sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Entrada aberta ao palácio fechado do rei

Irineu Filaleto

PREFÁCIO DO AUTOR

I

Tendo penetrado, eu, Filaleto, Filósofo anônimo, os arcanos os da medicina, da química e da física, decidi redigir este pequeno tratado, no ano 1645 da Redenção do mundo e o trigésimo terceiro de minha idade, a fim de resgatar o que devo aos Filhos da Arte e para estender a mão aos que estão desencaminhados pelos labirintos do erro. Assim, parecerá aos Adeptos que sou seu par e irmão; quanto àqueles que foram seduzidos pelos vãos discursos dos sofistas, verão e receberão a luz, graças à qual retomarão à rota mais segura. E pressagio, em verdade, que numerosos dentre eles serão esclarecidos por meus trabalhos.

II

Não se trata de fábulas, mas de experiências reais que vi, fiz e conheci: o Adepto o inferirá facilmente lendo estas páginas. Por isso, escrevendo-as pelo bem de meu próximo, basta-me declarar que jamais ninguém falou desta arte tão claramente quanto eu; certamente, minha pena hesitou freqüentemente em escrever tudo, desejoso que estava de esconder a verdade sob zelosa máscara; mas Deus me constrangia, e não pude resistir-lhe, a ele, único que conhece os corações, e a quem se remete a glória no ciclo do Tempo. Donde creio que muitos, nesta última era do mundo, terão a felicidade de possuir este segredo; pois escrevi com franqueza, não impedindo ao noviço sinceramente curioso de apreender nenhuma dúvida sem urna resposta plenamente satisfatória.

III

E já sei que muitos, assim corno eu, detêm este segredo; persuado-me que há muitos mais ainda, com os quais entrarei muito proximamente, por assim dizer, em íntima e cotidiana comunicação Que a santa Vontade de Deus faça o que lhe aprouver, reconheço-me indigno de operar tais maravilhas: adoro, entretanto, nelas, a santa Vontade de Deus, a quem todas as criaturas devem estar submetidas, pois que é em função dela somente que ele as criou e as mantém criadas.

CAPÍTULO PRIMEIRO

DA NECESSIDADE DO MERCÚRIO DOS SÁBIOS PARA A OBRA DO ELIXIR

I

Quem quer que deseje possuir esse Tosão de ouro, deve saber que nosso pó aurífero, que chamamos de nossa pedra, é o Ouro, simplesmente alçado ao mais alto grau de pureza e fixidez sutil a que puder ser levado, tanto por sua natureza, quanto pela arte de hábil operador. Este ouro assim essencificado não é o do vulgo: chamamo-lo "nosso ouro"; ele é o grau supremo de perfeição da natureza e da arte. Poderia, a este respeito, citar todos os filósofos, mas não necessito de testemunhas, pois que sou eu mesmo Adepto, e que escrevo com mais clareza do que qualquer outro anterior. Crer-me-á quem quiser, desaprovar-me-á quem puder; que se me censure, mesmo, se o deseja; só se chegará a uma profunda ignorância. Os espíritos demasiadamente sutis, afirmo-o, sonham com quimeras, porém, o pesquisador assíduo encontrará a verdade seguindo a via simples da natureza.

II

O ouro é então o único, exclusivo e verdadeiro princípio a partir do qual se pode produzir ouro. No entanto, o nosso ouro que é necessário à nossa obra é de duas naturezas. Uma levada à maturidade, fixa, é o Latão Rubro, cujo coração, ou núcleo, é um fogo puro. ë por isso que seu corpo se defende no fogo, que é onde recebe a purificação, sem nada ceder à violência deste, nem sofrer. Esse ouro, em nossa obra, exerce o papel de macho. Une-o a nosso ouro branco mais cru (nosso segundo ouro, menos cozido que o precedente), tendo o lugar de semente feminina, com o qual se conjuga e onde deposita seu esperma; e unem-se um ao outro por liame indissolúvel, de onde se faz o nosso Hermafrodita, que tem a potência dos dois sexos. Assim, o ouro corporal é morto antes de ser unido à sua noiva, com o qual o enxofre coagulante que, no ouro, é extrovertido, torna-se introvertido. Então, a altura é oculta, e a profundidade, manifestada. Também o fixo se faz volátil por um tempo, afim de possuir em seqüência, um estado mais nobre por sua herança, graças ao que obterá poderosíssima fixidez.

III

Vê-se que todo o segredo consiste no Mercúrio, do que o filósofo diz: "No Mercúrio se encontra tudo o que procuram os sábios". E Geber declara a seu respeito: "Louvado seja o Altíssimo, que criou nosso Mercúrio e concedeu-lhe natureza que domina o Todo. Decerto, efetivamente, se não existisse, os Alquimistas poderiam se glorificar à vontade, ma s a Obra Alquímica seria vã". Evidencia-se que esse Mercúrio não é o vulgar, mas aquele dos Sábios, pois todo Mercúrio vulgar é macho, quer dizer, corporal, específico, morto, ao passo que o nosso é espiritual, feminino, vivo e vivificante.

IV Atenta, pois, a tudo o que disser do Mercúrio, porque, segundo o Filósofo, "Nosso Mercúrio é o Sal dos Sábios, e quem quer que trabalhasse sem ele assemelhar-se-ia ao arqueiro que quisesse, sem corda, lançar flechas". Não se pode, entretanto, encontrá-lo em nenhum lugar sobre a terra. O Filho tampouco é por nós conformado, nem criado, mas extraído daquelas coisas que o encerram, com a cooperação da natureza, de maneira admirável, e graças a arte sutil.

CAPÍTULO II

DOS PRINCÍPIOS QUE COMPÕEM O MERCÚRIO DOS SÁBIOS

I

O objetivo daqueles que se aplicam a esta arte é purgar o Mercúrio de diferentes maneiras: uns o sublimam pela adjunção de sais, e o limpam de impurezas diversas, outros vivificam-no unicamente por si mesmo, e afirmam ter , pela repetição dessas operações, fabricado o Mercúrio dos Filósofos; mas enganam-se, porque não trabalham pela natureza, que só é aperfeiçoada em sua natureza. Que saibam então que nossa água, composta de numerosos elementos, é no entanto, coisa única feita de diversas substancias coaguladas a partir de única essência. Eis o que é requerido para a preparação de nossa água( em nossa água, com efeito, encontra-se nosso dragão ígneo): primeiramente, o fogo que se encontra em todas as coisas, secundariamente, o licor de Satúrnia vegetal; terciariamente, o liame do Mercúrio.

II

O fogo é aquele de um enxofre mineral. Porem, não é propriamente mineral e, menos ainda, metálico; mas sem participar destas duas substancias, tem o meio entre o mineral e o metal. Chaos ou espírito: com efeito, nosso dragão ígneo, que de tudo triunfa, pode ser penetrado pelo odor da Satúrnia vegetal, e seu sangue se coagula com o suco da Satúrnia num só admirável corpo; entretanto, não é corpo, pois que é totalmente volátil, nem espírito, porque ao fogo, assemelha-se a metal fundido. É então, verdadeiramente, um Chaos, que ocupa o lugar de Mãe de todos os metais; pois sei daqui extrair todas as coisas, mesmo o Sol e a Lua, sem o auxilio do elixir transmutatório, o que pode ser atestado por quem o viu, tanto quanto eu. Chama-se a este Chaos o nosso Arsênico, nosso Ar, nossa Lua, nosso Imã, nosso Aço, mas sempre sobre diversos aspectos, porque nossa matéria passa por diferentes estados, antes do mênstruo de nossa prostituta seja extraído o Diadema Real.

III

A prendei, então, quem são os companheiros de Cadmo e qual a serpente que os devorou, e qual é o carvalho oco onde Cadmo pregou a serpente. Sabeis quais são as pombas de Diana, vitoriosa do Leão, domesticando-o, este Leão verde, digo-o, que é verdadeiramente o Dragão Babilônio, a tudo destruindo por seu veneno. Enfim, sabei o que é o caduceu de Mercúrio, com a qual ele opera maravilhas, e quais são estas Ninfas que ele instruiu com seus encantamentos. Apreendei tudo isso, se quereis atingir o objetivo de vossos desejos.

CAPÍTULO III

DO AÇO DOS SÁBIOS

I

Os sábios Magos transmitiram a seus sucessores numerosos ensinamentos a respeito de seu Aço, atribuindo-lhe considerável importância. Por isso entre os Alquimistas houve grande controvérsia em saber o que se devia entender pelo nome de Aço. Cada um interpretou à sua maneira. O autor da "Nova Luz" dele falou sinceramente, mas de forma obscura.

II

O ciúme não me levando a esconder aos investigadores de nossa Arte, eu, o descreverei verazmente. Nosso Aço é a verdadeira chave de nossa Obra, sem a qual o Fogo da lâmpada não pode ser iluminado por nenhum artifício: é a mina de ouro, o espírito puro entre todos, por excelência, um fogo infernal, secreto em seu gênero, extremamente volátil, o milagre do Mundo, a reunião harmônica das virtudes dos seres superiores nos seres inferiores. É por isso que o Todo Poderoso marcou-o com este signo notável pelo qual a natividade foi anunciada no Oriente. Os Sábios viram-no no Oriente e contemplaram-no, maravilhados, e reconheceram que um Rei sereníssimo acabava de nascer no mundo.

III

E tu, que vires tua estrela, segue-a, até seu Berço: aí verás belo infante, separando-o de suas impurezas. Honra esse rebento real, abre teu tesouro para oferecer-lhe ouro; e, após sua morte, ele te dará da sua carne e de seu sangue, medicina suprema para os três reinos da terra.

CAPÍTULO IV

DO ÍMÃ DOS SÁBIOS

I Assim como o aço é atraído para o ímã, e o ímã se volta espontaneamente para o aço, igualmente o Ímã dos Sábios atrai seu Aço. Sendo o Aço, como vos ensinei, a mina de ouro, devemos também considerar nosso imã como verdadeira mina de nosso Aço.

II

Por outra, declaro que nosso Ímã tem um centro oculto, onde jaz abundância de sal. Este sal é um mênstruo na esfera da Lua e pode calcinar o ouro. Este núcleo, por uma tendência original, volta-se naturalmente para o pólo, onde a virtude de nosso Aço é exaltada gradativamente. No pólo, se encontra o coração do Mercúrio, que é verdadeiro fogo, onde está o repouso de meu Senhor. Navegando sobre estevasto mar, para abordar a uma e outra das Índias, governa sua rota pelo aspecto da estrela do Norte que nosso Ímã te fará aparecer.

III

O Sábio se rejubilará, mas o insensato fará pouco caso disto, e não se instruirá com a sabedoria, nem mesmo quando tiver visto o Polo central voltado para fora e marcado pelo signo reconhecível do Todo Poderoso. Tem a cabeça tão empedernida que veriam prodígios e milagres sem por isso abandonar seus falsos arrazoados e entrar no bom caminho.

CAPÍTULO V

O CHAOS DOS SÁBIOS

I

Que o filho dos filósofos escute os Sábios, unânimes em concluir que esta obra deve ser comparada à criação do Universo. Pois, no princípio, Deus criou o céu e a terra, e a terra era vazia e deserta, e as trevas cobriam o abismo, e o espírito de Deus era levado sobre as superfícies das águas. Então Deus disse: "Faça-se a Luz!" e a Luz se fez.

II

Estas palavras bastarão ao filho da Arte. É preciso, de certo, que o céu seja unido `a terra sobre o leito da amizade e do amor; destarte poderá ele reinar honradamente sobre toda vida universal. A terra é corpo grave, a matriz dos minerais, porque ela os conserva em si mesma, secretamente, levando para a luz as árvores e os animais. O céu é o espaço onde as grandes luminárias, com os astros, executam suas revoluções e, através dos ares, comunica sua força as seres inferiores; mas no princípio, todos os corpos confundidos formaram o Chaos.

III

Eis, desvelei-vos sincera e santamente a verdade; com efeito, nosso Chaos é como uma terra mineral, tendo em vista sua própria coagulação, e, entretanto, é um ar volátil no interior do qual se encontra o Céu dos Filósofos, em seu centro, núcleo este verdadeiramente astral, irradiando por seu esplendor, a terra, até sua superfície. E qual é o Mago sábio o bastante para inferir do que acabo de dizer que um novo rei nasceu, mestre de todas as coisas, que resgatará seus irmãos, da impureza original, que deve morrer e ser exaltado a fim de dar sua carne e seu sangue para a vida do mundo?

IV

Ó Deus cheio de bondade, como tuas obras são admiráveis! Tu fizeste isto, e surge a nossos olhos como milagre. Rendo-te graças, Pai, Senhor do céu e da terra, por teres ocultado estas maravilhas aos sábios e aos prudentes, para desvelá-las aos pequeninos.

CAPÍTULO VI

O AR DOS SÁBIOS

I

O espaço, ou o firmamento, é chamado de AR nas Santas escrituras. Nosso Chaos é também chamado de AR, e isto não deixa de ser um segredo notável, pois como o ar firmamental, nosso ar é o separador das águas. Nossa Obra é pois realmente um sistema harmônico no mundo maior. Com efeito, as águas que estão sob o firmamento são-nos visíveis, a nós que vivemos sobre a terra; mas as águas superiores escapam a nossos olhares, em razão de sua distancia. Da mesma forma, em nosso microcosmo, há águas minerais sadias do núcleo, que aparecem, mas aquelas que estão encerradas no interior nos são invisíveis, e, não obstante, existem de fato.

II

São estas as águas de que fala o autor da "Nova Luz": elas existem, mas aparecem somente quando o artista o julga conveniente. Assim como o ar faz uma separação entre as águas, também nosso AR impede que as águas excêntricas penetrem ate aquelas que estão no centro. Pois se elas aí chegassem, e se misturassem, logo se uniriam inseparavelmente.

III

Direi então que o enxofre externo, vaporoso, comburente, adere tenazmente ao nosso Chaos, à tirania do qual ele não tem forças para resistir, se bem que, puro, ergue-se do fogo sob a aparência de um pó seco. Mas se sabe irrigar esta terra árida com uma água de seu próprio gênero, alargarás os poros desta terra, e este gatuno externo será expelido para fora juntamente com as operações da desordem, a água será purgada pela adição de um verdadeiro enxofre de seus excrementos leprosos e de seu humor hidrópico supérfluo; e terás em tua posse a fonte do Conde Trévisan, cujas águas são propriamente dedicadas à virgem Diana.

IV

Este ladrão é um birbante, armado de arsenical malignidade, que o rapaz alado abomina, e foge. E se bem que a água central seja sua noiva, ele não ousa mostrar o amor mais ardente que experimente por ela, por causa das emboscadas do biltre cujas artimanhas são quase inevitáveis. Que Diana aqui favoreça, que saiba domar as bestas selvagens e cujas duas pombas ( que foram encontradas voando sem asas nos bosques da Ninfa Vênus) temperem com suas plumas a malignidade do ar; para que o jovem entre facilmente pelos poros, logo abale as águas polares superiores, que não foram comovidas pelos maus odores, e suscite negra nuvem: aí verterás as águas, até que apareça a brancura da Lua. As trevas que estavam sobre a face do abismo serão dissipadas pelo espírito movendo-se sobre as águas.

V

Daí, pela ordem de Deus, aparecerá a luz. Separa sete vezes esta luz, das trevas, e esta criação filosófica do Mercúrio será perfeita; o sétimo dia será para ti um sabbat de repouso. Deste tempo, até o fim da passagem do ano, poderás esperar a geração do filho do Sol sobrenatural que virá ao mundo ao fim dos séculos para libertar seus irmãos de toda a impureza.

CAPÍTULO VII

DA PRIMEIRA OPERAÇÃO DA PREPARAÇÃO DO MERECÚRIO FILOSÓFICO PELAS ÁGUIAS VOLÁTEIS.

I

Sabe, meu irmão, que a exata preparação das Águias dos Filósofos é considerada como o primeiro grau da perfeição, o que só se deixa conhecer por mente hábil. Não crê, realmente, que esta ciência tenha chegado a algum de nos por acaso, ou por imaginação fortuita, como o pensa nesciamente a massa dos ignorantes: a busca da verdade custou-nos longo e pesado labor, numerosas noites sem sono, muitos penares e suores. Portanto tu, estudioso aprendiz, sê fortemente persuadido que, sem esforço nem trabalho, a nada chegarás na primeira operação. Quanto à segunda, é apenas a natureza que opera, sem que seja necessária tua mão, senão para aplicar, externamente, um fogo moderado.

II

Compreende, pois, irmão, o que querem dizer os Sábios quando escrevem que devem levar suas águia a devorar o leão; quanto menos águias há, mais a batalha é rude e mais tardia a vitória; mas aoperação é perfeitamente executada com um numero de sete ou nove Águias. O Mercúrio Filosófico é o pássaro de Hermes, que é chamado ora de Ganso, ora Faisão, ora este, ora aquele.

III

Quando os magos falam de suas Águias, delas falam no plural e contam-nas entre três e dez. Mas não querem dizer com isso que se deva ajuntar a um peso dado de terra, tantas medidas d’água quanto forem as águias, mas deve-se compreender que falam do peso interno ou da força do fogo, quer dizer, sem duvida que se deve tomar água tantas vezes sutilizadas quantas águia contam; esta atuação é feita por sublimação. Assim, cada sublimação do Mercúrio Filosófico corresponde a uma águia, e a sétima sublimação exaltará teu Mercúrio a ponto de formar um banho mui conveniente para teu Rei.

IV

Para desfazer a dificuldade, lê atentamente o que segue: toma quatro partes de nosso DragãoÍgneo, que esconde em seu ventre o Aço mágico, e nove partes de nosso ímã: mistura-os juntos com o auxílio do tórrido Vulcano, de modo que formem uma água mineral onde sobrenadará uma escuma que deve ser rejeitada, deixa a crosta e toma o núcleo, purga-o três vezes pelo fogo e o sal, o que será feito facilmente se Saturno contemplou sua própria beleza no Espelho de Marte.

V

Daí nascerá o Camaleão, quer dizer, nosso Chaos, onde estão escondidos todos os segredos, não em ato , mas em potência. É esse o infante Hermafrodita; envenenado desde o berço pela mordida do cão enraivecido de Corascena, por causa de uma hidrofobia permanente, ou medo da água, que o torna louco e insensato; e agora que a água é o elemento natural mais próximo dele, ele a abomina e foge dela. Ó Destinos!

VI

Não obstante, encontram-se na floresta de Diana, duas pombas que suavizam sua raiva insensata ( se as aplica com arte da Ninfa Vênus ). então para impedir que esta hidrofobia o retome, mergulhe-o nas águas, e que ele pereça. Neste momento, o Cão Negro Enraivecido, sufocado, incapaz de suportar as águas, subirá quase até a sua superfície; persegue-o à forca de chuva e golpes, e faz com que fuja para bem longe; assim desaparecerão as trevas.

VII

Quando a Lua brilhar plenamente, dará asas à Águia, que voará, deixando mortas atras de si as pombas de Diana, que se não sendo mortas no primeiro encontro, de nada podem servir. Reitera sete vezes esta operação, e enfim encontrarás o repouso, tendo simplesmente que fazer cozer; é a mais perfeita tranqüilidade, jogo de crianças e trabalho de mulheres.

CAPÍTULO VIII

DO TRABALHO E DOS CUIDADOS DA PRIMEIRA PREPARAÇÃO

I

Alguns ignorantes, que brincam de químicos, imaginam que a obra inteira, do começo ao fim, é apenas pura recreação, onde só se encontra o deleite, e decretam que a dificuldade está fora deste lavor; que gozem desta opinião, tranqüilamente; na obra que estimam ser tão fácil, só recolhem ventos, graças as suas operações ociosas. Quanto a mim, sei por experiência própria que, uma vez adquirida a benção divina e um bom começo, só se pode Ter sucesso com muito penar, engenhosidade e assiduidade

II

E, certamente, não há trabalho tão fácil que se possa considerar que seja divertimento ou adivinhas, e que leve ao objetivo tão procurado. Ao contrario, como diz Hermes, não se deve poupar nenhum esforço, quer intelectual, quer físico. Senão , o que predisse o Sábio em suas parábolas, verificarse- a: o desejo do preguiçoso fá-lo-á perecer. Também não se deve surpreender que tantas pessoas se intrometem com a alquimia tenham-se reduzido à indigência, pois que fogem do trabalho, sem recear as despesas.

III

Mas eu, que conheço a operação, por tê-la praticado cuidadosamente, sei com certeza que não há trabalho mais enfadonho que nossa primeira preparação. Por isso que Morien advertiu seriamente o Rei Calid que muitos sábios queixam-se do cansaço que lhes causava esta operação. E não gostaria que isso fosse tomado metaforicamente, pois não considero os fatos tais como aparecem no inicio da obra sobrenatural, mas tais como se encontram desde o começo. Tornar a massa bem disposta, diz o poeta, é o trabalho, é a obra. E acrescenta: "Um, (Jasão) de um pico conhecido (mostra-te) o tosão de ouro... O outro, (Hércules), (ensina-te) que fardo deves suportar e com que trabalho submeter esta massa espessae este enorme peso..." Ë o que faz dizer ao celebre autor do "Segredo Hermético", que o primeiro trabalho é um trabalho de Hércules.

IV

Encontram-se, de fato, em nosso princípio, numerosos elementos heterogêneos supérfluos impossíveis de levar à pureza (aquela que convém à nossa obra) e que se deve então completamente eliminar, o que não se pode fazer, ignorando a Teoria de nossos segredos, graças à qual ensinamos o meio de tirar do sangue menstrual desta prostituta o Diadema Real. E quando se conhece esse meio, resta ainda, um grande trabalho, tão pesado que, como diz o Filosofo, muitos, assustados pelas dificuldades, abandonam sua obra inacabada.

V

Não crê, no entanto, que uma mulher não possa empreender esse trabalho se ele o considera seriamente, e não como jogo. Mas uma vez preparado o Mercúrio, que Bernardo Trévisan chama a sua fonte, encontra-se enfim o repouso que, segundo o Filosofo, é bem mais desejável que todos os outros louvores.

CAPÍTULO IX

O PODER DE NOSSO MERCÚRIO SOBRE TODOS OS METAIS

I

Nosso Mercúrio é essa serpente que devorou os companheiros de Cadmo, o que nada tem de surpreendente, pois que anteriormente devorou o próprio Cadmo, se bem que mais forte que eles. Ao fim, porem, Cadmo a trespassará desde que pela força de seu sopro saiba coagulá-la.

II

Saberei pois que nosso Mercúrio comanda todos os corpos metálicos e pode resolvê-los em sua mais próxima matéria mercurial separando seus enxofres; e sabe que o Mercúrio de uma, duas ou três águias comanda Saturno, Júpiter e Vênus; de três a sete águias, comanda a Lua; enfim, comanda o Sol, quando se tem de sete a dez.

III Concluo dizendo que esse Mercúrio é mais próximo do primeiro ente metálico do que qualquer outro Mercúrio; por isso penetra radicalmente os Corpos Metálicos e manifesta suas profundezas secretas.

CAPÍTULO X

DO ENXOFRE QUE SE ENCONTRA NO MERCÚRIO FILOSÓFICO

I

O mais extraordinário de tudo é que em nosso Mercúrio encontra-se um enxofre não somente atual, mas ativo e verdadeiro, e que entretanto, conserva todas as propriedades e a forma do Mercúrio. Ë pois necessário que esta forma lhe tenha sido dada por nossa preparação: esta forma é enxofre metálico, e este enxofre é um fogo que putrefaz o sol composto ou decomposto.

II

Este fogo sulfuroso é a semente espiritual que nossa Virgem (permanecendo imaculada) não deixou de receber, porque a virgindade pode suportar um amor espiritual sem ser corrompida, como aexperiência o mostra e como o disse o autor do "Segredo Hermético". É graças a este enxofre que nosso Mercúrio é Hermafrodita, quer dizer, que a partir do mesmo grau visível de digestão ele contem ao mesmo tempo um princípio ativo e um princípio passivo. E se é unido com o Sol, abranda-o, liqüefazendo-o e dissolvendo-o pelo calor temperado que exige o composto; pelo mesmo fogo ele coagula a si mesmo, e sua coagulação produz o Sol e a Lua, à vontade do artista.

III

Isto parecer-te-á, quiçá , incrível, mas é real que o Mercúrio Homogêneo, puro e limpo, acrescido de enxofre interno por nosso artifício, coagula a si mesmo, sob a única ação de um calor externo adequado. Esta coagulação se faz em forma de creme de leite como terra sutil sobrenadando as águas. Mas quando se une ao Sol, não somente ele não se coagula, mas sendo assim composto, a cada dia assume um aspecto mais mole até que, o corpo estando bem dissolvido, os espíritos começam a se coagular, assumindo nigérrima cor e desprendendo odor extremamente fétido.

IV

Vê-se, destarte, que esse enxofre espiritual metálico é realmente o primeiro motor, que faz girar a roda e virar o eixo circularmente. Este Mercúrio é, em verdade, ouro volátil, não ainda suficientemente digerido, mas bastante puro: é por isso que, por simples e única digestão, transforma-se em Sol. Mas se o conjuga ao Sol já perfeito, ele não se coagula; mas dissolve o ouro corporal, e após essa dissolução permanece com ele sob a mesma forma; porem, a morte deve necessariamente preceder a união perfeita, a fim de que após a morte sejam unidos não simplesmente numa perfeição uma só vez perfeita, mas mais de mil vezes perfeita.

CAPÍTULO XI

DA INVENÇÃO DO PERFEITO MAGISTÉRIO

I

Eis a maneira pela qual os Sábios de outrora, que adquiriram o conhecimento desta ciência sem o auxílio de livros, foram levados a possui-la, com a permissão de Deus. Com efeito, não chego a persuadirme que ninguém a tenha tido por revelação imediata, exceto talvez Salomão, questão que prefiro não abordar. Mas mesmo tendo-a adquirido assim, nada impediria que a tivesse obtido pela pesquisa, quando simplesmente pedira a sabedoria, que Deus concedeu, para que com ela possuísse a riqueza e a paz. Nenhuma pessoa sensata poderia negar que aquele que sondou a natureza das plantas e das arvores, do cedro do Líbano até o hissopo e a parietária, não tenha semelhantemente penetrado a natureza mineral, estudo não menos agradável.

II

Mas, retornando a nosso assunto, digo que há lugar para crer que os primeiros Adeptos, dentre os quais coloco Hermes, a terem possuído o Magistério, como falavam-lhes os livros, não procuraram de início a maior perfeição, mas contentaram-se em exaltar os metais imperfeitos à dignidade Real; e como deram-se conta que todos os corpos metálicos tinham uma origem mercurial, e que o Mercúrio era totalmente semelhante, quanto ao peso e à homogeneidade, ao mais perfeito dos metais, que é o ouro, esforçando-se por levá-lo ao cozimento à maturidade do ouro; mas nenhum fogo permitiu-lhes lá chegar.

III

Por isso pensaram que, para obter o fogo necessário ao sucesso, o calor exterior deveria ser acompanhado de um calor interno. Então procuraram este calor em diversas coisas. Inicialmente, extraíram dos minerais menores, por destilação, águas extremamente quentes, com as quais corroeram o Mercúrio; mas por mais artifícios que empregassem, não puderam assim fazer com que o Mercúrio mudasse suas qualidades intrínsecas, porque todas essas águas corrosivas eram apenas agentes externos, como o fogo, se bem que diversamente; e aqueles mênstruos, como os chamavam, não permaneciam com o corpo dissolvido.

IV

Pela mesma razão, rejeitaram todos os sais, salvo um, o ente primordial de todos os sais, que dissolve qualquer metal que seja e coagula o Mercúrio da mesma maneira; mas isso só se faz por via violenta; eis porque um agente desta espécie é novamente separado dos corpos que dissolveu, nada perdendo de seu peso nem de suas qualidades. Também observaram os sábios, finalmente, que no Mercúrio havia condensações aquosas e impurezas terrosas que, profundamente incrustadas, impediam que ele fosse digerido, e que não poderiam ser eliminadas, senão destruindo todo o composto. Digo que aprenderam a fixar a Mercúrio quando puderam se desembaraçar destas escórias. Ele Contem em si mesmo, de fato, um enxofre fermentativo, cujo menor grão bastaria para coagular o corpo de todo o Mercúrio, desde que se lhe retirassem suas impurezas e coágulos. Experimentaram então diferentes métodos de purgação, mas em vão, porque esta operação exige uma destruição, e depois uma regeneração, para as quais um agente intermediário é preciso.

V

Aprenderam, enfim, que o Mercúrio havia sido destinado a ser um metal nas entranhas da terra, e que para chegar a isto, conservava um movimento continuo tanto quanto o lugar e outros caracteres exteriores permanecessem bem dispostos. Mas, se por acaso se produzisse qualquer perturbação, este fruto ainda verde caía por si mesmo, de forma que, privado de movimento, parecia privado de vida, pois é impossível retornar imediatamente da falta à posse.

VI

É um enxofre passivo o que se encontra no Mercúrio, enquanto que deveria ser ativo; deve-se então introduzir outra vida, de mesma natureza, que desperta a vida latente no Mercúrio: "assim a vida recebe a vida". Ele é finalmente transformado basicamente, e rejeita espontaneamente de seu Centro as impurezas e as escorias, como disto falamos suficientemente nos capítulos precedentes. Ora, esta vida só se encontra no enxofre metálico, que os magos procuraram em Vênus, e nas substancias semelhantes, mas em vão.

VII

Enfim, interessam-se por um filho de Saturno, e experimentaram sua ação sobre o ouro; e como tinha a força de desembaraçar o ouro maduro de suas impurezas, foram levados pelo argumento do maior ao menor, a crer que teria o mesmo efeito sobre o Mercúrio; mas a experiência mostrou-lhes que ele conservava suas próprias escórias. Então, recordaram-se da bem conhecida máxima: sê puro, tu que desejas purificar a outrem. Convenceram-se de que era impossível, apesar de seus esforços, purgá-lo inteiramente, porque não continha nenhum enxofre metálico; encerrava porem, em abundância, o sal mais puro da natureza.

VIII

Descobriram que no Mercúrio havia muito pouco enxofre, e que era somente passivo; não encontraram enxofre atual nesta posteridade de Saturno, mas somente enxofre potencial. Por isso que ela faz aliança com um enxofre arsenical ardente, sem o qual enlouqueceria e só poderia subsistir sob forma coagulada; no entanto ela é estúpida aponto de preferir coabitar com o inimigo, que a mantém rigidamente aprisionada, e se prostituir, do que renunciar a ele a aparecer sob uma forma mercurial.

IX

Então, procurando mais ainda este enxofre ativo, os magos o encontraram profundamenteescondido na casa de Áries. O filho de Saturno acolheu-o com avidez, sendo ele mesmo matéria metálica puríssima, muito branda e próxima do estado primeiro dos metais, completamente desprovida de enxofre atual, mas capaz de receber o enxofre. Por essa razão, ele o atrai como um ímã, o absorve e oculta em suas entranhas. E o Todo Poderoso , para perfazer esta obra, imprime-lhe seu selo real. Então rejubilaram-se os magos, não somente por Ter encontrado o enxofre, mas por vê-lo preparado.

X

Tentaram dele se servir para purgar o Mercúrio, mas sem sucesso, porque ainda havia, absorvido neste filho de Saturno, uma malignidade arsenical misturada a este enxofre; e se bem que muito pouco, tendo em vista a grande quantidade que o enxofre detinha em sua natureza mineral, impedia a união daquele enxofre com o Mercúrio. Por esta causa, tentaram temperar esta malignidade do ar com as pombas de Diana, e tiveram êxito. Então , misturaram a vida com a vida, umectaram a seca pela a liquida, subtilizaram a passiva pela ativa, e vivificaram a morte, pela vida. O céu permaneceu nublado por um pouco; mas depois das abundantes chuvas, reencontrou sua serenidade.

XI

Daqui surgiu um Mercúrio Hermafrodita. Puseram-no sobre o fogo e coagularam em pouco tempo; em sua coagulação, encontraram o Sol e a Lua.

XII

Por fim , esses sábios, para si mesmos, observaram que o Mercúrio assim purificado e não ainda coagulado não mais era metal, mas era bastante volátil para não deixar nenhum deposito no fundo do vaso, em sua destilação. Por isso chamaram-no seu Sol ainda não amadurecido, e sua Lua viva.

XIII

Consideraram igualmente que sendo o ente primordial do ouro, mas ainda volátil, poderia tornarse o campo em que o Sol, uma vez semeado, cresceria em virtude. Por isso é que aí puseram o Sol; e para sua grande surpresa, o que no Mercúrio era fixo tornou-se volátil, o corpo duro abrandou-se, e o que era coagulado se encontrou dissolvido, para surpresa da própria natureza.

XIV

Foi o que os levou a conjugar estes dois corpos; encerraram-nos num vidro, o qual puseram sobre o fogo, e prosseguiram a obra, como a natureza o exigia, durante um longo período. Assim, foi vivificado o morto e morreu o vivo, o corpo se putrefez, o espírito exaltou-se, glorioso, e a alma foi exaltada numa quintessência, medicina soberana para animais, metais e vegetais.

CAPÍTULO XII

DA MANEIRA DE REALIZAR O PERFEITO MAGISTÉRIO EM GERAL.

I

Devemos oferecer a Deus eternas ações de graças por nos Ter mostrado esses arcanos da natureza, que ocultou aos olhos da maioria. Desvelarei, pois, fiel gratuitamente aos outros pesquisadores o que me foi gratuitamente concedido por aquele doador. Sabe, por conseguinte, que em nossa operação não há maior segredo que a coobacão das naturezas, uma sobre a outra, até com a ajuda de um corpo cru se extraia de um corpo digerido, uma virtude muito digerida.

II

Para requer-se, primeiramente, a aquisição exata das matérias que entram na obra, sua preparação e sua adaptação; secundariamente, uma boa disposição dos elementos exteriores; terciariamente, após esta preparação, um bom regime; quaternariamente, devem-se conhecer antecipadamente as cores que aparecem no decurso da obra, para não agir às cegas; quinariamente, paciência, para que a obra não seja regida com pressa, ou precipitação. Falaremos de tudo isso por ordem, com fraterna sinceridade.

CAPÍTULO XIII

DO EMPREGO DE UM ENXOFRE MADURO NA OBRA DO ELIXIR

I

Já falei da necessidade do Mercúrio, e mostrei, a propósito do Mercúrio, numerosos segredos que, antes de mim, estavam sem significação no mundo, porque quase todos os livros de química estão cheios de enigmas obscuros, ou operações sofisticadas, ou ainda de um acúmulo de palavras intrincadas. Eu não agi similarmente, submetendo, para tanto, minha vontade para à divina que, neste ultimo período do mundo, parece-me desejosa de desvelar estes segredos. Por isso receio menos que possa aviltar-me a Arte, e desapareça. Tal não pode suceder, pois a real sabedoria guarda-se a si mesma e ternamente com sua honra.

II

Apraza a Deus, porém, que o ouro e a prata, os grandes ídolos que o mundo inteiro até hoje tem adorado, fossem tão comuns quanto o estrume! Então nós, que praticamos esta Arte, não nos aplicaríamos zelosamente em nos esconder, nós, que já nos cremos cumulados com a maldição de Caim, chorando e gemendo; parece que somos afastados da vista do Senhor, e da doce sociedade de nossos amigos de que fruíamos sem receio, outrora. Somos atormentados como se fossemos assediados pelas fúrias, e em nenhum lugar podemos julgar-nos em segurança, por muito tempo, chegando a gemer e muito repetindo a lamentação de Caim ao Senhor; "Quem quer que me encontre, matar-me-á".

III

Não tendo ousado cuidar de nossa família, erramos, vagabundos, de nação em nação, sem encontrar nenhuma moradia garantida; e se bem que tudo possuamos, devemos com pouco nos contentar; em que a felicidade encontraríamos, se não na contemplação, com que a alma experimenta grande satisfação? Muitos, estranhos a esta arte, crêem que se a possuíssem, isto e aquilo fariam: foi o que pensamos, no passado, mas, tornados prudentes pelos perigos, escolhemos método mais secreto. Quem quer que tenha uma vez escapado à morte iminente, tomar-se-á, crede-me, mais sábio para o resto da vida. Há um provérbio que diz que as mulheres dos celibatários e os filhos das virgens estão sempre bem vestidos e alimentados.

IV

Encontrei o mundo num estado tão corrompido, que não se encontra uma só pessoa, dentre aqueles que se atribuem o aspecto da honestidade, ou apregoem seu amor pelo bem publico, cujo anelo pessoal não seja um interesse sórdido e indigno. E nenhum mortal pode fazer algo, nem mesmo na solidão, nem mesmo obras de misericórdia, sem por sua vida em perigo. Experimentei recentemente, no estrangeiro, o seguinte: havia dado remédio a doentes afligidos por misérias corporais e abandonados por todos; e por milagre , recobraram a saúde; logo se começou a falar do Elixir dos Sábios, a um tal ponto que sofri, diversas vezes grandes incômodos, obrigado a alterar as vestimentas, raspar a cabeça e usar uma peruca, adotar nome falso, e evadir-me noturnamente, sem o quê, teria caído nas mãos dos perversos que me estendiam ciladas ( por causa de uma simples suspeita, unida à sua execrável sede pelo ouro) . Poderia contar copias de historias deste gênero, que pareceriam risíveis a muitos.

V

Dirão, com efeito: "Se possuísse esses segredos, conduzir-me-ia bem diversamente". Que saibam, no entanto, quão penoso é às pessoas nobres conviver com imbecis. Mas as outras pessoas de intelecto sutil são finas, penetrantes, perspicazes, têm olhos de Argos; alguns são curiosos, outros, maquiavélicos, procuram perscrutar profundamente a vida, os costumes e as ações dos homens; em todo caso, são pessoas com quem, desde que somos seus amigos, é muito difícil dissimular.

VI

Se tivesse ocasião de falar com algum daqueles que pensam isso de si mesmos ( que fariam tal ou tal coisa, se possuísse a pedra), e se eu lhes dissesse: "És amigo de um Adepto", logo se poriam a refletir e me responderiam: "Impossível, eu o teria percebido; vivo tão familiarmente com ele que o teria notado". Tu que pensas aquilo de ti mesmo, crês que os outros não tem perspicácia igual à tua, para verem quem és?

VII

Pois é preciso bem viver com as pessoas, sob pena de passar por um Cínico ou um outro Diógenes. Se te associas à plebe, é indigno, mas se freqüentas a sociedade das pessoas cultas, deves estar sempre em guarda, para que não te descubram com a mesma facilidade que crês possuir para reconhecer em uma outra pessoa um Adepto ( pois que ignoras um segredo que todos conhecem), sob pretexto de que tens com ele uma certa familiaridade. Terás até dificuldade em te dares conta de que se alimentam suspeitas de ti, o que é grave inconveniente, pois a menor conjectura bastará para que te armem ciladas.

VIII

Tão grande a maldade dos homens, que conheci certas pessoas que foram estranguladas ou enforcadas apenas pela suspeita ( de que possuíam a Pedra Filosofal), quando de fato eram estranhas à nossa arte. Bastaria que pessoas desesperadas tivessem ouvido dizer que tal pessoa tinha a reputação de ser hábil nesta ciência. Seria fastidioso enumerar tudo o que eu mesmo vivi, o que vi e ouvi sobre isso, tanto mais nesta era do mundo que em todas as precedentes. A alquimia serve de pretexto a todos, de modo que, se fazes a mínima coisa em segredo, não podes dar três passos sem te traíres.

IX

Estas precauções excitarão o ardor de alguns para examinar mais de perto a tua conduta, e falarão de dinheiro falso. E o que mais não dirão? Mas, se pelo contrario, ages um pouco mais abertamente, descoberto será que fazes coisas insólitas, quer em Medicina, quer em Alquimia; se possuis grande soma de ouro e prata que desejes vender, logo se perguntará de onde provém esta quantidade de ouro fino e prata puríssima, que só podem ser encontrados na Berbéria ou em Guiné, e sob forma de pó extremamente tênue; ao passo que o teu, de título mais elevado, estará sob forma de lingotes. Isto não deixará de causar muita murmuração.

X

Os mercadores não são tão tolos, mesmo se, como crianças, brincam contigo, dizendo que compram de olhos fechados, que nada vêem e que se pode vir com toda a confiança; se vais até eles, num piscar de olhos te denunciarão o bastante para te lançar em grande embaraço. A prata que produzimos graças a nossa ciência é tão fina que não pode ser proveniente de nenhum país. A melhor , que vem da Espanha, não vale mais que a esterlina inglesa, e ainda se apresenta sob a forma de peças assaz grosseiras, que são contrabandeadas, malgrado a interdição das leis dos reinados. Se então pões à venda grande quantidade de prata pura, já te traíste; segundo as leis da Inglaterra, Holanda e de quase todos os Estados, que prevêem que toda alteração do titulo do ouro e da prata que não seja para atender à banca do ourives, é passível de pena capital, se não é exercitada por profissional registrado.

XI

Eu mesmo experimentei tais coisas, quando tentei vender nada mais que seiscentas libras de prata finíssima, no estrangeiro, disfarçado de mercador, pois não ousei fazer uma liga, pois que cada nação, tendo seu titulo particular para a prata e para o ouro, os ourives o conhecem bem: a tal ponto, que se tivesse dito que provinha de alhures, logo pediriam provas, e fariam apreender o vendedor. Aqueles a quem o apresentei, logo me disseram ser prata fabricada pela arte. Perguntei-lhes como o afirmavam, e responderam-me simplesmente que eu não os ensinaria a distinguir a prata vinda da Inglaterra, Espanha, ou alhures, e que aquela que eu lhes apresentava não era deste tipo. Este discurso fez com que eu me evadisse furtivamente, abandonando minha prata e seu valor, sem reclamar mais nada.

XII

Se, não obstantes, finges que essa grande quantidade de ouro, e sobretudo prata, foi trazida do estrangeiro, lembra que uma tal coisa ano seria feita sem ser conhecida. O patrão do navio dirá que não transportou uma tal massa de prata, e que não poderia ser carregada no barco, com o desconhecimento geral. E aqueles que souberem desta historia, que terão vindo para negociar, rirão, dizendo não ser verossímil que se possa conseguir tamanha quantidade em ouro e prata e embarcá-la, sendo as interdições tão estritas e as medidas preventivas tão severas. Este caso logo fará barulho não só em seu país, mas também nos reinos vizinhos. Instruído pelos perigos corridos, decidi permanecer oculto, e comunicar-te esta arte, curioso de ver o que farás para o bem público, quando fores um Adepto.

XIII

Tendo ensinado mais acima da necessidade do Mercúrio em nossa obra, adverti a propósito do Mercúrio, sobre particularidades que ninguém dentre os Antigos havia mostrado antes de mim; assim digo que, por outro lado, deve-se procurar o enxofre sem o qual o Mercúrio não poderá sofrer a congelação necessária à obra sobrenatural.

XIV

O enxofre, nesta obra, faz o papel de macho, e quem quer que aborde sem ele a arte transmutatória, nunca terá sucesso, afirmando todos os Sábios que não se pode fazer nenhuma tintura sem seu latão ou seu bronze, sendo este, sem dúvida, o Ouro, a que assim chamam. O famoso Sendivogius disse a esse propósito: "O sábio reconhece nossa pedra até no excremento, enquanto que oignorante não crê que ela exista nem mesmo no ouro". É no ouro, o Ouro dos Sábios, que se encontra a tintura aurífica; se bem que seja um corpo perfeitamente digerido, entretanto, se reencrua num só corpo, nosso Mercúrio, e de Mercúrio ele recebe a multiplicação de sua semente, menos em quantidade que em qualidade.

XV

E se bem que muitos Sábios pareçam sofisticamente negá-lo, tudo é realmente como afirmei. Pretendem, por exemplo, que o ouro vulgar seja morto, enquanto que o seu seja vivo; igualmente, o grão de trigo está morto, quer dizer, que sua atividade germinal foi suprimida, e permaneceria eternamente se fosse conservado num ar ambiente seco; mas lançado à terra, logo retoma sua vida fermentativa, incha, abranda-se e germina.

XVI

O mesmo ocorre com nosso ouro: está morto, quer dizer, sua força vivificante está selada sob a escoria corporal; no que se assemelha ao grão, com diferenças, porem, em proporção à grande distancia que separa o grão vegetal do ouro metálico. E assim como este grão que permanece imutável, enquanto está ao ar seco, é destruído pelo fogo e vivificado somente na água, também o ouro, que é incorruptível malgrado qualquer ataque e dura eternamente, é redutível apenas em nossa água, e então vive, e tornase nosso ouro.

XVII

Quando o trigo é semeado no campo pelo lavrador, ele muda de nome e toma o de semente, em lugar de frumento , que leva enquanto é guardado no celeiro para fazer o pão e outros alimentos desse gênero, tanto quanto para a semeadura. Assim o ouro, enquanto está sob a forma de anéis, vasos ou dinheiro, é vulgar; mas desde que esteja misturado à nossa água, ele é filosófico. No primeiro estado, dizse que está morto, porque permaneceria imutável até o fim do mundo; no segundo, diz-se que está vivo, porque está em potência; esta potência pode em alguns dias ser convertida em ato; neste momento, o ouro não é mais ouro, mas o Chaos dos Sábios.

XVIII

Os Filósofos têm então razão dizendo que o ouro filosófico é diferente do ouro vulgar; e esta diferença reside na composição. Diz-se, realmente, que um homem está morto quando ouviu sua sentença de morte; também se diz que o ouro está vivo quando mistura-se a uma tal composição, submetido a um tal fogo, no qual deve receber necessária e rapidamente a vida vegetativa e mostrar, alguns dias mais tarde, os efeitos de sua vida nascente.

XIX

Assim, os mesmos Sábios que dizem que seu ouro é vivo, ordenam-te, que faças pesquisas na arte, de vivificar o morto. Se conheces o método e após ter preparado a prata, executas a mistura conforme as regras, teu ouro não tardará a se tornar vivo: mas, nesta vivificação, teu mênstruo vivo morrerá. Por isso os Magos aconselham vivificar o morto e mortificar o vivo; mas, é antes sua água, que eles chamam viva, e dizem que o tempo da morte do primeiro principio e do renascimento do segundo têm a mesma duração simultânea.

XX

Donde se vê que se deve tomar o nosso ouro quando está morto e sua água, quando se está viva; mas fazendo-se um composto que se coze por um breve momento, a semente do ouro torna-se viva, enquanto que morre o Mercúrio vivo, que dizer, que o espírito é coagulado pelo corpo dissolvido; e um e outro se putrefazem ao mesmo tempo em forma de lama, até que todos os membros do composto sejam dispersos em Átomos. Eis pois em que consiste a natureza de nosso Magistério.

XXI

O mistério que guardamos com tantos cuidados é a preparação do Mercúrio propriamente dita. Não se pode encontrá-lo sobre a terra já pronto para o nosso uso, e isso por razões particulares conhecidas pelos Adeptos. Com o Mercúrio, amalgamamos perfeitamente este ouro puro, purgado ao extremo grau de pureza, reduzido a limalha ou lamelas, encerramo-lo num recipiente de vidro e o fazemos cozer em fogo contínuo: o ouro é dissolvido pela virtude de nossa água; e retorna à sua matéria mais próxima, na qual a vida do ouro aprisionada é libertada, e ele recebe a vida do Mercúrio dissolvente, que é, em relação ao ouro, o que é a boa terra para o grão de trigo.

XXII

O ouro dissolvido neste Mercúrio se putrefaz, e é assim que deve ser obrigatoriamente, por necessidade da natureza. Pois após a podridão da morte renasce o corpo novo, da mesma essência que o primeiro, mas de substancia mais nobre, que recebe proporcionalmente diferentes graus de virtude segundo as quatro qualidades dos elementos. Tal é a ordem de nossa obra. Tal é toda nossa Filosofia.

XXIII

Por isso dizemos que nada há de secreto em nossa obra, à exceção apenas do Mercúrio, cujo Magistério consiste em prepará-lo convenientemente, extrair o Sol nele escondido, e casá-lo com o ouro, em justa proporção; e em reger o fogo como o Mercúrio exigir; porque o ouro por si mesmo não teme o fogo, e quanto mais é unido ao Mercúrio, mais isto o torna capaz de resistir a este fogo; a dificuldade desta obra é então acomodar o regime de calor à tolerância do Mercúrio.

XXIV

Mas se não se preparou seu Mercúrio segundo as regras, mesmo se lhe se une o ouro, este ouro permanecerá vulgar, pois que está unido a um agente extravagante, no qual ele não se transforma mais do que se tivesse sido deixado no cofre; e nenhum regime de fogo fará desaparecer sua natureza corporal, se não há nenhum agente vivo para acompanhá-lo.

XXV

Nosso Mercúrio é uma alma viva e vivificante, e eis por que nosso ouro é espermático, como o trigo semeado é uma semente, enquanto que o mesmo trigo encerrado num celeiro permanece simples frumento, morto. Mesmo se o enterra numa caixa( ou, como o praticam os habitantes das Índias, Ocidentais que põem suas colheitas no interior de uma fossa na terra, ao abrigo de todo vapor d’água), se ele não recebe o vapor úmido da terra, está morto, quer dizer, fica improdutivo e bem longe de vegetar.

XXVI

Sei que muitos condenarão esta doutrina, e dirão: "Este homem afirma que o ouro vulgar é o suporte material da pedra, com o Mercúrio corrente; mas sabemos que é o contrário". Vamos, senhores filósofos, olhai em vossos bolsos: vós, que tantas coisas sabeis, aí encontrareis a pedra? Eu a possuo, sem tê-la recebido de ninguém (se não de meu Deus) nem tê-la roubado: eu a tenho, e a fiz, guardo-a diariamente comigo, freqüentemente trabalhei-a com minhas próprias mãos. Escrevo o que sei, mas isto não é para vós.

XXVII

Tratai pois vossas águas pluviais, vossos rocios de maio, vossos sais, tagarelai a torto e a direito, louvai vosso esperma mais poderoso até que o diabo; cobri-me de injurias; estais seguros de que vossa linguagem insultante me desola! Assevero que o ouro apenas, e o Mercúrio, são nossas matérias. Sei o que escrevo, e DEUS que perscruta os corações, sabe que eu escrevo a verdade.

XXVIII

E não tem cabimento acusar-me de ciúmes , escrevendo eu com a pluma audaciosa, em estilo incomum, em honra de DEUS, para utilidade de meu próximo e para condenar o mundo e as riquezas; pois já o Artista Elias nasceu, e se dizem maravilhas da Cidade de Deus. Ouso mesmo assegurar Que possuo mais riquezas do que todo o Universo conhecido; mas as emboscadas dos maldosos não me permitem delas servir-me.

XXIX

É com razão que desprezo e detesto essa idolatria do ouro e da prata, com os quais tudo tem preço, e que só servem à pompa e à vaidade do mundo. Que infâmia, que vão pensamento nos leva a crer que, se oculto meus segredos, é por ciúme? Enganai-vos: asseguro estar profundamente entristecido por ser um vagabundo errante por toda a terra, como se o Senhor me expulsasse de sua vista.

XXX

Mas, é inútil falar: o que vi, toquei e trabalhei, o que detenho, possuo e conheço, é apenas a compaixão que experimento pelos pesquisadores que me leva a esta desvelação; e também a indignação com o ouro, a prata e as pedras preciosas, não enquanto criaturas de Deus, pois assim são honráveis, e os respeito, mas porque os Israelitas, conjuntamente com o resto do mundo, os idolatram. Por isso, como o veado de ouro, desejo que sejam reduzidos a pó.

XXXI

Espero e aguardo que em poucos anos a prata será como esterco e que esse sustentáculo da besta do Anticristo se esboroe em ruínas. O povo está enlouquecido, e as nações insensatas tomam como Deus a esse peso inútil. Em que isso é compatível com nossa redenção próxima, tão longamente aguardada? Quando as praças da Nova Jerusalém se cobrirão de ouro, quando suas portas cintilarão com pérolas finas, e com as mais preciosas pedras, e quando a Arvore da Vida plantada no meio do Paraíso dará suas folhas para a saúde do gênero humano?

XXXII

Eu sei, eu sei, meus escritos serão estimados por muitos como o ouro mais fino, e o ouro e a prata, graças a meu trabalho, também assumirão tão pouco valor quanto o esterco. Crede-me, jovens aprendizes, e vós, seus pais, o tempo está às nossas portas( e não digo isso sob o império da vã ilusão, mas vejo-o, em espírito) em que nós, os Adeptos, retornaremos dos quatro cantos da terra, em que não recearemos as emboscadas engendradas contra a nossa vida, e em que daremos graças a Deus nosso Senhor. Meu coração murmura-me maravilhas inauditas, minha alma exulta idéia da felicidade de todo o Israel de Deus.

XXXIII

Anuncio tudo isso ao mundo como pregoeiro público, a fim de não morrer inútil ao mundo. Que meu livro seja o precursor de Elias, a fim de que ele prepare a via real do Senhor. Praza aos céus que as almas nobres do mundo inteiro conheçam esta arte! Então, a abundância extrema do ouro, da prata e das pedras preciosas seriam causa de sua depreciação, e seria apreciada somente a ciência que os produz. Então, por fim, a virtude, toda nua, porque é amável por si mesma, seria honrada.

XXXIV

Conheço muitas pessoas que possuem a Arte, e detém suas verdadeiras chaves: todas desejam o silêncio mais rigoroso a seu respeito. Quanto a mim, a esperança que tenho em meu Deus faz-me pensar diversamente, razão pela qual escrevi este livro, desconhecido pelos Adeptos meus irmãos (com os quais estou em contato cotidiano).

XXXV

Deus concedeu o repouso a meu coração, dando-me fé inquebrantável, e não duvido que, usando meu talento, servirei meu senhor, a quem o devo, e a todo o meu próximo, e sobretudo, Israel; sei que ninguém pode fazê-lo frutificar tanto quanto eu mesmo, e prevejo que centenas de espíritos serão, talvez, iluminados por meus escritos.

XXXVI

Conseqüentemente, não consultei a carne, nem o sangue, escrevendo esta obra, tampouco procurei o assentimento de meus irmãos. Deus faça, para a glória de seu nome, que eu chegue ao objetivo que espero. Então, todos os Adeptos que me conhecem se rejubilarão com a publicação destes escritos.

CAPÍTULO XIV

DAS CIRCUNSTANCIAS QUE SE PRODUZEM E QUE SÃO REQUERIDAS PARA A OBRA EM GERAL.

I

Destaquei da arte química todos os erros vulgares e, após ter refutado os sofismas e os sonhos exóticos dos sonhadores, ensinei que a Arte deve Ter como princípios o Ouro e o Mercúrio; mostrei que o Sol é o ouro, sem duvida nem ambigüidade, e que isto não deve ser tomado metaforicamente, mas num verdadeiro sentimento filosófico; e declarei sem o menor equivoco que o Mercúrio é o azougue.

II

Demonstrei que o primeiro é perfeito por natureza, e que pode ser comprado; mas que o segundo deve ser fabricado pela Arte e que é uma chave. Acumulei razões tão claras e evidentes, que, ao menos que queira fechar os olhos para não ver o Sol, é impossível nada descobrir. Afirmei, e repito-o, não Ter afirmado isso pela fé que tenho nos escritos alheios: vi e reconheço o que sinceramente relatei; fabriquei, vi e possuo a pedra, o grande Elixir.

III

E não tenho ciúmes deste conhecimento; ao contrario, desejo que tu o consigas por meus escritos. Por outra , faço saber que a preparação do Mercúrio Filosófico é mui delicada; sua principal dificuldade é encontrar as Pombas de Diana, que estão envolvidas nos abraços eternos de Vênus, e que somente um verdadeiro Filósofo pode ver. Apenas este conhecimento é a perfeição da Teoria; enobrece o Filosofo que o detém, fazendo-o ver todos os nossos segredos; tal é o nó górdio que aquele se iniciando na arte jamais saberá desfazer se o dedo de Deus lá não estiver para guiá-lo; e é tão difícil, que é necessário se beneficiar de particular graça de Deus para chegar a seu exato conhecimento.

IV

Dei tantos pormenores, o que ninguém fizera antes, sobre a fabricação desta água, que nada mais saberei dizer, senão dar a receita. O que, aliás, já fiz, mas sem designar os elementos sob seus próprios nomes. Resta-me descrever-te o uso e a prática, que te ensinarão facilmente a distinguir as qualidades ou defeitos do Mercúrio, assim poderás modificá-lo e corrigi-lo à tua vontade. Quando possuíres o Mercúrio animado e o Ouro, falta a purgação acidental de um e de outro; depois, as bodas; em terceiro lugar, o regime.

CAPÍTULO XV

DA PURGAÇÃO ACIDENTAL DO MERCURIO E DO OURO.

I

O ouro perfeito se tira das entranhas da terra; lá, é encontrado em fragmentos ou sob a forma de areia. Se podes tê-lo intacto, é muito puro; senão, purga-o quer com o antimônio, quer com o cimento real, que fazendo-o ferver em água forte; e, após tê-lo reduzido em grãos e em limalha, funde-o; está pronto.

II

Nosso ouro produzido pela natureza, perfeito para nosso uso, que encontrei e do qual servi-me, a custo um artista em cem mil o conhece, exceto se tiver um conhecimento muito aprofundado do reino mineral; mas, também, este ouro se encontra numa matéria que todos podem achar; mas está misturado a muitos elementos supérfluos, nós o fazemos passar por numerosas provas e combinações, até que todas as escórias sejam eliminadas, e que só reste dele o que é puro, com, entretanto, alguns elementos heterogêneos; mas não o fundimos, senão sua frágil alma pereceria, e seria tão morto quanto o ouro vulgar; mas lava-o na água que tudo consome (exceto nossa matéria) ; então nosso corpo torna-se como um bico de corvo.

III

O Mercúrio, este, necessita uma purgação interna e essencial, que consiste na adição gradual de um verdadeiro enxofre, conforme o números das Águias: é então radicalmente purgado; este enxofre nada mais é senão nosso Ouro. Se sabes dissociá-los sem violência, depois exaltar um e outro separadamente, e de novo conjugá-los, obterás deles uma concepção que dará um filho mais nobre que qualquer substancia sublunar.

IV

É Diana quem pode perfazer esta obra, se é envolvida nos invioláveis abraços de Vênus. Roga ao Todo Poderoso de te descobrir este mistério, que expliquei literalmente em meus capítulos precedentes, onde este segredo foi claramente tratado; não há uma palavra ou um ponto supérfluo, e nenhum que falte.

V

Mas, além desta purgação essencial, falta ao Mercúrio uma purgação acidental para lavar as fezes exteriores que a operação de nosso verdadeiro enxofre rejeitou do centro à superfície. Este trabalho não é absolutamente necessário, porem acelera a obra, e eis porque é convenientemente fazê-lo.

VI

Toma então teu Mercúrio, que preparaste com número adequado de Águias, e sublima-o três vezes com o sal comum e pelas escorias de Marte, moendo-o ao mesmo tempo no vinagre e um pouco de sal amoníaco, ate que o Mercúrio desapareça. Então desseca-o e destila-o na retorta de vidro, com um fogo gradualmente aumentando, ate que todo o Mercúrio seja exaltado. Repete três vezes, ou mais, esta operação, depois faz ferver o Mercúrio no espírito de vinagre durante uma hora numa cucúrbita ou um vidro de fundo amplo e colo estreito, agitando-o fortemente de tempos em tempos. Decanta agora o vinagre, e leva a acetosidade com água de fonte vertida repetidamente. Enfim, faz secar o Mercúrio, e admirarás seu brilho. VII Para poupar-lhe a sublimação, podes lavá-lo com urina, ou com vinagre e sal, depois destilá-lo ao menos quatro vezes, após ter esgotado todas as Águias, sem adição, limpando a cada vez a retorta de aço com cinza e água: enfim, ferve-o no vinagre destilado durante meio dia, agitando-o fortemente de tempos em tempos. Retira o vinagre que se escurece, e recoloca-o; enfim, lava-o com água quente. Pode redestilando o espírito de vinagre, liberá-lo de seu negror: manterá a mesma virtude. VIII Tudo isso serve para retirar a impureza exterior, que não adere ao centro, mas é um pouco mais obstinadana superfície; eis como será vista: toma o Mercúrio preparado com sete ou nove Águias; mistura-o com ouro puríssimo; faz o amalgama sobre papel limpo, e verás que suja o papel com um negror mui sombrio. Eliminarás esta impureza pela destilação de que já falei, pela ebulição e pela agitação. Esta preparação faz adiantar consideravelmente a obra, acelerando-a.

CAPÍTULO XVI

DO AMÁLGAMA DO MERCÚRIO E DO OURO E DO PESO ADEQUADO DE UM E DE OUTRO.

I

Tudo isso sendo preparado segundo as regras, toma uma parte de ouro purgado, em lamínulas ou limalha fina, e duas partes de Mercúrio; coloca-os num almofariz de mármore que terás previamente aquecido, por exemplo, mergulhando-o em água fervente (ele seca ao ser retirado, mas conserva longamente o calor) ; mói tua composição com um pilão de marfim, de vidro, de pedra ou de ferro ( o que não é muito bom), ou de madeira; os de vidro e os de pedra são os melhores. Eu tenho o hábito de servirme de um pilão de coral branco.

II

Mói fortemente o composto, até que seja impalpável, mói com tanto cuidado quanto o dos pintores ao prepararem suas cores; se está tão maleável quanto manteiga, nem muito quente, nem muito frio, na condição que, colocado sobre um plano inclinado, não deixe escoar o Mercúrio como a água hidrópica subcutânea, então a consistência esta boa; se está muito seco, adicionarás exatamente o que lhe falta para obter esta consistência

III

A lei desta mistura é que a matéria seja bem mole e flexível , e que se possam fazer dela pequenas bolas, como manteiga, que é muito macia e cede à pressão do dedo mas que as mulheres, quando a lavam, podem moldar em bolinhas. Observa como este exemplo é correto, porque a manteiga, se é inclinada, não deixa escapar algo mais líquido que toda a massa: assim é nossa mistura.

IV A natureza intrínseca do Mercúrio deve estar nesta proporção: que haja duas ou três partes do Mercúrio para uma do corpo, ou ainda, que haja três partes do corpo para quatro do espírito, ou duas por três; e segundo a proporção do Mercúrio, o amalgama será mais ou menos firme; mas recorda-te sempre que é preciso coagulá-lo em pequenas bolas, e que estas, separadas, se endurecem de tal maneira que o Mercúrio não aparece mais brilhante na parte inferior que na superior. Nota que se deixas repousar o amalgama, ele se endurece sozinho.

V

Deve-se julgar a consistência da composição, agitando-a; se ela tem a consistência da manteiga, se deixa moldar em bolinhas, e, colocadas com cuidado sobre papel limpo, endurecem em repouso, sem serem mais líquidas no centro que na superfície, então a proporção é correta.

VI

Isto feito, toma espírito de vinagre, e nele dissolve um terço de seu próprio peso de sal amoníaco. Põe neste licor, antes de seu amalgama, o Mercúrio e o Sol, num vidro de pescoço comprido; depois, deixa ferver fortemente durante um quarto de hora; retira então tua mistura do vidro, e põe de lado o licor; aquece um almofariz e tritura forte e cuidadosamente como já vimos, a composição, depois, retira todo o seu negror com água quente. Recoloca-a no mesmo licor, ferve-a de novo no mesmo vidro, tritura de novo fortemente, e lava-a.

VII

Recomeça esta operação até que te seja muito difícil retirara qualquer cor do amalgama; então ele será tão claro quanto a mais pura prata e da brancura fulgurante do melhor polimento. Examina bem a temperatura da composição e cuida que ela esteja exatamente de acordo com as regras que dei; senão lava-a a corretas proporções e procede como indiquei mais acima. É um trabalho difícil, mas vê-lo-ás recompensado pelos sinais que aparecerão na obra.

VIII

Enfim, ferve teu composto na água pura, procedendo as diversas decantações, até que toda a salinidade e acrimônia tenham sido retiradas. Então, retira a água e faz secar o amalgama, o que será bem rápido. Para estar bem certo (muita água estraga a obra, pois o vapor pode partir vosso vaso, mesmo se for grande), revolve-o coma ponta de uma faca sobre um papel limpo, deslocando-o até que tudo esteja perfeitamente seco. Procede então como vou indicar-te.

CAPÍTULO XVII

DAS PROPORÇÕES DO VASO, DE SUA FORMA, DE SUA MATÉRIA E A MANEIRA DE FECHÁ-LO.

I

Toma um vidro oval e arredondado, bastante grande para conter em sua esfera uma onça de água destilada no máximo, e não menos, se possível: deve-se tentar se aproximar bastante desta medida. O vidro deve ter um pescoço de um palmo ou dez dedos de altura, ser bem claro e espesso; quanto mais espesso for, melhor será, desde que possas distinguir as ações que se desencadearão dentro dele. Ele não deve ser mais espesso num ponto que no outro.

II

Coloca neste vidro uma meia onça de ouro com uma onça de Mercúrio; e se adicionas o triplo de Mercúrio, todo o composto não deve exceder duas onças: tal é a proporção requerida. Se o vidro não é espesso, não conseguirá resistir ao fogo, porque os ventos que são formados no vaso por nosso Embrião, quebra-lo-ão. Deve-se selar o vidro no alto com muito cuidado e prudência, que não haja a menor fenda, nem o menor orifício, senão a obra perecerá.

III

Assim vês que a obra, em seus princípios materiais, não ultrapassa o preço de três ducados ou três florins de ouro; mesmo a fabricação de uma libra de nossa água só custa duas coroas. Certamente reconheço que são necessários alguns instrumentos, mas não são muito caros, e se possuísses meu aparelho de destilação, não precisarias desses vidros que se partem facilmente.

IV

Encontram-se , mesmo assim, pessoas que imaginam que toda a despesa pouco excede um ducado; pode-se responder-lhes que isso prova que jamais realizaram praticamente a obra até o fim. Pois há outras coisas necessárias à obra, e que custam dinheiro. Mas aqueles, apoiando-se nos filósofos, pretendem que tudo o que é caro em nossa obra é enganoso. Respondo-lhes: o que é a nossa obra? Fazer a pedra? Sim, é a obra final, mas a verdadeira obra é encontrar a umidade na qual o ouro se liquefaz como o gelo na água tépida: encontrar isso é nossa obra.

V

Muitos se empenham em procurar o Mercúrio do Sol, outros, o Mercúrio da Lua; mas em vão. Pois nesta obra é enganoso tudo o que custa caro. Afirmo que é possível, com um florim, comprar tanto do princípio material de nossa água quanto o necessário para animar duas libras inteiras de Mercúrio, a fim de com ele fazer o real Mercúrio dos Sábios, que com tanto ardor se procura. Com ele fazemos um Sol que, assim que é perfeito, tem mais valor para o artista do que tivesse sido comprado ao preço do ouro mais puro, pois resiste também a toda prova, e é o melhor dentre todos para a nossa obra.

VI

Aliás os vasos de vidro ou de terra, os carvões, os vasos e os instrumentos de ferro não se dão por nada. Que os Sofistas cessem de vez seus murmúrios, suas falácias despudoradas, que a tanto seduzem. Sem nosso corpo perfeito, nossa descendência de Vênus e de Diana, que é o ouro puro, não se pode obter tintura permanente. E nossa pedra, por um lado, quanto ao seu nascimento, é vil, imatura e volátil; por outro, é perfeita, preciosa, e fixa: as espécies do corpo e do espírito são do Sol e a Lua, o ouro e o Mercúrio.

CAPÍTULO XVIII

DO ATANOR OU FORNO FILOSÓFICO

I

Falou-se do Mercúrio, de sua preparação, e de sua virtude; do enxofre igualmente, de sua necessidade e de seu emprego em nossa obra. Indiquei como se deveria prepará-los e ensinei como misturá-los juntos. Também muito falei do vaso onde deveriam ser selados. Mas previno-te que tudo isso se deve compreender com uma pitada de sal, receando que, tudo tomado literalmente, não ocorra te enganares freqüentemente.

II

Expliquei, efetivamente, com inusitada clareza essas sutilezas filosóficas; mas se não suspeitaste das numerosas metáforas contidas nos precedente capítulos, não recolherás outra colheita senão a da perda de tempo, da despesa e da fatiga. Por exemplo, quando disse sem nenhuma ambigüidade que um dos princípios era o Mercúrio e o outro o Sol, que um se vendia comumente, e que o outro deveria ser fabricado por nossa arte, se não sabes qual é o ultimo, ignoras o sujeito de nossos segredos; mas podes, em seu lugar, trabalhar com o Sol vulgar; cuidando para bem compreender o que digo, porque nosso Sol é um ouro de qualidade que resiste a todo exame, e por isso pode ser vendido( uma vez reduzido a metal) sem escrúpulo.

III

Nosso Ouro não poderia, no entanto, ser comprado, a qualquer preço que seja, mesmo que por ele quisesses dar uma coroa ou um reino, pois é "um dom de Deus". Nosso Ouro não podemos obter em sua perfeição ( ao menos comumente) porque, para que seja o nosso, é necessária a nossa arte. Podes também, procurando bem, encontrar nosso Sol e a Lua vulgar. Pois nosso Ouro é a matéria mais próxima de nossa pedra, o Sol e a Lua vulgares são dela matéria próxima, e todos os outros metais, matéria afastada, e até mesmo estranha.

IV

Eu mesmo procurei e encontrei-o no Sol e na Lua vulgares, mas fazer a pedra a partir de nossa matéria é trabalho bem mais fácil que extrair nossa verdadeira matéria de não importa qual metal vulgar. Nosso Ouro , realmente, é um Chaos cuja alma não é afugentada pelo fogo, enquanto que o ouro vulgar é um corpo cuja alma deve, para estar ao abrigo da força tirânica do fogo, se refugiar num lugar bem fortificado. É o que faz dizer aos Filósofos que o fogo de Vulcano é a morte artificial dos metais porque todos aqueles que sofreram a fusão, nela perderam a vida. Então, se sabes praticar habilmente esta fusão, quer de seu corpo imperfeito, quer do Dragão ígneo, não precisas qualquer outra chave para nossos arcanos.

V

Mas se procuras nosso Sol numa substancia intermediária entre o perfeito e o imperfeito, podes encontrá-lo; dissolve então o corpo do Sol vulgar, o que é um trabalho de Hércules e que é chamado nossa primeira preparação, pela qual é afastado o encantamento que atava este corpo e o impedia de exercer seu papel de macho. Se segues a primeira via, deves empregar um fogo muito suave, do começo ao fim; mas seguindo a Segunda, deves implorar o socorro do tórrido Vulcano, isto é, precisas aplicar o mesmo fogo que nos administramos na multiplicação, quando o Sol corporal ou a Lua vulgar servem de fermento ao Elixir para perfazê-lo. Isto será para ti verdadeiro labirinto, donde só sairás se agires com sabedoria.

VI

Qualquer que seja o procedimento que sigas, seja com o Sol vulgar, quer com o nosso, deverás operar com um calor igual e contínuo. Sabe também que teu Mercúrio, nas duas obras, se bem que sejam radicalmente um, é diferente em sua preparação; e tua pedra, com o nosso ouro, é completada dois ou três meses antes que nossa matéria primeira tenha sido extraída do Sol e da Lua vulgares; e o elixir de um será o primeiro grau de sua perfeição e de virtude muito maior que da outra, na terceira rotação da roda.

VII

Ademais, se trabalhas com nosso Sol, farás a cibação , e embebição e a fermentação, que farão crescer sua força ao infinito; na outra obra, precisas antes iluminá-la e inseri-lo como o "Grande Rosário" o explica abundantemente.

VIII

Enfim, se trabalha com nosso Ouro, podes calcinar, putrefazer e purificar por um fogo de natureza muito suave, interno, com a ajuda exterior de um banho vaporoso como o do esterco. Mas se trabalhas com o Sol vulgar, é preciso por sublimação e ebulição adaptar certas matérias, e depois uni-la ao leite da Virgem. Mas por qualquer caminho que sigas, não poderás chegar a nada sem fogo. Não é pois em vão que o verídico Hermes estabeleceu, ao lado do Sol que faz o papel de pai e da Lua, a mãe, o fogo, como o terceiro governador de tudo. Mas isto deve ser compreendido em relação ao forno verdadeiramente secreto, que nenhum olho vulgar jamais viu.

IX

Há, não obstante, outro forno, que chamamos o forno comum, que é nosso Henrique, O Lento (Henricus Lentus) , feito de tijolos ou de argila ou de laminas de ferro e bronze bem unidas com argila: chamamos este forno de Athanor, cuja forma, uma torre com um ninho, agrada-me bastante. Esta torre deve Ter aproximadamente dois pés, ou pouco mais , de altura; nove polegadas, ou um palmo comum, de diâmetro interno, entre as lâminas, aproximadamente duas polegadas de espessura, em baixo, de cada lado; a parte baixa contendo o fogo, feita de argila, será mais espessa que a parte superior, mas as concordâncias devem ser lisas, e espessuras diminuindo insensivelmente; deve Ter uma altura de sete a oito polegadas.

X

Acima do solo, ou dos alicerces, uma pequena porta, para retirar as cinzas, de três ou quatro polegadas de altura, ou pouco mais; que aí se coloque uma pequena grelha, com uma pedra que se adaptará um pouco acima da grelha, à altura de uma polegada, haverá dois buracos para permitir acesso ao ninho, completamente fechado alhures e soldado ao flanco da torre. Os buracos terão um diâmetro aproximado de uma polegada, o ninho uma capacidade de três a quatro ovos de vidro, mas não mais. A torre e o ninho não devem comportar a menor fissura; o ninho não pode estar abaixo da plataforma, mas o fogo pode tocar diretamente a plataforma e sair por dois, três ou quatro buracos. O ninho deve Ter uma tampa com uma pequena janela, na qual possa caber um vidro de aproximadamente um pé de altura, ou então que se coloque no topo.

XI

Estando tudo destarte assim disposto, colocar o forno num lugar iluminado; introduzir carvões pelo alto, inicialmente, carvões ardentes, depois outros, enfim, para que nenhum acesso se abra para o ar, fechar o topo com a tampa, que se consolidará com cinzas peneiradas. Num tal forno poderás levar a bom termo a obra, do começo ao fim.

XII

Mas, se és curioso, podes descobrir outros meios para administrar o fogo adequado. Mas dispõe o Athanor de modo que, sem deslocar o vidro, possas aplicar a teu talante não importa que grau de calor, desde o calor da febre até o de um pequeno revérbero, ou o fogo de um rubro sombrio, a fim de que, mesmo neste grau muito elevado, o fogo possa durar por si mesmo durante ao menos oito ou dez horas, sem que tenhas de adicionar carvão; uma queima mais rápida exigiria demasiado trabalho depois. Agora, abre-se para ti a primeira porta.

XIII

Mas, quando estiveres de posse da pedra, preferirás tornar este forno portátil ( como eu mesmo fiz), porque pode ser deslocado facilmente, e as outras operações não são tão difíceis nem tão complicadas; exigem muito pouco tempo, e não há necessidade de um grande forno que seria de transporte dificultoso, mesmo se, com o hábito,, possas construi-lo mais depressa, e alimentar com carvões, com menos fumaça, durante o espaço de talvez uma semana, no máximo duas ou três, durante o tempo de multiplicação.

CAPÍTULO XIX

DO PROGRESSO DA OBRA DURANTE OS QUARENTA PRIMEIROS DIAS

I

Nosso Mercúrio e nosso Sol, uma vez preparados, encerra-os em nosso vaso e rege-os com nosso fogo; e em quarenta dias verás toda a matéria convertida numa sombra, ou em átomos, sem nenhum motor ou movimento visíveis, nem calor perceptível ao tato, exceto por estar a matéria quente.

II

Mas se o mistério de nosso Sol e de nosso Mercúrio te continua oculto, não prossegue o trabalho; seria para ti apenas despesa inútil. No entanto, se ainda não conheces em toda a extensão o processo da invenção de nosso Ouro, mas se adquiriste a ciência de nosso Mercúrio, sabendo após qual preparação ele deve ser unido ao corpo perfeito, que é grande mistério, então toma uma parte de Sol vulgar bem purificado, e três partes de nosso Mercúrio já iluminado; com eles, faz uma mistura, como se disse mais acima, e coloca-os sobre o fogo, dando-lhes calor bastante para fazê-lo ferver e suar; que circule sem descontinuidade, dia e noite, durante noventa dias e outras tantas noites, e verás que este Mercúrio terá separado e de novo reunido todos os elementos do Sol vulgar; depois, faz ferver ainda cinqüenta dias, e verás durante esta operação teu Sol vulgar transformado em nosso Sol, que é medicina de primeira ordem.

III

Será então, o nosso enxofre a surgir; mas ainda não oferecerá tintura. E crê-me, esta é a via que seguiram muitos Filósofos, e encontraram a verdade; é um método muito trabalhoso, feito para os ricos e poderosos da terra, porque, uma vez obtido o enxofre, não pensa já Ter a pedra, mas apenas a sua verdadeira matéria, coisa imperfeita que podes procurar e encontrar em uma semana por nossa Via, via fácil e rara, que Deus reservou para seus pobres desdenhados e seus santos desprezados.

IV

Decidi falar-vos demoradamente deste método, se bem que ao começar o livro, tivesse resolvidoescondê-lo sob profundo silencio. É o maior Sofisma de todos os Adeptos: uns falam do ouro e da prata vulgares, e falam com justeza; outros negam a mesma coisa, e dizem também a verdade. Movido pela caridade, estender-te-ei mão segura e interpelo todos os Adeptos e os acuso de ciúme. Eu também decidira seguir o caminho do ciúme, mas Deus desviou-me de meu desígnio: que por isto seja eternamente louvado!

V

Digo então que ambas as vias são verdadeiras, porque ao fim, são a mesma via, se bem que no começo sejam diferentes. Pois todo o nosso segredo se encontra em nosso Mercúrio e nosso Sol. Nosso Mercúrio é nossa via, e sem ele nada se fará; igualmente, nosso Sol não é o ouro do vulgo, porém, no ouro vulgar se encontra nosso Sol, se não, como os metais seriam homogêneos?

VI

Se, pois, conheces o método para iluminar nosso Mercúrio como necessário, poderás uni-lo ao ouro vulgar em vez de nosso Sol ( nota porém que a preparação do Mercúrio deve ser diferente segundo o ouro utilizado). Com o regime conveniente, obterás nosso Sol após cento e cinqüenta dias: com efeito, ele provém naturalmente do Mercúrio.

VII

Se os elementos do ouro vulgar são dispensados por nosso Mercúrio e são novamente reunidos, a mistura inteira , graças à ação do fogo, se tornará nosso Ouro; unido em seguida ao Mercúrio que preparamos e que chamamos nosso leite da Virgem, este ouro cozido seguramente te dará todos os sinais descritos pelos Filósofos, na condição de que o fogo seja aquele que indicaram.

VIII

Mas, se nossa decocção de ouro vulgar ( por mais puro que seja) unes o mesmo Mercúrio que usualmente se junta ao nosso Ouro, se bem que, para falar genericamente, são oriundos da mesma fonte, e se lhe aplicas o mesmo regime de calor que os Sábios dizem em seus livros ter aplicado a nossa pedra, estás indubitavelmente no caminho do erro: é o grande labirinto onde caem quase todos os iniciantes, porque todos os Filósofos, em seus livros, falam de duas vias, que são realmente a mesma fundamentalmente, mas uma é mais direta que a outra.

IX

Aqueles que falam do Sol vulgar, como o faço às vezes neste pequeno tratado, e como o fizeram Artephius, Flamel, Ripley e muitos outros, devem ser assim entendidos: que o Sol filosófico deve ser feito do Sol vulgar e de nosso Mercúrio, e que este Sol, por uma liquefação reiterada, dará um enxofre e um Mercúrio fixo, incombustível e fornecendo uma tintura à toda a prova.

X

Semelhante, e consoante esta maneira de compreender, nossa pedra existe em todos os metais e minerais, porque se pode, por exemplo, extrair destes o Sol vulgar, donde se tira facilmente nosso Sol próximo: quero dizer que nosso Sol se encontra em todos os metais vulgares, mas que está mais próximo no ouro e na prata. É por isso, diz Flamel, que alguns trabalham em Júpiter, outros em Saturno; mas quanto a mim, trabalhei com o Sol e encontrei-o nele.

XI

Há, porem, no reino metálico algo de origem maravilhosa, na qual nosso Sol está mais próximo que no Sol e na Lua vulgares, se o procuras a hora de seu nascimento; isso funde em nosso Mercúrio, como o gelo na água morna, mas isso se assemelha de certa forma ao ouro. Isto não aparece na manifestação do Sol vulgar, mas, pela revelação do que está escondido em nosso Mercúrio, esta mesma coisa pode ser encontrada após uma digestão de cento e cinqüenta dias neste Mercúrio; eis aí nosso ouro, procurado pela via mais longa, e ainda não tão forte quanto o que a natureza nos deu.

XII Pela terceira rotação da roda, encontrarás o mesmo nos dois, com a diferença de que no primeiro

o encontrarás em sete meses, ao passo que precisarás um ano e meio, senão dois, para encontrá-lo no segundo. Conheço as duas vias, mas aconselho a primeira como a mais fácil para todas as pessoas engenhosas; mas indiquei a mais penosa para não atrair sobre minha cabeça o anátema de todos os Sábios. XIII

Sabe então que esta é a única dificuldade que se experimenta com a leitura dos livros dos homens mais sinceros: provém de que todos dão variantes a propósito de um só regime. E quando falam de uma operação, prescrevem o regime de outra; fiquei longamente embaraçado, antes de me desembaraçar das malhas desta rede. Assim, declaro que o calor deve ser em nossa obra o mais suave possível para a natureza, se bem compreendestes isto.

XIV

Se trabalhas com o Sol vulgar , esta obra não é propriamente nossa Obra, mas a ela levadiretamente, a seu tempo. É preciso, no entanto, uma cocção muito forte e um fogo proporcionado; depois deve-se prosseguir com um fogo muito suave, com o nosso Athanor de torre, que acho realmente digno de elogios.

XV

Portanto, se trabalhaste com o Sol, vulgar, cuida de realizar o casamento de Diana e de Vênus no começo das núpcias de teu Mercúrio; depois coloca-os no ninho, e, com o fogo adequado, verás o quadro colorido da Grande Obra, a saber: o negro, a cauda de pavão, o branco, o citrino e o vermelho. Recomeça então esta operação com o Mercúrio, que se chama o leite da Virgem, dando-lhe o fogo do banho de rocio, e no máximo o de areia temperada com as cinzas; e verás não somente o negro, mas o negro mais negro que o negro, e toda a escuridão, bem como o branco e o rubro perfeito, e isto por um suave proceder. Deus, com efeito, não estava no fogo, nem no vento, mas sua voz chamou por Elias.

XVI

Se conheces a arte, tira nosso Sol de nosso Mercúrio: então todos os segredos emergirão duma só imagem, o que, acredita-me, é coisa mais perfeita que toda perfeição do mundo, segundo o Filosofo que disse: "Se podes levar a bom termo a obra a partir unicamente do Mercúrio, terás encontrado a obra mais preciosa de todas". Nesta obra, nada há de supérfluo; tudo , graças ao Deus vivo, se transforma em pureza, porque a ação se faz sobre um só sujeito.

XVII

Se é que começas o trabalho pela obra do Sol vulgar, então a ação e a paixão se farão em duas coisas, do que só se deve tomar a substancia média e rejeitar as impurezas. Se meditares profundamente sobre o que acabo de dizer em algumas palavras, possuirás a alavanca que ergue todas as contradições aparentes dos filósofos. Por isso que Ripley ensina a fazer girara roda três vezes, no "Capítulo da Calcinação", onde fala expressamente do Sol vulgar; sua tripla doutrina das proporções concorda com estas proporções, aonde, aliás, é muito misterioso, porque estas três proporções servem a três operações.

XVIII

Há uma secretíssima operação, se bem que puramente natural, que se faz em nosso Mercúrio com nosso Sol, e é a esta obra que se devem atribuir todos os sinais descritos pelos sábios. Esta obra não se realiza com o fogo, nem com as mãos, mas somente com um calor interior: o calor exterior apenas repele o frio e vence seus sintomas.

XIX

Há uma segunda operação, no Sol vulgar e nosso Mercúrio, que se faz com um fogo ardente, durante muito tempo em que um e outro cozinham, por intermédio de Vênus, até que a pura substancia deum e de outro seja expressa, o que é o suco da Lunária. É recolhido, após se ter retirado as impurezas. Não é ainda a pedra, mas o nosso verdadeiro enxofre, que se deve cozer mais ainda com nosso Mercúrio, que é seu próprio sangue, até que se torne uma pedra de fogo, muito penetrante e tintorial.

XX

Há, por fim, terceira operação , mista, que se faz misturando ouro vulgar e nosso Mercúrio, em peso conveniente, e adicionando um fermento de nosso enxofre em quantidade suficiente. Então se cumprem todos os milagres do mundo, e se realiza um Elixir capaz de dar a seu possuidor as riquezas e a saúde.

XXI

Procura pois, com todas as tuas forças, nosso enxofre. Encontraras, crê, em nosso Mercúrio, se os destinos te chamam (Si te fata vocant) . Se não, procura nosso Sol e nossa Lua no Sol vulgar, com o calor e o tempo que convém; mas esta via é plena de espinhos, e empenhei-me diante de Deus e a equidade, em nunca dizer claramente, em palavras nuas, dos dois regimes, distinguindo-os. Mas faço o juramento de que, quanto ao resto, desvelei toda a verdade.

XXII

Toma então o Mercúrio que descrevi, e junta-o ao Sol, seu grande amigo; e após sete meses, ou nove, ou dez, no máximo, de nosso regime de calor, obterás certamente o que desejas. Mas ao cabo de cinco meses verás nossa Lua cheia. E são estes os verdadeiros termos necessários para conseguir esses enxofres cuja cocção reiterada te dará nossa pedra e as tinturas, com a graça de Deus, a quem toda a glória e toda a honra sejam dedicadas eternamente.

CAPÍTULO XX

DA CHEGADA DO NEGROR NA OBRA DO SOL E DA LUA

I

Se trabalhaste o Sol e Lua para neles procurar nosso enxofre, examina se tua matéria está inchada como a massa de pão, fervente como a água, ou antes, como piche fundido. Porque nosso Sol e nosso Mercúrio têm uma imagem emblemática na obra do Sol vulgar com nosso Mercúrio. Com teu forno aceso com fogo vivo, espera vinte dias, tempo durante a qual observarás diversas cores; pelo fim da Quarta semana, ou menos, se o calor foi bem contínuo, verás um verdor agradável que não desaparecerá antes de dez dias aproximadamente.

II

Então regozija-te, porque certamente, em breve, verás tudo negro como carvão, e todos os membros de teu composto serão reduzidos a átomos. Esta operação, de fato, nada mais é que a resolução do fixo no não fixo, a fim de que um e outro, conjugados a seguir, não sejam mais que uma única matéria, em parte espiritual, e em parte corporal. Por isso o Filósofo diz: "Toma um cão de Corascena, e uma pequena cadela da Armênia, acasala-os, e engendrar-te-ão um filho da cor do céu". Porque estas naturezas, após uma breve decocção, se transforma num caldo semelhante à escuma do mar ou uma bruma espessa tinta de cor lívida.

III

E juro-te pela fé prometida que nada escondi, exceto o regime; mas se és um sábio, deduzirás mui facilmente qual, das minhas palavras. Se então queres conhecê-lo bem, toma a pedra que falei acima, conduz a operação como sabes, e resultarão as seguintes coisas notáveis: primeiramente, desde que a pedra tenha sentido o fogo que lhe é adequado, o enxofre e o Mercúrio escoarão juntos sobre o fogo, como a cera; o enxofre queimará e mudará de cor a cada dia; o Mercúrio, por sua vez, permanecerá incombustível, sendo por algum tempo tingido com as cores do enxofre, mas não será impregnado, e lavará completamente o latão de todas as suas impurezas. Envia o céu sobre a terra tantas as vezes quantas necessárias, até que aterra tenha recebido natureza celeste. Ó santa natureza, que sozinha cumpres o que é impossível a qualquer homem!

IV

Podes estar certo de que a fêmea sofreu os abraços do macho quando tiveres visto em teu vidro as naturezas se misturarem, como um sangue coagulado e queimado. Espera então dezessete dias após a primeira dessecação de tua matéria, quando as duas naturezas se transformam num caldo grosso; circularão juntas, tal como bruma espessa ou escuma do Mar, como se disse, cuja cor será muito obscura. Então crê firmemente que a progênie real foi concebida, porque, a partir deste momento, observarás no fogo, e sobre as paredes do vaso, vapores verdes, amarelos, negros e azuis. São ventos, freqüentes durante a formação de nosso embrião, e deve-se retê-los com cuidado, para que não se escapem, e que se reduza a obra a nada.

V

Atenta também para o odor, que por acaso se exale por qualquer fissura , pois a força da pedra sofreria dano considerável; por isso o Filósofo ordena conservar zelosamente o vaso com seu fechamento; e previno-te que não se deve interromper o obra, nem mover o vaso sem abri-lo, nem cessar o cozimento em nenhum instante; mas continua a cozer até que vejas o humor consumido, o que se produzirá ao fim de trinta dias; então, alegra-te, e asseguro estares no bom caminho.

VI

Vela sobre tua obra, porque talvez duas semanas após este momento, verás toda atua terra seca e extraordinariamente negra. Então, ocorre a morte do composto: os ventos cessam e todas as coisas se abandonam ao repouso. Será o grande eclipse do Sol e da Lua durante a qual nenhuma das luminárias iluminará a terra e desaparecerá o mar. Então será perfeito o nosso Chaos: ao comando de Deus nascerão todos os milagres do mundo, na ordem que lhes é própria.

CAPÍTULO XXI

DA COMBUSTÃO DAS FLORES E DO MEIO DE EVITÁ-LA

I

Não é erro leve, mas é cometido facilmente, a combustão das flores antes que as naturezas ainda frágeis sejam complemente extraídas das profundezas em que se encontram. Este erro deve ser particularmente evitado, após a terceira semana. Realmente, no início há uma tal quantidade de humor que, se conduzes a obra com um fogo mais forte do que o necessário. O vaso frágil não suportará a abundância dos ventos e se partirá logo, a menos que por acaso, teu vaso seja muito grande; mas então, o humor será de tal modo disperso, que não retornará sobre seu corpo, ao menos não o suficiente para restaurá-lo. II

Mas assim que a terra tiver começado a reter uma parte de sua água, e como agora não há mais quase vapores, o fogo poderá ser aumentado sem nenhum inconveniente ara o vaso; mas a obra será estragada, e mostrará uma cor de papoula silvestre, e ao fim, todo o composto se tornará um pó seco, inutilmente rubificado. Julgarás, por este justo sinal, que o fogo foi muito forte, a ponto de ter sido contrário à verdadeira conjunção.

III

Sabe que nossa obra exige uma verdadeira mutação das naturezas, que só pode ser feita se união de uma e outra for total. Mas elas só podem se unir sob a forma da água. Pois não há união dos corpos, mas um choque, longe de que possa haver união de um corpo e de um espírito graças às partículas mínimas; mas os espíritos poderão bem unir-se entre eles. Por isso é necessária a água homogênea dos metais, à qual se prepara o caminho por uma calcinação prévia.

IV

Logo, esta dessecação não é verdadeiramente dessecação, mas a redução a átomos sutilíssimos, graças ao crivo da natureza, da água misturada à terra; a água exige esta redução, para que aterra receba

o fermento transmutativo da água. Mas com o calor mais violento que convém, esta natureza espiritual, tendo sido como que mortalmente golpeada com um malho, o ativo se torna passivo e o espiritual, corporal, quer dizer, um precipitado rubro inútil; enquanto que o calor conveniente proporcionaria cor negra como a do corvo, por certo, triste cor, mas altamente desejável.

V

Vê-se entretanto, no começo da verdadeira obra, uma cor vermelha muito pronunciada; mas provém duma abundância conveniente de humor, e mostra que o céu e a terra estão unidos e conceberam o fogo natural; por isso todo o interior do vidro será tingido de cor dourado; mas esta cor não durará, e logo nascerá o verde, deve-se agora esperar um pouco o negro, mas sendo paciente, verá teus votos cumpridos; apressa-te lentamente, continua porém a aplicar um fogo forte e, entre Sila e Caribe, comopiloto experimentado, dirige teu navio, se desejas recolher as riquezas de uma e outra das Índias.

VI

De tempos em tempos, verás como que ilhotas, espigas, ramalhetes de diversas cores aparecendo sobre as águas e sobre os flancos do vaso; dissolver-se-ão rapidamente e outros surgirão. A terra, de fato, ávida de germinação, produz sempre algo: pensarás, às vezes, perceber no vidro pássaros, animais, répteis, e cores agradáveis de se ver, mas efêmeras.

VII

Continua-se ininterruptamente o fogo conveniente e todos estes fenômenos terminarão antes do qüinquagésimo dia num pó de nigérrima cor. Senão, o erro se deverá a teu Mercúrio, ou a teu regime, ou à disposição de tua matéria, a menos que, por acaso, tenhas deslocado ou agitado fortemente o vidro, o que pode dilatar o prazo da obra, ou até mesmo, perdê-la.

CAPÍTULO XXII

O REGIME DE SATURNO, O QUE É, E POR QUE É ASSIM CHAMADO.

I

Todos os Magos que escreveram sobre este trabalho filosófico falaram da obra e do regime de Saturno; muitos compreenderam-no parcialmente e foram lançados em diversos erros, alguns, por causa de seus preconceitos, outros, por cauda da excessiva confiança nesses escritos; trabalharam com o chumbo, mas com pouco sucesso. Sabe, não obstante, que nosso chumbo é mais precioso que qualquer ouro; é o limo onde a alma do ouro está unida com o Mercúrio para gerar em seguida Adão e Eva, sua esposa.

II

Por isso ele, o maior, humilhou-se a ponto de assumir o último lugar; é preciso que espere a redenção de todos os seus irmãos em seu sangue. Assim a tumba em que nosso rei está enterrado é chamada Saturno em nossa obra, e a chave da obra de transmutação. Feliz aquele que pode saudar este planeta de lento caminhar! Roga a Deus, meu irmão, que ele te julgue digno desta bênção, porque ela depende não daquele que a busca, ou deseja, mas unicamente do Pai das Luzes.

CAPÍTULO XXIII

DOS DIFERENTES REGIMES DESTA OBRA.

I

Estejas certo, tu, aprendiz estudioso, de que toda a obra da pedra só o regime é oculto, do qual o filósofo disse a verdade, daquele que tiver seu conhecimento científico, de que será honrado pelos princípios e os poderosos da terra. E juro-te, com toda a sinceridade, que apenas isto fosse claramente exposto, mesmo os imbecis mofariam da Arte.

II

Pois, uma vez conhecido, tudo é apenas trabalho de mulheres, jogo de crianças: basta fazer cozer. Causa de os Sábios terem com grande artifício escondido este segredo, e estejas certo de que também o fiz, se bem que tenha parecido falar d grau do calor; mas, como propus e mesmo prometi escrever com franqueza neste pequeno tratado, devo ao menos algo fazer para não decepcionar a esperança e o trabalho dos leitores estudiosos.

III

Sabe, pois, que nosso regime é único e linear em toda a obra: trata-se de cozinhar e digerir. Porém, este regime único contém muitos outros em si mesmo, que os invejosos esconderam sobre variegados nomes e descreveram como operações diferentes. Eu me manifestarei mais claramente o candor que prometi, o que chamarias uma lhaneza inusitada de minha parte sobre este assunto.

CAPÍTULO XXIV

DO PRIMEIRO REGIME DA OBRA, QUE É O DO MERCÚRIO.

I

Logo de inicio falar-te-ei do regime do Mercúrio, segredo jamais tratado por nenhum Sábio; começaram, por exemplo, pela Segunda obra, quer dizer, o regime de Saturno, e não mostraram ao principiante nenhuma luz antes do sinal essencial do negror. Sobre este ponto silenciou o bom conde Bernard Trévisan, que ensina em suas parábolas que o Rei, quando vem à fonte, tendo deixado afastados todos os estrangeiros, entra só no banho, vestido com um hábito dourado, que retira e envia a Saturno, do qual recebe um hábito de seda negra. Mas ele não diz quanto tempo passa antes de deixar este hábito de ouro e emudece sobre todo o regime de talvez quarenta, ou mesmo por vezes, cinqüenta dias; e durante esse tempo, privados de guia, os infelizes principiantes entregam a experiências temerárias. Claro, depois da chegada do negror até o fim da obra, o artista é a cada dia confortado pelos novos sinais que aparecem, mas reconheço ser embaraçoso errar durante cinqüenta dias sem guia, sem dedicação e sem garantia.

II

Digo que todo o intervalo de tempo desde a primeira ignição até o negror é o regime do Mercúrio; do Mercúrio filosófico, que opera só durante todo este tempo, seu companheiro permanecendo morto até o momento propício. E isto, ninguém revelou antes de mim.

III

Assim, uma vez os materiais conjugados, que são nosso Sol e nosso Mercúrio, não crê, como os alquimistas vulgares que o pôr do sol logo chegará. Certamente que não. Esperei muitíssimo antes que houvesse a paz entre a água e o fogo, o que os ciumentos brevemente indicaram quando chamaram, na primeira obra, sua matéria de "REBIS", quer dizer, uma coisa composta de duas substancias, segundo o poeta: "Rebis é coisa única, composta de duas, Ambas formando coisa una, Dissolve-se para que em Sol ou Luna Os Espermas sejam mudados, princípios das duas."

IV

Estejas bem certo de que, se bem que nosso Mercúrio devora o Sol, não é da maneira que pensam os Químicos Filosofistas. Porque, mesmo se o unes ao nosso Mercúrio, após uma espera de um ano recuperarás o Sol intacto e em plena posse de sua virtude primeva, se não o fizeste cozinhar ao grau conveniente de calor. Quem o contrario afirmar, Filósofo não pode ser.

V

Aqueles no caminho do erro crêem que dissolver os corpos é uma operação tão fácil que imaginam que o ouro imerso no Mercúrio dos Sábios deve ser devorado num piscar de olhos, compreendendo mal a passagem do conde Bernard Trévisan, onde fala de seu livro de ouro mergulhado na fonte e que ele não pode recuperar. Mas aqueles que penaram com a dissolução dos corpos podem atestar a verdadeira dificuldade desta operação. Eu mesmo, por Ter sido freqüentemente testemunha ocular, certifico que é preciso grande sutileza para controlar o fogo, após a preparação da matéria, de modo a dissolver os corpos sem queimar suas tinturas.

VI

Em conseqüência, atenta para a minha doutrina. Toma o corpo que te indiquei e coloca-o na água de nosso mar, e cozinha-o ao fogo contínuo conveniente até que subam o rocio e as nuvens e que recaiam em gotículas, dia e noite, sem interrupção. E sabe que por esta circulação o Mercúrio sobe em sua natureza primeira, ate que, muito depois, o corpo comece a reter um pouco d’água: e assim comunicam-se mutuamente suas qualidades

VII

Mas, como nem toda a água sobe pela sublimação e permanecendo sempre uma parte com o corpo no fundo do vaso, o corpo é continuamente fervido e filtrado nesta água, ao passo que as gotas que recaem penetram a massa residual; e a água é tornada mais sutil por esta circulação continua e , enfim, extrai suavemente, delicadamente, a alma do Sol.

VII

Assim por intermédio desta alma, o espírito é reconciliado com o corpo e a união de um e outro é realizada na cor negra, ao fim de no máximo, cinqüenta dias. Esta operação chama-se regime do Mercúrio, porque circula elevando-se, enquanto nele se embebe o corpo do Sol, embaixo: e este corpo, na operação, é passível até a aparição das cores; sobrevem discretamente após mais ou menos vinte dias de ebulição conveniente e contínua; por conseguinte, estas cores se reforçam, e multiplicam, variando até a perfeição no negror nigérrimo, que o qüinquagésimo dia te dará, se tiveres sorte

CAPÍTULO XXV

DO SEGUNDO REGIME DA OBRA, QUE É DE SATURNO

I

Terminado o regime de Mercúrio, cuja obra é despojar o rei de sua vestimentas de ouro, de fatigar o leão por muitos combates e atormentá-lo até a última lassidão, então aparece o regime de Saturno. Realmente, DEUS quer, para levar a bom termo a obra encetada, e é a lei deste espetáculo, que saída de um regime seja a entrada de outro, a morte de um, o nascimento de outro; apenas tenha Mercúrio terminado seu reinado, entra seu sucessor, Saturno, que ocupa o nível mais alto, depois daquele. O leão morrendo, nasce o corvo.

II

Este regime é igualmente linear no que concerne à cor, o negro nigérrimo. Mas, não se vê fumaça, nem vento, nem nenhum sintoma de vida, mas ora o composto está seco, ora assemelha-se ao piche fundido. Ó triste espetáculo, imagem da morte eterna, mas que mensageiro agradável ao artista! Pois não é uma negrura ordinária, mas brilhante, mais que o negro mais intenso. E assim que vires a matéria, no fundo do vidro, inflar-se como a massa de pão, jubila-te: é que o espírito vivificante aí está encerrado, e, quando achar conveniente, o Todo Poderoso dará a vida a esses cadáveres.

III

Tu ao menos toma cuidado com o fogo, que deves aqui conduzir com julgamento são, e juro-te pela fé empenhada, que se, à força de aumentá-lo, fazes neste regime sublimar algo, perderás toda a obra, inevitavelmente. Contenta-se, com o bom Trévisan, em seres mantido na prisão durante quarenta dias e quarenta noites, e permite à tua frágil matéria permanecer no fundo, que é o ninho de sua concepção; estejas certo que após o período determinado pelo Todo Poderoso para esta operação, o espírito renascerá glorioso e glorificará seu corpo; subirá, asseguro, e circulará, sem violência; elevar-se-á do centro para os céus, e descerá dos céus para aterra, recolhendo a força do que está no alto e do que está embaixo.

CAPÍTULO XXVI

DO REGIME DE JÚPITER

I

Ao negro Saturno sucede Júpiter, que é de outra cor. Pois após a putrefação necessária e a concepção feita no fundo do vaso, pela vontade de DEUS, verás novamente as cores cambiantes, e uma sublimação circulante. Este regime não é longo, não dura mais que três semanas. Durante este tempo, aparecerão todas as cores imagináveis, que não podem ser notadas precisamente. As chuvas, ao longo destes dias, se multiplicarão; e ao fim, após tudo isto, uma brancura muito bela de se ver, em forma de estrias ou cabelos, se mostrará sobre as paredes do vaso.

II

Então rejubila-te, pois cumpriste ditosamente o regime de Júpiter . A prudência, neste regime, deve ser extrema. Para os filhotes dos corvos, quando tiverem deixado o ninho, não retornem a ele. Igualmente, para não verter a água com tão pouca moderação, que a terra que reste seja abandonada, seca e inútil, no fundo do vaso. Terceiramente, para não irrigar a terra excessivamente, a ponto de sufocála. Todos estes erros, evita-lo-ás com bom regime de calor exterior.

CAPÍTULO XXVII

DO REGIME DA LUA

I

O regime de Júpiter estando completamente terminado, ao fim do quarto mês verás aparecer o sinal da Lua crescente; e isto, sabe, porque o regime de Júpiter foi inteiramente consagrado a purificar o latão. O que purifica é alvíssimo em sua natureza, mas o corpo que ele deve limpar é de um negro extremamente escuro. Durante este trânsito do negro para a brancura, distingue-se todas as cores intermediárias; e quando elas desaparecem tudo torna-se branco, um branco que não é perfeito desde o primeiro dia, mas passa gradativamente do branco ao alvíssimo.

II

E sabe que neste regime tudo se torna à visão, tão líquido quanto o azougue, e é o que chama a sigilação da mãe no interior do ventre do infante que ele engendrou; ver-se-ão neste regime cores variadas, belas, momentâneas e desaparecendo rapidamente, mas mais próximas do branco do que do negro, assim como no regime de Júpiter elas participavam mais do negro que do branco. E sabe que o regime da Lua será terminado em três semanas.

III

Mas, antes que termine, o composto se revestirá de mil formas. Pois crescendo os rios antes da coagulação cem vezes por dia; às vezes se assemelhará a olhos de peixe, por vezes imitará a forma de uma árvore de prata mui fina com ramos e folhas. Numa palavra, ficarás a cada momento estupefato de admiração com o que vires.

IV

E finalmente, terás grãos muito brancos, tão finos quanto átomos do Sol, e mais belos do que qualquer coisa já vista por olho humano. Damos graças eternas a nosso DEUS, que produziu esta obra. Realmente, é a verdadeira e perfeita tintura ao branco, se bem que de primeira ordem somente, e, por conseguinte, de medíocre virtude em relação à virtude admirável que adquirirá pela repetição da preparação.

CAPÍTULO XXVIII

DO REGIME DE VÊNUS

I

O mais surpreendente de tudo é que nossa pedra, inteiramente perfeita e capaz de dar uma tintura perfeita, humilha-se mais uma vez, e prepara, sem que se lhe dê a mão , uma nova volatilidade. Mas, se a retiras de seu vaso, a mesma pedra, encerrada num outro, se resfria, e em vão tentarias levá-la mais adiante. Não posso, e nenhum filósofo antigo, dar-te razão demonstrativa, senão que tal é a vontade de Deus.

II

Ao menos neste regime cuida de teu fogo, porque a lei da pedra perfeita é que ela seja fusível: por isso, se intensificas um pouco o fogo, a matéria se vitrificará e aderirá, fundida, às paredes do vaso, e não mais poderás progredir. E é essa a vitrificação contra a qual os filósofos tomam tantas precauções, e que, antes e depois que a obra ao branco seja perfeita, ocorre ordinariamente aos imprudentes: corre-se este risco desde o meio do regime da Lua até ao sétimo ou décimo dia do regime de Vênus.

III

Deve-se muito pouco aumentar o fogo, para que o composto não se vitrifique, quer dizer, que não se liquefaça passivamente como o vidro; enquanto que com um calor suave liquefar-se-á sozinho, inchará, e pela vontade de DEUS será dotado de um Espírito que se exaltará e trará consigo a pedra; e dará novas cores, de início, o verde de Vênus, que durará bastante, só desaparecendo totalmente ao fim de vinte dias; em seguida, o azul, e uma cor lívida, depois, ao fim do regime de Vênus, um púrpura pálido e suave.

IV

Cuida, no decurso desta operação, de não irritar demasiado o espírito, porque ele é mais corporal do que antes, e se o deixar voar para o alto do vaso, dificilmente, descerá por si só; é preciso observar a mesma precaução do regime da Lua. Quando o espírito começar a se espessar, então será tratado com delicadeza, sem violência, por medo de que, se fugir para o alto do vaso, tudo o que esteja no fundo seja queimado, ou ao menos, se vitrifique, o que destruiria a obra.

V

Quando tiverdes o verdor, sabe que há nele virtude germinativa. Então desconfia que um calor excessivo possa degenerar o verde em negro, e controla o fogo com prudência. Este regime será cumprido após quarenta dias.

CAPÍTULO XXIX

DO REGIME DE MARTE

I

O regime de Vênus terminado, cuja cor é sobretudo verde, avermelhando-se um pouco com púrpura obscuro, por vezes lívido; durante este tempo cresceram, na árvore filosófica, ramos de diversas cores, com ramos e folhas; vem em seguida o regime de Marte, que mostra mais freqüentemente uma cor amarelada, um amarelo diluído com marrom, e que exibe gloriosamente as cores efêmeras de Íris e do Pavão.

II

Então, o estado do composto torna-se mais seco, e a matéria toma formas variadas e fantasmagóricas. É a cor de Jacinto que mais usualmente aparece, com um pouco de alaranjado. É aqui que a mãe selada no ventre de seu filho surge e se purifica, e esta pureza, aonde se banha o composto é tal, que a afasta da podridão. Mas as cores que se servem de base a todo este regime são suaves; ocorrem, porém de tempos em tempos, e muito agradáveis de se ver.

III

Sabe que nossa terra virgem sofreu seu último trabalho, para ver semear e amadurecer nela o fruto do Sol; continua então o calor conveniente, e estará seguro de ver, pelo trigésimo dia deste regime, aparecer uma cor citrina que, duas semanas após sua primeira manifestação, impregnará quase todo composto.

CAPÍTULO XXX

DO REGIME DO SOL

I

Aproximas-te do fim de tua obra, e quase acabaste teu trabalho. Já tudo aparece como o mais puro ouro, e o leite da Virgem, com o qual embebes esta matéria, amarela cada vez mais. Oferece a Deus, doador de todos os bens, graças eternas, por ter conduzido a obra até aqui, e pede-lhe dirigir teu julgamento, para que teu zelo não te faça estragar a obra, já tão perto da perfeição.

II

Considera, pois que esperaste quase sete meses, e seria insensato reduzir tudo a nada numa só pequena hora. Quanto mais te aproximas da perfeição mais deves ser prudente. E se procedeste com as precauções necessárias, eis os sinais que observarás: Inicialmente, notará sobre o corpo uma espécie de suor cítrico, depois vapores citrinos que, o corpo se abatendo, se tingirão de violeta, e, de tempos em tempos, de púrpura obscuro. Após a espera de quatorze ou quinze dias neste regime do Sol, verás tua matéria, em maior parte, tornar-se úmida e pesada, o que não a impedirá de ser carregada no ventre do vento. Enfim, pelo vigésimo sétimo dia deste regime, ele começará a se dessecar; então, se liquefará, depois se congelará, e novamente se liquefará, cem vezes por dia, até que se comece a se tornar granulosa; e parecerá completamente dissociada em pequenos grãos; depois se concentrará de novo, e a cada dia se revestirá de formas fantasmagóricas, sempre renovadas. Isto durará aproximadamente duas semanas.

III

Mas, finalmente, pela vontade de Deus, tua matéria irradiará uma luz que dificilmente podes conceber. Espera agora pelo fim próximo, que verás ao fim de três dias, quando a matéria formar grãos como átomos do Sol, e de uma cor tão intensamente rubra, que ao lado do vermelho mais brilhante, ela parecerá enegrecer como um sangue puríssimo coagulado; e jamais terias crido que a arte pudesse criar maravilha semelhante a este elixir. Tão extraordinária é esta criatura, que ela não tem par em toda a natureza, nela nada se encontrando que sequer lhe assemelhe.

CAPÍTULO XXXI

A FERMENTAÇÃO DA PEDRA

I

Recorda-te que já encontraste um enxofre rubro e incombustível, que não pode ser aperfeiçoado mais por si mesmo, com qualquer fogo que seja; e atenta bastante, omiti dizer no capítulo precedente, no regime do Sol citrino, antes da vinda do filho sobrenatural vestido de púrpura tirina, não vitrifica tua matéria por uma ignição muito violenta; porque então se tornaria insolúvel, e em conseqüência, não se congelaria em belíssimos átomos, muito rubros. Sê, pois, muito prudente, para não te privar, por tua culpa, de um tal tesouro.

II

Não crê, porém, ver aqui o fim de teus trabalhos; precisas ainda continuar para Ter deste enxofre, a após novo giro da roda, o Elixir. Toma então três partes do Sol puríssimo e uma parte deste enxofre ígneo (podes tomar quatro partes do Sol puríssimo e uma parte deste enxofre, mas a primeira proporção é melhor). Faz fundir o Sol em um crisol próprio, e, quando estiver fundido, introduz teu enxofre, mas com precaução, para que não seja prejudicado pela fumaça dos carvões.

III

Faz de sorte que tudo esteja em boa fusão, depois verte numa lingoteira, e obterás massa friável de belíssimo vermelho, muito intenso, mas apenas translúcido. Toma uma parte desta massa reduzida em pó fino, duas partes de teu Mercúrio Filosófico, mistura-os bem, e coloca-os num vidro, depois, rege o fogo como antes; e em dois meses verás passar todos os regimes de que falei, pela ordem. É verdadeira fermentação, que podes recomeçar, se julgares conveniente.

CAPÍTULO XXXII

A EMBEBIÇÃO DA PEDRA

I

Sei que muitos autores, a propósito desta obra, tomam a fermentação como o agente interior invisível a que chamam fermento, cuja virtude fugaz condensa os espíritos tênues sem que seja necessário agir; e quanto ao nosso proceder da fermentação, chama-o cibação como pão e o leite; tal é o sentimento de Ripley.

II

Mas, não acostumei a citar outros, tampouco jurar por seus escritos, e sobre um assunto que conheço tão bem quanto eles, e guardei minha liberdade de opinião.

III

Existe pois uma outra operação pela qual a pedra cresce, mais em qualidade que em quantidade. Trata-se de tomar teu enxofre perfeito, quer seja branco, quer vermelho, e adicionar a três partes deste enxofre uma quarta parte de água; e após algum negror e uma cocção de seis ou sete dias, esta água que acabas de juntar se condensará, como teu enxofre

IV

Adiciona agora uma outra parte d’água, não em relação a todo o composto, que já coagulou uma Quarta parte quando da primeira embebição, mas em relação à primeira quantidade de enxofre que empregaste. Quando estiver dessecada, adiciona ainda uma outra quarta parte, que coagularás com o fogo requerido; introduz agora duas partes d’água em relação às três partes de teu enxofre que tomaste e pesaste antes da primeira embebição; faz embeber e congelar três vezes nesta proporção.

V

Enfim, para a sétima embebição, toma cinco partes de água em relação ao enxofre empregado inicialmente; coloca-os em teu vaso e sela-o; e com fogo semelhante ao primeiro, faz de modo que todo o composto passe pelos três regimes que descrevemos, o que durará um mês no máximo. Então terás a verdadeira pedra de terceira ordem, da qual uma só parte projetada sobre dez mil as tingirá perfeitamente.

CAPÍTULO XXXIII

A MULTIPLICAÇÃO DA PEDRA

I

Para isso fazer, basta tomar a pedra perfeita e unir-lhe uma parte com três partes, ou quatro, no máximo, do Mercúrio da primeira obra, depois reger o fogo convenientemente durante sete dias, o vaso estando estritamente fechado: todos os regimes passarão, para teu prazer, e a pedra obterá uma virtude mil vezes maior do que antes de sua multiplicação

II

E se tentas ainda mais uma vez a operação, percorrerás em três dias todos os regimes, e a medicina terá para ti uma força mil vezes maior ainda.

III

E se ainda desejas recomeçar, bastar-te-á um dia natural para fazer passar a obra por todos os regimes com suas cores; uma só hora mesmo bastaria, se tentasses ainda mais uma vez a experiência; mas então não mais serias capaz de reconhecer a virtude da pedra; e se porventura recomeçasses uma Quinta vez a multiplicação, esta virtude seria tal que a mente não poderia concebê-la. Recorda-te então de render eternamente graças a Deus, pois tens em tua posse o tesouro de toda a natureza.

CAPÍTULO XXXIV

DA MANEIRA DE REALIZAR A PROJEÇÃO

I

Toma tua pedra perfeita, como foi dito, quer da branca, quer da vermelha, e pela quantidade da medicina, toma quatro partes de cada uma das duas luminárias; fazei-as fundir num crisol limpo, colocando aí tua pedra, segundo a espécie do luminar fundido, branco ou rubro; depois faz escoar a mistura num recipiente, e obterás uma massa mui friável; toma uma parte desta mistura e dez partes de Mercúrio bem purificado; aquece o Mercúrio até que comece a crepitar; põe com ele tua mistura, que o penetrará num piscar de olhos; funde-o a um fogo mais vivo, e toda a mistura formará medicina de ordem inferior.

II

Toma agora uma parte desta matéria e projeta-a sobre qualquer metal fundido e purgado, em tão grande quantidade que tua pedra poderá tingi-lo; e obterás ouro e prata mais puros que a natureza jamais poderia proporcionar.

III

É, porém, preferível fazer a projeção gradativamente, até que haja mais tintura: porque projetando uma pequena quantidade de pedra sobre uma tal massa de metal, a menos que se trate de Mercúrio, ocorre um desperdício considerável de medicina, por causa das escórias que aderem aos metais impuros. Por isso quanto mais os metais são purgados antes da projeção, melhor o sucesso do trabalho com o fogo.

CAPÍTULO XXXV

DOS MÚLTIPLOS USOS DESTA ARTE

I

Aquele que possui perfeitamente esta arte, graças à benção de Deus, que pode desejar neste mundo, exceto poder, ao abrigo de todo o engano e malignidade dos homens, servir a Deus sem distrações? Que vaidade seria procurar uma irradiação vulgar por uma magnificência totalmente exterior? Aliás, não é o que têm no coração aqueles que possuem esta ciência, antes o desprezam e o negligenciam.

II

Ao bem-aventurado que DEUS gratificou com este talento são prometidos outros prazeres bem mais desejáveis que a admiração popular.

1.- Em primeiro lugar, se vivesse mil anos, e que tivesse de alimentar a cada dia um milhão de homens, nada lhe faltaria, porque poderia multiplicar a pedra a seu bel-prazer, tanto em qualidade, quanto em quantidade. De tal forma que este homem, se fosse um Adepto, poderia, se o desejasse, converter todos os metais imperfeitos do mundo em ouro ou prata verdadeiros. 2.-Em segundo lugar, poderá, pela mesma arte, fabricar pedras preciosas e gemas mais belas que todas que se poderiam, sem esta arte, encontrar na natureza. 3.- Em terceiro e último lugar, possui medicina universal, capaz tanto de prolongar a vida quanto curar todas as doenças. De modo que só Adepto, se o é realmente, está em condições de devolver a saúde a todos os doentes de todo o mundo.

III

Deve-se, pois, louvar incessantemente o reino eterno, imortal e único Todo-Poderoso por seus dons inefáveis e seus tesouros inestimáveis.

IV

E aconselho àquele que goza deste talento, servir-se dele para a honra de DEUS e a utilidade de seu próximo, afim de não parecer ingrato para com o Criador, que lhe confiou este Dom precioso, nem se ver condenado no último dia.

V

Esta obra foi começada no ano de 1645 e por mim terminada, que desvelei e desvelo estes arcanos, mas desejando vir em auxílio como amigo, e irmão, àqueles que se interessam sinceramente por esta arte oculta. Assino pelo nome de IRINEU FILALETO, inglês de nascimento, habitante COSMOPOLITA.

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