrolho. Porque, se ainda não
percebes a luz de minhas palavras, não há óculos de vidro que te discernirão
nem olhos naturais que te auxiliarão, para que encontres no fim o que olvidaste
de início. De resto, não mais falarei sobre esta chave, segundo o que me
ensinou Lucius Papirius.


Explicação da Chave II

Imagem expressiva da Noiva da Grande Obra, representada por um
efebo nu, com asas e coroado, que é o jovem Mercúrio e o pequeno rei, de
acordo com o que testemunham os dois caduceus onde a varinha substitui o
cetro soberano. Ele nasce do sol e da lua dos filósofos, por quem se batem os
dois esgrimadores e, graças a estes aumentam as beleza e pureza, perdendo
porém, em volatilidade com as fezes heterogêneas. É o que exprimem as asas
maiores abandonadas e estendidas no chão.


Chave II - Purificação do Mercúrio pelas "Lavadoras" ígneas.

SEGUNDA CHAVE

Nas cortes dos Grandes e dos Poderosos, encontram-se diversas
espécies de bebidas, dentre as quais, todavia, nenhuma é sequer remotamente
semelhante à outra, pelo odor, pela cor e pelo gosto. Sua preparação é
múltipla e não chegam a bebê-las todas, porque são necessárias à economia
regular, e cada uma tem sua utilidade.

Quando o sol lança seus raios e derrama-os através das nuvens, diz-se
em geral que o sol atrai para si as águas e que as chuvas estão próximas; e, se
isto se repete muitas vezes, haverá então um ano fértil.

Para erguer o esplêndido palácio, todas as espécies de obreiros
trabalham e numerosas máquinas requerem suas mãos, antes que possa ser
tido por acabado e perfeitamente decorado; pela mesma razão, exige-se da
pedra o que a madeira não pode fornecer.

Todos os dias, o fluxo e o refluxo do mar, que vêm de uma certa simpatia
do alto e da influência dos céus, por sua ação, são causa de grandes e
numerosas riquezas para os países vizinhos; pois todas as vezes que se
renovam, trazem algo de bom para os homens.

Uma virgem, que deverá ser dada em matrimônio, é logo magnificamente
adornada de variedades das mais preciosas vestes, a fim de que agrade a seu
noivo e para que, por seu aspecto, acenda nele, profundamente, o
abrasamento do amor. Mas quando ela deve ser unida a seu noivo, segundo o
uso da união carnal, são lhes subtraídas todas as suas diversas roupas, com
exceção daquela que o Criador lhe deu no momento de nascer.

Do mesmo modo, quando se está em vias de celebrar as núpcias de
nosso noivo Apolo com sua noiva Diana, preparam-se-lhes antecipadamente
diferentes hábitos e são-lhes lavados cuidadosamente a cabeça e o corpo com
águas previamente distiladas por diferentes processos que deves apreender,
visto serem extremamente desiguais, uns fortes outros fracos, conforme requer
seu uso, e assim como eu o disse para os vários gêneros de bebidas.

E saibas que, assim que a umidade da terra sobe, forma-se a nuvem,
espessa-se na parte superior e, por seu peso, tomba de modo que a umidade
que se eleva volta à terra. E isto reanima, nutre e fortifica a terra, a fim de que
as folhas e as ervas nela possam crescer. Por esta razão, as tantas
preparações de tuas águas por distilação devem freqüentemente ser
renovadas, de modo que sempre devolvas à terra o que lhe foi retirado e que
de novo o tomes, como o Euripo do Mar muitas vezes abandona a terra e, de
novo, a recobre até que chegue a seu ponto fixo.

Quando o palácio Rei tiver sido disposto e ornado por este meio e por
diferentes trabalhos manuais e o mar de vidro tiver cumprido seu curso e
cumulado o palácio de riquezas, então o Rei nele entrará com segurança e
poderá instalar seu trono.

Porém, meu amigo, presta logo atenção que o noivo se uma à noiva,
ambos nus, devendo ser retirado novamente tudo o que foi preparado para o
ornamento das roupas e concernente à beleza do rosto, de forma que entrem
nus no túmulo, nus como nasceram, e que sua semente não seja corrompida
por uma mistura extrínseca

Em conclusão a estas palavras, digo-te, com toda a verdade, que a mui
preciosa água, que deve vir a ser o banho do noivo, seja confeccionada
sabiamente, com muito cuidado de dois atletas (isto é, de duas matérias
opostas), a fim de que um adversário excite o outro, e, acima de tudo, que se
tornem ativos no combate e ganhem o prêmio da vitória. Certamente, não é útil
à águia construir seu ninho nos Alpes, pois seus filhotes morreriam por causa
da neve do topo das montanhas.

Eis porque se unes à águia o frio dragão, que teve, por longo tempo, seu
domicílio nas pedras e vem rastejante das cavernas da terra, e se colocas
ambos no assento infernal, eis que Plutão, verdadeiramente insuflará o vento, e
do frio dragão fará sair o espírito volátil e ígneo que, com seu grande calor,
queimará as asas da águia e produzirá o banho sudorífico. Igualmente a neve,
nas montanhas mais altas, começa s fundir-se formando-se a água; tudo isto
para que o banho mineral seja bem preparado e dê ao Rei a ventura e a saúde.

Explicação da Chave III

O dragão está na origem das duas naturezas, a aquosa e a ígnea, e é
causa do combate que elas travam: razão porque ele ocupa todo o primeiro
plano desta composição. Dele nasce diretamente a raposa escolhida por
Basílio Valentin, numa analogia física que destaca, a nosso ver, este fato
curioso que o nome do manhoso quadrúpede é do gênero feminino em todas
as línguas arianas.

Quanto ao galo, só nos resta repetir as palavras de Fulcanelli: <O
carvalho não fornece apenas a galha (gallus canelli: galo), mas ele dá também

o hermés que, na Ciência Gaia, tem o mesmo significado que Hermes. As
duas palavras têm o mesmo sentido comum: Mercúrio >.
Chave III - Combate das duas naturezas oriundas do dragão.

TERCEIRA CHAVE

O fogo pode ser extinto e completamente destruído pela água. Se muita
água é derramada sobre um pequeno fogo, então este é constrangido a ceder
àquela e a ceder-lhe a soberania da vitória. Assim nosso enxofre ígneo, pela
água preparada segundo a arte, deve ser sobrepujado e vencido, de modo que,
após a separação da água, a vida ígnea de nosso vapor sulfuroso triunfe e, de
novo, alcance a vitória. Por outro lado, neste desenho, nenhum triunfo pode
ser atingido sem que o Rei tenha adicionado, à sua água,sua natureza
enérgica e sua força, e sem que lhe tenha cedido a chave de sua própria cor.
A um tal ponto que seja destruído por ela e se torne invisível; mas por essa
transformação, deve tornar sua forma visível, muito embora com diminuição de
sua essência natural e aperfeiçoamento de seu corpo.

Um pintor pode sobrepor o amarelo ao branco, o vermelho ao amarelo e,
certamente, a cor púrpura, e assim por diante, tantas vezes quantas quiser, até
que sejam reunidas todas as cores e que, não obstante, a última apresente a
mais alta tonalidade. Assim também deve ser em nosso Magistério. E assim
que isso for feito, tens diante dos olhos a luz de toda sabedoria, a qual brilha
nas trevas, embora ela não queime. Pois, nosso enxofre não se consome,
porém, ilumina, por muito tempo e ao longe; e nada colore, a menos que seja
preparado e tinto por sua cor, pela qual em seguida tem a força de tingir os
metais fracos e imperfeitos. Ora, não é permitido a esse enxofre colorir, se
esta cor não lhe for dada com a maior perseverança. Pois o mais fraco não
pode exaltar-se, mas o mais forte conserva a superioridade sobre o mesquinho
e o débil é forçado a ceder ao robusto. Por esta razão e em favor deste
discurso, retém o sentido e conclusão seguinte: que o pequeno não pode vir
em socorro de um outro pequeno nem trazer-lhe assistência no trabalho. Uma
coisa combustível não pode defender outro combustível, sem ser ela mesma
queimada. Se um protetor deve intervir, que traga socorro ao combustível e o
assista, então o próprio protetor terá mais força do que aquele cuja defesa
compreende. Antes de tudo, mostra-se obrigatoriamente incombustível em sua
essência. Ademais, aquele que quiser preparar nosso enxofre incombustível
de todos os sábios que pondere, a fim de que procure nosso enxofre no próprio
enxofre em que se encontra incombustivelmente, isto não pode ser realizado
sem que o mar salgado lhe tenha engolido o corpo e, de novo o tenha rejeitado
de seu seio. Em seguida, eleva esse corpo em graus, a fim que supere em
muito por seu brilho, todas as outras estrelas do céu e para que em sua
natureza, regurgite sangue, assemelhando-se ao pelicano que ao ferir-se no
peito não enfraquece seu corpo, para que possa, com seu sangue, nutrir e criar
numerosos filhotes. É a Rosa de nossos Mestres, de cor purpúrea e o sangue
vermelho do dragão, descritos por numerosos autores; é além do mais, o
manto de púrpura extremamente folheado de nossa arte, com a qual a Rainha
de saúde de cobre e com a qual todos os metais pobres, pelo calor, podem ser
enriquecidos.

Conserva bem esse manto honorífico, juntamente com o sal astral, que
segue este enxofre celeste. Que nada de funesto lhe ocorra e faça-o voar
como o pássaro, enquanto precisar. Então o galo devorará a raposa, em
seguida perderá a respiração na água e, ressuscitado pelo fogo, será por sua
vez devorado pela raposa, a fim de que o semelhante seja restituído ao
semelhante.

Explicação da Chave IV

Este esqueleto, em pé em cima do esquife e com uma vela acesa ao lado,
tem aqui um significado mais nitidamente alquimista.

O estrume, oriundo de excrementos orgânicos, fornece à terra os
elementos nutritivos indispensáveis ao desenvolvimento e crescimento dos
vegetais. Da mesma forma, o enxofre e o mercúrio, em nossa <<agricultura>>,
precisam de substancias que lhe proporcionam um auxílio eficaz.

Estes agentes vitais e nutridores, introduzidos pela arte, tendem
necessariamente a impelir as matérias para que entrem em conato com fins à
corrupção, para que se verifique o axioma hermético: Corruptio unius est
generatio alterius. É assim que nosso estrume se forma, pela decomposição
dos elementos procradores da semeadura, e se manifesta este calor interno ou
fogo natural, que desprende toda fermentação e que simboliza, em nossa
chave, a vela acesa.


Chave IV - A morte geradora da cinza e do vidro precioso.

QUARTA CHAVE

Toda carne nascida da terra será destruída e, de novo, devolvida à terra;
como antes foi terra, agora o sal terrestre dá uma nova geração pelo sopro de
vida celeste. Onde, com efeito, não havia terra previamente, aí não pode se
seguir-se a ressurreição em nossa obra. Pois na terra está o bálsamo da
natureza e o sal daqueles que buscam o conhecimento de todas as coisas.

Em seu último julgamento pelo fogo, o mundo será julgado, para que
aquilo que foi primitivamente feito do nada pelo Mestre, inversamente seja
reduzido pelo fogo a cinza da qual, enfim, a fênix criará seus pequeninos.
Analogamente, na cinza está oculto o tártaro verdadeiro e natural que deve ser
dissolvido. Após a dissolução desse tártaro, a potente fechadura do
apartamento do Rei pode ser aberta.

Após a combustão serão formados um novo céu e uma nova terra e um
novo homem aparecerá muito mais brilhante do que qualquer que tenha antes
vivido, no primeiro mundo, e que será glorificado.

Quando a cinza e a areia estão perfeitamente preparadas e purgadas
pelo fogo, então o vidreiro fabrica o vidro que, depois sempre resiste ao fogo e
que, também de cor semelhante à pedra preciosa, não é mais reconhecido
como cinza. Isto é, para o ignorante, um grande mistério, mas não para o
sapiente que, pela ciência e pela reiterada prática, é mestre do processo
operatório.

Com pedras e fogo, o artesão também prepara a cal, para que seja
adequada ao trabalho; mas, antes de ser preparada pelo fogo, ela é pedra e,
como cal, não pode ser aplicada ao trabalho. O fogo nutre esta pedra e, pelo
fogo, aumenta consideravelmente seu grau de calor até que se fortaleça e, pelo
espírito ígneo da cal, seja conduzida à sua perfeição, nada havendo que lhe
possa ser comparada.

Se algo é reduzido a cinzas e tratado segundo a arte, por si mesmo libera
seu sal. Conquanto na dissecção desse sal, possas guardar separadamente o
enxofre e o mercúrio, e de novo restituí-los a seu sal, consoante a exigência da
arte, esse sal poderá agora voltar, com benefício ao fogo, ao que era antes de
sua destruição e dissecação. Os sábios deste mundo consideram isto
insensatez e vaidade, chamando-o uma nova criação, a que não é vedada ao
pecado diante de Deus. Não compreendem que já havia uma criação anterior
a isso e que o artista, pelo menos, mostrou sua qualidade de mestre, pela
semeadura natural e seu crescimento.

Um artista qualquer que não tenha a cinza, não pode confeccionar o sal
por nossa arte. É que, como o sal, nossa obra corpórea não pode ser
elaborada porque unicamente o sal opera a coagulação de todas as coisas.

Como o sal é o sustentáculo de tudo e a tudo protege contra a putrefação,
assim o sal de nossos Mestres defende os metais para que não sejam
inteiramente aniquilados e destruídos sem que, por meio dele, algo de novo
nasça, a menos que se perca seu potente bálsamo e que, carente de corpo,
desapareça o espírito do sal da natureza. Neste caso, o corpo estaria
completamente morto e nada poderia dele ser tirado com proveito, porque os
espíritos metálicos teriam desaparecido e deixado a casa vazia e nua, por sua
morte natural, na qual nenhuma vida jamais se reanimaria.

Também nota, estudante da arte, que o sal extraído da cinza se
apresenta mais forte e encerra numerosas virtudes. Não obstante, o sal será
inútil, se suas entranhas mais profundas não forem descobertas e seu exterior
não for impelido para o centro. Pois o espírito é o único que dá as forças e a
vida; por outro lado, o corpo despojado nada fornece. Quando chegares a
reconhecer isso, terás o sal dos Filósofos e o óleo mui verdadeiramente
incombustível, sobre os quais antes de mim apareceram tantos livros.

Embora sábios, os mais numerosos,
Me houvessem procurado, meticulosos,
Poucos, entretanto, consideraram,
Com cuidado, minhas forças secretas.

Explicação da Chave V

O leão, cuja cabeça está encimada por uma coroa e pelo sol, simboliza o
ouro filosófico e manifesta sua avidez pelo líquido da enorme retorta
sustentada por uma jovem alegre. Ele estende sua pata de unhas abertas em
direção ao recipiente, cujo interior escuro, nos faz entender que seu conteúdo
aquoso é recolhido de noite.


Chave V - Desenvolvimento do embrião ou enxofre filosófico.

QUINTA CHAVE

A força vivificante da terra produz todas as coisas, que dela nascem; e
quem dissesse que a terra é privada de vida, contraria decididamente a
verdade. Realmente, um corpo morto não pode dar nada a outro que está vivo,
pois ele carece do crescimento, porque o espírito é a vida e a alma da terra,
que nela habita e age, no terrestre por força do celeste e do astral. Pois, todas
as árvores, ervas e raízes, assim como todos os metais e minerais, recebem
suas forças, sua nutrição e crescimento do espírito da terra, porque o espírito,
que é a vida, é alimentado pelos astros e em seguida provê seu alimento a
tudo o que vegeta. Como a mãe abriga a acriança em seu ventre e o nutre de
si mesma, assim a aterra, por seu espírito recebido do alto, guarda vivos os
minerais enterrados em seu seio.

Não é a terra que dá tais forças por si mesma, mas o espírito vivificante
que existe nela; e, se a terra fosse abandonada por seu espírito, ela seria
morta e não ofereceria alimento, bem como faltaria o seu espírito que, pelo
enxofre ou pelo adubo, conserva a foca vivificante e garante todo crescimento
pela nutrição.

Dois espíritos opostos podem permanecer reunidos, mas não se
harmonizam facilmente. Efetivamente, quando a pólvora é inflamada, esses
dois espíritos, de que a pólvora se compõe, separam-se com grande fragor e
violência e voam pelos ares de tal forma que ninguém pode distinguir ou dizer
para onde foram ou em que se transformam, exceto se se sabe pela
experiência que espíritos eram e em que matéria se encontravam.

De tais coisas sabes, meu amigo apaixonado pela arte, que a vida é
unicamente verdadeiro espírito e que, por conseqüência, tudo o que o vulgar
ignorante estima estar morto, em contrapartida deve ser levado a uma vida
incompreensível, visível e espiritual e nesta ser conservado. Destarte, caso a
vida deva trabalhar, esses espíritos se nutrem e desenvolvem pelo céu e são
oriundos de substância celeste, elementar e terrestre, a qual é chamada
matéria informe.

Como o ferro em seu imã, que o atrai por um amor invisível e
maravilhoso, nosso ouro possui também um imã que é a matéria prima de
nossa grande Pedra; se me compreendes estas palavras, és rico e feliz em
comparação a todos.

Apresentar-te-ei, além disso, um exemplo, neste capítulo, com um homem
que observa, num espelho, a reflexão de sua imagem. Se a ela aproximar as
mãos, nada tocará, senão o espelho no qual se mira. Assim também, desta
matéria deve ser tirado o espírito visível que, no entanto, é inatingível. Este

mesmo espírito digo eu, é a raiz da vida de nossos corpos, e o Mercúrio dos
Filósofos, de onde, em nossa arte, se prepara a água licorosa que de novo
deves tornar material em sua composição e, por certos meios, elevar do mais
baixo grau ao mais alto, no estado de perfeitíssima Medicina. Nosso início é
um corpo tangível e estável; o meio, um espírito fugitivo e uma água de ouro
isenta de toda transformação, da qual nossos Mestres recebem sua vida; o fim
é a mui fixa Medicina dos corpos humanos e metálicos, que foi dado conhecer
antes aos anjos que aos homens. Pode acontecer que certos homens
adquiram a Medicina desta maneira; obtêm-no certamente de Deus por
eficazes preces do coração e mostram-se reconhecidos a Ele mesmo e aos
pobres.

Como conclusão destas coisas, digo-te, com absoluta certeza, que um
trabalho nasce de um outro. Na verdade, no começo de nossa obra, nossa
matéria deve ser perfeitamente e extremamente purificada, em seguida
dissolvida e destruída, intimamente decomposta e reduzida a poeira e cinzas.
Quando tudo isso tiver sido feito, prepara um espírito volátil, branco como a
neve, e um outro espírito volátil, vermelho como o sangue, que tenham ambos,
em si, um terceiro, formando contudo um só espírito. Estes três espíritos que
conservam e incrementam a vida; une-os, dá-lhes toda alimentação e bebida
que lhes sejam naturalmente necessários e mantém-nos num leito nupcial de
calor até o termo do nascimento. Então verás e porás à prova o que o Criador
e a Natureza te outorgaram. E saibas que, até agora, eu não havia feito, pela
palavra, nenhuma divulgação deste gênero e que Deus colocou mais eficácia e
exoticidade na natureza do que milhares de homens poderiam crer. Ora,
quanto a mim, o sinal foi estabelecido, para que outros depois de mim tenham
a força de escrever os milagres naturais suscitados pelo Criador e que os
insensatos julgam antinaturais. O natural toma sua origem no sobrenatural e,
no entanto, todo o conjunto é julgado natural.

Explicação da Chave VI

O Sol e a Lua dos Sábios são humanizados no Rei e na Rainha da
Grande Obra. O bispo que representa o terceiro princípio frisa a qualidade
altamente canônica de seu casamento. O arco-íris que une os dois astros
herméticos, frisa a abundante aspersão do espírito celeste - intenso
bombardeamento fluídico - que participa na operação química ou, mais
exatamente, metalúrgica e lhe conferes seu verdadeiro caráter de alquimia.

Chave VI - União real do enxofre e do mercúrio; aliança do céu e da terra.

SEXTA CHAVE

Homem sem a mulher é visto como um corpo separado em dois, e a
mulher sem o homem, semelhantemente, tem o lugar de um semi-corpo, pois
cada um por si só, isoladamente, não pode produzir nenhum fruto. Mas
quando vivem unidos pelo vínculo conjugal, o corpo está perfeito e de sua
semente pode resultar o crescimento.

Sempre que um excesso de grãos é lançado num campo, o campo
trabalha superabundantemente e o fruto não pode amadurecer. Mas, se o grão
é espalhado, o fruto é raro e o joio cresce com ele, de modo que não se pode
recolher nada.

Se alguém não quiser onerar sua consciência por omissão, vendendo
suas mercadorias, que dê a justa medida a seu próximo e sobre tudo forneça
as medidas e os pesos legítimos, para que fuja à maldição e desperte a
gratidão dos pobres.

Qualquer um pode facilmente afogar-se em grande quantidade d'água,
enquanto que pouca água, sem dificuldade, é dissecada pelo calor do sol e não
é mais estimada por ninguém.

Por esta razão, a fim de atingir o alvo desejado, que seja respeitada uma
certa medida na mistura da substância licorosa da Filosofia; que o ingrediente
maior não seja muito abundante e não oprima a parte menor, para que o frasco
não seja demasiado débil diante do mais forte, que a geração não seja
impedida e que possa exercer-se, assim, uma igual soberania. É fato que as
numerosas chuvas são prejudiciais aos frutos e que as secas excessivas não
trazem nenhuma real perfeição. Por conseguinte, se Netuno preparou seu
banho convenientemente, pesa bem a água permanente e reflete, com um
cuidado todo particular, para que não faças com isso nada que seja em
demasia ou insuficiente.

O homem duplo ígneo deve nutrir-se de um cisne branco; destruir-se-ão
mutuamente e, de novo, retornarão à vida. E o ar das quatro partes do mundo
ocupará três quartos do receptáculo fechado do homem ígneo, para que o
canto dos cisnes possa ser ouvido e, com seu adeus, expressos os tons
musicais. Então o Cisne assado será repasto do Rei e o Rei ígneo amará
profundamente a voz agradável da Rainha, beijá-la-á com seu grande amor e
saciar-se-á com ela até que ambos desapareçam e se fundam num só corpo.

Diz-se comumente que dois podem ultrapassar e abater um terceiro,
sobretudo se têm ocasião favorável para exercer sua malícia. Saibas ademais,
de fonte verdadeira, que deve vir um duplo vento dito Vulturnus e depois, em
seguida, um simples, chamado Notus, os quais soprarão impetuosamente do
leste e do sul. Cessando a atividade destes, conquanto do ar seja feita a água,
crerás, com certeza e audaciosamente, que do espiritual será feito o corporal e
que, pelas quatro partes do ano, no quarto céu, após terem os sete planetas
exercido sua potência, o número dominará, cumprirá seu curso na parte baixa
do palácio e passará por severo exame; enfim, estes dois enviados terão
subjugado e feito perecer o terceiro.

Neste exato lugar de nosso Magistério, a ciência está no mais alto ponto
necessário. Pois é necessário que a separação e a conjunção sejam bem
feitas para que a arte libere suas riquezas e a balança não deve ser falsificada
por pesos inexatos. Desejamos ardente e firmemente que não sejas levado a
deter esta fase capital pelo céu da arte, pelo ar e pela terra, com a água
verdadeira e fogo perceptível, na disposição do justo peso, sem nenhuma falta,
como te expus, veridicamente.

Explicação da Chave VII

Eis aqui o fiel paradigma do sal dos filósofos extraído da primeira obra,
em cujo final o alquimista toma o caos primordial de seu microcosmo,a
exemplo de Deus no começo do mundo. É este sal que constituíra a
substancia da água filosofal, do vaso de natureza, de forma redonda,
encimado pelo selo de Hermes. O sal dissolve a alma metálica, serve-lhe de
corpo e abraça-a tão estreitamente que doravante lhe será impossível fugir.

O alquimista com a balança numa não e a espada na outra, chama nossa
atenção sobre o poder de ação do sal. O sal dos filósofos é a água ígnea.

Chave VII - O vaso filosofal e seu selo ou luto de sabedoria.

SÉTIMA CHAVE

O calor natural conserva a vida do homem; pois a vida estaria terminada,
se o calor natural se retirasse.

Se empregado moderadamente, o fogo natural protege contra o frio, mas
seu excesso causa destruição. Não é necessário que o sol toque a terra
corporalmente com seu ser, bastando realmente que seus raios, quando caem
à terra, por reflexão se tornem mais vigorosos, e que ele desprenda sua força.
Assim, tem bastante eficácia para cumprir sua função e, por digestão,
amadurecer tudo. Pelo atrito com o ar, os raios solares são levados a uma
certa moderação, para que assim possam operar o fogo, por meio o ar, e o ar,
por meio do fogo.

A terra sem água nada pode produzir e a água, por seu turno, sem a terra
nada pode fazer nascer. Assim como a terra e a água separadas uma da outra
são privadas de força para dar fruto, igualmente, de nenhuma maneira ao fogo
pode faltar o ar, e ao ar, o fogo. Pois o fogo sem o ar não tem vida, e o ar sem

o fogo não pode manter o calor e a secura.
Na época de seu amadurecimento perfeito, a vinha tem maior
necessidade dos raios e do calor do sol do que no começo da primavera. E
quando o sol, no outono, cumpriu bem seu papel, a vinha fornece
ordinariamente seu sumo melhor e mais rico do que na ausência de calor, se
esses mesmos raios solares lhe tivessem faltado.

No inverno, o vulgo pensa que todas as coisas morreram, porque o frio
adstringiu a terra, seguindo-se que nada pode crescer. Mas logo que surge a
primavera e o frio é amenizado pelo nascimento do sol, tudo retorna à vida, as
árvores e as ervas brotam, os pequenos animais rastejantes,que haviam fugido
ao inverno glacial, surgem lentamente dos antros e cavernas da terra; as
coisas vivificadas trescalam um novo olor e sua atividade máxima é atestada
por cores belas, agradáveis e variadas de sua flora. Depois chega o verão
agindo de maneira que flores de quaisquer espécies dêem furtos, os quais
deves agradecer ao Criador, que bem o merece e que, em tal disposição e
ordem, fixou o objetivo na natureza.

Assim cumpre um ano após outro, até que o Mundo seja de novo
destruído por seu Arquiteto e aqueles que ocupam a terra sejam elevados pela
glorificação de Deus; então toda a natureza terrestre cessará de trabalhar e em
seu lugar se instalará uma natureza eterna e celeste.

Executando o sol no inverno, seu curso longe de nós, não pode fundir a
neve, mas, no verão, se chega mais perto de nós, o ar se torna mais ardente e
forte, e a neve se liquefaz, desaparece e tomba como água. Sim, o fraco é
constrangido a ceder ao mais forte, e o mais forte é mestre do mais fraco.

Da mesma forma, neste Magistério o regime do fogo deve ser respeitado.
Que a fluidez úmida seja dissecada justamente e sem muita pressa e que a
terra dos sábios não se liquefaça nem se dissolva de súbito. Se não, de teus
peixes sãos, engendrarás escorpiões em tuas águas. Mas se desejas mesmo
ser o guia de teu labor, toma a água espiritual sobre a qual, na origem, pairava

o espírito e, por causa dela, fecha a entrada da fortaleza. De fato, a cidade
celeste deste tempo será assediada pelos inimigos terrestres. Principalmente
teu céu deve ser protegido fortemente por três entricheiramentos e baluartes,
sem nenhum acesso, salvo um que será poderosamente protegido por
guardas. Quando tudo isso for feito, acende a lâmpada da Sabedoria, procura
com ela a dracma perdida e ilumina quanto for necessário. Saibas que os
répteis e os vermes moram na terra fria e úmida por causa de sua natureza.
Mas a estada do homem sobre a terra é de acordo com a compleição regular
de sua espécie. Os espíritos angélicos não tem corpo terrestre, mas um corpo
angélico, não feito de carne manchada pelos pecados. Não estão
acorrentados como o homem e são postos num nível mais elevado, para que,
sem prejuízo, possam igualmente suportar o fogo e o frio, na região alta e
baixa. E, depois de purificada, quanto a isto a humanidade será igual, aos
espíritos celestiais. Certamente, Deus governa o céu e a terra e faz tudo em
todas as coisas. Eis porque se zelarmos perfeitamente por nossa alma, ai
então e finalmente, seremos feitos filhos e herdeiros de Deus, para realizar o
que, agora, nos é impossível. Mas isso só pode ser feito se toda água por
dissecada e se o céu e a terra, com todos os homens, forem julgados pelo
fogo.

Explicação da Chave VIII

Esta composição ilustra, esotericamente, a parábola de Cristo, narrada
por João: <<Na verdade, na verdade, vos digo que, se o grão de trigo, caindo
na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto>>.

Chave VIII - A putrefação, chave maior da ressurreição e da grande obra.

OITAVA CHAVE

Toda carne humana ou animal não pode produzir nenhum crescimento ou
propagação de sua espécie, a não ser que se inicie por putrefação. Também a
semeadura da terra e tudo o que é submetido e apropriado aos vegetais só
pode ter crescimento pela putrefação. Igualmente diversos animálculos e
vermes recebem a vida, conquanto de putrefação adquiram a força e a ação
vivificantes. Em comparação a todas as maravilhas, isso com justa razão
deverá ser estimado como um prodígio verdadeiramente outorgado pela
Natureza. Desta maneira, o desenvolvimento e o sopro da vida,
principalmente, permanecem na terra e são impelidos pelos outros elementos
pela semente espiritual e por esta harmonia.

Isso deve ser demonstrado por exemplos que a esposa do campesino
renova muito bem, pois ela não pode criar nenhuma galinha para as
necessidades da casa, que não seja pela putrefação do ovo do qual se origina

o pintainho.
Ora, o pão tomba no mel, em cujo meio nascem formigas, o que,
igualmente, é um curioso fenômeno da Natureza em contraste com os outros.
O agricultor observa também que, da carne putrefata, nascem pequenos
vermes, nos homens, nos cavalos e nos corpos de outros animais, assim como
aranhas, lagartas e tudo o que se assemelhe, nas nozes, pomos, e peras.
Mas, quem poderá computar os diversos gêneros e espécies de vermes que
provêm apenas da putrefação?

Paralelamente, entre as ervas se vê que diferentes espécies de plantas,
como as urtigas e outras símiles, crescem em lugares onde jamais cresceram
outras, e onde suas sementes nunca tombaram. A causa reside unicamente
na putrefação, porque, por essas mesmas produções, nesses lugares a terra
está predisposta, como que fecundada, e a virtude dos astros, introduzida do
alto, ai terá produzido espiritualmente a semente. Esta, na terra, se putrefez e,
pela ação e auxilio dos elementos, constituiu a matéria corporal, seguindo a
forma da Natureza. Assim os astros, junto com os elementos, podem suscitar
algum novo esperma que jamais existira antes e que, em seguida, pela
putrefação, poderá ser multiplicado. Contudo, não é dado ao homem produzir
um novo esperma, pois não está nele poder criar pela atuação dos elementos e
a essência dos astros.

Mas tu, a quem convém saber mais do que os homens comuns, presta
atenção aos avisos e conversas numerosas e apreende ainda as causas e os
fundamentos pelos quais e dos quais da putrefação resulta assim a vivificação
da ressurreição e da geração. Estuda isso, não superficialmente, mas como
um investigador da Natureza, com a idéia dominante de que toda vida provém
e nasce da putrefação.

Cada elemento encerra em si, sucessivamente, sua corrupção e sua
geração. Que o amante da arte adquira mais certeza e que saiba, com base
superabundante, que num só e mesmo elemento os três outros se ocultam. O
ar contém em si o fogo, a água e a terra, o que pode parecer incrível, quando,
todavia, é toda a verdade. Tanto assim que o fogo retém em si o ar, a água e a
terra, pois doutra forma não geraria nada. A água é participante da terra, do ar
e do fogo, pois, caso contrário, nada poderia resultar, na geração e que um dos
elementos seja visto separadamente, mas todos estão com ela misturados.
Isto é revelado pela distilação, na separação dos elementos.

Para que te exponha isto com legítima prova e não digas, em teu
desconhecimento, que meu discurso é pura verbosidade e nada veraz, afirmo-
te que te é útil procurar a separação da Natureza e conhecer a divisão dos
elementos, e que, de todos eles, na distilação da terra, é o ar que passa
primeiro e mais facilmente, após o qual, continuando com habilidade, escorre o
elemento da água. O fogo está encerrado no ar porque ambos são de
essência espiritual, amando-se um ao outro admiravelmente. A terra
permanece no fundo, na qual está o sal, de grande valor.

Na distilação da água, o ar e o fogo logo escapam, seguindo-se lhes a
água, e o corpo da terra permanece no fundo. O elemento do fogo pode ser
obtido por si mesmo, se é levado à substância invisível pela extração do fogo,
da água e da terra. Semelhantemente, o ar habita nos outros três elementos.
E a nenhum desses pode faltar o ar. Sem ar, a terra nada é e nenhuma coisa
pode produzir; o fogo não queima e não tem vida; a água não pode gerar fruto.
Por outro lado, o ar não pode consumir nada sem dissecar a umidade, senão
pelo calor natural. Por conseqüência, como o ardor e o calor estão no ar, o
elemento do fogo, de toda forma, existe no ar, pois tudo o que é seco e quente
é atribuído à substância do fogo. Aí está porque um elemento não pode
independer de outro, mas a mistura dos quatro elementos e sempre verificada
na geração de todo o sensível; e o que declara contrariamente não penetrou os
mistérios da Natureza e não procurou suas características.

Ora, cumpre que saibas que aquilo que deve nascer da putrefação surge
necessariamente por esse meio. A terra, por causa de sua umidade interior e
oculta, e levada a uma certa corrupção dou destruição, que é o começo da
putrefação. Sem a umidade, sem o elemento da água, nenhuma putrefação
real pode ser efetuada. Agora, se uma certa geração deve seguir-se à
putrefação, é necessário que seja excitada e nutrida pela qualidade quente
inerente ao elemento do fogo. Sem calor natural, não há nascimento que se
produza; é por isso que sem ar nada disto pode acontecer, se para criar
devemos servir-nos do espírito vivificante e do movimento. Certamente se,
com esse objetivo, o ar não operasse com os outros elementos, não
preencheria sua função; então, primeiramente, a substância do composto em
que começaria a geração, sozinha seria sufocada e pereceria pela falta de ar.
De onde é claramente reconhecido e fundamentalmente demonstrado que toda
perfeita geração sobrevém pelo concurso dos quatro elementos e que um
elemento sempre mostra seu poder e sua vida em outro. Sem a putrefação,
nesse tempo e não mais tarde, nada é trazido à luz. É evidentemente
verdadeiro que os quatro elementos são necessários para toda vida, toda
perfeita geração e toda ressurreição. E saibas que, quando Adão, o primeiro
homem, foi formado de uma bola de terra pelo Criador Altíssimo, ainda não
mostrava nenhum movimento que revelasse vida, até que Deus lhe deu o
sopro; então a bola de terra vivificada recebeu a energia. Na terra estava o sal,
isto é, o corpo; o ar inspirado era o mercúrio ou alma; por esta inspiração, o ar
deu-lhe o calor natural e regrado, que era o enxofre, isto é, o fogo. Neste
instante, Adão mexeu-se e revelou-se de tal maneira que parecia que sua alma
fora vivificada e introduzida. Pois o fogo não pode existir sem o ar e,
reciprocamente, nenhum ar pode existir sem fogo. A água era unida à terra,
pelo que é necessário que os dois elementos se encontrem em igual proporção
de mistura, para que dela surja a vida.

Por conseguinte, Adão foi primeiramente tirado, composto e gerado de
terra, água, e fogo, de alma, espírito e corpo e, depois, de mercúrio, enxofre e
sal.

Da mesma forma, Eva, a primeira mulher, nossa mãe comum, é
participante dessas mesmas coisas, porque ela mesma foi produzida de Adão,
de quem, conseqüentemente, foi constituída e nasceu. Nota bem isto. E, para
que volte a abordar a putrefação, saiba o argüidor do Magistério, dado à
Filosofia, que, pelo mesmo raciocínio, nenhuma semente metálica pode operar
ou crescer, sem que seja levada à perfeita putrefação unicamente por ela
mesma e sem nenhuma adição ou mistura estranhas. Da mesma forma que
nenhuma semente vegetal e animal, como foi dito e significado, pode germinar
sem putrefação, compreende que, para os metais, a putrefação deve atingir
seu perfeito desenvolvimento pela intervenção dos elementos. Não que os
elementos constituam esta mesma semente, como antes o revelei, mas porque
a semente metálica, nascida pela essência celeste, astral e elementar, está
encerrada num corpo e depois deve ser conduzida pelos elementos a uma
igual putrefação e corrupção.

Nota igualmente isto: o vinho possui em si um espírito volátil, pois, em sua
distilação, o espírito sai primeiro, e a flegma em seguida. Mas se, por
continuado aquecimento, o vinho é transformado em vinagre, então seu espírito
não é mais volátil como antes. Na distilação do vinagre, a água ou aquosidade
sai imediatamente e o espírito, por último. E, embora esse vinagre seja,
aparentemente o vinho que anteriormente estivera no vaso, tem ele, no
entanto, uma propriedade completamente diferente dele que, pela putrefação
do calor ininterrupto, fora transmutado e transformado em vinagre. E tudo o
que foi tirado e retificado, com o vinho ou seu espírito, mostra propriedades e
operações diferentes daquelas do que é extraído com o vinagre. Pois o licor de
antimônio é tirado com o vinho ou espírito de vinho e provoca muita diarréia e
vômitos, por ser ainda um veneno, cujo efeito venenoso não está destruído ou
extinto. Mas, se é tirado por meio de um bom vinagre distilado, o licor de
antimônio fornece um belo extrato de magnífica cor. Quando o vinagre é
separado pelo banho-maria, do pó amarelo que resta, -o qual é bem lavado
por reiteradas distilações de água comum, a fim de que seja afastada toda
força do vinagre - é recolhido um pó doce que não provoca nenhuma diarréia,
mas que se revela até um excelente remédio do qual a pessoa pode servir-se
e, suscita grande admiração, e, quanto a seu valor, deve ser considerado como
um milagre da medicina.

Este pó admirável, num lugar úmido, é dissolvido em licor que, sem dor
alguma, traz muitas vantagens também em cirurgia; o que dispensa mais
comentários.

E este capítulo principal tem por conclusão o seguinte discurso, que deve
ser muito bem examinado. A celeste criatura engendrada, cuja vida é mantida
pelos astros e nutrida pelos quatro elementos, deve perecer e cair em
putrefação. Se isso e feito, os astros, por mediação dos elementos de tal coisa
incumbidos, devolverão a vida dos corpos putrificados, a fim de que o celeste
exista de novo e que tenha sua habitação na região superior do firmamento.
Oxalá tudo se realize com perfeição e verás que o terrestre é absorvido pelo
celeste, com o corpo e a vida, e que o corpo terrestre é transformado em
celeste substância.

Explicação da Chave IX

Singular exercício dos dois princípios masculino e feminino, que fornece o
esquema do globo crucífero, signo astronômico da terra, ao mesmo tempo que
dá a ilusão do movimento próprio no fogo da roda.

Obedecendo à mesma rotação ígnea, os três corações internos, com
pescoços de cisne, evocam o enxofre que está sempre aliado a seu
inseparável mercúrio. É no decurso da cocção que se formam as cores,
lembradas nas suas principais, netas chave - preto, rabo de pavão, branca e
vermelha - os quatro pássaros escolhidos pela tradição: corvo, pavão, cisne e
fênix.

Chave IX - A revolução dos planetas e das cores.

NONA CHAVE

O mais distante dos planetas dos céus chama-se Saturno, que ocupa
condição mui desprezível em nosso Magistério. Não obstante, ele constitui a
principal chave de toda a Arte e, colocado num ínfimo degrau, é tido em
mínima estima, embora, por seu vôo rápido ao supremo cume, se eleve acima
de todos os luminares. Contudo, pela supressão de suas asas, deve ser
conduzido à menor luz de todos e, pela corrupção, impelido à perfeição pela
qual o negro é mudado em branco e o branco, em vermelho; e pela sucessão
de todas as cores do resto do mundo, os planetas passam, igualmente, até
mesmo a característica e soberba cor do Rei triunfante. E até mesmo digo:
Embora, perante todos, Saturna pareça vil, possui em si grande força e eficácia
pois que se sua preciosa essência - a qual consiste sobretudo numa maneira
de frieza insensível - ataca o corpo metálico e ígneo, ela o traz para si, pode
assumir-lhe a vitalidade, torná-lo maneável como o é o próprio Saturno, mas de
maior constância. Esta mudança tem sua origem, seu principio e seu fim no
mercúrio, enxofre e sal. Isso parecerá a muitos de difícil compreensão mas,
para realizá-lo, com a matéria que é sem valor, é preciso que o espírito seja
exaltado e penetrante, permanecendo as condições desiguais no mundo, a fim
de diferenciar os mestres dos servidores.

De Saturno provêm múltilas cores que são produzidas pela preparação e
pela arte; assim nascem o negro, o cinza, o branco, o amarelo e o vermelho,
com as que se encontram nele misturadas. Da mesma maneira, a matéria de
todos os Sábios atravessará diferentes cores antes que esta grande Pedra seja
exalçada ao seguro limiar de sua perfectibilidade. Todas as vezes em que uma
nova porta de entrada é aberta ao fogo, outras tantas vezes, simultaneamente,
são cedidos como privilégio uma forma e um gênero de vestimentas, até que a
Pedra, ela mesma desprovida, adquira as riquezas e não precise mais de
outras por mútuo intercâmbio.

Quando a nobre Vênus está em seu governo e, seguindo o suo, distribui
com justiça os ofícios da corte real, aparece em grande esplendor e por ela a
Música apresenta um magnífico estandarte de cor vermelha, sobre o qual está
pintada a Caridade, muito bela com verdes vestimentas. Saturno é nomeado
mestre de sua corte e, quando se desincumbe de sua obrigação, para ele a
Astronomia desfralda um estandarte negro, sobre o qual a Fé está figurada e
assimilada por seu traje amarelo e vermelho.

Com seu cetro, Júpiter preenche sua função de Marechal e em sua
homenagem a Retórica ergue uma insígnia de cor cinzenta, sobre a qual a
Esperança está pintada e muito ornamentada de esplêndidas cores.

Marte é entendido nos assuntos da guerra e exerce um certo poder pelo
ardor ígneo; para ele a Geometria estende um véu ensangüentado sobre o qual
se nota a Força vestida de roupas vermelhas. Mercúrio possui os poderes de
chanceler, diante de quem a Aritmética segura uma bandeira de todas as
cores, onde maravilhosas figuras representam a Temperança.

O Sol é o substituto do Trono e a Gramática o precede com a bandeira
amarela, na qual se vê a Justiça vestida de dourado. Se esse substituto, em
seu governo, tem mais poder, contudo a rainha Vênus notou-o e cegou por seu
exuberante esplendor.

Também a Lua aparece enfim e, diante dela, a Dialética desdobra um véu
de prata resplandecente, pelo qual a Prudência foi expressa por celestial
nuance. E porque o marido da Lua está morto, tomou seu encargo e não
permite que a rainha Vênus domine. Por esta razão, ordenou que reunisse as
contas da economia; então seu chanceler intervirá para o estabelecimento de
um novo governo e para que ambos juntos dominem sobre a Rainha.
Compreende que um planeta deve privar e expulsar o outro de seu domínio e
força, até que os melhores dentre esses planetas se apossem da autoridade
suprema e, com a excelente e resistentíssima cor apropriada à sua primeira
mãe, por sua natural constância, amor e paternidade, obtenham a vitória. Pois

o antigo mundo passou e o novo tomou posse, e um planeta consumiu
espiritualmente outro, se bem que, pelo menos os mais fortes continuem
nutrindo-se dos outros, e que dois e três, tenham sido sobrepujados por um
único.
Como última conclusão de tudo isso, entende que deves fazer pender a
balança celeste, o carneiro, o touro, o caranguejo, o escorpião e o capricórnio;
no outro lado da balança coloca os gêmeos, o sagitário, o aquário, os peixes e
a virgem; então faze que o leão de ouro se lance ao seio da virgem e, assim,
esse prato da balança terá a vantagem e superará o outro em peso. Em
seguida, sem que os doze signos do céu fiquem em oposição com as Plêiades,
após a perfeita sucessão de todas as cores do mundo, serão enfim realizadas
a união e a conjunção, para que o maior se encontre no menor e o menor no
maior.

Se a natureza de todo universo
Se mostrasse unicamente em uma figura
Não seria outra, pela arte;
Nada de admirável seria então constatado pelo mundo
Pois que a Natureza não se poderia manifestar.
E por isso Deus seja louvado no mais alto grau.

Explicação da Chave X

Este símbolo proclama que se trata duma água muito especial, de
consistência oleosa. Neste símbolo, se lê: <<Nasci de Hermógenes. Hipério
me escolheu. Sem Iamsuph sou obrigado a perecer>>.

Fulcanelli deu uma explicação prática deste enigma, mas deixou em
mistério Jam suph. Contudo, é deste vocábulo que frisa a necessidade de que
não faltem jamais essas águas sobre as quais o espírito de Deus se
espalhava, conforme o Gênese (I,2) diz: Spiritus Deis ferebatur super
aquas.

Chave X - O Elixir ou Medicina da segunda ordem.

DÉCIMA CHAVE

Em nossa Pedra elaborada por mim e há muito antes de mim, estão
contidos todos os elementos, todas as formas minerais e metálicas, e bem
mais, todas as qualidades e propriedades do universo inteiro, pois nela deve
ser encontrado um grande e fortíssimo calor, visto que, por seu poderoso fogo
interior, o corpo frio de Saturno se aquece e, por sua ação ígnea, é mudado em
excelente ouro. Nela mesma deve ser encontrado também um grandíssimo frio
por cuja conjunção seja temperado o grau mais ardente de Vênus e coagulado

o Mercúrio vivo, pela mesma razão e por seu endurecimento, convertido em
ouro excelente e fixo, porque todas essas propriedades são dispensadas pela
natureza à nossa matéria da grande Pedra. Estas propriedades, pela marcha
do fogo, são cozidas e amadurecidas, até que tenham atingido a mais alta
perfeição, o que não pode ser feito antes que o monte Etna, na Sicília, tenha
seu incêndio extinto e que nenhum frio seja mais encontrado nas altas
montanhas hiperbóreas, que são também um lugar que pode ser chamado
Filicálio.
Todos os frutos das árvores, se colhidos antes da maturidade, são verdes
e impróprios, porque tal não é possível nem normal para eles. Da mesma
forma, a menos que o oleiro os cozinhe em fogo forte, suas obras não serão
convenientes à sua destinação, porque não se mostram suficientemente
perfeitas pelo fogo.

Semelhantemente, para nosso Elixir, é preciso refletir bem e cuidar que o
tempo necessário lhe seja dado e não retirado demasiado cedo, por zelo de
sua boa qualidade, e a fim de que não a atribua a enganos nem seja julgado
impróprio. Se as flores são colhidas, é fácil compreender que daí nenhum fruto
pode surgir. Eis porque a precipitação não convém ao nosso Magistério. Com
efeito, o eu se apressa demais raramente executa qualquer coisa de bom nesta
arte e, apressando-se, mais arruína do que aperfeiçoa.

Por esta razão, que o pesquisador da verdade não sofra por ser
transviado pelo desejo excessivo de arrancar e colher antes do tempo, de
forma que o fruto não lhe escape, e que nada lhe seja deixado exceto a cauda.
Pois, em verdade, se nossa Pedra não é suficientemente amadurecida, ela
nada poderá fazer amadurecer.

No banho, a matéria é dissolvida e, pela putrefação, unificado; na cinza,
ela produz as flores; pela areia, todas as umidades supérfluas são dissecadas.
Mas a chama viva do fogo traz a perfeita maturidade com a fixidez. Não que
do banho-maria, do esterco de cavalo, da cinza e da areia, sucessivamente, a
Obra seja composta ou faça uso, mas que, conforme esta regra, o grau e o
regime do fogo sejam cumpridos. Que a Pedra esteja no forno vazio, de tripla
construção, solidamente aferrolhada, encerrada, cozida pelo fogo contínuo, ate
que todas as nuvens e todos os vapores se dissipem, que a veste honorífica
apareça com a maior magnificência e que, numa região mais inferior do céu, se
detenha e seja contida em seu curso. Quando os braços do Rei já não podem
ser erguidos para o alto, o governo do mundo é atingido. Pois o Rei de eterna
fixidez é então constituído e nenhum perigo o molestará no porvir, pois é
tornado invencível. Para esses trabalhos, indico-te esta prática:

Assim que a terra, em sua água própria, tiver sido dissolvida, disseca a
água com todo o fogo que for necessário, e então o ar insuflará uma vida nova.
Assim que esta vida tiver sido incorporada, terás a matéria que, a bem dizer, só
pode constituir a grande Pedra do mundo, a qual penetra os corpos humanos e
metálicos, como um espírito, e se mostra incontestavelmente uma Medicina
universal. Ela expulsa o que é mau e conserva o que é bom e intervém a fim
de que o mau seja corrigido pelo bom. Sua cor, do vermelho transparente, se
estende ao púrpura, do rubi à cor da granada; e quanto ao peso, é forte e muito
pesada.

Qualquer pessoa que tenha encontrado esta Pedra, que agradeça ao
supremo Autor de toda a Criação, por esse celestial bálsamo, e que o toma
para si e para seu próximo, a fim de que seu uso seja para entreter esta vida
perecível, neste vale de misérias, e goze em seguida da felicidade eterna no
outro mundo.

Que Deus, por seu indizível Dom e por sua graça, seja glorificado no mais
alto grau pelos séculos. Amém.

Explicação da Chave XI

A cena ilustra a parábola de Basílio Valentin e na alegoria se enquadra
perfeitamente. Vejamos antes de mais nada o cavaleiro revestido de sua
armadura, cujas raras aptidões físicas e morais o alquimista deve possuir. É a
exaltação do enxofre, cujo coração é o símbolo erguido pelas duas jovens.

CHAVE XI - Alimentação do leão vermelho pelo sangue volátil do leão verde.

DÉCIMA PRIMEIRA CHAVE

Que eu te revele e te faça conhecer a décima primeira chave do aumento
de nossa grande Pedra na seguinte parábola:

Um Cavaleiro de ouro, chamado Orfeu, habitava as bandas orientais e
onde abundavam imensas riquezas e todas as excelentes coisas. Escolhera e
tomara por esposa sua própria irmã bem amada, Eurídice. Mas como não
tinha dela nenhum filho, atribuindo isto a seus pecados, por ter sua irmã como
esposa, pediu, por constantes orações, ao Deus Altíssimo, e insistiu com seus
rogos, a fim de que o perdão lhe fosse dado, resolvida sua situação, por seus
pedidos.

E como um dia, abatido, estava mergulhado em profundo sono, em
sonho, um certo homem alado, chamado Febo, aproximou-se dele e tocou
seus pés, que estavam extremamente aquecidos, e disse-lhe: Nobre herói,
após teres percorrido inúmeros reinos e províncias, cidades e países e, no
imenso oceano, suportado múltiplos perigos, sofrido tanto na guerra, que foste
recebido na ordem da Cavalaria, por todas essas ações, mereceste essa
dignidade; como nos duelos e torneios partiste muitas lanças, freqüentemente
e regularmente obtido o favor da loja respeitável das damas, a partir deste
momento, o Pai do céu deu-me como instrução que eu te esclarecesse, tendo
tuas orações encontrado favor junto a Ele.

Para este fim, deves tomar o sangue de teu lado direito e o sangue do
lado esquerdo de tua esposa, bem como aquele que foi abrigado no coração
de teu pai e de tua mãe, o qual é um único sangue, sendo porém duplo, pela lei
natural. Junta-os e faze de novo com que sejam postos no globo dos sete
mestres da sabedoria e aí sejam encerrados. Então a robusta criança é
alimentada de sua carne e reanimada por seu sangue honorífico; ao ter feito
assim segundo a regra, deixarás numerosa progênie e herdeiros gerados de
teu corpo. Mas, saibas que, para sua transformação, tua última semente exige
a oitava parte do tempo de tua primeira, da qual foste feito originalmente, e que
cumprirá seu curso. Se assim procederes freqüentemente e sempre
recomeçares, verás os filhos de teus filhos; que o vasto mundo seja repleto
interiormente pela geração do pequenino e que o celeste reino do Criador
possa ser possuído com abundância.

Quando isto foi concluído, Febo novamente evolou-se e o Cavaleiro,
tirado de seu sono, ergueu-se do leito para seguir tudo o que foi ordenado.
Não somente encontrou a via certa para seus desígnios mas Deus também
concedeu à sua esposa vários filhos que, mais tarde, por testamento de seus
pai, possuíram um nome memorável. E a honra do grau de cavaleiro, junto
com suas riquezas, manteve-se continuamente nesta família.

Pelo que, filho da doutrina, se agora fores sábio, não necessitas de
nenhuma outra interpretação; mas se a compreensão faltou-te, não mo
atribuas, mas à tua ignorância. Pois é-me interdito abrir esta porta; a isto devo
observar e manter a disciplina. Mas a quem o Todo-Poderoso quiser conceder,
aqui tudo está clara e nitidamente exposto e até mesmo mais do que se
acreditaria. No que concerne à regra filosófica, descrevi toda a operação por
símiles, assim como os Mestres o fizeram para mim, e mesmo mais claramente
do que eles, eu nada escondi. Mas se purificares teus olhos, encontrarás o
que muitos procuraram e poucos descobriram. A matéria já foi designada por
seu nome e o começo, o meio e o fim são revelados.

Explicação da Chave XII

Estas duas flores no vaso simbolizam as duas Pedras obtidas no fim da
elaboração por via seca. O leão que devora a serpente figura a sustentação de
que falamos: a do enxofre pelo mercúrio. As duas corolas de cinco pétalas são
as da roseira selvagem escolhida pelos alquimista para representar a digna
recompensa que esperam de Deus e da Natureza e que garante ao adepto a
riqueza e a saúde.

Chave XII
Florescência das duas pedras, depois da multiplicação, no fim da
grande obra.


DÉCIMA SEGUNDA CHAVE

Quando o esgrimista não sabe servir-se de sua espada, esta não lhe é
útil, porque não aprendeu exatamente a prática. Incapaz, é inferiorizado por
um outro, quando é provocado ao combate pelo mais hábil no manejo da
espada. Mas aquele que se imbuiu convenientemente do Magistério na escola,
possui o prêmio da vitória.

É o que acontece àquele que obteve uma certa tintura pela graça do Deus
Todo-Poderoso e que não sabe dela utilizar-se, pela mesma razão, o mesmo
que foi dito do esgrimista que absolutamente não sabe se servir de sua
espada. Mas como esta é a décima segunda e última de minhas chaves, não
apresentarei nova alegoria ou discurso figurado, para a explicação de meu
livro, mas, sem o menor desvio, entregarei esta chave do progresso efetivo e
perfeitíssimo da tintura e, para tanto, sê atento à minha doutrina a fim de que a sigas.

Assim que a Medicina e a Pedra de todos os Sábios está feita e
perfeitamente preparada do real leite da Virgem, toma uma parte, de excelente
e puríssimo ouro, funde-o, purga-o pelo antimônio e reduze-o a finas lâminas,
tanto quanto possível, em três partes. Coloca-os juntos num cadinho comum,
usado para a fundição dos metais. Administra um fogo lento, durante doze
horas, e mantém em fusão, continuadamente, por três dias e três noites.
Nesse instante, o ouro purgado e a Pedra estão constituídos em pura Medicina,
de propriedade mui sutil, espiritual e penetrante. Sem o fermento do ouro, a
Pedra não pode operar ou mostrar sua força de tintura. Com efeito, ela é
extremamente sutil e penetrante, mas se, com seu semelhante fermento, ela é
fermentada e conjugada, a tintura preparada recebeu o poder de entrar e
operar em todos os corpos. Continuando, toma uma parte do fermento
preparado por mil partes do metal fundido que quiseres tingir; e então saibas,
por verdade e fé soberanas, que esse metal simples será transmutado em bom
ouro fixo. Um corpo toma outro corpo; mesmo que não lhe seja semelhante,
por sua força e potência essenciais, aquele é constrangido de ser-lhe
assimilado, porque o semelhante tira sua origem do semelhante.

Quem quer que empregue este meio, obterá toda certeza, e as entradas
do palácio tem por fim sua saída; aliás, esta sutileza não deve ser comparada a
nenhuma outra criação. Possuirá tudo em tudo para que, por meio e origem
naturais, tudo possa nascer sob o sol neste mundo.

Ó começo do primeiro começo,considera o fim.

Ó fim último, examina o começo.

E que o meio vos seja fielmente recomendado; e então o Deus Pai, o
Filho e o Espírito Santo doar-vos-ão tudo o que desejardes para o espírito, a
alma e o corpo.

O Atanor e o bestiário da grande obra.

A PRIMEIRA MATÉRIA DA PEDRA FILOSÓFICA

Uma Pedra é encontrada, que não é de grande preço,
Da qual e retirado um fogo volátil.
A pedra dele mesmo é feita
E de branco e vermelho composta.
Ela é pedra e, todavia, não-pedra.
Nela, somente natureza é ativa
Dela fazendo uma fonte jorrar.
Submerge seu pai fixo,
Engolindo-o, com o corpo e a vida,
Até que enfim a alma lhe seja dada,
E que a mãe volátil, a si mesma símile,
Esteja em se reinado.
Recebeu, na verdade, em virtude e poder
U'a maior fortaleza.
A mãe do sol, em idade, a ultrapassa
Volátil, preparada por Vulcano,
Mesmo tendo previamente
O pai surgido do espírito.
O corpo, a alma e o espírito, em dois, se apresentam,
Dos quais a coisa toda inteira se produz.
Ela se produz de um e é coisa única.
Liga, reunidos, o volátil e o fixo,
Que são dois e três e um, todavia.
Se não entendes, e nada chegas.
Adão detinha-se no banho,
Onde Vênus encontrava seu semelhante,
E que um velho dragão havia preparado,
Quando perdia suas forças.
Nada mais é, diz o Filósofo,
Senão o duplo Mercúrio.
Nada mais direi, já está nomeado.
Feliz aquele que, realmente, compreendeu.
Aí procura, não te fatigues:
O fim confirma as ações.

BREVE APÊNDICE


Claro Resumo ou Repetição por Dom Basílio Valentin, da Ordem Beneditina,
sobre seu Livro da Grande Pedra dos Antigos.

Eu, Basílio Valentin, irmão da Ordem Beneditina, anteriormente já escrevi
um certo opúsculo e, como os Antigos, descobri, segundo a regra filosófica, de
que maneira esse mui antigo tesouro deve ser pesquisado, pelo qual os
verdadeiros sábios prolongaram consideravelmente a extensão da vida.

Considerando que, para sua defesa, minha consciência deve testemunhar
em presença do Altíssimo nos céus, para quem todos os mais escondidos
segredos são manifestos, nada escrevi de falso, mas expus a própria verdade,
de modo que os amadores não tivessem falta de nenhuma luz maior. (Com
efeito, minha teoria, por eles tida em mente, é mais do que suficiente, o que,
pela prática das Doze Chaves, foi confirmada e aprovada). Não obstante,
acometeu-me a febre das insônias, por diversas meditações, a fim de que me
resolvesse demonstrar de breve maneira meu opúsculo supra citado, e também
para que eu terminasse como que por meio de viva iluminação, pela qual todo
amante da procurada sabedoria gozasse de mais brilho e claridade para saciar
seu desejo. Embora muitos pensem que, por ter sido muito claramente
acessível, cumulei-me do fardo de numerosos pecados, todos saibam, porém,
que, para os que tem a mente empedernida, será suficientemente penoso
encontrar o que procuram, mas permanece claro e fácil para os eleitos. Eis
porque, meu discípulo da verdade, atenta às minhas palavras e então
encontraras a real vida da arte.

Ora, nada mais escrevi senão o que desejaria eu mesmo atestar, após
minha morte e ressurreição de minha carne. Mas apreciarás a via mais breve
pela exposição que segue, conscienciosa e simplesmente. De fato, meus
ensinamentos, sem rebuscamentos verbais, são fundados na simplicidade.

Fiz menção e revelei que todas as coisas são tiradas e compostas de três
substâncias, de mercúrio, enxofre e sal. O que é verdadeiro e também
demonstrei.

Mas saibas, ademais, que a Pedra é confeccionada de um, de dois, de
três, de quatro, e de cinco: De cinco, quer dizer, da quintessência de sua
substância; de quatro, pelo que se entende pelos quatro elementos; de três,
que são os três princípios das coisas; de dois, que são certamente a dupla
substância do mercúrio; de um, isto é, o primeiro ser de tudo, o qual se originou
do verbo da primeira criação ou Fiat.

Para o são julgamento, muitos equívocos poderiam nascer de tais
palavras; por isso, para ter a base e a idéia da ciência que se deve seguir,
primeiro falarei brevemente do mercúrio; em segundo lugar, do enxofre; em
terceiro, do sal - pois são as essências de nossa matéria da Pedra.

De princípio, saibas que o mercúrio vulgar de nada serve, mas que, por
arte espagírica, do melhor metal provém nosso mercúrio puro, sutil, claro,
brilhante como uma pequena fonte transparente como o cristal e sem nenhuma
sujidade. Disto faze água ou óleo incombustível, pois o mercúrio inicialmente,
foi água, no que todos os Sábios, neste particular, se mostram completamente
de acordo com minha opinião e meu ensinamento.

Neste óleo de mercúrio dissolve seu prorpio mercúrio do qual aquela
mesma água foi feita e precipita esse mesmo mercúrio com seu próprio óleo;
então estás de posse da dupla substância mercurial. Saibas, por outro lado,
que teu ouro, após sua purificação da primeira chave, deve ser antes dissolvido
numa certa água expressa pela minha segunda chave e reduzido em cal sutil,
como é mostrado na quarta. Que a cal seja sublimada pelo espírito de sal, em
seguida de novo precipitada e depois reduzida a fino pó por reverberação.
Então seu próprio enxofre poderá entrar facilmente em sua substância e
mostrar-se amigo para com ela. Pois eles se estimam reciprocamente de
admirável maneira. E assim terás duas substâncias em uma, que é chamada
Mercúrio dos sábios, que nada mais é do que o primeiro fermento.

AGORA SEGUE A EXPLICAÇÃO DO ENXOFRE

Procura teu enxofre no semelhante metal; em seguida, saibas tirá-lo de
seu corpo sem nenhum corrosivo, com o metal, por purificação, destruição e
reverberação do precedente. Processos que adotei discretamente e recordei
também em minha terceira chave. Feitas essas operações, dissolverás esse
enxofre em teu próprio sangue, do qual ele mesmo foi feito antes de sua
fixação, segundo seu peso indicado na sexta chave. Então dissolveste e
nutriste o verdadeiro leão pelo sangue do leão verde. Pois o sangue fixo do
leão vermelho foi feito do sangue não fixo do leão verde, porque são de uma
única natureza. O sangue não fixo torna logo volátil o fixo, e o fixo, por sua
vez, detém o volátil como era antes de sua dissolução. Prosseguindo, aquece-
os juntos num suave calor, até que seja inteiramente dissolvido; então tens o
segundo fermento, alimentando o enxofre fixo com o não fixo, como
testemunham comigo todos os Filósofos. Esse enxofre, enfim, pelo espírito de
vinho, e sublimado vermelho e semelhante ao sangue e chamado ouro potável,
no qual nenhuma redução de corpo é obtida.

DAREI TAMBÉM MEU PARECER SOBRE O SAL DOS FILÓSOFOS

O sal apresenta-se fixo ou volátil, segundo o estado no qual foi disposto e
preparado. Pois o espírito do sal de tártaro, se é extraído por si mesmo, sem
adição, por resolução e putrefação, torna voláteis todos os metais e os reduz a
mercúrio, como minhas doutrinas e práticas o provam.

Por si só, o sal de tártaro fixa firmemente, em particular se o calor da cal
viva lhe é incorporado. Um e outro, constata-se, possuem um raro grau para
fixar.

Assim o sal vegetal de vinho fixa e volatiliza segundo as diferentes
operações e usos que forem exigidos, o que, certamente, é um segredo da
natureza e um milagre da arte filosófica.

Se, por algum tempo, um homem bebe vinho, retira-se de sua urina um
sal brilhante que é volátil, faz voláteis todas as coisas fixas e carrega-as
consigo pelo alambique, mas não as fixa. Mesmo que esse homem só tenha
bebido vinho, como esse sal foi fabricado de sua urina, não há outra
propriedade além do sal de tártaro ou de borra de vinho. Uma certa
transmutação foi feita no corpo do home, de forma que do vegetal, isto é, do
espírito de vinho, foi produzido o espírito de sal animal.

O mesmo se dá com a aveia, o feno e outros do mesmo gênero. Os
cavalos, com o auxilio de suas forças, cumprem essa transformação, daí
engordando o corpo e produzindo a carne. Igualmente, a abelha elabora o mel
com a parte mais preciosa das flores e das ervas.

E da mesma maneira deves entender outras coisas: A chave e a causa
residem unicamente na putrefação, onde tais separações e transmutações
buscam sua origem.

Se uma pequena quantidade de espírito do dragão lhe é adicionada, o
espírito do sal comum - que é extraído pelo processo especial de minha última
exposição - dissolve e volatiliza o ouro e a prata e os eleva consigo, juntos, no
alambique, assim como a água opera com o espírito do dragão que habita os
lugares rochosos. Mas logo que qualquer coisa antes que o espírito seja
separado de seu corpo, é fundida com o sal, este fixa muito mais do que
permite a volatilidade.

Acrescento que, se o espírito de sal comum é unido ao espírito de vinho e
distilado três vezes com ele, então ele se adoça e abandona sua acidez. Este
espírito preparado não dissolve o ouro corporeamente, mas, se o derramamos
sobre a cal de ouro preparada, produz a mais alta cor, o vermelho, a qual, se
se procede como se deve, leva a Lua branca a ouro à cor que era a do corpo
antes que ela fosse extraída. A cor desse precedente corpo poderá assim ser
dada, pelo amor da atraente Vênus, sendo proveniente da origem e natureza
desta, e mesmo de seu sangue, do que aqui não cabe discorrer.

Nota que o espírito de sal destrói também a Lua e a reduz, consoante
minha instrução, a substancia espiritual, da qual em seqüência a Lua potável
pode ser preparada. O espírito da Lua é apropriado ao espírito do Sol, como o
marido e a mulher, pela cópula e conjunção do espírito do mercúrio ou de seu
óleo.

O espírito está encerrado no mercúrio; procura a cor no enxofre e a
coagulação no sal e então tens os três elementos que poderão produzir de
novo o que é perfeito; isto é, que o espírito seja posto em fermentação no ouro,
com seu próprio óleo; o enxofre, que é encontrado abundantemente na
qualidade da preciosa Vênus, inflama o sangue fixo, dele mesmo produzido. O
espírito do sal filosófico canta vitória quanto à dureza, embora muito possam o
espírito de tártaro e o espírito de urina junto com o verdadeiro vinagre. Pois, o
espírito do vinagre é frio e o espírito da cal viva é extremamente ardente, e por
isso são tidos como naturezas contrárias e procurados como tais. Já falei
demasiado, contrariamente à regra ordinária e filosófica, mas não mostrarei,
por inconveniência, como as portas são fechadas interiormente; e nada mais
comentarei.

Para concluir, lealmente digo-te: Procura tua matéria numa substância
metálica. Faz dela um mercúrio e fermenta-o como um mercúrio; um enxofre
que colocas em fermentação com seu próprio enxofre; e põe em ordem o sal.
Distila uma vez. Une essas coisas segundo seu peso. Então aparecerá um
que é também nascido de outro anterior. Coagula e fixa este mesmo por
continuado calor. Em seguida aumenta e fermenta até três vezes, seguindo a
prática de minhas duas últimas chaves; chegarás ao objetivo e atingirás o
termo de teu desejo. A décima segunda chave, sem parábola e por um
desenvolvimento preciso, ensina o uso da tintura.

E POR FIM

Mas, como apêndice final, sou impelido a revelar-te que, do negro
Saturno e do benfazejo Júpiter, também pode ser tirado um espírito, que se
reduz, em seguida, num óleo deveras suave, como sendo o mais nobre de si
mesmo. Esta medicina poderá, particular e mui vigorosamente, despojar de
sua vitalidade o mercúrio corrente e comum, e purificá-lo como se ensina
também em meu livro.

ADENDO

Quando obtiveres a matéria por este meio, depois não te ocupes de outra
coisa senão do fogo e observa seu regime. Aqui é que reside o mais essencial
e o objetivo da Obra. Pois, nosso fogo é o fogo comum, e nosso forno, o forno
comum. E se bem que aqueles que vieram antes de mim tenham deixado
escrito que nosso fogo não será o comum, no entanto digo-te, em verdade, que
esconderam todos os segredos, a fim de obedecer à sua disciplina. Como a
matéria é vil, a Obra, sumariamente, é unicamente auxiliada e revelada pelo
regime do fogo.

O fogo da lâmpada com espírito de vinho é inútil. Esses meios revelam-
se incrivelmente dispendiosos: o esterco de cavalo é a ruína e a matéria só
pode ser libertada pelos graus perfeitos do fogo.

Os fornos numerosos e variados não são úteis. É somente no triplo forno
que os graus do fogo são respeitados proporcionalmente. Que o sofista
indiscreto, com múltiplos fornos, não te lance no erro, visto que o nosso forno é
comum, que nossa matéria é sem valor e que o vidro é tornado semelhante à
circunferência da terra. Não tens necessidade de ensinamento suplementar
sobre esse fogo, esse regime e forno. O que tem a matéria, encontrará o seu
forno; o que tem a farinha pode encontrar também o forno de panificação e não
se preocupa muito mais com o cozimento do pão.

Sobre isto não é necessário escrever livros especiais, bastando que sigas
unicamente o regime do calor, pelo qual saibas distinguir entre o quente e o
frio. Chegando aí, acabaste a Obra e conduziste a arte ao seu fim; pelo que o
Criador de toda a natureza deve ser louvado eternamente.

Amém.

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